quinta-feira, 30 de abril de 2020

Quadragésimo terceiro dia do resto das nossas vidas


Farto de estudos de sabichões do cientismo moderno mais preocupados em ver quem é que chega primeiro ao mercado por forma a garantir o retorno do capital a quem os financia.
É certo que nos últimos anos o avanço do conhecimento tecnológico foi enorme mas como dizia um velho médico ou farmacêutico dos antigos, todo o processo de pesquisa de uma vacina é feito de fases, estranhando que se fale da fase dois sem se ter elaborado por completo a fase um. Contudo lobistas televisivos anunciam avanços na pesquisa da tão esperada e aguardada vacina ao mesmo tempo que noticiam previsões de picos, planaltos, números de infectados, de mortes e agora do fim desta pandemia mesmo sem a tal milagrosa vacina. Há até um lobista que todas as noites enaltece a forma positiva que a administração Trumpista esta a seguir, para depois mais agressivo ou mais soft falar da vinda do mafarrico se as coisas continuarem como o Governo têm conduzido o processo.
Grandes empresas não esperam por decisões políticas e voltam ao trabalho em novos moldes. Trabalharam, elaboraram o reestimado dos seus objectivos, adaptaram as instalações e começam a pôr a máquina em movimento.
Ainda não nos contaram que o contágio se dá pelo trabalho, quando este é feito com normas de segurança apropriadas para a defesa quer do empregador quer dos trabalhadores.
Da emergência à calamidade todos os políticos falaram de suas opiniões opinativas. Só o velho comunista falou nos pequenos e médios empresários que com os trabalhadores devem ser ajudados.
Das muitas formas de ajudas anunciadas pelos vários membros do Governo duas ressaltam pela disparidade que encerram na minha modesta maneira de olhar o problema. O mesmo ministério tutelado por uma senhora anuncia dar 15 milhões aos Órgãos de Comunicação através da compra de publicidade e 400 mil euros a editoras e livrarias. Decisão ou decisões dignas de uma política ultra-liberal para a Cultura de alguém de um Governo que se diz de um socialismo social-democrata moderno.
Esta para vir um Governo que seja capaz de por a funcionar a máquina do Estado de modo a cumprir com as suas promessas sem recorrer a desculpas pouco credíveis ou populismos tristes.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Quadragésimo segundo dia do resto das nossas vidas


Estamos a chegar ao fim deste tempo de emergência. Quarenta e dois dias depois de o mesmo ser inicialmente decretado pelos que têm e usam o poder de decretar estas coisas. Saímos da emergência, iremos entrar noutro estado com outro nome pomposo de meter medo, "calamidade" assim dizem os que parecem saber destas coisas de estados para nos meterem medo e fecharem-nos em casa a papar continuamente doses de drogas televisivas sem qualquer valor educativo de como nos devemos comportar socialmente em colectivo de liberdade. Só drogas noticiosas de meter medo esses papagaios de mau gosto nos dão. Eles sabem como eu como muitos de nós que o medo é irracional, aguardando ansiosos que a terrível ansiedade promovida pelo medo lhes permita noticiar esses tristes acontecimentos em exclusivo, publicando ou mandando publicar posteriormente que a divulgação de tal reportagem bateu todos os outros papagaios maldizentes concorrentes.
As minhas dúvidas desfazem-se são quase certezas mas guardo-as no meu arrumario para mais tarde.

Levantei-me mais ou menos à minha hora. Com os olhos meio abertos procurei ver as primeiras páginas dos jornais. O que me pareceu ver na noite de ontem quando saltava de canal em canal parecia confirmar-se. Saí para a minha habitual caminhada com a minha amiga. Mais carros a circularem na E. N. 10 em direcção à cidade grande. Bom sinal. Pensei mas logo me assaltou a dúvida. Que embora viva sem medo do vírus as dúvidas não me deixam em paz e por tudo e por nada me assaltam. De tão duvidoso que ando, fico por vezes a olhar o espelho para confirmar se ainda sou eu mesmo. Os trabalhadores do costume cruzaram-se comigo. A maioria usando mascaras diversas. Camiões que entram e saem dos centros logísticos enquanto outros aguardam a sua vez.

