terça-feira, 16 de janeiro de 2024

07.01.24

 

Continuo ausente nestes primeiros dias do ano vinte vinte e quatro que só é novo porque o vinte vinte e três ficou para trás no passado de onde não retorna.
Ausente, que ao acordar depois de olhar as primeiras páginas dos jornais que ainda se publicam logo sinto as pálpebras dos olhos a pesarem como se cansadas desejassem o regresso ao mundo do sono ou procurando um simples embalo no mundo das lembranças e recordações, mas ausente, sei que não irei mais dormir cumpridas que estão as minhas cinco ou seis horas de sono continuo.

Os meus olhos já se habituaram ao estado de ausente do mundo noticioso televisivo que nos cerca, e assim querem continuar porque nem toda a escuridão é sinónimo de trevas.

Vivo como ausente desta vida vendo a outra “ausência” a descer a Rua do Alecrim para de imediato a ver chegar sorrindo da Rua das Pretas como quando a esperava na Avenida da Liberdade.

Na rua quase deserta só o nevoeiro húmido cerrado acentuando o tempo frio nos fez companhia com a Sacha a viajar quase sempre ao meu lado; nas paragens dos autocarros da Carris Metropolitana nem viva alma aguardava transporte, nem os gatos de rua se viram que o tempo convidava mais ao recolhimento.

Chegado a casa enquanto tratava da Sacha liguei o rádio para ouvir a lengalenga da missa dominical, onde as palavras se repetem domingo após domingo, cerimónia após cerimónia como se não houvesse futuro para lá das paredes onde se reúnem os fieis e os crentes, como se a própria instituição não tivesse um passado de tirana perseguição e morte sobre os cidadãos que não comungavam das suas crenças ou da sua forma luxuosa de vida em oposição à vida difícil e até de miséria do povo a quem pregavam e continuam a pregar a boa nova de um paraíso que eles próprios desconhecem existir.

Enquanto arranjava os legumes para fazer uma panela de sopa e preparava umas sardinhas para as fazer no forno ouvi na rádio Antena 1, como habitualmente faço aos domingos de manhã, “O Amor É” sobre o tema “Cartas de Amor”: ouvi com redobrada atenção o que o professor ia dizendo, procurando nas suas palavras algum conforto não só para a minha atitude de há muitos anos em que na época me fiz ausente quando amava, como também para a minha presumível loucura de passados tantos anos sem que nos conheçamos lhe escrever cartas que podendo ser de amor lhe solicitam um simples pedido de desculpa pelo que lhe fiz nesse ano de mil novecentos e setenta. Contudo, hoje escrevo muito mais no computador do que à mão, por me ser mais fácil desde que apareceram estas máquinas tecnológicas com os seus programas de texto, não gostando agora da minha caligrafia quando procuro em esforço escrever à mão seja com lápis, esferográfica ou caneta de tinta permanente pois com a idade as artroses nas falanges dos dedos vão dificultando a escrita manual.

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