quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

30.07.23

 

O mês está a chegar ao fim. Pouca gente pela Consolação, os " veraneantes" este mês não invadiram a pacata povoação, ou foram para outras praias lá para o sul ou pela crise que lentamente se vêm instalando optaram por outras opções face aos preços especulativos e desproporcionados praticados no aluguer de casas. A Praia da Consolação está assim mais sossegada, com menos poluição sonora que nos últimos anos, dizendo-me um amigo natural que voltou a viver cá, que para ele assim está bem, até os poucos comerciantes que vivem todo o ano, estão também eles saturados dos veraneantes que chegam com o rei na barriga sem respeito pelos outros; até a senhora cigana que há tantos anos tem o seu pequeno pronto a vestir se queixa de lhe roubarem peças se ela ou a filha se descuidar na vigilância.

Por mim continuo a pensar que podem ir todos para o Algarve do moderno betão, das piscinas com cloro, das vaidades e pedantismo das celebridades de sete e meio furado televisivas e políticas e claro muita poluição sonora e odorífera, que para mim basta-me olhar este mar, andar na baixa mar até ao Molho Leste ou próximo conforme a bacia permite, olhar lá ao fundo o Cabo Carvoeiro e a Berlenga, sentir o vento de nordeste que já não sou de bronzeamentos, vivendo sempre alerta com os sinais que vão aparecendo pois a aranha de baba peçonhenta atua quase sempre silenciosa e sem dor. Não sou de grandes exigências no usufruir da vida, exigindo sim mais solidariedade, mais fraternidade, menos desigualdades e menos muito menos pobreza coletiva. Nisso, sou exigente sendo visto até como extremista. Não me importo, sigo o meu caminho iniciado em 1969, caminhando indiferente a partidos políticos e modas ditadas do exterior, sou português de cá e de lá, depois sou ibérico antes de ser europeu do sul, e assim serei até ao momento em que chegar a hora deste meu ser terminar a dualidade matéria e espírito.

Por aqui caminho na outra margem acompanhado pelos deuses dos mares e das marés, dos ventos e da bonança, da paz serena em movimento perpétuo onde a luz solar me aquece, me trás lembranças de outros tempos para caminhando com a sinfonia das ondas por companhia equacionar a própria existência de como fomos insubmissos desde 1143 para agora a troco de dinheiros e mordomias materiais nos últimos quase cinquenta anos perdermos valores e sonhos passando a ser um rebanho submisso a ordens exteriores sem capacidade de sonhar de novo com um outro e novo 1640.

Já não tenho muito tempo para vir desfrutar destes momentos de serenidade universal, caminhando por estas areias com milhões de anos e de histórias sempre prontas ao desembarque de algum outro Prior do Crato.


Ontem na minha volta após almoço fui ver as netas encontrando a Luísa com o pai sentados no pequeno quintal a praticar a multiplicação. No fim a Luísa diz-me que já leu o livro que lhe tinha oferecido e que na feira do livro que existe aqui na praia tem lá um que ainda não leu. Lá fomos os dois ver e lá lhe comprei o livro que ela tinha visto de uma outra coleção. Ao acompanhar a minha filha que ia para a praia fiquei a saber dos anos do neto Guilherme, para logo que nos separamos a minha sombra me aconselhar a esquecer.

Hoje, depois da volta matinal e de deixar a Sacha em casa, fui ao pão fresco para o pequeno almoço para não ter de comer o pão comprado no supermercado. Vinha de regresso quando vi a minha filha a sair de casa para ir trabalhar, levando com ela a minha neta Luísa. Ao perguntar-lhe se a Maria ficava sozinha com a prima em casa, fiquei a saber que a prima já não está cá, assim como, a minha Maria estava em casa com o seu melhor amigo. Em poucas horas recebi atualizações gratuitas à minha capacidade de entender e aceitar os novos tempos.

Não sou religioso. Respeito quem o é, mas eu há muito decidi deixar de seguir qualquer dos credos religiosos nas suas múltiplas versões, sejam cristãs, judaicas ou muçulmanas.

Sou um não crente que acredita. Não acredito nas ladainhas religiosas, ainda menos em milagres da fé. Não acredito na justiça dos homens e da justiça divina, nada sei. Acredito num mundo novo onde ricos possam ser ricos e os pobres cada vez menos pobres até à inexistência de pobreza. Utópico? Serei.

Não comentei nenhum dos muitos artigos sobre os crimes de pedofilia cometidos no seio da Igreja católica, alguns outros foram cometidos e silenciados, mas não sabendo eu quem estava por detrás das notícias publicitadas, calei-me. O mesmo faço agora com o dinheiro público gasto neste evento que irá ocorrer em Lisboa, porque há muito que políticos governantes do poder central e autárquico não cumprem a letra da lei da nossa Constituição. Não foi só agora, infelizmente.

Tenho, contudo, algumas dúvidas e outras certezas face ao pensamento único que nos tem dominado com o apoio e anuência da maioria, onde não me enquadro, tresmalhado que sou.

Será que cristãos católicos russos, que os há, poderão vir ao evento e serem bem recebidos, ou será que o fanatismo anti russo de mãos dadas com o religioso não só os ignora como os repudia?

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