Ao tomar o pequeno almoço vi com mais atenção as imagens da tal reunião que ontem o PM teve com dirigentes do pontapé na bola e de três clubes chamados de grandes. Junto com o PM havia pelo menos dois Ministros, o da Economia e o da Educação que tutela o desporto.
Todos numa sala. Todos sem máscaras antes, durante e depois. Sobre o péssimo exemplo dado por aqueles responsáveis nem uma palavra ouvi, nem li nos jornais. Naquela sala a concentração das tais gotículas que produzimos ao falar e ficam a planar no ar foi muito superior às tais gotículas que se poderiam produzir nas comemorações do 25 de Abril na Assembleia da Republica com o dobro dos que nela participaram.
Contra as comemorações do 25 de Abril muitos falaram. Alguns pelo ódio que nutrem ao espírito do dia, outros pela santa ignorância de quem vai na manada sem se aperceber da qualidade da comida que lhe oferecem.

Por estas e por outras é que as minhas dúvidas me assaltam e me inquietam. Algo não bate certo mas ainda não descobri. Há muito ruído no ar. Agora que a poluição ambiental diminuiu sobe a poluição sonora a níveis de decibéis que não me deixam ver o que está nas entrelinhas. Uma coisa é certa, a quarentena seja em emergência ou calamidade só interessa a quem esta infectado.

Não são todos os lares de idosos obrigados por lei a terem contratos com médicos e enfermeiras? Algo vai mal, muito mal… há muito que também neste sector da actividade económica lucrativa o rei vai nu mas gostam de nos venderem gato por lebre… atirando depois areia para os olhos quando o telhado começa a ruir

Quantos pescadores que todos os dias saem para o mar em busca do seu sustento se infectaram no mar?

Quem é cego para o futuro vive sem sonhos” (Mia Couto, O Universo Num Grão de Areia)

terça-feira, 28 de abril de 2020

Quadragésimo primeiro dia do resto das nossas vidas


Que fazer nestes dias em que tudo parece igual numa igualdade tão monótona e repetitiva que nos afecta a maneira até como olhamos o céu na esperança de vermos algo diferente que nos anime e nos acorde para a realidade de um futuro que mais do que nunca é incerto, onde iremos entrar às apalpadelas sem vislumbrar qualquer ponta de luz lá à frente onde a vista alcança a desejada esperança de novos tempos, onde nem sequer vamos saber que chão vamos pisar no próximo passo a dar.

Ouvimos muitas notícias que são apenas histórias desejos algumas certezas de meias verdades outras meias mentiras simplesmente falsas, noticiadas, amanhadas, engendradas por lobistas a soldo dos interesses ocultos dos homens sem rosto que confiam e aguardam nos seus palácios o momento de poderem recuperar a acumulação do capital financeiro que por motivos desta pandemia viral ficou como que retida, suspensa, adiada apenas e só isso, que políticos zelosos, diligentes mais à esquerda, mais à direita ou mais ao centro todos procuram de formas diferentes mas idênticas na essência do indispensável, voltar a repor a ordem antiga, a antiga ordem das sacrossantas leis do mercado que lhes permitiam dissimuladamente serem cada vez mais ricos, mais poderosos, mais senhores do mundo à sua maneira, a seu belo prazer, pagando a zelosos funcionários de bom prosear que colocados em pontos estratégicos irão continuar a saga da evangelização da acumulação do capital financeiro com propaganda enganosa ora de que se queres ser vencedor terás de ser o mais arrogante, o mais poderoso chico-esperto e não o mais tolerante, o mais culto e honesto, ora aproveitando as dificuldades de uma vida de ramerrão rotineiro cheio de dificuldades, espinhos, percalços, ansiedades, nos vendem ilusões de felicidades criando um mundo de “prosmiscuidade social” globalizante para que possamos viver a ideia de liberdade como eles a entendem e nos facilitam.
Neste quadragésimo primeiro dia, sabemos que no futuro virá a tão desejada e almejada vacina para deixarmos esta vida de medo colectivo insustentável. Aprendemos que a quarentena é a medida eficaz para os infectados, não para todos os outros pelo que a prioridade é e será saber quem está infectado ou se deixou infectar para que possam ser tratados.
Não tenho grande expectativa sobre o que os governantes nos irão dizer hoje ou nestes dias sobre o que vamos fazer no futuro. Serão eles capazes de delinearem, traçarem, projectarem medidas políticas para que no futuro o ser humano possa ser revalorizado, investindo naquilo que hoje mais do que ontem é fundamental, investir na educação; para que as novas gerações que irão garantir a continuidade do país aproveitem as grandes e profundas transformações da comunicação em que vivemos, por forma a que os mais interessados no saber possam dar continuidade aos que no passado histórico deram novos mundo ao mundo.
Entretanto:
Era bom que pudéssemos parar o relógio do tempo e meditássemos sobre:
- O que é a vida de forma integrada?
- O que somos nós potencialmente?
- Porque deixaram as crianças de fazer calculo mental?
- Porque não se dá importância aos números na formação racional do cérebro das crianças?
- Onde nos leva uma educação que visa simplificar o trabalho da criança impedindo-a de se esforçar face a dificuldades graduais?

