quinta-feira, 8 de junho de 2023

29.05.23

Muito se fala, pouco se ouve.

Muito se vê, pouco se observa

Assim corre a constância do tempo

Dia a dia o tempo de vida vai passando.

O tempo é um implacável movimento, que na sua constância nos envelhece o corpo mais do que reduz os milhões de interligações cerebrais que a cada momento se produzem no nosso cérebro, gerando uma perturbação no nosso funcionamento, passando a haver saltos na função do nosso comportamento, já que o cérebro processa ideias, processa desejos, mas o corpo ou já não responde ou logo as dores se apresentam ativas como sinal vermelho que impede a realização da ideia, do desejo, gerando em muitos humanos estados depressivos, de revolta pessoal ou de tristeza, podendo este ser o menos mau de todos os estados da designada velhice.

Sente-se velho, cansado, desiludido com o caminho, a revolta anda sempre rondando, a tristeza é companhia frequente, mas a vontade de viver continua a criar energia para seguir em frente na sua caminhada até ao encontro com o momento final.

Se desistir é palavra proibida, abandonar é palavra que o castiga pelo que já abandonou, não querendo de modo algum que essa palavra volte a entrar de novo no seu léxico, os outros podem e muitos já o abandonaram, mas ele não pode, não quer de novo fazer uso dessa tão azeda e dorida palavra.



A prima com os pais, seus primos, deixaram-no na estação de Alcântara Terra a seu pedido. Não lhe apetecia ir andar por Lisboa entre estaleiros de obras e manadas de turistas.

Sentado no velho banco da estação de Alcântara Terra esperando o comboio que o haveria de levar de volta, olhava a Rua Maria Pia com os olhos quase a deixarem rolar pelas faces as lágrimas que os inundavam. Um turbilhão de emoções preenchia os seus pensamentos que nem se lembrou que não tinha colocado o bilhete na máquina para o validar e já estava sentado com o comboio prestes a partir.

Seu pai tinha dúvidas que a pequena casa e as oliveiras não ficassem ao abandono. Dúvidas ou medo que ele não conseguisse pagar ao irmão a parte a que o mesmo tinha direito.

Hoje, passados quase sete anos do término da vida de seu pai, os seus primos António e Irene fizeram-lhe a doação do terreno de oliveiras designado por Horta da Corona, com o seu primo a dizer-lhe que a doação era feita sem qualquer encargo para ele pelo que tudo o que viesse a pagar nas Finanças lho dissesse para ele pagar.

É certo que o chão das oliveiras dificilmente seria vendido por um valor justo, mas mesmo assim ficou com os olhos a humedecerem sem palavras para lhes agradecer. Mais do que o valor material há para ele um outro valor que há medida que vai permanecendo naquela terra o vai ligando às suas raízes que estavam adormecidas como que desconhecidas ainda há poucos anos. Aquele chão foi dos seus bisavós maternos, ao passar para si a seiva que corre nas velhas oliveiras é o sangue que eles procriaram podendo eles continuar por lá sempre que o queiram.

Mais do que o valor material, o valor sentimental é para si é maior do que qualquer outro.

Ainda há quem goste dele, ainda acredite que ele irá cuidar com zelo do velho chão, que nos últimos anos andava meio abandonado, explorado até ao limite.

Os seus primos sempre os ajudaram e em especial a ele, mesmo quando ele fez que não entendeu a oferta de trabalho no banco onde o primo era administrador, nunca deixou de ser seu amigo, seu padrinho de o ajudar, ouvindo-o.

Tem consciência da sua idade, 72 não são 27, nem tão pouco 57, mas mesmo com consciência da idade não deixa de sentir uma emoção de felicidade, pois ainda há quem goste dele e acredite nele. Não é o valor do bem que está em causa, já que o mesmo a preços atualizados pelo IMT tem uma valorização pouco mais que seiscentos euros, não é pois o valor material mas o significado, de um bem que pertenceu aos seus antepassados ser agora seu, invertendo o medo e as dúvidas que seu pai tinha de tudo ficar ao deus dará.

Irá agora tratar de saber como pode adquirir os imóveis rústicos do seu tio avô João Capelo, por forma a que não fiquem ao abandono, a não ser que algum dos herdeiros ausentes apareça por lá e reclame o direito de ficar com eles. As pessoas da aldeia já o veem como dono dos dois chões que aquando do falecimento de sua tia Isabel sobraram.

Passo a passo caminha sentindo-se gente, sentindo-se útil e capaz, não se esquecendo que já tem 72 anos de idade e de vida, nem sempre fácil.

Chegou a casa ao mostrar os papéis, caderneta predial e certidão de doação, levou com mais um murro frio de incompreensão, do porque estas coisas com esta idade. Não respondeu ciente de que tudo o que dissesse seria incompreendido. Se não entende os laços que o ligam aquelas pequenas paredes da casa, como irá entender a sua felicidade ao ficar com um chão de oliveiras que era da sua família, dos seus bisavós, como irá entender o porque da doação que o primo e padrinho lhe fez. Calou-se porque não alimenta discussões sem sentido. Procura a Paz porque ele mesmo se julga a si próprio de paz.

 

27.05.23

 

Saiu quando novo aguaceiro se anunciava com um pingo de chuva aqui e outro ali. Como é normal e usual aguaceiros de chuva forte só depois do Ladoeiro. Pelo caminho deslizando pelo A23 nos intervalos dos aguaceiros que as trovoadas faziam cair, ia pensando na desgraça que governo atrás de governo têm sido as escolhas políticas de políticos para os ministérios da agricultura e do ambiente, só nos saem moedas furadas sem valor e peso ministerial, simples "chefes de secção" em uma qualquer grande multinacional. Falam bem diversas línguas e pouco mais. Gente sem ideias políticas que defendam o país nas suas reuniões por Bruxelas. Simples amigos e conhecidos dos líderes partidários para executarem as políticas que os burocratas liberais de Bruxelas nos ordenam, distribuindo uns milhões como adoçante de boca em programas e ajudas financeiras que beneficiam mais os agentes intermediários do que a produção agrícola ou a Natureza.

