terça-feira, 16 de janeiro de 2024

07.01.24

 

Continuo ausente nestes primeiros dias do ano vinte vinte e quatro que só é novo porque o vinte vinte e três ficou para trás no passado de onde não retorna.
Ausente, que ao acordar depois de olhar as primeiras páginas dos jornais que ainda se publicam logo sinto as pálpebras dos olhos a pesarem como se cansadas desejassem o regresso ao mundo do sono ou procurando um simples embalo no mundo das lembranças e recordações, mas ausente, sei que não irei mais dormir cumpridas que estão as minhas cinco ou seis horas de sono continuo.

Os meus olhos já se habituaram ao estado de ausente do mundo noticioso televisivo que nos cerca, e assim querem continuar porque nem toda a escuridão é sinónimo de trevas.

Vivo como ausente desta vida vendo a outra “ausência” a descer a Rua do Alecrim para de imediato a ver chegar sorrindo da Rua das Pretas como quando a esperava na Avenida da Liberdade.

Na rua quase deserta só o nevoeiro húmido cerrado acentuando o tempo frio nos fez companhia com a Sacha a viajar quase sempre ao meu lado; nas paragens dos autocarros da Carris Metropolitana nem viva alma aguardava transporte, nem os gatos de rua se viram que o tempo convidava mais ao recolhimento.

Chegado a casa enquanto tratava da Sacha liguei o rádio para ouvir a lengalenga da missa dominical, onde as palavras se repetem domingo após domingo, cerimónia após cerimónia como se não houvesse futuro para lá das paredes onde se reúnem os fieis e os crentes, como se a própria instituição não tivesse um passado de tirana perseguição e morte sobre os cidadãos que não comungavam das suas crenças ou da sua forma luxuosa de vida em oposição à vida difícil e até de miséria do povo a quem pregavam e continuam a pregar a boa nova de um paraíso que eles próprios desconhecem existir.

Enquanto arranjava os legumes para fazer uma panela de sopa e preparava umas sardinhas para as fazer no forno ouvi na rádio Antena 1, como habitualmente faço aos domingos de manhã, “O Amor É” sobre o tema “Cartas de Amor”: ouvi com redobrada atenção o que o professor ia dizendo, procurando nas suas palavras algum conforto não só para a minha atitude de há muitos anos em que na época me fiz ausente quando amava, como também para a minha presumível loucura de passados tantos anos sem que nos conheçamos lhe escrever cartas que podendo ser de amor lhe solicitam um simples pedido de desculpa pelo que lhe fiz nesse ano de mil novecentos e setenta. Contudo, hoje escrevo muito mais no computador do que à mão, por me ser mais fácil desde que apareceram estas máquinas tecnológicas com os seus programas de texto, não gostando agora da minha caligrafia quando procuro em esforço escrever à mão seja com lápis, esferográfica ou caneta de tinta permanente pois com a idade as artroses nas falanges dos dedos vão dificultando a escrita manual.

06.01.24

 

Há erros que não têm cura. Erros que só a vida nos mostra quando já não há solução para a cura, passando-se a viver com o erro, com o arrependimento que o mesmo nos causa mostrando-nos que nem sempre os caminhos escolhidos podem ter sido os melhores.

A vida é um sistema muito complexo de oportunidades, de opções desde que nascemos até que um dia cumprido o prazo de validade terminamos por cá a nossa caminhada.

Valerá a pena sofrermos com os erros cometidos? Não sei, pois há erros e erros havendo mesmos erros que nos perseguem e nos castigam como uma ferida em carne viva que não sara. Que fazer com esses erros, é de novo um outro problema complicado talvez mesmo sem solução?

Vivo com o erro que não tem cura continuando a ter esperança que um dia o mesmo se esqueça de mim e deixe de me martirizar, pois não me parece existir outra solução alternativa




02.01.24

 

A noite televisiva deve ter sido longa. O converso intriguista-mor que ocupa o palácio presidencial em Belém falou ao país sem estar rodeado da sua corte de fiéis aprendizes a papagaios e catatuas sem penas. O sujeito falou mas não o ouvi. No início da sua estadia por Belém ainda me embalou mas depressa lhe fiz um RX afastando-me de imediato de tal personagem intriguista narcisista de um populismo egocêntrico cínico e venenoso.

Quando no princípio da noite passeava a minha amiga Sacha ainda pensei que para ouvir a mensagem do converso, iria voltar a ver e a ouvir televisão, mas já estávamos a jantar quando olhei o aparelho desligado e nada disse; é um sossego estarmos às refeições com o aparelho desligado. O diálogo à mesa foi retomado depois de quase dois anos em que nada podia dizer ou comentar que o ambiente ficava de imediato tenso e pesado, pois nesta casa só há maioritariamente dois grupos de comunicação televisiva, a TVI e o franchisado CNN de um lado e a SIC e SIC-notícias do outro lado, e, mesmo nestes quando fugazmente aparece o líder ou deputado do PC ou até mesmo um do PS mais social democrata de imediato o comando trata de o silenciar, mantendo-me quase sempre em silêncio nessas alturas pois a casa não é minha.

Na minha estadia na Zebreira habituei-me a não ver a não ouvir os servos papagaios e catatuas sem penas que na sua função-ambição de serem agradáveis e fiéis à voz do dono dos canais televisivos procuram criar um ambiente hostil ao Estado Social e a quem o defenda, tudo sempre cientificamente elaborado nas agências oficiais e oficiosas que o neoliberalismo radical americana lhes coloca ao serviço para que possam em nome da democracia defenderem a cultura ocidental sempre a bem da nação



01.02.24

Começou o ano 2024 e não acabei de ler as últimas páginas do livro “Submissão” de Michel Houellebecq. Como tem acontecido nos últimos tempos depois de jantar pelas vinte e uma horas as pálpebras começam a pesar e levam-me a embarcar no mundo leve do sono. Não fosse o ladrar da Sacha aos foguetes do fogo de artifício que alguém lançou a destempo e talvez passasse a passagem de nível entre os anos 2023 e 2024 no meu embalo sonífero ou acordando em cima do acontecimento, que não sou de dar importância a estas coisas de mudança ou passagem de ano, tudo vai continuar igual ao que tem sido porque o ser humano é um bicho de difícil definição. Há hora certa na rua há foguetes do designado fogo de artifício que incomodam a Sacha que não para de ladrar num tom de zangada, depois há esta coisa de se comerem doze passas consoante as últimas badaladas do ano de 2023 para se desejarem doze desejos para o novo 2024 como se tal fosse exequível e, como o champanhe está caro bebi um cálice de ginja porque ao jantar já tinha bebido a conta de espumante que para mim não deixa ficar mal o próprio champanhe.