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Quadragésimo dia do resto das nossas vidas


Ao quadragésimo dia continuam as especulações à volta do vírus, das causas e das consequências, agora que se noticia oficiosamente o levantamento do estado de emergência. E dentro das muitas asneiras ditas e noticiosas ressalta a afirmação desequilibrada, pitiatíssima do representante dos advogados por causa da possibilidade legislativa que os do Governo podem vir a dar às empresas de poderem verificar a temperatura dos seus trabalhadores em função dos cuidados a ter no reactivar a actividade económica. A ele se juntam uns tais senhores da protecção de dados que vivem numa outra galáxia mas que gostam das mordomias e importâncias que têm cá em baixo nesta pobre mas digna Democracia. Mais uns que não sendo eleitos por voto directo não são conhecidos pela grande maioria dos cidadãos. Mas até compreendo a opinião destes senhores, porque muitos deles ou a totalidade nunca trabalharam numa pequena e média empresa produtiva ou de serviços, custa-me mais aceitar as declarações do representante dos advogados pois muitos dos seus colegas de profissão terão empresas de pequena e média dimensão como clientes, sabendo que neste tempo de pandemia viral o importante é retomar a actividade laboral com toda a segurança. Há gente que só sabe olhar o umbigo ou quando muito a árvore sendo míope ou cego ao olhar a floresta.

Espero que os do Governo ao ouvirem tantas coisas e palermices sobre essa possível medida a saibam legislar correctamente impedindo de forma categórica, sem possibilidade de interpretações, que o trabalhador que vier a ser detectado em estado febril não possa por motivo algum, esse estado febril, ser justificativo de qualquer processo disciplinar.

Outra situação que começa a ter honras de notícia é a situação dos doentes e consultas oncológicas. Nesta situação grave também não entendo o apontar do dedo.
Vivemos num Estado que se habituou a ver os seus governantes como súbditos de Bruxelas com mais ou menos negociatas internas de projectos em que quase sempre saímos a perder ou piores do que estávamos. Poucos são os que pertencem aos órgãos de soberania, quer na Presidência, quer na Assembleia da Republica, quer no Governo que subiram a pulso na vida, que passaram por dificuldades materiais e financeiras, que conhecem a dureza da vida de quem ganha o salário mínimo ou pouco mais do que esse valor e quer educar os seus filhos. Gente que domina bem as técnicas dos sistemas de informação. Gente a que gosto de chamar “a geração do power point” , com a esperteza a sobrepor-se à capacidade de decisões inteligentes e espertas (inteligência e esperteza são necessária em equilíbrio).
Tudo isto a propósito do que se passa no SNS com hospitais vocacionados para acudir aos doentes infectados com o covid-19 e os outros hospitais públicos que não fazendo parte dessa frente de combate, não podem tratar dos doentes oncológicos que estavam a ser observados, seguidos e tratados nos hospitais que nesta fase estão quase a 100% contra o covid-19.
Há vários Ministérios várias Instituições a serem repensados de alto a baixo.
Se os hospitais do SNS estivessem todos ligados numa única plataforma de informação tudo seria mais célere. Os doentes oncológicos e outros com outras patologias poderiam ser observados e tratados pelos hospitais da retaguarda, já que os médicos especialistas que neles trabalham poderiam ter acesso ao ficheiro clínico do doente e de uma forma mais segura psicologicamente para o doentes e seu familiares, que não teriam tanto receio em irem às consultas… melhorando as hipóteses de saúde quer do doente, quer do próprio sistema… Mas os interesses e apetites gananciosos de algumas estruturas ocultas, assim como os senhores da protecção de dados impedem tal salto qualitativo, com os governantes sem capacidade para se imporem a essas estruturas ocultas de vários poderes e interesses.