Desde que o engenheiro agrónomo Fernando Gomes da Silva foi ministro da agricultura no primeiro governo de António Guterres, nunca mais o ministério teve a dirigi-lo gente capaz e conhecedora dos problemas da lavoura nacional. Só moedas furadas nos têm saído na rifa. Gomes da Silva ainda Ministro, em 1996, juntou-se a uma manifestação de agricultores, em frente ao Ministério da Agricultura, em Lisboa, contra a aprovação de uma medida da Política Agrícola Comum da União Europeia, que, enquanto ministro, não havia conseguido impedir em reunião do Conselho da União Europeia. No Luxemburgo irritou de que maneira os poderes instalados em plena crise das vacas loucas (crise, ainda não conhecíamos a palavra pandemia) comeu num restaurante mioleira de vaca e aconselhava os portugueses a comerem alheira ao almoço. Bateu com a porta e foi tratar da sua vida de agricultor. A atual senhora que ocupa a cadeira ministerial da agricultura mais não é que uma “chefe de secção” da multinacional a União Europeia, que já leva tempo ministerial para saber que a seca nos campos não chegou agora num qualquer “TVDE”, ano após ano chove menos, mas ano após anos fecham os olhos às plantações novas de cultivo intensivo e super intensivo sejam de frutos vermelhos, abacate, amendoal ou olival que mesmo que com as novas tecnologias utilizem muito menos agua que os anteriores métodos de rega, serão utilizados milhões de gotinhas instantâneas que todas juntas terão impacto nos solos que daqui a uns anos serão conhecidos torcendo a orelha mas já não irá deitar sangue, pois já não existirá o tal de sangue apenas químicos e mais químicos pouco amigos da saúde ambiental e como tal publica. Perante as notícias alarmistas dos órgãos de comunicação de meterem medo à população com a seca, vai a senhora de mão estendida pedir ajuda aos burocratas bruxelianos que tanto gostam de verem os governantes do sul de mão estendida a pedirem ajuda, para depois anunciar ao país cheia de glamour que o governo francês se dispôs a venderem palha aos portugueses aos quais junta mais uns subsídios de apoio ao agricultor em dinheiro. Esqueceu-se a senhora de exigir aos seus amigos franceses e europeus que a palha francesa nos sejam vendida ao preço de mercado antes da sua enorme escassez e não ao preço asfixiante que o agricultor português seja grande, médio ou pequeno não tem o poder de compra dos seus parceiros congéneres franceses; quanto ao tal dinheiro a dar de ajuda aos agricultores os que neste momento vivem sem saberem onde irão encontrar palha para os seus animais, vão pegar nas notas do subsídio e vão da-las a comer aos seus animais… Somos um país pobre que tem quase novecentos anos de história, há que ter gente que em Bruxelas, Estrasburgo ou Frankfurt que dê um murro na mesa honrando o nosso passado histórico. Pobres mas não pedintes. Somo gente de um país de corpo inteiro, Porra!

Não sei para que existe um tal ministério designado como Ambiente. Quando se encheu o país de betão e alcatrão nunca o Ambiente foi respeitado quando seus técnicos ministeriais davam parecer negativo à proposta da promotor da ideia. Em 2017 nesse verão de triste memória em que o assassino fogo andou queimando parte do país, foi a A23 cortada diversas vezes pela ação do fogo que deixou as margens da autoestrada negras com pinheiros e eucaliptos queimados, o que era verde ficou negro de tristeza. Opinou o ministro ambientalista do alto da sua cadeira, opinou baixinho o ministro da agricultura com medo de ser ouvido, opinaram alto e com ruído várias organizações que se intitulam ambientalista pela recuperação da área ardida com as antigas árvores autóctones. Ano a ano, quase mês a mês lá circulo pela A23 olhando as margens em busca de novos pinhais, porque autóctones é coisa de quem não vive do rendimento daquelas terras de montes e vales. Novos pinhais não se observam nas margens da A23, mas o que se vê são novas plantações de eucaliptos. Nada tenho contra o eucalipto, nunca ví nenhum imolar-se pelo fogo por sua própria auto recriação, só ardem porque a mão humana assassina dos interesses ligados aos incêndios florestais lhe deitam fogo. Até pensava que o assunto da floresta era da agricultura mas em 2017 quem opinava dando a cara foi o ambiente.

Ano a ano a chuva que cai no território nacional vai diminuindo, contudo não se vislumbra um político que apresente um projeto novo para fazer face à previsível seca que irá continuar a castigar o país. Precisa o país de gente política com ideias próprias e não apenas de bons executantes, quais “chefes de secção” das políticas que os liberais de Bruxelas nos dizem para cumprimos.


24.05.23


 

O amanhã é só um desejo expresso no momento presente em que aflora, em que nasce. O amanhã de verdade não existe, tal como o futuro é um desejo de se poder vir a vivenciar na vida que ocorrerá quando esse tempo chegar se chegar. Este, o tempo, existe desde que o Planeta se formou rodando à volta do Sol sobre si mesmo, criando a noite, o dia e os anos, que povos muito antigos, os sumérios, com os seus saberes simples que a própria Natureza lhes mostrava, sem as tecnologias que hoje o homem criou e domina, souberam dividir o tempo em horas, dias, meses e anos que ao longo do tempo histórico até hoje se mantiveram imutáveis.


Como não lhe apetece fazer nada, vai varrer o quintal que a ventania que ontem ao final da tarde ocorreu e depressa levou os pingos da chuva para outras paragens, deixando tudo sujo de folhas e terra. Vai olhar as árvores com receio de ver se a pouca azeitona não caiu com aqueles ventos de rajadas tão fortes. A vida no campo é ingrata, sempre incerta dependente dos humores da Natureza.

Contudo, é desta forma de vida que gosta, pois a vida de reformado na cidade é aborrecida para si, nada ter que fazer não é a sua praia. Há que ter obrigações coisas para fazer e assim ter sempre o corpo em movimento. Na cidade, depois da volta matinal com a sua amiga e de tomado o pequeno almoço pouco há para fazer. Pode apanhar o comboio ou o autocarro de carreira e ir até uma vila próxima ou mesmo até à cidade grande, andar junto ao Rio Tejo ou pelas ruas onde há sempre coisas que se podem ver, rever ou descobrir. Tudo isso é verdade, mas a maioria dos dias fica por casa, lendo e escrevendo depois de tratar as plantas que teima em possuir numa pequena varanda virada quase a norte. Essa vida sedentária é ajudada pela preocupação com o pagar as responsabilidades que assumiu com o irmão para ficar com a casa dos pais e com o empréstimo bancário que fez para pagar algumas obras estritamente necessárias. O seu pai viveu os últimos anos sozinho e convencido que nenhum dos dois filhos iria se interessar pela casa, pela meia dúzia de oliveiras que deixou num chão, onde ele tinha a sua horta; não vendeu o chão porque dizia que a casa com o chão sempre podia valer um pouco mais, como seu pai estava errado, os terrenos com ou sem oliveiras não valem nada, pois ninguém quer comprar trabalho, dizendo-lhe um amigo que «mesmo dados são caros», é mais fácil ir ao supermercado e comprar os legumes,os tubérculos etc. porque não pensam nos químicos que foram usados para os produzir. Químicos que pela absorção podem estar ainda ativos nos produtos que estão expostos nos supermercados. Cavar a terra mesmo com a moto enxada dá trabalho, puxa pelo físico, depois há sempre as ervas daninhas que por mais que se cortem, que se arranquem voltam sempre a crescer; na horta há que ter água para regar os produtos e com isso começa de certa forma uma prisão, pois tudo numa horta requer trabalho, requer ser tratado e regado quando a seca aperta, sem se falar no verão em que há que regar de manhã e ao final da tarde.