Consegui passar a noite sem dar atenção à merda que o canal de televisão transmitia, bastava-me ouvir sem entender o que dizia uma voz embirrenta de uma antipática esganiçada que me enoja, um belo exemplar, que segundo dizem as vozes destas coisas é paga a peso de ouro, não deixando contudo de ser a esganiçada um belo exemplo da mediocridade asfixiante com que os tipos sem alma que controlam os canais televisivos brindam o povo português cuja cultura é na sua grande maioria uma cultura de missa e televisão.

Foi difícil, foi cansativo conseguir abstrair-me do que se passava no ecrã da televisão quando depois de jantar me sentei no sofá da sala para passar umas horas até o calendário mudar de número; é um cansaço na cabeça aquele barulho de fundo que não doendo me pesa e entristece levando-me a ver as letras iluminadas no fundo da minha parede cerebral que me questiona “Carlos, o que fazes tu aqui?”

Para fugir das letras interrogativas optei nos minutos iniciais do novo dia, mês e ano. Nada muda com a alteração de calendário e como tinha previsto uns dias antes levantei-me quando os meus sensores corporais me alertaram, eram cinco e vinte e dois da madrugada reinando o silêncio que só a gata Ísis interrompe com o seu miar a pedir festas, ao realizar os procedimentos habituais constatei que não havia novidades nas páginas dos jornais que neste dia não se publicam, vagueei então um pouco pela rede social e nada de novo me chamou a atenção, tudo continua velho e apreensivo indiferente à mudança de ano, o Homem animal de hábitos não muda em si mesmo com a passagem de ano. Os políticos do arco da governação e suas novas ramificações bravias acarinhadas pela comunicação social em especial pela televisiva, vão continuar a mentir na sua ambição de alcançarem o poder pela via mais fácil, a mentira; há muito que os partidos maiores do arco da governação arquivaram os ideais filosóficos e, já antes os seus patronos tinham deitado no caixote das coisas inúteis a ética e a moral. Quanto às novas ramificações bravias que se autonomizaram como novos partidos políticos ganham terreno com paleio populista tudo criticando e de tudo dizem mal, escondendo nesse populismo os seus objetivos imediatos; chegaram para destruir o Estado Social sabe-se, mas como o irão fazer não nos dizem fazendo das suas mentiras tantas vezes ditas e difundidas pelas televisões dos empresários amigos várias vezes ao dia quando não é hora a hora, a sementeira do populismo muito por culpa dos que tem exercido o poder governativo que e se deixam enredar em situações pouco claras e de duvidoso interesse publico. Nada ou pouco irá mudar na política nacional com a campanha eleitoral que se avizinha, a mentira andará à solta, os órgãos de comunicação irão continuar a fazer campanha pelos seus favoritos colocados à direita do centro, até os infelizes órgãos de comunicação públicos pagos pelos contribuintes estão cheios de infetados de mente purulenta mal cheirosa sendo cada vez menos os profissionais dignos da profissão de jornalista.

Desde final de Outubro que deixei de os olhar, de os ouvir com alguma atenção, tão miseráveis me parecem na sua não independência. Os jornalistas de verdade que ainda lá existem estarão afastados das luzes da ribalta por conveniência do invisível poder que nos quer parametrizar o modo de vida..

A pouco e pouco a censura foi e vai retomando as suas funções não necessitando do famoso “lápis azul” tornou-se tecnológica e revestiu-se de democrática, sendo-nos vendida como necessária e imperiosa para defender a liberdade democrática da cultura ocidental, faço-lhes um manguito à Zé Povinho mas eles não se importam e até se riem, sejam eles uns vendidos ou uns ambiciosos saudosistas do salazarento Estado Novo.





segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

31.12.23

 

Na contagem dos meses e dias chegamos ao fim de mais um ano civil. Mais um ano, um tempo grande passou continuando eu a minha caminhada de tresmalhado solitário vivendo acompanhado de desejos e sonhos, assim com de esperanças, reconhecendo que alguns dos sonhos não passam de utopias que há muito coabitam, até mesmo há desejos que se vão transformando em utopia tão difíceis se apresenta o poder alcançá-los.

Como cada um de nós vive para lá das coisas materiais com aquilo que possui no seu eu interior, irei enquanto cá andar com a saúde que vou tendo este continuar de alimentar a esperança em poder alcançar alguns poucos desejos, tão poucos que cabem na palma da minha mão, já quanto aos sonhos duvido que se tornem realidade pois a linha do horizonte onde a utopia se mantém vai ficando dia a dia sempre um pouco mais desfocada.

Resumindo, para 2024 mantenho a esperança de poder alcançar uma resposta ao meu desejo dos últimos anos para que posteriormente possa sentir-me mais leve no meu caminho de tresmalhado solitário nesta reta final cujo tamanho dos dias desconheço.

30.12.23

 

Tudo tem um tempo, uma medida, tudo tem dois polos contrários porque tudo é uma forma de energia daí o dizer-se que não há bela sem senão, assim como toda a inovação tem um lado negativo que normalmente afeta a natureza.

O tempo de 2023 está a chegar ao seu termo, na medida dos dias apenas restam dois dias, o hoje e o amanhã, para no dia seguinte se iniciar um novo ano no tempo, 2024, em que a medida do mesmo tem mais um dia como forma de se ajustar matemática e fisicamente a velocidade de rotação do planeta à absoluta dimensão do tempo.

Vivo este passar do tempo descrente cansado que me sinto pelo caminho que na vida percorri, o andar pela outra margem da vida não significa que viva num mundo de sonhos irreais, o ser um tresmalhado do rebanho é cansativo exigente na preservação dos sentimentos, na manutenção da lucidez, exigente na análise do conhecimento, exigente na leitura dos factos que sempre têm mais que uma leitura única. Nos intervalos do tempo cultivo recordações, lembranças, do caminho percorrido sem saudades fugindo mais dos “se” que dos “porquês”, porque saudades só tenho do inexistente futuro teimoso que sou.

28.12.23

 

O fim do ano aproxima-se, sendo que nada de substancial irá mudar nas nossas vidas. Cresci sem que na nossa casa déssemos importância de maior à passagem de ano, a grande maioria das noites passávamo-las já deitados .

Há já uns anos que voltei a não dar importância à passagem de ano, pois como atrás disse nada de substancial irá mudar na vida das gentes, a ganância, a inveja, o ódio, a soberba assim como a mentira irão continuar a dominar a nossa sociedade atual; a paz irá continuar a ser falada como um objetivo a alcançar pelos arautos do sistema apresentados aos cidadãos como grandes especialistas na coisa, mas pelo caminho a mentira, a ganância, a soberba e a ambição irão continuar a colocar a guerra e o ódio no caminho para que a paz não seja uma realidade, já que as bases da atual fase do sistema capitalista liberalista não só precisam como são dependentes do desenvolvimento da industria de guerra criando continuamente armas cada vez mais mortíferas.

Pessimista? Talvez, mas qual foi o início de ano em que se verificaram acontecimentos, alterações qualitativas na vidas das gentes e das nações, qual foi esse ano, essa passagem?

