terça-feira, 19 de junho de 2012


Gestores de topo

Topo que se confunde com vara.
Vestem bem, de marca, assumem o poder através de amizades regalias dadas pelo poder político do Estado. São administradores, presidentes, chairman, ceo, directores, chefes de divisão e até chefes de serviço para não se falar nos empregados súbditos. Distinguem-se pelo grau de mordomias que usufruem. O objectivo de quase todos (as excepções serão uma raridade mas podem existir) é servirem-se mais a eles do que à entidade onde prestam colaboração, sem nunca esquecerem o padrinho que lá os colocou. Sofrem bastante com os concursos públicos, provas efectuadas, avaliações etc… tudo fazem porque há sempre uma mão amiga no circuito.
Frequentam cursos de pós-graduação, mbas, seminários de alta direcção, tudo sempre em nome da produtividade e da excelência, certificados que são quase todos por uma ISO qualquer.
Contribuem de forma activa para o PIB da Nação com os seus ordenados e mordomias. Quando tem de tomar decisões há sempre uma empresa consultora onde conhecem um amigo e que a peso de ouro lhes prepara um relatório de forma que ele possa decidir, acto de gestão esse quase nunca tomado de livre vontade sem antes consultar ou informar o padrinho ou alguém que este o aconselhe. É bom ter cuidado nestes tempos de muita alternância política, nada melhor do que ter as costas quentes pelos estudos dos consultores-amigos certificados, assim pode-se hierarquizar o negócio, perdão, a decisão. Quantas vezes antes de decidirem se devem os veículos da empresa abastecer nos postos da GALP ou da REPSOL não mandam substituir toda a rede informática, terminais, notebook e software porque o sistema anterior está lento e não lhes dá as coordenadas GPS pretendidas, felizmente as financeiras encontraram a solução e quando procedem à venda – aluguer da viatura incluem tudo (viatura, manutenção completa com duas mudas ano de pneus, seguro contra todos e um plafond considerável de combustível mês…) grandes engenheiros financeiros estes e, depois é bom de ver que com o sistema informático lento nestes tempos de mudanças vertiginosas é difícil tomar decisões.
Encostado para trás e olhando a Ponte vasco da Gama lá ao longe no meio do rio lembrou-se de alguns que conheceu e ia tomando as suas notas no seu bloco A5. O engenheiro P, antes vereador da câmara de Lisboa com pelouro, porque isto de ser vereador com poleiro ou sem poleiro, desculpem, pelouro não é a mesma coisa. O tal engenheiro estava em desgraça política no seu partido mas fora nomeado administrador naquela empresa de novas tecnologias; o seu método de gestão era reunir à noite uns tantos quadros em sua casa e conspirar contra o outro administrador que tinha a responsabilidade da produção que nem um nem o outro controlavam acusando-se mutuamente de falta de condições para o exercício… tentava assim o dito P manter-se á tona d´água. Quando ele confrontou as contas da advogada amiga do dito P, com os valores facturados e solicitados a pagamento que não correspondiam ao trabalho realizado e, depois de mais uma reunião nocturna, a amiga advogada figura publica nas hostes desportivas, compareceu no seu escritório e o argumento que levava era sorrir traçando as pernas e destraçando de modo a mostrar que não usava cueca e nada mais acrescentou aos factos a não ser que ainda não tinham passado 48H e já ele recebia uma nota de honorários de 25 contos. Ops 25cts por mostrar as pernas e a vagina? Não cedeu.
O tal de P caiu em desgraça sem antes o ter tratado mal junto de responsáveis das empresas accionistas. Depois caiu e passou por lá outro engenheiro que chegou de autocarro pois tinha passado como administrador pela CARRIS, não se lembra do nome do senhor pelo que o designa com senhor engenheiro. O dito sr. engenheiro geria metendo medo, gritando e acusando. Chegava pelo final da manhã e o seu primeiro e profícuo acto de gestão era bater com o jornal CM na secretária para afastar o pó, depois, ia sentar-se na casa de banho defecar alto e ler o CM. Mais um belo quadro da holding estatal IPE. O dito sr. não podia gerir a empresa porque ele não lhe dava números certos quanto aos valores em divida, de manhã perguntava e davam-lhe um numero, à tarde perguntava e davam-lhe outro numero e assim era impossível gerir, o D. F. era uma força de bloqueio. Antes de sair da empresa cansado de aturar tanto desperdicio, ainda colaborou em muitos estudos efectuados por quadros e empresas dos accionistas e ainda teve tempo para conhecer outro administrador e engenheiro que também via nele a tal força de bloqueio para o desenvolvimento da produção da engenharia de sistemas. Saiu um dia pelo seu pé sem ter contudo recebido os valores a que teria direito. A experiência dos grupos portugueses chagara ao fim, tinham criado um buraco e não se entendiam como fechá-lo; ainda não passou muito tempo que tinha visto o nome da empresa como uma dos investimentos italianos em Portugal e ele nunca se encontrou por lá com qualquer representante da empresa italiana accionista. Havia dívidas à Segurança Social e hoje questiona-se se os accionistas portugueses já pagaram os valores em divida com juros e custas?