Como não sente o espírito de viajar para outros destinos não se importa de estar ora na cidade dormitório ora no seu canto raiano. Mesmo sem esse espírito de viajante turista, não deixou de ter sonhos como gostar de conhecer outros lugares, entre os quais ir a Israel andar nas ruas a observar como aquela gente vive, ir à Índia de novo andar a observar a vida como eles a vivem, num e no outro país ver e sentir a vida mais do que visitar grandes monumentos ou lugares sagrados, gostava de voltar a Angola de visitar o Mumbué, fazer a viagem depois até à fronteira com o Congo onde já não existe o quartel estratégico de então designado por "Ponte de Zadi", passando uns dias Nova Lisboa para sentir a nova Angola e, por fim um dia sonhou poder fazer a viagem costa a costa por terras do Canadá. Não realizou nenhum desses sonhos, desses projetos mas não se sente infeliz por não os ter realizado, nem sequer isso o entristece. A vida ensinou-lhe, ele aprendeu que sonhar é preciso mas viver a vida tem muitas nuances, muitos «ses», e como tem dificuldade em falar outras línguas, sente-se bem considerando-se um português de lés a lés. Mesmo no velhinho Portugal nem o Algarve, nem as Ilhas Insulares o atraem. Até a sua praia da Consolação já não interage consigo como no passado, tudo tem o seu tempo e agora o seu tempo de vida é um viver simples com gosto onde tudo parece faltar segundo os parâmetros de vida que o sistema de sociedade impõem silenciosamente numa ilusão que ele vê, sente e não gosta, daí o não se importar de estar entre gente simples, resistentes à desertificação. É lá naquelas terrenas que estão e sente as raízes dos seus antepassados, é lá que gosta de estar.


Com as nuances vividas ao longo do seu caminhar aprendeu que as casas grandes dão muito mais trabalho que as casas pequenas, para no final, as casas serem do tamanho das almas que as habitam.


Depois de almoçar bebeu o seu café um um golinho de aguardente bagaceira num copo pequenino que encontrou nas coisas das heranças que seus pais guardavam a pedido de alguns primos, que nunca se interessaram posteriormente em ver se alguma dessas pequenas lembranças dos antepassados lhes agradava. Gosta de beber quer a água, quer o vinho ou o digestivo aguardente vínica ou bagaceira pelos copos antigos que encontrou de seus avós e tios avós. As coisas até lhe sabem melhor sabendo que são simples manias suas, mas gosta e decerto não irá mudar. Quando saiu para o quintal viu uma pequena ameixa no chão, apanhou-a e ao olhar a árvore viu que a passarada já tinha andado a bicar algumas delas, pelo que começou a apanhar aquelas que já estão maduras. Afinal, este ano irá comer as suas ameixas de que gosta, são pequenas mas saborosas e doces. Não irá arrancar a árvore como tinha falado com o seu amigo Zé. Irá poda-la por forma a que novos ramos de formem em pequenos troncos para substituir os que parecem estar velhos com sinais de podre. Árvore que terá nascido de um simples caroço deitado à terra, como tal os frutos que dá são eles próprios o sangue da natureza.

Depois, sentou-se no sofá e cochilou uma sesta rápida. Ao acordar ligou o aparelho televisivo procurando se algum canal espanhol estaria a transmitir a Volta à Itália em bicicleta. Não encontrou e predispôs-se a ouvir o debate parlamentar ao Governo na Assembleia da Republica. Ouviu as perguntas e respostas entre os deputados da oposição Sarmento do PSD e Ventura do Chega, assim como as respostas do PM. Quando iniciou o tempo do deputado da oposição da Iniciativa Liberal e o tema continuava o mesmo, desligou o aparelho. Não se sentiu nem triste nem desiludido, sorriu satisfeito por se ter tresmalhado do rebanho que segue aqueles debates acreditando no que um lado e o outro dizem, convictos de a verdade esta do lado dos que uns e outros gostam. Como ele já não acredita nem em uns nem em outros, viu como a Democracia não se fortalece, estando dia a dia mais anémica a necessitar urgentemente de nova transfusão de sangue sem que se vislumbre no horizonte quem poderá ser o dador que permita à Democracia tirar as gentes anónimas da hibernação a que o sistema da nova ordem democrática as conduziu, para que as mesmas possam voltar a sorrir, voltar a acreditar, deixando os populistas baratos a falarem sozinhos nas suas cantilenas.


Estava a reler o que tinha escrito no seu computador quando sentiu a musica da chuva no telhado do seu telheiro. Foi à janela do quarto e confirmou. No céu viam-se os relâmpagos da trovoada que chegou de novo com o vento a soprar em rajadas não tão fortes como na tarde anterior. O vento trouxe a chuva que ficou caindo um pouco mais sem ser com vento, uma água que deu alguma humidade aos terrenos secos ávidos de sede. Olhou as oliveiras e confirmou as suas folhas voltadas para cima a fim de receberem a abençoada chuva, que chegou tarde mas vale mais tarde que nunca. Com ela alguma pouca erva irá nascer e renascer para os animais de pastagem possam saciar a sua fome de alguma verdura.


Nestes finais de tarde a chuva, mesmo que seja pouca, trás o arrefecimento do ar e tudo fica mais silencioso anunciando a previsível chegada da solidão, sentindo que este tempo é agradável para partilhar uma simples conversa com quem esteja presente. Ele só tem a ausência como companhia, sentindo que o seu estado de solitário fica mais nostálgico mais fraco e carente com estes finais de tarde em que a chuva caiu por momentos.

Nestas alturas recorda as palavras de seu pai quando os dois conversavam, dizendo-lhe o pai «que para viver cá, teria que encontrar outra mulher». O pai sabia do que falava pois viveu dezasseis anos sozinho após a morte de sua mulher tendo os dois vivido mais de cinquenta anos de vida em comum. Viveu seu pai por sua decisão alguns anos no lar gerido pelo Centro Social de Bem Estar e Cultural a cujos corpos gerentes pertenceu alguns anos, mas mesmo nesse tempo estando rodeado de pessoas continuou a viver sozinho, porque o estar só é um estado de alma que se interioriza independente de quem possa estar ao nosso lado.

Essa experiência de estar acompanhado estando só, já a tem sendo um doutorado pela universidade da vida; ainda pensou que com o relacionamento com a nova companheira depois de estar separado e divorciado iria ser diferente mas não, dia a dia está mais só do que alguma vez imaginou. Mais só porque pensam e defendem valores diferentes, alguns mesmo antagónicos, vivendo junto porque existe gratidão da sua parte, uma gratidão que se sobrepõe ao amor anémico que os une. Gratidão por quem lhe deu a mão, quando andava perdido pensando em muitos fins de tarde como o de hoje em que solitário pensava em desaparecer tornando-se em mais um desconhecido sem obrigo, longe de tudo e de todos. Ela deu-lhe a mão e fê-lo sonhar com uma vida de companheiros, que hoje sabe que foi um sonho de ilusão com o passado de cada um a intrometer-se constantemente entre eles.

Ao jantar liga o aparelho de televisão, olha-o sem se inteirar do que estão a falar. A televisão não o satisfaz minimamente. As notícias de como corre o mundo pouco lhe interessam. Liga o computador para escrever e ao mesmo tempo ligar-se ao YouTube e ouvir as suas musicas que continuam a ser as mesmas de quando jovem acreditava num mundo novo e diferente daquele em que vive e ajudou a construir.

O telefone não toca, ninguém lhe liga e também não sente vontade de ligar. O silêncio é a companhia dos seus pensamentos das suas recordações.