Quando vou a uma consulta na Centro de Saúde ou ao Hospital, assim que abro a minha caixa de e-mails lá tenho a informação que o médico e ou o enfermeiro que me assistiu tiveram acesso aos meus dados clínicos. Porque não me importo que os meus dados possam estar acessíveis. Quem não deve não teme.

domingo, 26 de abril de 2020

Trigésimo nono dia do resto das nossas vidas


Na rua tudo igual. Ruas desertas. Tirando o pessoal que trabalha no lar não vi ninguém. Olhei as redes sociais onde continua o ruído à volta do 25 de Abril. Agora são as análises e comentários aos discursos de ontem na Assembleia da República. Não sou indiferente mas passo adiante. Mais à frente veremos.
Cada dia que passa mais cansado me sinto. Um cansaço que alimenta uma certa revolta. Já não sei se algum dia terei sossego nesta viagem olhando e sentido a vida como a sinto e olho.
Deixando as dúvidas e lamentações no meu arrumario, despachei-me e fui em busca de uma prenda para oferecer. Talvez nos supermercados pudesse encontrar algo interessante ou simplesmente um ramo de flores. Coloquei as luvas no bolso, a máscara no bolso da camisa e dei corda aos sapatos. No primeiro supermercado Continente não havia bicha de pessoas para entrar. Entrei mas logo saí por não encontrar nada que me agradasse. Fui andando, passando por pessoas da minha idade, velhos como eu, que vinham com os seus sacos de comprar na mão. Cheguei ao Jumbo agora Auchan coloquei a máscara pus as luvas e logo entrei porque também não havia bicha de pessoas para entrarem. Tudo ordeiramente cumprindo com as sinalizações. Fui ver a zona dos frescos, das verduras, charcutaria, peixaria… Nada falta nas bancadas. O reabastecimento está normal. Comprei gel desinfetante, luvas e a prenda. No regresso passei pelo take away de um restaurante gaúcho e encomendei a comidinha.
Sentado escrevo olhando o relógio para cumprir com o horário que solicitei.
Familiares e amigos telefonam-me e vejo-os assustados, todos com medo de saírem à rua. Ouço-os e quando começo a falar nas minhas dúvidas noto que já não me dão atenção. O medo está a ganhar esta batalha. As pessoas não querem pensar nos porquês das mortes, nos porquês dos contágios acontecerem. O medo está a tirar capacidades de pensamento e eu sem forças para os fazer pensar e discutirmos um pouco, sobre as causas não do vírus mas do porque dos países de uma forma global decretarem por indicação da OMS o confinamento, a quarentena, o estado de calamidade ou de emergência…
Porque não nos dizem quantos operários e trabalhadores dos que continuam a trabalhar desde meados de Março nos campos, na faina da pesca, nas industrias transformadoras, na construção civil, nos laboratórios de investigação já acusaram positivo, já se deixaram infetar… quantos?
Porque não nos dizem dos lares com problemas quantos desses lares estavam a trabalhar de forma ilegal e quantos não cumpriam com as normas estabelecidas pelas autoridades em número de médicos, enfermeiros e outros. Os lares têm de cumpriam com as leis ou não?Não basta ter um contrato de avença com médico, enfermeiro ou outro técnico de saúde se o mesmo não for cumprido. Quantos lares das misericórdias estavam em incumprimento e porque no caso de os haver? Quantos lares dos que têm problemas decretaram a proibição de visitas a familiares ou amigos? Quantos falaram e formaram os seus funcionários nos cuidados a ter fora do horário de trabalho? Há toda uma série de questões que não são abordadas e que nos poderiam ajudar a compreender melhor as causas próximas de tantos idosos serem dados como mortos por causa do vírus.
Outra informação interessante seria dizerem-nos quantos dos infectados falecerem por terem outras patologias graves na sua saúde?
Estou a falar para o boneco por isso vou ficar por aqui.