Ainda não sei se em 2024 voltarei a olhar e a ouvir o que dizem nos canais televisivos; desde 25 de Outubro que só vejo televisão para olhar sem som os jogos de futebol do Sporting. Antigamente quando a mercantilização ainda não dominava a vida das gentes, logo pelo noticiário da hora de almoço do dia 31 de Dezembro se começava a ver as festas de fogo de artifício dos países que situados no Oceano Pacífico já tinham mudado de ano e calendário, e, assim se continuava até chegar a noite e podermos ver os nossos fogos de artifício, onde a Ilha da Madeira ocupava lugar especial, mas nos últimos anos com as exclusividades em guerras de manjerona entre canais televisivos mal cheirosos e alguns tóxicos, já nada me convida a ficar acordado para celebrar o momento com um cálice de porto ou uma ginjinha em cálice de chocolate.

Na manhã do dia 1 de Janeiro irei sair à mesma hora de todos os dias, entre as sete e as sete e meia, para a volta matinal com a minha amiga Sacha, iremos ver o Sol aparecer de nascente na lezíria lá pela outra margem do Tejo, que o planeta não altera os seus procedimentos no sistema solar há milhões de anos quanto mais por vontade dos humanos a festejarem uma data sem importância na sua constância, e no silêncio da manhã acompanhado pela sinfonia das aves irei na minha conversa com o Sagrada continuar com as minhas falas, sabendo que pelo certo não serei ouvido por quem me pode dar o pouco que me falta para encontrar a plena paz e com ela fazer o resto da minha caminhada, sabendo que o amor é a busca daquilo que me falta, pois sendo um quase nada, um tresmalhado do rebanho, recuso-me a seguir no ano de 2024 o rebanho da maioria que têm tanta coisa à sua volta que não vêm, nem ouvem, pelo que poucos são os que irão dar pela minha ausência.

Como só se aprende o caminho depois de perder muitas vezes, continuo a lutar para não perder a esperança recordando memórias que não perdi nem ganharam pó e com elas faço também o meu caminhar sem medo de olhar o passado já que tudo renasce sobre outras e várias formas.

«O céu abraça a Lua seja qual for a forma que ela toma» (provérbio hindu).

22.12.23


 

Reza a história que o pai, homem cumpridor de horários e obrigações, foi entrar ao serviço pelas 08H00 no Posto que a Guarda Fiscal tinha nas instalações da Atlantic em Cabo Ruivo - Olivais, fazendo o percurso que distava do quarto onde vivia com a mulher até ao posto da GF sempre a pé pois a distância não era muito grande. Ao chegar ao serviço, presumivelmente antes do horário determinado, já lá tinha a notícia dada por telefone de que era pai de um novo rapaz. O filho mais velhinho não tinha ainda um ano e estava com os avós na Zebreira, já que o jovem casal vivia ainda num quarto alugado.

Se olharmos a ciência dos astros no nosso sistema solar ficamos a saber que o planeta Terra tem há milhões de anos comportamento constante nos seus movimentos de rotação e translação, assim naquele ano de mil nove e cinquenta na cidade de Lisboa o renascer do Sol depois da noite mais longa do ano ter-se-á verificado pelas 07H52 como acontece neste dia passados que são setenta e três anos, sendo que a lua só irá aparecer pelas 14H00 para ter o seu ocaso pelas 04H14.

Nasci naquele quarto do número 25 naquela rua da cidade de Lisboa anunciando o nascer do Sol, daí o meu gostar muito mais de nas madrugadas poder assistir ao nascer do Sol que me renova as energias e esperanças, do que propriamente gostar do seu ocaso quando se anuncia a chegada da noite que é escura como um dia lá longe olhei a morte.

Tendo já entrado na reta final, vontade e querer para viver mais uns anos não me falta; tenho saudade do inexistente futuro para poder acompanhar a vida e evolução nesta dos meus netos e vindouros

20.12.23

 


Nada tenho que me aproxime de António Costa, política e pessoalmente. Reconheço que face a presumíveis atos apontados pelos justiceiros do Ministério Publico -Procuradoria Geral da Republica, atos indiciários sem provas nem acusações só porque lhes cheira ou julgam cheirar, o Primeiro Ministro A. Costa tomou a decisão de “pessoa de bem” na política e sai pelo seu pé para aguardar o evoluir do processo na justiça.

Não vejo televisão desde 25 de Outubro, exceto os jogos televisivos do Sporting, mas ontem ia a passar e olho para o televisor ligado onde vejo um antigo PM de má memória pelo fez antes e durante o seu mandato de governo dizer que o ainda, embora demissionário, PM A. Costa saiu “por indecente e má figura”. Calado segui o meu caminho, pensando que o meu país bateu no fundo da moral e ética política; como pode um tipo que fugiu ao pagamento das devidas prestações para a Segurança Social, que esteve envolvido como responsável em falcatruas com a aplicação de Fundos Europeus, que como PM nem pelo aumento brutal dos impostos diretos e indiretos, nem pelo rombo nas prestações sociais de reformados e pensionistas consegui apresentar um único Orçamento de Estado que não tivesse erros e omissões nas contas? que autoridade?, que moral?, que saber tem um tipo de tão má e triste envergadura para acusar o ainda, embora demissionário, PM A. Costa de “indecente e má figura”?

A direita mais ortodoxa, mais saudosista do Estado Novo da trilogia «Deus, Pátria e Família» dominando a comunicação social procura afanosamente um líder servindo-se e promovendo antigos PM’s pois o inquilino de Belém já não lhes serve, pelo que trabalham agora para a sua substituição fazendo promoção barata mas constante a figuras políticas como os antigos PM do PPD, onde o sinistro « homem do poço» serve como prefácio.

(foto retirada da net)

16.12.23

 

Às autoridades de saúde não lhes basta o envio de “n” mensagens para o meu aparelho de comunicação, informando-me que tenho na farmácia à minha disposição as vacinas para a gripe e covid, que até o Centro de Saúde me liga para o mesmo efeito. 

Educadamente respondi à senhora, era uma senhora, que não iria tomar a vacina da gripe e quanto à dose da vacina para o covid que de boa vontade faço a doação da dose à senhora Ursula von der Leyen, já que ela encomendou tantos milhões de doses ao laboratório onde o marido trabalha e de onde parece ter saído o vírus na filial chinesa, sinal de que a senhora deve ter muito medo ou muito saber; eu irei continuar a procurar cuidar-me, defendendo o SNS ao manter-me fora dos encontros com vírus e infeções.

O hospital de VFX no início de Outubro deu-me alta considerando que estou curado do câncer da próstata. Habituei-me a usar barba e não irei voltar ao uso das lâminas; lembro-me que ao ter conhecimento de que poderia ter uma aranha de peçonhenta baba no meu organismo, disse que cortaria as barbas que nessa altura passei a usar quando o mal estivesse eliminado, mas já não me vejo sem as minhas barbas. Usar barba é mais económico e mesmo natural, evitando o uso de químicos na pele.