Antes de desligar o computador lembrou-se de ir ver a sua ficha de cadastro na Autoridade Tributária. Continuava tudo na mesma, sem resposta à sua solicitação. Em tempo enviou por correio registado a documentação, incluindo fotocópia notarial do pedido de reavaliação do estado multiusos que fez na Delegação Regional de Saúde da Região de Lisboa e Vale do Tejo. Agora por via eletrónica pediram-lhe o envio de tal documento. Tirou um foto com o telemóvel, enviando-a para o e-mail e daí para os documentos de modo a anexar na resposta à Autoridade Tributária. Vai aguardar mas o que tudo isto significa é a falta de profissionalismo do funcionário que rececionou a carta com os documentos que enviou no início do ano. É em parte por isto que desligou da política atual, tanto lhe faz que seja o PS como o PSD a governar. A diferença entre eles é apenas na forma como nos “violam” nos “sodomizam” cumprindo ambos as decisões dos liberais e neoliberais que sem serem eleitos pelo voto direto dos cidadãos nos governam a partir de Bruxelas. Os que se designam do “centro-esquerda usam palavras redondas qual creme ou vaselina, enquanto que os outros da «direita-ao centro» é logo a frio, querendo ambos ficar bem na fotografia perante os liberais sem alma humanista de Bruxelas. O «centrão» político criou uma máquina estatal de funcionários que a exemplo dos superiores políticos-nomeados não respeitam os direitos dos cidadãos anónimos. Estão lá para ganharem o deles no fim do mês. Que merda de vida esta da nova ordem democrática. Desiludido despede-se das letras que vai escrevendo e vai colocar o corpo na horizontal já que no YouTube o Zé Mário cantava «faz o que tens a fazer».



segunda-feira, 5 de junho de 2023

22.05.23

 

Ao contrário do que tem sido habitual enquanto preparava o almoço ligou o aparelho de televisão ouvindo dizer que o PM iria prestar declarações. Ficou atento, ele que anda a leste das notícias e “trincas” políticas que ocorrem na capital. Já não tem paciência para os ouvir, mas ficou curioso e ouviu o que o PM disse aos jornalistas antes do almoço comemorativo dos 25 anos da Expo98.

Nasceu e cresceu os primeiros anos naquele território que agora por interesses partidários do centrão resolveram tirar à sua freguesia de nascimento criando uma nova e pomposa freguesia designada como Parque das Nações. Para si a sua freguesia continuará a ser Santa Maria dos Olivais, mesmo que nos documentos oficiais lhe coloquem apenas Olivais.

Não se julga superior a ninguém nem a nada, antes pelo contrário, é hoje um quase nada que desiludido com a política do país se tresmalhou do rebanho por sua opção, vivendo como que ausente na outra margem da vida.

Leva uns anos bons de política ativa e passiva (mesmo tresmalhado não deixou de ser um político passivo) e, ao ouvir o PM responder a várias perguntas dando sempre a mesma resposta, lembrou-se do tempo em que os comunistas eram acusados de terem sempre a mesma cassete, embora por vezes quem responde tenha que repetir a mesma resposta, pois na essência as perguntas que os jornalistas fazem são quase sempre iguais, elaboradas com palavras em moldes diferentes.

Uma coisa sabe, se fosse PM não mandava recados, nem dava troco ao que o “homem do Poço de Boliqueime” terá dito ou arrotado, pois os políticos que vivem as suas douradas reformas gostam muito de arrotar os seus arrotes como se fossem donos da verdade. O “homem do Poço” quando governou o país até da terra natal teve vergonha mudando-lhe o nome; um político que nunca o entusiasmou nem convenceu antes pelo contrário, sempre se interrogou como é que depois de tantos anos de miséria salazarista os portugueses passado pouco mais de meia dúzia de anos da nova ordem democrática escolheram para governar e mais tarde para presidir um salazarista convicto de vistas curtas, um funcionário publico que tinha às costas na altura em quer foi nomeado primeiro ministro um processo disciplinar por faltar às aulas na universidade onde era professor, indo nesse tempo dar aulas numa universidade privada e católica, recebendo dos dois lados. Os portugueses têm o que merecem.

Depois de ouvir o PM teve de desligar o aparelho quando o canal televisivo onde estava sintonizado lhe deu como notícia algo que um político de que não gosta terá dito ou comentado. Os seus fracos tímpanos não suportam os dizeres que o senhor que ocupa o lugar de presidente da Assembleia da Republica diz do alto do seu convencimento, daí o desligar de imediato o aparelho televisivo.

Não gosta de praticar estes atos de censura, mas não encontra outra alternativa melhor para proteger a sua sanidade mental.

Vive bem no seu canto longe das “trincas” e notícias que nascem e correm na capital, já não tem paciência para tanta discussão, tanto diz que não diz, fez que não fez, mandou mas não mandou, ordenou mas não ordenou, tanto comentador encomendado.

Desde que pela primeira vez ouviu a notícia sobre uma faustosa indemnização dada a uma senhora administradora da TAP, logo lhe cheirou que aquilo deveria meter “luta de saias”. Assim parece que tudo começou por causa da incompatibilidade de saias na empresa publica TAP e, já os deputados vão interrogando o ministro que nem era responsável pelo pelouro da empresa publica na altura em que a disputa de saias deu lugar há tal afrontosa indemnização à senhora que na luta de saias era o elo mais fraco. Das saias passaram pela privatização, pela renacionalização e agora andam às voltas com um computador que mete os serviços de informação e segurança, o ministério publico tudo numa confusão sempre mais confusa para que no relatório final a montanha irá de novo parir um rato, com os da oposição e os seus fieis órgãos de comunicação a tecerem críticas à forma e ao modo como a maioria irá redigir o relatório final. Sempre foi assim quando se formam aquelas comissões parlamentares que não levam a lado nenhum a não ser à lavagem de roupa suja entre os diversos partidos políticos nelas representados para gáudio dos órgãos de comunicação social, que passam horas e mais horas com os seus comentadores encomendados a comentar o que se disse, o que presumivelmente deveriam ter dito e não disseram, ou seja a ideia de verdade que agrade ao patrão mesmo que a verdade nada tenha a ver com a mentira por eles difundida.


Nos intervalos que as tardes lhe dão, pensa na vida e nas voltas que esta lhe deu ou fez dar para estar aqui sozinho no seu canto.

Nos vários caminhos do pensamento das causas de estar e ser um solitário, ela volta a estar presente mesmo sem saber quem ela é hoje. Mesmo sem hoje a conhecer vive com a sua imagem de juventude. Uma lembrança que já o atormentou mais do que nestas últimas semanas. Recorda-a ultimamente sem sofrimento, aceitando o silêncio dela ao seu pedido de desculpas pelo que lhe fez quando jovens. Deixou-a sem lhe dar uma explicação para o facto. Já tocou à porta onde presume que vive, já lhe escreveu mas só silêncio vazio obteve como resposta. Errou na altura. Reconhece o erro. Como vale mais tarde que nunca, agora passados mais de 50 anos pediu-lhe desculpa e ela responde-lhe com o mesmo silêncio com que ele respondeu aos seus telefonemas de então. Nunca lhe desejou mal, antes pelo contrário, sempre ao longo da vida desejou que ela tivesse sido mais feliz do que teria sido com ele, ser inquieto revoltado de muitas duvidas.