sábado, 25 de abril de 2020

Trigésimo oitavo dia do resto das nossas vidas


Ao trigésimo oitavo dia chegamos ao 25 de Abril. Dia de festa para todos os amantes da Liberdade e da Democracia.
Quarenta e seis anos já passaram. Muitas das promessas do 25 de Abril de 1974 não se cumpriram. Razões existiram. Umas mais objectivas outras subjectivas. Os sonhos e as utopias geradas pela Liberdade duraram pouco mais de ano e meio. Com Novembro de 1975 chegou a ordem democrática. O pessoal foi deixando de cantar de se manifestar na rua e passou a regressar a casa, a sentar-se no sofá ingerindo pílulas televisivas que sem dor moldaram a forma de sonhar de muitos dos que pensaram que tudo eram cravos e rosas sem espinhos… 
Os políticos da sociedade civil que receberam de mão beijada o poder lá foram afastando os militares da importância relativa de um Conselho da Revolução até que ficaram donos e senhores do destino do país.
Pouco a pouco voltamos a viver os brandos costumes numa versão mais light mais moderna e colorida para parecermos também europeus.
Com promessas que seríamos iguais aos outros povos europeus venderam-nos a ideia de entrarmos para a então CEE. Fartos do orgulhosamente sós do passado alinhamos entrar no jogo, embora muitos com um pé atrás de que quando a fartura é muita o pobre desconfia.
E assim temos vivido pagando sempre com línguas de palmo as promessas de que sacrificando-nos chegaremos a entrar no paraíso.

Este ano saudosistas do passado e outros que não gostam desta Liberdade Democrática até nos queriam tirar a alegria de festejar o 25 de Abril. Mas esquecem-se esses arautos do regresso ao passado que festejar o 25 de Abril não é pertença de nenhuma instituição por mais democrática que ela seja. Nem a Assembleia da República nem a manifestação dita unitária que muitos faziam avenida abaixo são os únicos representantes do 25 de Abril.
O espírito do 25 de Abril foi pertença de um punhado de militares de carreira sem outra filiação partidária que não fosse o devolverem a Liberdade e a Dignidade de sermos gente de corpo inteiro ao Povo. Espírito que livremente o doaram ao País sem pedirem nada em troca. E , o espírito é como um ideal, não se pode acorrentar em nenhuma lei, em nenhuma manifestação seja ela na AR ou Avenida.
Há vários anos que festejo o 25 de Abril à minha maneira, recordando a incerteza sem futuro do tempo da guerra e a Alegria louca dos anos em que este era o dia das muitas festas populares onde a utopia era a rainha suprema.

Passados estes quarenta e seis anos celebramos o 25 de Abril em plena pandemia por causa de um vírus que não conhecemos e nos obriga a estarmos em casa. Com o passar dos dias as minhas dúvidas aumentam. Há qualquer coisa de estranho neste tempo.
Hoje mesmo celebrando a Alegria de um dia histórico, vivemos no medo sofrendo a angústia do futuro. Será que quando isto terminar ainda seremos os mesmos? É que normalmente os que regressam não são os mesmos que partiram...
Não vejo nos discursos dos políticos quer os do Governo quer os da Oposição ideias e vontade de repensar a sociedade.

Guardo assim os meus sonhos, as minhas utopias de um mundo melhor no meu arrumario.

Clarice Lispector disse: “Liberdade é pouco; o que eu quero ainda não tem nome”.

«A Luz estava nas trevas e as trevas não a compreenderam» "Genesis"

VIVA O 25 DE ABRIL!

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Trigésimo sétimo dia do resto de nossas vidas