A imagem descendo a Rua do Alecrim ao Camões acompanha-me de forma serena, nada mais poderei fazer, recordar e recordá-la, seguindo sempre com a esperança, até que um dia chegue a minha hora de terminar esta dualidade que faz de mim um ser humano.

Regressei aos arrabaldes da cidade grande fará logo à noite, oito dias. Continuo a não ver televisão exceto quando transmitem jogo do Sporting. Ontem ao jantar pela primeira vez desde que regressei ligou a televisão que se tem na cozinha, consegui sem grande esforço jantar sem olhar e ouvir o que diziam os amestrados papagaios e catatuas sem penas. Vivo sentindo-me bem assim, cada dia mais longe do rebanho.

Vou vestir-me para ir à volta matinal com a Sacha.

(foto retirada da net)

14.12.23

 

Desde 25 de Outubro que não vejo televisão, com a exceção dos jogos de futebol do Sporting que os vejo sem som. A rádio funciona entre a Antena 1 e a Antena 2, mas é quase sempre um som de fundo, exceto os programas do Prof. Júlio Machado Vaz; até às conversas entre o Pedro Tadeu e o Jaime Nogueira Pinto fui perdendo o interesse; por andar na apanha da azeitona não ouvi a missa radiofónica na Antena 1 a qual ouço para ir sabendo qual o pensamento da instituição, que gostemos ou não, e não sou já religioso, tem ainda um peso enorme na vida dos portugueses e nas suas decisões de escolha; tenho mesmo dúvida se não serão a maior instituição-partido que existe no país embora se digam que não são políticos, mas como tudo na vida é política as suas homilias não deixam de ser comício partidário disfarçado de cariz religioso.

Acompanha-me a musica que obtenho e escolho no YouTube.

Tenho uma ideia como vai o mundo pelas páginas dos jornais e rede social Facebook.

As lutas de poder na política interna, a sempre instituição nacional que foi e é a cunha, as promessas e mentiras políticas de políticos em campanha, o que dizem os papagaios e catatuas sem penas televisivos, os vários especialistas-generalistas que integram painéis de duvidosa independência, já não me incomodam, que se fodam e se comam todos eles e elas.

A atual nobreza republicana reforçada na vitória de Novembro75 sobre Abril74 não é muito diferente da nobreza monárquica do século XVI, o mundo e as condições de vida económica é que mudaram, sendo numa coisa presumivelmente parecidas senão mesmo iguais, pois em 1580 a nobreza conduzida pelo clero inquisitorial entregaram a nossa independência à corte castelhana onde reinava um tal Filipe II sem que antes tivessem auscultado a opinião do povo, para no final do século vinte a nova nobreza republicana nascida e reforçada pela "Nova Ordem Democrática" foi entregando a nossa independência de novo sem consulta popular, a troco de rios de dinheiro aos burocratas em Bruxelas que governam a designada União Europeia. Filipe II de Castela, assim como a Comissão Europeia foram e são instituições com poder legislativo e decisório sem que tenham sido sujeitas ao escrutínio dos cidadãos, um e outros foram e são-nos impostos por um poder abstrato que foi e vai parametrizando o modo de vida comportamental do rebanho que fielmente os seguiu e segue sem levantar dúvidas, sem se interrogar dos porquês.

Sigo solitário na outra margem da vida, consciente da minha situação de republicano pequeno burguês tresmalhado do rebanho mais à esquerda do que do híbrido centro político.

10.12.23

 

O dia de ontem começou como sempre cedo, depois rumei ao mercado, praça, em Idanha a Nova que o Município designa como “Bio” o qual estava animado com várias bancas de produtos, talvez por se estar a aproximar o Natal. Já não estou nessa de biológico, façam e digam os publicitários pagos com dinheiros públicos sobre o assunto o que quiserem que eu passo ao lado dessas tretas.

No regresso da praça e do bom talho aproveitei a embalagem e fui abastecer a viatura de combustível à Zarza La Mayor. Ao chegar em Salvaterra do Extremo aos chamados Canhões do Erges, a água corrente do mesmo já passava por cima, alguém tinha destruído a fita que talvez a proteção civil ou a Junta de Freguesia lá colocaram como indicativo do perigo. Arrisquei, passei o pontão mas chegado à margem extremenha de imediato a minha sombra me criticou a ação. As autoridades da Extremadura mais à frente tinham a faixa de rodagem no sentido de Portugal obstruída com a indicação de estrada cortada por perigo no Rio Erges. Na estação de serviço estacionou atrás de mim o sr. Joaquim e sua mulher, meus vizinhos, cumprimentei-os e disse-lhes que iria voltar por Segura, que o seguro morreu de velho, já não tenho idade para pressas nem para correr riscos desnecessários. Assim fiz, relembrando viagens no tempo das alfândegas e do controle de passaportes quer em Piedras Albas quer em Segura, depois gosto não só da “carretera” que liga Piedras Albas à fronteira, como da vista que ao nos aproximarmos da mesma temos de Segura, terra onde nasceu meu pai, meu avô, tios e primos e onde agora dos vivos só um ou outro primo afastado por lá vive.

A Ponte de alicerces romanos sobre o Rio Erges que já foi fronteira oficial entre os dois países Ibéricos, que integrava o itinerário romano de Mérida a Braga, que por ela passavam os peregrinos que iam do sul da Ibéria a Santiago de Compostela, que por ela entrou o exército francês do general Junot com os seus amigos espanhóis da primeira invasão francesa que Napoleão Bonaparte empreendeu com o objetivo de retalhar o nosso Reino com seus aliados, hoje a ponte romana está doente nela só passam veículos ligeiros, a fronteira logística mudou-se para as Termas de Monfortinho, deixando as autoridades a ponte de alicerces romanos entregue ao esquecimento e às intempéries do tempo que a Natureza nos oferece, talvez isto aconteça por a ponte estar localizada na sempre pequena aldeia de Segura e não um pouco mais a norte em outras terras mais badaladas pelas autoridades.

07.12.23

 

Acabámos a apanha no dia de ontem pelas treze horas e oito minutos. Cansado, almocei mas não tive força para lavar a louça, que ainda faltava a operação de limpar as azeitonas colhidas de manhã e no dia anterior. Trabalho que não sendo duro pela máquina limpadora que adquiri arrefece o corpo. 

Chegado a casa cansado não tive forças para começar a arrumar as coisas, sentindo-me frio sem vontade de acender a salamandra para aquecer o ambiente. Saí com a Sacha para uma volta pequena, dei-lhe de comer e comi a sandes que tinha levado para o campo, bebi um gole de tinto e arrematei com uma maçã e um dióspiro. Quando já sentado dentro de casa, com o corpo frio, o cansaço a fechar as pálpebras olhei as horas e ainda eram só seis e meia e uma vontade de fechar os olhos, de descansar; liguei mas de imediato desliguei o computador, não tinha ideia do que queria ver com a Internet ou o que iria escrever, sentia-me frio e vazio, decidindo-me por ligar o ar condicionado um pouco e aquecer a cama. Li uns poemas de “Abraça-me em Maio”, levando comigo para a cama “Os Soldados Fantasma”.