Quando a deixou sem explicação alguma já não era um religioso católico, como ela era, já vivia na outra margem da vida sem religião, abraçando muitas duvidas, mas sem pensar em voltar atrás. A revolta contra o sistema político em que viviam era um vulcão dentro de si. A imagem dela a ir a uma aula furando a greve que os estudantes levavam enfrentando a ditadura, fá-lo ver então que os dois tinham de sofrer e não teve coragem de a ver chorar de novo. Eram jovens que se gostavam, e, hoje já de barbas brancas aqui neste seu canto raiano, ainda a vê a ir à aula, ainda a sente agarrada ao seu braço chorando e pedindo desculpa pela bofetada que lhe deu, quando ao fundas das escadas de sua casa ele procurou dar-lhe um beijo. Tem saudades desse beijo que nunca lhe deu. Quando a deixou não a trocou por nenhuma outra moça, era dela que ele gostava e por ela ainda hoje sofre. Ainda hoje nas suas conversas com além sagrado pede aos bons espíritos que por ele zelam que igualmente possam zelar pela sua saúde, pelo seu bem estar, esteja ela onde estiver, esteja ela com quem estiver.


Sabe que o futuro não existe. O que lhes ensinaram sobre esse tal futuro foi e é uma forma de iludirem as pessoas. A vida só tem presente que de tão fugaz logo é passado que nos vai moldar nos nossos posteriores comportamentos ao longo da nossa caminhada por esta existência terrena.

Com consciência de que é um quase nada ou talvez mesmo já seja um nada, vive triste e feliz aqui no seu canto. Triste por estar aqui só. Quem o rodeia não sabe, não conhece não se interessa nem imagina a sua felicidade ao ver as coisas que tem no seu quintal florirem, frutificarem. A alegria que o inunda ao ver as flores dos tomateiros gerarem fruto, ao ver como as uvas vão crescendo, até de forma anormal pois com as alterações climatéricas tudo este ano parece estar adiantado no seu ciclo de vida. Todos os dias olha a ameixeira que de um caroço nasceu espontânea ainda no tempo do seu pai que tanto gostava dessa fruta, olha-a para ver as pequenas ameixas a ficarem dia a dia mais maduras, alimentando-lhe a esperança de as poder colher antes de voltar para a cidade dormitório da cidade grande; ainda esta manhã e pela primeira vez colheu duas ou três framboesas que lhe souberam a céus de felicidade, mas estes seus momentos ninguém que o rodeia imagina, lhe dá um pouco de atenção e muito menos valor.

Até parece que veio a esta caminhada só para servir os outros.


Ao jantar uma sopa de caldo verde que tinha feito com as couves que tem no quintal e uma banana, viu uma reportagem que estava a passar na RTP3 sobre o movimento religioso nos Estados Unidos, pensou no que tinha escrito antes de sair com a sua amiga para a volta higiénica do final de tarde.

Como é que diz não ser religioso, não seguir nenhum credo religioso e depois dizer que nas suas falas com o além sagrado pede aos bons espíritos?

Não tem, não segue nenhum credo religioso, não se sente católico, nem ortodoxo, nem judeu, nem muçulmano, nem budista, nem nenhuma das várias correntes que se podem designar por cristãos protestantes, sejam anglicanos, calvinistas ou outros. Nem tão pouco se sente ateu. Contudo, tudo isso não o impede de ter a sua religiosidade acreditando que o espírito que nos encarna não morre com a declaração material da morte, há mais vida para lá desta viagem terrena, vida que existe num universo desconhecido dos nossos sentidos, pelo que somos uma dualidade corpo-matéria, espírito-transcendência. Ao acreditar na espiritualidade, ao falar com esses seres seus desconhecidos, pede também por ela, porque como já escreveu, nunca lhe desejou outra coisa que não fosse o seu bem estar a sua felicidade. Já lá vão anos e anos que sem a conhecer nem saber nada da vida dela lhe deseja sempre o bem. Acreditem ou não nas suas palavras, pouco se importa já que os seus sentimentos são verdadeiros e não ganha nada em criar cenários que possam ser só delírios...

Ao não se considerar religioso não vê na religião um inimigo seu. A religião interfere consigo quando os religiosos entram com os seus conceitos na política, seja no caso da interrupção voluntária da gravidez, seja com a eutanásia ou questões com a sexualidade de género. Quantas vezes aos domingos de manhã ouve a missa na rádio para se inteirar ouvindo o que dizem os padres ou bispos aos seus fieis seguidores . A religião sempre foi conservadora de hábitos e costumes, que desde os tempos primórdios sempre viu na ciência um inimigo com o qual muito poucos lideres religiosos souberam interpretar aceitando os avanços técnicos da ciência. É assim que passa ao lado dos presumíveis crimes de pedofilia cometidos no seio da igreja, como também nada lhe diz o evento que irá ocorrer designado por jornada mundial de juventude. Como o Estado se rege por uma Constituição laica, passa ao lado das decisões com os gastos públicos com tal evento, porque não acredita que a religião alguma possa resolver os males que existem no Planeta. Não devemos por nas mãos de um ser desconhecido a quem chamamos Deus, os problemas que aos seres humanos compete resolver.


Quando em Outubro de 1975 decidiu casar com uma moça que conheceu quando veio da guerra passar um mês de férias junto com os seus pais, não casou pela igreja, apenas e só pelo civil para não dificultar ainda mais a vida dela com os seus futuros sogros, pois já nesse tempo pensava que casamento é um estado de espírito mais do que o «contrato de casamento» que a sociedade civil impunha. E, quando após o falecimento de sua mãe, as suas filhas lhe diziam para saírem os três de casa, sempre lhes disse que assim como não se deve abandonar uma pessoa que sofre de Alzheimer, também não se deve abandonar quem é doente de depressões quase continuas. Mas, como nasceu para servir, um dia a sua companheira mãe das suas filhas, decidiu deixa-lo com as filhas, ou seja, no final ficaram os três, ele e as suas duas filhas. Sina? Destino? Não sabe, gostando mais da palavra brasileira, Aprendizado.


São quase dez e meia da noite, levando umas horas a falar com o silêncio, com a sua ausência num mar de esperanças, contando-lhe coisas como se estivessem interessados em saber o que ele pensa e faz. Sorri, pois esta é a forma que tem de não deixar que a solidão entre na sua casa, basta-lhe o silêncio incomodativo de não ter diálogos sonoros.

Depois, mesmo quando namoravam ele nunca foi de grandes conversas telefónicas, ainda hoje assim continua, o aparelho de telemóvel serve-lhe tanto para falar como para tirar fotos mas mais até para escrever o que lhe vai na alma. Sabe que a sua vida será pouco mais que isto em termos afetivos, não alimenta ilusões, está só e irá continuar só, mesmo quando partilha o espaço de casa com outra pessoa.