Lembra-se dos tempos que passava nas Amoreiras, onde uma senhora marquesa servia em serviço de prata e porcelana fina o chá pelos corredores. Ele esperava que a reunião terminasse com fumo branco. O representante do grupo financeiro dizia-lhe que tinha sido tudo tratado e acordado conforme tinham combinado. Chegava à empresa e o administrador informava-o que o representante da Marconi o informara que não tinha havido acordo. O gestor do Grupo BES foi para a Telecel, o da Marconi passou pelos CTT e ele segui a sua vida pelo seu pé.
Na imagem corporativa conheceu gente com quem gostava de trabalhar, era uma média empresa de produção de imagem corporativa; havia contudo um accionista que era um fundo de investimento onde um ex-GALP de Sines espalhava o terror e cansou-se das insinuações do tal executivo que como o mundo é uma aldeia confessava suas lamentações na alcofa de uma amiga, tinha problemas de consciência com a sua saída de Sines logo na altura em que se falava de desvios de um Chefe dos Serviços Financeiros. Verdade ou não pouco lhe importava tinha decidido sair e ir trabalhar com espanhóis na esperança de voltar a trabalhar com os franceses. Os espanhóis estavam cá a trabalhar com uma estrutura montada, os franceses estando cá não tinham estrutura esperavam a adjudicação da barragem para a montar e contavam com ele. Vieram eleições e com elas emergiu da sombra um tal de C que com o T a primeiro-ministro decidiram parar e suspender os trabalhos da barragem e assim lá ficou com os espanhóis e ficou padeiro por uns anos. O sistema de gestão mexicano não era fácil e foram dias semanas meses e anos difíceis; amigos e família foram ficando para trás e quando os quis recuperar já era tarde demais; um dia a empresa compensou de tanta dedicação e colocou-o no desemprego.
Começava assim uma nova vida, com o desemprego veio o deserto com tempestades constantes de areia e os oásis que encontrava a secarem-se rapidamente sem lhe darem tempo para se refrescar da canseira de vida que tinha começado.
Num deses oásis trabalhou como independente a recibo verde, que passava em nome da mulher. Uma clínica de renome onde se geravam receitas consideráveis mas as receitas não se viam nos extractos bancários; clínica interligada com uma outra empresa de importação e comercialização de equipamentos e onde o seu papel era apanhar as causas dos buracos que dia a dia chegavam via correio ou telefone que naquela época a internet dava os primeiros passos. Bombeiro a acudir aos problemas de falta de cumprimento quer bancário quer fiscal; por um lado uma fonte de dinheiro funcionava e pelo outro uma fonte de incumprimentos existia. Montou um sistema de informação com a Repartição de Finanças de forma a ter tempo de poder fazer alguma coisa para o cumprimento das obrigações que não tinham sido cumpridas e que a administração fiscal solicitava. Queixava-se o acionista que nunca tinha pago tanto dinheiro ao Estado e questionava-o sobre a possibilidade de pagar 30.000 cts a um amigo que dizia que conseguia eleminimar todo o cadastro das empresas na administração fiscal. Sem nunca lhe dar uma resposta positiva sobre essa forma de resoluçãp para os muitos milhares em divida cansou-se, e um dia depois de mais uma reunião deixou o dito oásis e seguiu caminhando nas dunas áridas da vida que conhecia e aprofunfava em conhecimento. Agora com a cabeça recostada no banco olhando as águas calmas do rio lembrava a reportangem que na noite anterior vira num dos canais televisivos sobre o grupo económico do tal senhor. A vida nem sempre é boa mãe para os que trabalham e procuram cumprir com as regras civicas da sociedade. Gestores de topo que se confundem com vara.