Deixei-me dormir por volta das nove da noite para acordar antes da uma e meia. Incapaz de voltar a entrar no mundo do sono vagueei pela noite fora até às cinco da madrugada.

06.12.23

 

Vejo nos títulos das primeiras páginas dos jornais, e em alguns escritos do Facebook, que na cidade grande continuam as polémicas com figuras importantes da decadente nobreza republicana que nos intervalos das ordens e diretrizes de Bruxelas nos dizem governar.

Há muito que deixei de acreditar na Justiça dos homens baseada em leis com interpretações diversas e acentos jurídicos, que traduzem apenas e só o poder da classe dominante. Classe dominante onde uma nova e decadente nobreza se formou após a vitória do 25 de Novembro sobre o 25 de Abril; nobreza que se identifica muito mais com os reformistas que nos últimos anos do Estado Novo da era marcelista, defendiam uma pequena abertura política no regime vigente, adaptando-se, modernizando-se aos novos tempos após a vitória em Novembro de 1975 e às mudanças que no exterior foram ocorrendo numa Europa que após a II Grande Guerra tem vivido numa ilusória democracia sempre controlada pelas estratégias dos falsos amigos americanos.

A melhor forma de vivermos procurando a Paz é não ter nenhum encontro com os justiceiros, novos inquisidores do século XXI, que exercem o poder à margem da Constituição da República, a qual para os seus dirigentes não eleitos, é um peso morto que desrespeitam a seu belo prazer.

Estou longe dessa gente. A nenhum deles dei o meu simples voto, a nenhum deles passei procuração aquando das suas nomeações por eleições livres. Ando pela outra margem sonhando com um outro Portugal. Eles, os decadentes nobres desta anémica democracia, não me merecem respeito, é certo que condicionam a minha vida e de muitos como eu andantes pela outra margem da vida, por isso que se fodam, que se comam e se enrabem todos com as suas mentiras e falsas promessas. 

Não foi este o Portugal que se sonhou após aquela madrugada e manhã em que uns arriscaram a vida para um povo cantar Liberdade sonhando com um Portugal novo.

04.12.23

 

A vida deste pequeno burguês na apanha da azeitona não é fácil. Vivo uma nova lição que mais acentua o meu ser tresmalhado do rebanho; já não é um sentir de revolta, antes e apenas mais uma lição, um aprender de como tudo nesta vida poderia ser diferente do modo como os mandantes sem rosto nos seus palácios forrados a ouro nauseabundo, decidem e nos parametrizam a forma de vivermos em desrespeito às regras da Natureza que nos deu origem e nos vai sustentando a vida como a conhecemos.

Levanto-me o mais tardar pelas 05H30, poucos são os dias que quando o despertador toca ainda estou na horizontal; na casa de banho olho as primeiras páginas dos jornais e dou uma vista de olhos pela rede social, despacho-me pelas seis horas, meço a pressão arterial e registo os valores na folha de cálculo do aparelho de comunicação, visto-me, faço a cama, abro as portadas das janelas, saindo pelas seis e meia para a volta matinal com a Sacha, regressando a casa pelas sete da manhã dando-lhe de comer; tomado o meu pequeno almoço, preparo a bucha do almoço no campo, não me esquecendo da imprescindível garrafa de água, caso contrário os meus rins apresentam queixa ao sistema urinário.

Há hora certa no mesmo local o meu amigo chega no seu carro, seguimos pelo caminho da Fonte Nova até ao caminho para o Calacu para ficarmos no Valongo onde tem as oliveiras.

Ontem, domingo, a temperatura anunciada no telemóvel dizia três graus com a sensação de dois graus. Quando chegámos vimos de imediato que a geada foi forte, ao colocarmos os panais junto da primeira oliveira da manhã os mesmos estavam gelados, assim como a oliveira e os seus frutos; aquela oliveira segundo o meu amigo, foi o “tio Charneco velho”, homem lá de cima, do norte?, que a trouxe desconhecendo-se a característica, foi batizada como “azeiteira”; ramos e azeitonas cobertas com a fina camada da geada que deixava as mãos geladas ao retirá-las dos ramos, com os pequenos pedaços de gelo a ficarem quer nas mãos e luvas quer nos panais. As mãos geladas trabalhavam, já os pés parados em cima do panal doíam de gelados, do meu nariz caiam de vez em quando pingos sem que sentisse qualquer necessidade de espirrar ou mesmo de me assoar. Quando esperava que o Sol pudesse aquecer aquele ambiente gelado, eis que chegou em vez do Sol o não desejado nevoeiro que arrefece e gela o corpo com a sua humidade fria. Dia duro e difícil para esta atividade da apanha de azeitona, mas lá fomos fazendo a apanha das azeitonas com o meu amigo sempre a fazer dois em um, isto é, trabalhando com a máquina, cortando e limpando as oliveiras de modo a puxá-las para baixo para que no próximo ano o trabalho se inverta, ou seja, muito mais máquina de varejar e muito menos trabalho manual, isto se a Natureza for amiga na época da floração e depois em Setembro por altura da festa em honra da Nossa Senhora da Piedade caírem umas águas dos céus para que as oliveiras que se alimentam mais pelas folhas do que pelas raízes superficiais possam dar corpo às azeitonas. Acabamos o domingo procedendo à limpeza da azeitona apanhada no dia e no anterior.

Cheguei a casa ao final da tarde com os pés e mãos geladas num corpo frio a pensar na política de preço do azeite.

Há muitos anos que não me lembro de sentir o corpo tão frio e gelado. Vida dura esta da apanha da azeitona em oliveiras de exploração extensiva todas elas com idades centenárias.

Tem sido assim a apanha da azeitona, desde que a chuva ou o nevoeiro denso o permitam e já vamos em Dezembro quase a acabarmos a nossa tarefa de entreajuda.

Ontem, segunda-feira, tivemos nos céus a visita dos grifos, algum animal morto os chamou pois voavam em círculo sobre um determinado local, grifos das encostas escarpadas do rio Erges ou mesmo do rio Tejo vieram em busca de alimento. Depois foram embora e nós voltamos a estar sós com o silêncio do campo aqui e ali interrompido pelo canto das aves.

Este ano o preço do azeite subiu dos 25€ em anos anteriores para os 40€ o garrafão de 5 lt, quer nos lagares quer em produtores que pela quantidade de oliveiras que possuem vendem depois o azeite obtido a particulares. Os nossos vizinhos espanhóis grandes produtores e consumidores de azeite já o compram a 60€ o garrafão de 5 lt. Não sei se a subida de preço é apenas especulação, mas quem vota em políticos que defendem ou aplicam medidas económicas liberais para a economia não se pode nem se deve queixar já que o custo do azeite este ano é o célebre deus do mercado a funcionar face à fraca produção do olival espanhol, pois são eles que determinam o preço do azeite no mercado internacional.