Ainda ontem, no festival das “Cordinhas da Beira Baixa” em Idanha quando sentia os olhos húmidos de lágrimas ao ouvir as musicas que sua mãe gostava de ouvir e cantarolava, pensou nela mas de imediato a sua sombra o aconselhou a não pensar, pois não há nada a resolver nem a pensar. Há erros que não se resolvem apenas se carregam ao longo dos dias que a viagem posterior dá como oportunidade de vida.

A solução para viver passa por aceitar a sua tristeza da forma mais alegre e feliz possível, fazendo o que gosta de fazer já que os outros são os outros e ele vai continuar a andar na outra margem da vida no seu caminhar solitário levando consigo memórias do que não viveu.


Sente falta das filhas, sente falta das netas e do neto. Sente falta mas aceita sentindo que a revolta que em tempos sentiu por elas não lhe ligarem para saber se esta bem se precisa de alguma coisa, esse sentimento de revolta vai amadurecendo e ficando mais leve ou porque se habituou ou porque se fortaleceu interiormente nesse sentido. Deu o que soube dar e mais uma vez o presente que vive lhe ensina o aprendizado, nasceu para servir. Sabe que hoje as novas gerações encaram a vida e as relações afetivas com os mais velhos de forma diferente daquela que ele viveu em relação aos seus pais, independentemente da educação que tiveram e ele lhes deu, o meio em que vivem e se relacionam a isso conduz, os mais velhos que vivam a sua vida que na deles problemas não faltam, não sentindo ele direito de interferir nessa forma de hoje viverem. Encara essa realidade anexando-a à sua forma triste de ver o mundo e a vida presente. Preocupa-se com o tal futuro inexistente pensando nos netos. Preocupa-se mais provavelmente que os próprios pais.


A sua ignorância nos dias que correm é de tal ordem que não sabe quem são uns famosos “Coldplay” que atuaram em Coimbra. Não sabe, nem teve curiosidade em ir ao Google ver quem são esses famosos. O seu mundo vai ficando dia a dia mais estreito, mais reduzido mas também mais transparente.

Hoje é terça feira e já conta os dias que tem, antes de ir embora para a cidade dormitório da cidade grande. Já hoje sente a tristeza de deixar o seu canto, o seu quintal com as suas coisas a precisarem de atenção de carinho, sim tudo na natureza precisa de atenção, de um pouco de carinho já que todas as plantas ou árvores gostam que falem com elas, que as tratem e as defendam das pragas que andam voando em busca de lhes fazerem mal.

O ano é de seca, pior que o ano anterior e tudo está mais adiantado do que seria normal. Hoje de manhã quando saiu para ir à padaria colheu uns mirtilos antes que a passarada os coma, depois viu uma framboesa comeu-a, pois nem uns nem outros tem químicos. Coisas que gosta e que só aqui pode vivenciar (outra palavra brasileira que gosta). Pela primeira vez utilizou a bicicleta para ir à padaria comprar pão para estes dias até sexta-feira, que nesse dia irá levar pão para ir comendo na cidade dormitório da cidade grande. A princípio teve receio porque quando foi à farmácia de bicicleta os joelhos queixaram-se de tal modo que estava a ver que teria que ir a pé com a bicicleta pela mão. Hoje não sentiu as dores daquele dia e assim depois a meio da manhã colocou a mochila e foi de bicicleta ao mini mercado comprar um chouriço para fazer a dobrada com feijão branco para o almoço; aproveitou e comprou os dois queijos de cabra curados que la estavam da Malpiqueijo, um para si e o outro para levar ao primo António Moreira, não resistiu e comprou um salpicão de uma empresa espanhola de Salamanca, os “embutidos” espanhóis são melhores que os nossos chouriços ou salpicões, já sua mãe lhe dizia isso.

Escreve passando a sua mão esquerda nas suas barbas brancas de solitárias enquanto os dedos da mão direita deslizam nas letras do teclado obedecendo ao que os seus neurónios vão processando em continuo, escreve ouvindo canções no youtube. Questiona-se para que escreve ele falando com quem não o ouve nem lhe irá responder, não lhe importa fá-lo e irá continuar até que um dia chegue a hora.

Gosta de ouvir a canção: - Yo te diré

Yo te diré

Por qué mi canción

Te llama sin cesar

Me falta tu risa,

me faltan tus besos

Me falta tu despertar.

Yo te diré

Por qué en mi canción

Se siente sin cesar

Mi sangre latiendo,

mi vida pidiendo

Que tú no te alejes más.

Cada vez que el viento pasa

se lleva una flor

Siento que nunca más volverás mi amor

Y no me abandones nunca al anochecer ,

que la Luna sale tarde

y me puedo perder.

Así sabrás por qué mi canción,

Te llama sin cesar

Me falta tu risa, me faltan tus besos

Me falta tu despertar.

E, com ela se deitou, para pela manhã se levantar cedo e em função do que se passar durante a noite com a chuva ou trovoada decidir que volta irá dar com a Sacha para que ela possa correr livre pois esta estadia está a chegar ao fim.


domingo, 4 de junho de 2023

21.05.23

Como não há duas sem três, ontem à tarde fui assistir em Idanha a Nova ao espetáculo designado "Cordinhas da Beira Baixa", e que espetáculo, embora as condições acústicas da tenda onde se realizou não sejam as melhores. Mas, a alegria, a felicidade com que os intérpretes executaram todas as músicas foi um espetáculo a merecer a atenção de como com pouco mas muita vontade, criatividade e amor ao que se faz, se pode do quase nada fazer muito.

O obreiro de tudo, segundo percebi, o Maestro Alexandre Pontes é um transmontano de Moncorvo que por razões da sua vida se fixou em Castelo Branco ensinando como professor de música a sua arte, o seu amor e criatividade. Com as oportunidades que as Universidades Seniores foram dando nas várias povoações em que se organizaram, criou o Maestro Alexandre Pontes aqui e ali grupos de cavaquinho que logo se distinguiram, pela empatia que sabe criar levando as gentes amadoras seniores a interessarem-se por aprender e melhor dia a dia semana a semana, demonstrando toda a sua qualidade. Entre os grupos amadores de várias povoações dispersas, juntou-os para este espetáculo ao qual acrescentou as vozes da Raquel Maria e do Rodrigo Lourenço.

O Maestro Alexandre Pontes é um homem dos "n" instrumentos já que sete são poucos, juntando a essa arte a capacidade de fazer arranjos extraordinários com as "Cordinhas da Beira Baixa" desde o Chapéu Preto, às Saudades da Beira, passando pela Maria Faia, pelo Vejam Bem e outras que agora me falham na voz de Raquel Maria, sem esquecer a Sra. do Almurtão, para na minha modesta opinião acabar com "Cantar de Imigração" cantada a dois, com a Raquel e o Rodrigo, mas onde a letra da canção diz Galiza podemos ouvir Idanha a Nova. Um final com chave de ouro.

Durante o espetáculo sentado cá atrás, lembrei-me de ti mãe, do teu sorriso quando ouvias na rádio estas músicas que logo cantarolavas. Estavas ali comigo sem que ninguém soubesse. Outras estiveram também comigo mas só tu sorrias ao ouvir aquelas canções populares da tua província a Beira Baixa.