Estava longe, muito longe. Longe na distância, longe no pensar, longe até no sonhar. Sonhar tornara-se perigoso tal o exército de polícia secreta, bufos, legionários e simples pessoas fanáticas e fiéis aos bons costumes e públicas virtudes que o tirano velho "botas" instituiu e o novo-velho "professor" deu continuidade com nova roupagem, sempre vigiado pela brigada mais ortodoxa e fiel ao "corta fitas".
Naquele tempo até o sonhar tornara-se perigoso não fossem eles adivinhar, entrarem nos nossos sonhos ficando a conhecer os nossos desejos de Liberdade.
O país vivia amordaçado internamente, orgulhosamente sós no convívio externo das Nações. Um só partido político legal a União Nacional que por acção do novo-velho "professor" mudou a sua designação para Acção Nacional Popular cuja existência se destinada a apoiar as medidas tomadas pelo Conselho de Ministros ou quando muito a pedir que as mesmas fossem mais gravosas.
Pior que a mordaça era a vida de miséria da grande maioria das suas gentes. Miséria que o regime procurava manter como desígnio da alma lusitana, promovendo a cunha, a pequena corrupção transversal por forma a manter intocáveis os interesses de meia dúzia de famílias que beneficiavam da sua proteção e de um condicionamento industrial que nos colocava bem na cauda da Europa.
Miséria agravada pela manutenção de uma guerra inglória em três das suas províncias ultramarinas (colónias). Guerra que estando sempre ganha segundo nos afiançavam já durava há treze anos e onde muitos dos seus jovens por lá ficaram em sepulturas longe dos seus familiares, sem glória nem uma flor, apenas a cruz que camaradas de infortúnio colocavam; outros regressaram com traumas para uma vida inteira.
Vangloriavam-se os do regime com o ouro guardado no Banco de Portugal. Reservas de ouro manchadas pela exploração miserável a que sujeitou as suas gentes quer no continente quer nas tais províncias ou colónias ultramarinas. Que não servia para mais nada senão para a propaganda fascista. Éramos tristes, miseráveis mas ricos.
Éramos um povo a preto e branco, onde a carta dos direitos humanos decretada pela ONU não se aplicava. Direitos dos cidadãos não existiam a não ser o da missa dominical, da romaria anual ou de uma ou outra viagem até Lisboa para agradecer aos velhos tiranos o estado de miséria que eles nos garantiam, livrando-nos das poucas vergonhas que corriam em outros países dominados ou deixando-se dominar pelas ideias de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Lá longe, muito longe podia-se sonhar às escondidas mas o sonho lúcido primeiro de todas as horas de todos os sonhos era o regresso a casa, o deixar aquela guerra que não era nossa, onde só houve vencidos quer de um lado quer do outro … o sonho desejado morava para lá da linha distante do horizonte...
Quis a história que jovens militares de carreira arriscassem as suas próprias vidas e nos trouxessem lá do horizonte longínquo a tão sonhada Liberdade. Militares que de boa fé entregaram demasiado cedo o poder aos líderes políticos civis para que Portugal pudesse ser uma Democracia de plano direito.
Hoje, quarenta e seis anos depois chegámos ao Estado a que chegámos. Líderes políticos saudosistas ou pouco amigos da Democracia igual para todos, arrastam consigo muitos civis a pretexto das mortes infelizes que vão ocorrendo por causa de um tal vírus, como se a culpa delas estarem a acontecer fosse daquele dia redentor da nossa história. Por detrás da dor que apenas aparentam o seu querer é o começar a reformar a lembrança da gloriosa madrugada que o 25 de Abril representa na história de quase novecentos anos de Portugal.

Para mim que há quarenta e seis anos não sabia se a minha vida tinha futuro, digo que Ontem… Hoje… Amanhã… até ao dia em que a água secar no meu corpo… 25 de ABRIL SEMPRE!!

quinta-feira, 23 de abril de 2020

Trigésimo sexto dia do resto das nossas vidas


Eras tão bonita... adormeci e acordei como se o tempo do sono não tivesse ocorrido… eras tão bonita...
Mas, quando acordei não tinha ideias para as escrever… só um pensamento bailava e… Eras tão bonita.
Não quero voltar a escrever sobre o passado de há quarenta e seis anos. Vou guarda-lo na gaveta das minhas memórias. Gaveta que está sempre à mão.
Não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe. Contudo entre o bem e o mal qual o nosso caminho? Que rotas nos esperam ao virar da próxima esquina?
Ira tudo voltar ao que era para continuarmos a cometer os mesmos erros, continuarmos a sobre explorar os recursos naturais poluindo, terras, mares e o ar que respiramos?
Serão os líderes políticos europeus e mundiais capazes de refrear a marcha suicida para se poder mudar de agulha dando mais atenção ao ser humano?
Depois o tempo parece parar e no acaso das coisas volto a ouvir ...Eras tão bonita...