O azeite que obtive das minhas oliveiras não é para vender, mas sei que pela qualidade que obtive em dois lotes de azeitonas diferentes, nunca o iria vender por menos dos 50 ou mesmo 60€ que os espanhóis já pagam, é que o azeite produto natural que nestas terras de Zebreira em especial e na zona raiana em geral, não é o mesmo azeite que se vê nas prateleiras dos supermercados.

Há azeites e azeites e quem quer bom, barato e natural já não encontra.

O azeite do olival extensivo das diferentes qualidades de azeitona tradicionais, produzido a frio de acordo com as normas estabelecidas pelas autoridades, não está caro. 

O português trabalhador, reformado ou pensionista é que ganha e recebe pouco, com os governos da Nova Ordem Democrática a optarem pela manutenção da baixa remuneração do fator trabalho como forma de progresso económico e social que só alguns extratos da média e alta burguesia conseguem alcançar, mas a malta, o rebanho, segue cantando e rindo, «tudo a bem da nação» que agora são todos classe média, exceto alguns poucos tresmalhados que teimam em andar pela outra margem da vida, pensando nas coisas pela sua própria cabeça, como ginástica para fugir da velhice que lentamente se vai instalando neste pedaço de Natureza que já foi um jardim à beira mar.

domingo, 14 de janeiro de 2024

02.12.23

 

Nevoeiro e chuva uma combinação que só terminou na noite de trinta de Novembro para o primeiro de Dezembro e não nos deixou andar na apanha da azeitona. Ontem, sexta feira primeiro de Dezembro voltamos à lide.

Hoje o dia recomeçou à hora habitual. O despertador do aparelho de comunicação quando tocou ainda estava a querer acordar. Despachei-me da casa de banho, a Sacha saiu para o telheiro, fiz a cama e fui à padaria comprar a dose habitual a que acrescentei uma embalagem de filhoses que são coscorões segundo outros afirmam. Saí para a rua com a minha amiga ainda a noite abraçava a madrugada, apenas do lado da Extremadura se notava o anúncio do rei Sol com a claridade a despontar.

Comemos e preparei a merenda para o almoço. A manhã estava fria nos seus quatro graus numa sensação de três.

Chegados ao Valongo, notava-se a geada que se formou durante a noite. As mãos e os pés gelados a trabalharem até o Sol iluminar aquela baixa e aquecer bem pela ausência de vento.

O meu amigo armado de serrote e tesoura para limpar as oliveiras por dentro onde a máquina não entra, eu no trabalho de manualmente as retirar dos ramos.

Voltamos do campo cansados quase no final da tarde, para sair com a minha amiga Sacha e deixá-la correr à sua vontade. Aproveitando para admirar as cores do ocaso que o final do dia nos proporcionou.

A vida no campo não é fácil e mais difícil se torna para um citadino pouco habituado a este trabalho duro de poder fazer azeite o mais natural que a legislação dos senhores engravatados determinou. Azeite, obtido de oliveiras e azeitonas sem nenhuma cura química, logo, um produto natural.

Numa das vezes que fomos entregar azeitonas limpas ao lagar em Monforte da Beira pelas cinco da manhã começaram a chegar carrinhas, carros com atrelado e camionetas com azeitona. Pessoal que se ia juntando à porta do café que um casal de idosos o abre pelas seis da manhã, à hora do lagar recomeçar a laboração. Falavam uns e outros do que se diz e conta sobre como está a política do azeite, pois muitos se queixam dos valores altos e até anormais como as azeitonas estão a fundir nos lagares, onde o 22 existe mas o normal está nos catorze e dezasseis, segundo a maioria. O meu amigo olhava-os calado até que um deles afirmou que na Zebreira também estava nos 14 ou mesmo 16. Aí o meu amigo interveio e a sua primeira frase para todos os outros foi: -«a Zebreira é a rainha do azeite», continuando sem que nenhum dos presentes dissesse algo, que ainda na semana passada trouxe 1.539 kg de azeitona da Zebreira e fundiu a 8,7 ali naquele mesmo lagar. Com a sua intervenção acabou o diz-se com o grupo a desintegrar-se.

A tarde já ia longa numa espera ainda mais longa quando o Zé viu um jovem encher com a sua azeitona as cestas metálicas do lagar, perguntou o meu amigo de que zona era, ao que o jovem respondeu ser dali de Monforte; face ao aspeto das azeitonas o Zé diz-lhe que as oliveiras daquelas azeitonas estavam doentes, o jovem ofende-se e palavra puxa palavra o jovem vai argumentando que a irmã que é engenheira sabe bem o que é gafa, para quando o Zé insistindo lhe disse que as oliveiras precisavam de ser sulfatadas, o jovem foi aos arames dizendo que nunca pois desse modo não poderiam ser biológicas. O Zé virou costas e tudo serenou com a azeitona com mau aspeto a seguir os procedimentos normais do lagar. Uma coisa é certa, prefiro as minhas azeitonas, que todos gabavam o aspeto saudável, às tais biológicas(?) com aspeto de a maioria já estar com gafa, mas talvez seja isso o biológico.

29.11.23

 

Faz logo à tarde quarenta e nove anos. Tento neste acordar madrugador encontrar na memória alguma recordação de onde estaria há quarenta e oito anos, apresentando-se a mesma com algum nevoeiro que não me deixa ter certeza de todo, mas somando e subtraindo factos quase de certeza que neste mesmo dia estava na base tática do rio Chinhondze a um pouco mais de duzentos quilómetros do Mumbué.

Não foi a nossa companhia que montou aquelas tendas, uns meses antes tinha estado com o meu grupo mais acima numa outra base a dar apoio logístico à operação que a cavalaria dos Dragões de Silva Porto, montados em cavalos puro sangue sul africano, efetuaram durante umas semanas nos limites do setor.

Na base do Chinhondze quando aguardávamos ser rendidos pela terceira companhia a coluna destes com as chuvas uma das berliets atascou demorando cerca de dois dias a nossa rendição; na base já não tínhamos petróleo para a arca frigorífica e frigorífico trabalharem, restavam uns quilos de massa e a carne de caça, assim como já não havia cerveja, nem a zurrapa designada por vinho, restavam umas garrafas de aguardente Aveleda. A carne apodrecida era o que tínhamos para comer com massa, bem se esmerava o cozinheiro na confeção da mesma não evitando o cheiro para que se comesse o pitéu tapando as narinas com os dedos de uma mão enquanto a outra levava massa e a carne à boca que logo se engolia, no final do repasto bebíamos um pouco de aguardente. Nenhum de nós adoeceu ou se sentiu mal depois de comermos massa com carne podre, confecionada com esmero pelo cozinheiro que também a comia como todos os que sobrevivemos naquela base.