No regresso a casa pela estrada municipal entre extensões a perder de vista de amendoal intensivo e super intensivo, lembrei um amigo que com os seus companheiros bem gostaria de fazer parte daquele grupo de "Cordinhas da Beira Baixa", ele que tanto gosta da sua terra, dos seus antigos costumes, da sua Beira Baixa. 


 

20.05.23

Nesta terra sem-esquecida dos que têm o poder de fazer progredir o país que lá longe num litoral com o mar a comer-lhes as areias se perdem em discussões que nem peixeiras na ribeira, ontem pelas 21H na igreja matriz da Zebreira aconteceu cultura ao vivo e graciosa por uma pequena orquestra de jovens raianos. Esteve muito bem o jovem Martim Sousa Tavares, maestro da OSF - Orquestra Sem Fronteiras, ao explicar a todos os presentes o entendimento dos vários andamentos da obra que o compositor alemão Wagner compôs para oferecer à sua mulher no dia do aniversário, antes do momento solene de nos darem a ouvir a obra por completo.

À tarde em Segura, à noite na Zebreira, e hoje em Monfortinho e depois em Salvaterra do Extremo, a jovem orquestra dos músicos sem fronteiras com o seu maestro e fundador faz acontecer cultura, nestas terras onde a música clássica é coisa rara.

Bem haja quem se lembrou que nestas terras semi esquecidas do poder central possa acontecer cultura, demonstrando que os jovens também têm futuro no interior, assim existam políticos com coragem para mudar a agulha da vida e fazer do interior um centro de desenvolvimento sustentável no respeito pelo ambiente e pelas resistentes populações que nele teimam em viver resistindo.

Que a Junta de Freguesia da União de Zebreira e Segura continue atenta e aproveite as oportunidades existentes para como no dia de ontem fazer acontecer cultura para as suas gentes no seu território.

Bem hajam todos os presentes incluindo de forma especial os jovens músicos como seu maestro, sem esquecer a própria Junta de Freguesia.




 

 

19.05.23


Assisti na noite de ontem dia 18 na capela da Misericórdia do Rosmaninhal à apresentação de mais um Cruzeiro dos Avieiros do Tejo. Organizado pela Confraria Ibérica do Tejo o cruzeiro deste ano a exemplo dos anteriores é um cruzeiro religioso e cultural que une as populações ribeirinhas das duas margens do Rio Tejo, que na vizinha Espanha onde nasce se designa Tajo, e, segundo a professora Adelaide Salvado o nome do rio que já foi caudaloso remonta ao tempo dos Sumérios e está ligado à ideia mítica de um deus desse povo.

Rosmaninhal, é a povoação raiana fronteiriça onde o Rio Tejo entra em Portugal, daí o Cruzeiro dos Avieiros do Tejo iniciar o seu percurso religioso e cultural rio abaixo a partir do Rosmaninhal até à foz em Oeiras, numa bateira típica dos pescadores do rio que nela conduzem a imagem da Nossa Senhora dos Avieiros.

A imagem da Nossa Senhora dos Avieiros reside numa capela da Praia da Vieira em Leiria, de onde um dia terão saído os avieiros para se fixarem nas margens do Rio Tejo. A imagem veio para o Rosmaninhal para amanhã no Tejo/Tajo iniciar o seu percurso aos fins de semana dando-se início à função que os organizadores atribuem ao cruzeiro que sendo religioso é também cultural, unindo e aproximando as gentes da beira-rio. Prevendo-se a chegada à marina de Oeiras no dia 18 de Junho.

Durante a apresentação abordaram os oradores vários temas históricos e culturais ligados à longa história que a população do Rosmaninhal tem neste território raiano e a sua ligação ao maior rio da Península Ibérica, que já foi um rio caudaloso para hoje apresentar os problemas que todos os que se interessam pela vida e pela natureza conhecem com preocupação crescente, porque o rio que já foi caudaloso está hoje doente apresentando um caudal anémico, por ação da natureza mas também e muito pelo sistema de vida que as sociedades ibéricas tomaram no seu desenvolvimento económico e social.

Desconheço se foram convidados mas não vi nenhum representante do Parque Natural do Tejo Internacional, a cuja área pertence o Rosmaninhal, assim não compareceu nenhum representante do Município que tanta publicidade faz nas redes sociais e em órgãos de comunicação afetos à religiosidade das suas gentes, nem sequer um elemento da Junta de Freguesia estava presente. Coisas da política municipal e da mesquinhes dos seus políticos dirigentes.


17.05.23

 

Pela primeira vez vejo andar no quintal um melro e uma popa. Não me lembro de alguma vez ter visto estas aves procurando alimento na terra do quintal.

O ano vai mau para tudo. A falta de chuva a todos e tudo afeta, exceto, os “papagaios-televisivos” que ao segundo pingo de chuva falam logo em mau tempo, quando a chuva caindo de forma compassada é uma alegria para todos aqueles que sentem a Natureza na sua forma mais pura.

Eu gosto de chuva. A chuva a bater nos vidros ou no telhado é uma música única original sem pauta nem metrónomo.

Todos os dias vejo as previsões do tempo na esperança que possa estar prevista a sua chegada, adiando sempre a esperança. Enquanto isso vou vivendo e olhando como a Natureza produz coisas que fixo num clik de telemóvel com a minha amiga sempre irrequieta a querer cheirar tudo

17.05.23

Pela quarta vez lê as folhas escritas que lhe enviou. Depois, deixa-as em ordem no sofá como as imprimiu. Olha-as antes de se deitar ainda pensou em arrumá-las em outro local, mas deixou-as ficar, talvez volte a lê-las de novo, ou não.

Arrumou a tonelada de lenha de azinho que comprou há dois anos. Quando acabou era hora de preparar o almoço. O cansaço pedia qualquer coisa fresca, tirou umas cascas finas a um limão, colocou-as num copo grande que comprou, onde despejou um pouco de gin, adicionando-lhe uns cubos de gelo e água tónica. Enquanto almoçava o bacalhau com grão que lhe tinha sobrado de outra refeição ligou o aparelho de televisão. Os vizinhos espanhóis continuavam a noticiar os diálogos que viu de manhã entre a oposição e o governo, principalmente entre os populares, os falangistas e os socialistas, com a porta-voz do partido basco a intervir também. Problemas que lhe fizeram vir à memória o grande livro Pátria de Fernando Aramburu que leu no final do verão passado. Como tinha visto o debate enquanto tomava o pequeno almoço passou de imediato para a RTP3 que noticiava a visita dos inspetores da Autoridade Fiscal aos três clubes designados grandes, Sporting, Benfica e Porto, não se admirou mas estranhou pois não tem sido hábito da AT passar para os órgãos de comunicação as visitas que faz na sua atividade de fiscalização seja a clubes de futebol seja a grandes empresas, mas ao aparecer no ecrã o comunicado logo viu o porquê, “DCIAP”. Aquilo metia os costumeiros justiceiros que gostam de dar matéria aos amigos da comunicação, como se uma visita de inspeção fosse alguma condenação judicial. Quando viu o advogado que se prestava a comentar o caso de imediato carregou no botão off e desligou. Um advogado que pertence a uma sociedade que é das mais importantes especialistas à fuga de impostos e à transferência para off shores de dinheiros, a comentar a visita dos inspetores da AT num canal da televisão publica referente ao que parece a um processo que corre no ministério público e que já tem barbas mais brancas que as suas, não é para a sua paciência.