Hoje, logo à tarde, passam quarenta e nove anos, que chegamos ao mesmo local de partida, o aeroporto de Figo Maduro. Quarenta e nove anos que alguns dos valentes e fieis militares não podem celebrar por terem já sucumbido aos reveses que a vida lhes deu. Para os que estamos resistindo, quarenta e nove anos é uma quase vida.

Algumas vezes fugi à pergunta que antigos companheiros da aventura militar me faziam, “acha que valeu a pena tanto sacrifício?”, hoje e já há alguns anos que respondo: - “Não, não valeu a pena”.

Ainda este ano numa conversa de Facebook com o amigo João Pundo Pundo, que na altura era um menino do quimbo Cauéué, ele me dizia que a população da agora Comuna do Mumbué vivia melhor no tempo da tropa portuguesa. Por aqui me fico, eu que tresmalhado do rebanho não sou nem colonialista nem neocolonialista à moda dos auto designados “ocidentais”, África é dos povos africanos e dos que queiram ir para lá viver respeitando a Natureza, as suas gentes, povos e hábitos segundo a direção que os próprios africanos escolherem para o seu presente futuro.



28.11.23

 

Ontem o nevoeiro cerrado não nos deixou apanhar azeitona, correndo a notícia que há quem esteja a deitar fora azeitona colhida por a mesma apodrecer com gafa, incluindo que no lagar cá da povoação pelo menos uma pessoa viu o responsável do lagar recusar cerca de quatrocentos quilos. Notícias que criaram grande ansiedade no meu amigo por termos apanhado inicialmente alguma azeitona tocada pois ao se tocar no ramo logo a mesma caía. Ligou-se para o lagar em Monforte, que o terá aconselhado a ligar por volta das cinco seis da tarde, mas no estado ansioso em que vivia dividimos os sacos pelos dois carros e pelas seis horas da noite pusemo-nos a caminho enfrentando o nevoeiro cerrado que se manteve o dia todo. Chegámos a Monforte não havia nenhum carro para descarregar e o portão do lagar estava aberto indo logo o meu amigo em busca do irmão responsável pelo mesmo. O senhor não gostou que nos apresentássemos sem termos avisado, que tinha de dar andamento a azeitona que já lá estava há uns dias, aconselhando a que descarregássemos os sacos e voltássemos na manhã seguinte ficando na fila de espera que eles começam a laborar às seis, intervi dizendo com a minha calma que o senhor tinha razão mas que nós preferíamos ficar toda a noite lá porque à nossa frente apenas um carro dos que marcam lugar, sendo desse modo atendidos à reabertura; quando andávamos na rua mentalizados a passar a noite nas viaturas o senhor veio ver quantos sacos tínhamos e um pouco mais tarde o empregado mandou-nos entrar para podermos descarregar os sacos para os cestos de pesagem. Entregues os setecentos quilos regressamos satisfeitos às nossas casas. A sorte acompanhou-nos, não só porque conseguimos entregar logo à azeitona como a mesma não apresentava qualquer cheiro anormal.

Como a casa estava fria por não ter ascendido a salamandra, aqueci a cama e sentei-me andando via aparelho de comunicação pelas redes sociais e Google. Comecei a ler o livro que meu irmão me mandou “Os Soldados Fantasmas” do José Manuel Barata Feyo.

Eram umas vinte e duas e trinta quando me coloquei na horizontal e desliguei a luz do candeeiro na mesa de cabeceira. Pelas quatro e trinta os sensores intestinais e urológicos deram sinal acordando com a sensação de já não ir dormir mais. Aqui estou a falar comigo mais do que contigo; só alguém que sofre de demência ocasional pode falar com a ausência escrevendo .

Sorrio quando penso que na verdade sou um solitário tresmalhado, que andando pela outra margem da vida me sinto mais leve desde que cheguei e não mais vi televisão e mesmo à rádio ligada não lhe dou atenção; imagino como vão os diversos rebanhos, manadas e varas de cidadãos pelas capas dos jornais e pelo que vejo na rede social que uso. Já não dou para esse mundo onde a mentira tantas vezes é difundida que a aceitam como verdade, prefiro a Natureza com as suas nuances e regras, assim como a leitura nos intervalos do que há para fazer no quintal e nos pequenos olivais.



27.11.23

 

Pior que a geada é para mim o nevoeiro em tempo de geada. Ontem a geada foi menor, mais água que gelo, não gelando as mãos e os pés como no dia anterior, contudo o nevoeiro que se instalava por períodos arrefecia o corpo todo, só a mente não embarcava nesse estádio e assim fazendo as tarefas normais da apanha se passou mais um dia no campo em que depois dos tiros dos caçadores chegou o trinar da passarada.

A mente sempre recordando o passado indo desde os tempos de menino a caminho da escola pedalando em tempo de nevoeiros cerrados, até ao regresso da guerra quando vim ter com os meus pais que andavam a apanhar azeitona e não gostei de experimentar esta tarefa que hoje com os meus quase setenta e três anos faço com agrado e prazer, embora o corpo se queixe de dores. Enquanto as mãos retiram a azeitona dos ramos que se cortam com o serrote ou tesoura porque a máquina de varejar não entra nos ramos do meio que a oliveira cria ao fechar-se, muitas imagens de recordações passam pelo pensamento realizando filmes de várias horas, onde há elementos, cenas e dúvidas interpretativas que se repetem dia a dia ou até mais do que uma vez por dia. O passado está sempre de volta, enquanto realizo as tarefas de ajudar o meu amigo, num ambiente de paz serena que hoje os campos possuem, talvez pela calma envolvente dos campos ao recordar pessoas e erros não sinta a loucura a castigar-me, sentindo como contrapartida a alegria até mesmo felicidade de meus pais, estejam eles onde estiverem, ao verem o filho mais novo nestas tarefas do cuidar das oliveiras, da apanha da azeitona em terrenos que eram dos seus antepassados e que agora os trato porque um me foi doado e o outro entregue já que sou o único herdeiro dos muitos, que venho cá quase todos os meses. Terrenos com oliveiras que me dão azeitonas e azeite que pelos registos que meu pai fazia, eles nunca conseguiram, dizendo o meu amigo que se tratar bem das oliveiras as duas toneladas de azeitona lá colhidas e levadas para o lagar podem não ser apenas duas mas quatro, azeitonas de boa qualidade pelos próprios terrenos, de tal modo que no lagar ao despeja-las nos cestos para pesagem, todos os produtores que as viam gabavam a qualidade apresentada.

Fiz azeite, se da primeira vez com as azeitonas apanhadas na Horta da Corona e na Balasca dividi o azeite com o meu amigo, já da segunda vez com azeitona só da Balasca, onde predomina a bical, fiquei com um terço e dei os dois terços ao meu amigo, já que é ele que faz a maioria do trabalho incluindo a limpeza das oliveiras.

Quem apanha azeitona em terrenos de terceiros, utilizam um regra esquisita que designam por «terço» em que vinte e cinco por cento é para o proprietário e as outras três partes para quem a apanha.



19.11.23

Nada mau, esta noite consegui dormir sete horas na horizontal, deitei-me às dez da noite e acordei eram cinco e vinte sete. Doem-me os dedos das mãos e ainda temos de limpar os últimos sacos de azeitona para as colocar em sacos transparentes que as autoridades com suas modernices impõem, havendo quem opte por levá-las em caixas. Assim que tivermos o transporte disponível é necessário carregar e depois de jantarmos iremos para a fila do Lagar passar a noite, esperando ter sorte e conseguir entregá-la na manhã de segunda-feira.

E, ainda dizem que o azeite está caro e dispendioso.

Mas qual azeite é que está caro? Sim qual azeite?

Caro está o país com os jogos de baixa política que ocorrem na cidade grande, esses jogos é que ficam exacerbadamente caros ao país e, a sua sequência em intervalos não constantes nos trazem com o carro de vassoura sempre à vista não saindo do desenvolvimento endémico que nos impõem os liberais de Bruxelas. Partidos maiores cuja política e ideologia é a ambição de poderem exercer a governação nos intervalos das ordens de Bruxelas para fazerem, uns grandes investimentos-negócios com amigos e consultores, enquanto que outros a sua ambição de poder passa por terminar a destruição do fraco Estado Social existente com as suas privatizações ao desbarato para depois ao deixarem a desgovernação ocuparem uma cadeira dourada nos conselhos de administração ou como simples lobistas pomposamente remunerados pelos novos donos do capital.

Cheguei a 25 do mês passado. Só abri a televisão uma vez para ver, cortando o som, o jogo do Sporting com os polacos. Não tenho paciência, nem pachorra para ouvir o que dizem a grande maioria dos papagaios e catatuas sem penas que por lá ganham a vidinha soletrando o que a voz do patrão gosta de ouvir. Gosto mais do silêncio do campo, do murmúrio das árvores, da sinfonia das pequenas aves que vão resistindo às famosas alterações do clima, da exploração agrícola e dos atentados efetuados com chancela oficial à biodiversidade em nome do desenvolvimento económico.

Já não tenho pachorra, paciência para ouvir uns e outros, o meu problema é que não me meto na vida deles, mas eles condicionam e indiretamente metem-se na minha vida. Já éramos um país de doutores e engenheiros e agora também de especialistas onde continuam a faltar senhores.

Irei votar, mas já passei à idade de não acreditar nas promessas que políticos propagandeiam para alcançarem o poder e assim escolherem os amigos perante o aplauso do pequeno rebanho de “yes chefe” que à volta deles vive.

Irei votar pelo respeito que tenho a mim próprio, pelo meu passado, pelo 25 de Abril, pelo sonho e utopia que ainda alimento de uma outra sociedade mais decente e independente, do que aquela que ajudei a construir e onde agora se sobrevive dia a dia com mais dificuldade.

Irei votar, mas o azeite não está caro, a remuneração do fator trabalho é que anda pelas ruas da amargura. Remuneração do fator trabalho que no Estado Novo salazarista-marcelista era de miséria, melhorou com a Nova Ordem Democrática nascida em 25 de Novembro de 1975 sem contudo sair das ruas da amargura.

São sete da manhã, vou para a rua que já me atrasei.

Ouvi, mas logo cortei o pio, ao antigo ministro da segurança social que ao serviço dos troikanos desgovernou o país afirmando na altura que para equilibrar as contas públicas era necessário cortar mais 600 milhões de euros nas reformas e pensões dos reformados e aposentados; vem agora tal sujeito em representação das empresas de comunicação dizer que o preço das comunicações no país está abaixo da média europeia. O incompetente e sabujo ex troikano não diz é que o rendimento disponível das famílias portuguesas está muito abaixo da média europeia porque a remuneração do fator trabalho neste país não sai das ruas da amargura. Isso o neoliberal sabujo não diz porque é pago dizer o que os seus patrões gostam de ouvir.


Saímos pelas oito e trinta da noite. Quando chegamos já lá estava uma fila grande, pois há quem tenha deixado carros particulares a marcar lugar. A esperteza do português. Não vou pensar nisso nem sequer nas horas que temos pela frente. Atrás de nós já chegaram outros carros. O incómodo é não poder esticar as pernas à vontade. 

Ainda dizem que o preço do azeite está caro. 

Qual azeite? Que azeite?


16.11.23

 

Não acredito na justiça. 

Dizem-me que a justiça é fundamental num Estado de Direito, mas também aí tenho dúvidas, porque não acredito na independência pura e absoluta da própria justiça, que ao longo da nossa existência sempre foi a emanação do poder da classe dominante e nunca dos cidadãos em geral.

O estado atual da política é a consequência de longo prazo do que se passou a 25 de Novembro de 1975, quando os representantes das forças conservadores e saudosistas do Estado Novo em aliança com militares dos setores moderados terminaram com a festa popular de esperança num país novo, independente e próspero.

Os cidadãos acreditaram que o voto era a sua arma democrática, que iríamos com o simples ato de votar de quatro em quatro anos alcançarmos a prosperidade que nos era anunciada a preto e branco e depois a cores como o caminho para o primeiro mundo.

Pacificamente entregámos o futuro de todos a uma classe política, que se veio a mostrar sem princípios éticos, morais e patrióticos; uma classe política agrupada em partidos em que uns e outros meteram na gaveta ou mesmo no arquivo morto os seus princípios ideológicos, passando a serem uns e outros apenas e só partidos de poder que paulatinamente nos têm desgovernado, vendendo a nossa independência aos burocratas da União Europeia a troco de rios de dinheiro fácil para continuarmos a ser um país pobre com ideias de rico.

Partidos de poder que se mostraram sempre mais preocupados com a partilha dos tachos e negociatas do que com o bem estar geral dos seus cidadãos. Partidos de poder que foram e vão vendendo ao desbarato bens estratégicos da nossa pobre economia.

Na ânsia da repartição dos tachos e da gestão das negociatas, deixaram e facilitaram os partidos do arco da governação, partidos de poder, que a comunicação social seja exercida por empresários liberais e neoliberais inimigos do Estado Social, promotores de uma nova classe de inquisidores, os neoinquisidores, que ao longo dos anos se instalaram nos aparelhos da justiça. Inquisidores justiceiros, agora designados como agentes do ministério público, que a exemplo dos seus antepassados de séculos atrás, não precisam de apresentar provas e factos concretos de judiaria ou bruxedo, agora com a designação de corrupção de presumíveis irregularidades, para prenderem, depois acusarem por suposições julgando na praça pública televisiva dos amigos empresários quem eles pretendem desgraçar politicamente.

Pôs-se o Partido Socialista a jeito de ser vítima dos novos neoinquisidores. Partido que se arvorou em vencedor da maioria silenciosa do 25 de Novembro como apoio do agente da CIA ao serviço como embaixador dos Estados Unidos.