Já ontem lhe aconteceu situação idêntica ao ligar o aparelho de televisão, onde uma senhora que dizem ser ministra da agricultura sobre o problema de seca que o país atravessa, lá debitava o terço de rever subsídios aos agricultores, incluindo o do gasóleo, assim como pedir, sempre de mão estendida, aos burocratas liberais sem alma em Bruxelas, desligando de imediato pois fica com os nervos à solta com o que a senhora que dizem ser ministra da agricultura, debita quando fala.

Pouco ou nada sabe de agricultura. Sabe que a célebre PAC defende sobremaneira os interesses das grandes empresas agrícolas de França, Alemanha e Norte de Itália. Sabe que sem água não há vida, não há agricultura, não há aves, não há animais nem florestas, não existira biodiversidade tudo irá secar, morrer como hoje não conhecemos.

Os campos precisam de água para produzirem os bens alimentares que comemos, mais do que encher barragens para fornecer às cidades. Sabe que não pertence a nenhuma organização política ou corporativa agrícola, mas sabe de certeza que subsídio ao gasóleo não cria palha para os pequenos e médios agricultores darem de comer ao gado bovino, caprino (cabras e ovelhas). A senhora a exemplo de anteriores políticos que se intitulam ministros da agricultura, só sabem prometer pedir a Bruxelas autorização para subsídios, muitos deles complexos e burocráticos.

Os agricultores que têm gado, sabem que a senhora não pode fazer chover para as ervas renascerem e o gado as comer, mas sabem que o feno não cresceu, e a palha é um bem raríssimo não existindo no mercado português e espanhol. Precisa-se urgentemente que se encontre quem possa fornecer o mercado de palha a preços não especulativos.

Será que esta necessidade é sentida pelos políticos da agricultura? 

 

Cheguei há três dias. As televisões raramente as ligo. Uma delas ainda nem a liguei à corrente elétrica. A da cozinha ligo-a ao pequeno almoço e ao jantar alguns minutos. Nesse pouco tempo prestei atenção à TV E na sua reportagem sobre o mau ano que os vizinhos anteveem para o olival e consequente produção de azeite para o próximo ano. Tudo pela ausência da chuva que teimou em não cair a preceito moderado na sua época.

Por cá não sei o que dizem os responsáveis, sejam políticos ou representantes de associações corporativas, preocupados que andam os políticos em só agora saberem da seca que já leva anos a falta de chuva agravando a situação ano após ano.

Aqui, o sistema TDT chega-me, até porque com a idade vou ficando mais conservador e teimoso, pelo que não sinto necessidade de ter muitos canais informativos de pensamento único, onde o que varia é a forma como os “servos-papagaios” articulam as palavras. Não sou grande cliente de canais privados. Como sou obrigado a pagar uma taxa para a RTP, essa empresa chega-me ou chegar-me-ia se os seus dirigentes políticos e gestores me merecessem respeito; como os gestores são de qualidade duvidosa alinham pelo mesmo nível da fraca qualidade dos canais privados, por isso não nutro por tais individualidades qualquer respeito, não lhes dando mais tempo de antena do que o estritamente necessário para ouvir notícias e algum outro raro programa. Alguma rádio é suficiente para ir vivendo.

Pela Internet vou sabendo do que vai acontecendo no país assim como no mundo designado por ocidental com o futebol, a guerra lá pela Ucrânia, a luta de baixa política entre governantes e opositores internos, depois aconteceu a coroação de um novo rei, mas como sou republicano essas cenas monárquicas pouco me dizem, respeito-os e sigo o meu caminho.

Agora neste dias foram as peregrinações, religiosa a maior, mas a do futebol é mais duradoura. Já fui religioso, hoje tento compreender o fanatismo da fé qualquer que seja o credo religioso, relembrando a frase de um antigo padre católico "Deus na sua transcendência a todos quer bem", e sigo o meu caminho.

Quanto ao futebol, o capitalismo que sempre busca novas formas de negócio viu no mundo do futebol uma máquina poderosa de "lavar dinheiro sujo" fazendo dos artistas da bola novos escravos, onde alguns são escravos-ricos, outros escravos-milionários e a grande maioria dos artistas da bola simples escravos-iludidos no sonho da vida fácil que o dinheiro que corre nessa mal designada industria lhes pode proporcionar. Depois há os oficiais e oficiosos cartilheiros a acompanharem “papagaios” na difusão do boato, da dúvida que potência o fanatismo-clubite transformando-o numa nova doença social, que divide e cria inimizades entre amigos e mesmo entre familiares, mostrando como a sociedade que ajudámos a criar se encontra anémica e doente, nas mãos de gente sem rosto nem alma.

Sou um ramo de uma árvore que um dia o amor entre cristão-velho e cristã-nova gerou, graças ao Marques de Pombal que acabou com mais essa ignóbil lei criada pelo fanatismo religioso apostólico romano, a Inquisição. Educado no modelo tradicional do Estado Novo, não tenho medo nem vergonha de dizer que não gosto dos princípios muçulmanos, respeito-os em sentido lato mas não gosto. Como tal nunca simpatizei com Ergodan. Não sei se ganhará à primeira, à segunda ou não. Chamou-me a atenção a publicidade ocidental ao líder da oposição a Ergodan. Perguntei à minha sombra o porque, que a sorrir me disse, ser agora Ergodan pessoa não grata no seio da NATO pela posições e medidas que tem tomado no conflito que a NATO tem com a Rússia na Ucrânia. Talvez seja isso. Talvez as notícias que chegam fora do pensamento único vigente, noticias que retratam uma aproximação entre a Turquia e a Síria, assim como o Irão com a Arábia Saudita, tenham feito soar o alarme no seio dos estrategas geopolíticos que mandam e querem decidir sobre o futuro agressivo da NATO na Ásia Menor.

Na guerra em curso mantenho que ainda estava longe a madrugada de 22 de Fevereiro 2022, já a Verdade tinha desertado para bem longe dalí. Hoje a ilusória democracia ocidental censurou vídeos que estavam na net que retratavam não só o que se passou no golpe de estado de 2014 em Kiev, como os desenvolvimentos seguintes de apoio às milícias nazis patrocinadas e ou consentidas pelos que a mando dos americanos estam no poder na Ucrânia. Ao publicar umas fotos dessas milícias nazis logo o algoritmo censor do Facebook me silenciou por vinte nove dias. Não gosto de milícias privadas, sejam elas Azov, Setor Direita ou Wagner, todas integram mercenários nazis amantes da pureza da raça. Sou contra esses pequenos exércitos privados, os quais representam para a minha opinião um retrocesso civilizacional, fazendo lembrar tempos da Idade Média em que nobres e bispos tinham exércitos mais poderosos que o próprio rei. Mesmo sendo eu um quase nada, sou um defensor do Serviço Militar Obrigatório, adaptado à realidade do tempo em que se vive. Um país para ser Livre e Independente não deve, não pode estar sujeito a caprichos de milícias privadas.