Monólogos com a Vida
«O Mundo não é a mesma coisa das pessoas que o habitam. O Mundo está entre as pessoas»
Hannah Arendt
Desabafos de Alma:
Política e Religião
É par no meu idial
Respeitar o meu irmão
Fazer bem em vez de mal
(Joana das Neves em Avis)
Apontamentos dos meus escritos ao acaso em transportes públicos, outros nas madrugadas em que acordo para recomeçar tudo de novo. Apontamentos com algumas datas apagadas da memória que aqui renascem.
Nasci um dia lá longe, na cidade de Lisboa, nos Olivais, num quarto no final da noite mais longa do ano a 22 de Dezembro de 1950, por isso ainda sou Sagitário embora de ascendente Capricórnio.
Cresci, brinquei na rua até entrar para a primária na escola publica mas cedo rumei a Peniche crescendo estudando ao som do enrolar das ondas batidas ora na areia ora nas rochas, no meio dos pinhais, subindo e descendo dunas, cresci livre, longe da cidade da confusão da poluição, longe de quase tudo.
Quis o destino que para continuar a estudar voltasse para a cidade de Lisboa.
Assim se passaram os anos de juventude, estudando, com tardes de namoro e de sonho à sombra do Adamastor, olhando o Tejo cá em baixo cheio de barcos que chegavam e partiam, eram cacilheiros, eram cargueiros, eram petroleiros, eram paquetes de turistas eram também paquetes de soldados para África.
O sonho comandava a vida, mas Angola chegou para o interromper, ficando a conhecer o que é o medo de perder alguém que estava sob as minhas ordens; quantas vezes em silêncio me cruzei cara a cara, eu, o medo, a morte também me visitou, mas a esperança a tudo se sobrepôs. Quanto sofrimento, e, para que afinal?
Foi-se a guerra chegou o casamento. Dele nasceram duas filhas. Durou 25 anos até que morreu o amor a afetividade e decidimos a bem cada um seguir o seu caminho.
Estudei, primeiro tirei o curso de contabilista antes do serviço militar obrigatório, depois de casado, a trabalhar estudei à noite licenciando-me em Organização e Gestão de Empresas. Foram noites foram anos.
Trabalhei quase sempre em empresas multinacionais, não olhando a sacrifício fui conquistando as posições normais de quem sabe trabalhar sem atraiçoar os outros colaboradores, até que aos 49 depois de atingir o topo da hierarquia fiquei desempregado, aos 50 separado e, assim vivi sem reforma, sem subsídio, nem seguro, procurando uma saída do deserto em que vida se transformou. Desanimo, desistir foram e são palavras proibidas, lutar é palavra de ordem. Perante as adversidades temos que saber crescer, embora por vezes não seja fácil tantos são os precipícios que se nos oferecem.
A procura contínua de saídas levou-me a ser um “solitário”, um tresmalhado do rebanho que por vezes gosta de estar só, não conhecendo a normal
solidão porque sempre me encontro mesmo só acompanhado.
Até hoje...
Nasci em Lisboa à beira rio,
Cresci entre as dunas e o pinhal.
Fui a África, do lado errado da guerra,
Vi a dor, conheci o medo
Cheirei a morte,
Olhámos-nos olhos nos olhos
ela foi embora.
Até hoje...
Não conheço o ciúme,
Já conheci a raiva,
Mas mandei-a embora.
Amo a Liberdade!
Descendente de cristão-velho e cristã-nova,
Republicano,
Amante da liberdade,
Respeitando o outro.
Pronto a desfrutar o belo e o bem
Uma nova era terá começado neste começo de década. Muita coisa nova nasceu. Muita coisa velha vai morrendo. Nem tudo o que nasce é vivo, assim como nem tudo o que morre está vivo.
Muita coisa há que vive morta.
É isto um dos males que nos mimam. Um mal que nos doaram quando nascemos e nos criaram. Deram-nos vida sem termos sido ouvidos de tal ato, para de imediato trespassarem para os nascidos vindouros, a morte lenta que não nos deixa viver.
A covardia deles vai-se alimentando em nós. Muitos de nós vamos novamente trespassar essa covardia de morte lenta para aqueles que colocámos no mundo sem os termos ouvido.
O Mal, não é nascermos sem termos sido consultados. Nascer é a própria recriação da Natureza. O Mal é sociológico, é económico, é psicológico, é político. O Mal é tudo isso. O Mal são os padres, as instituições de moral duvidosa. O Mal está em tudo que tenha medo de mudança.
Os tabus criados para a manutenção do Mal devem-se manter. Quando muito criam-se novos tabus para destabilizar os antigos sem que a ordem se altere.
O Mal são as obrigações, os deveres e Nunca os direitos!
O Mal é o mal! Não se discute!
E, o Bem o que será?
(21.05.80)
O que é ser menina?
E mulher?
O quê? que dizes?
...Hãã… o quê...
Não sei nada disso,
Não gosto dessa filosofia
Eu quero e gosto, é de ver televisão.
(06.1979)
Os dias passam, mas onde mora a alegria?
É Primavera, tudo deveria ser bonito, porque é assim que nos ensinaram na escola. Os jardins a florirem, as árvores mais verdes do que nunca, o sol todos os dias e o calor a chegar. Só que isto é nos livros da escola.
Depois, na vida, os dias passam mas por vezes era melhor não passarem, nem mesmo terem chegado. Nem sempre há sol. Há mesmo flores que murcham, antes de florirem. Há árvores que em vez de nos darem a sombra das suas copas, dão-nos a desolação dos seus troncos velhos, nus e tristes como que a dizerem-nos que não estamos sós.
Os jornais falam
Os jornais contam como foi ou como será
Os jornais gritam. Os jornais mostram.
Mas,
Os jornais não nos dizem o porque
Os jornalistas, têm Medo!
(28.05.80)
Esta chegando a hora de mais um aniversário.
O terceiro da tua vida.
Quantos projetos, quantos? Não sei, não falamos disso
talvez elas falem, talvez elas já tenham decidido, programem como vai ser.
Sim, já devem ter pensado nisso, já devem ter estabelecido os planos.
De mim, só esta vontade de falar os pensamentos que ficam presos na garganta.
(03.06.80)
No silêncio das palavras
nas mãos que se dão
fica a distância curta
dos olhos que se veem sem se olharem
dos hálitos que se sentem-se
nos beijos em silêncio trocados.
Quando em silêncio olho para ti casa,
questiono-me se tudo valeu a pena.
Quando olho os livros, os quadros, os discos nas estantes,
questiono-me onde vamos parar.
Quando no silêncio partilho convosco os momentos, os pensamentos
quero ficar com vocês no nosso silêncio solitário compartilhado.
Sabes que ninguém gosta de sofrer. Contudo, sempre acabamos por conhecer o sabor amargo do sofrimento.
Muitos momentos bons de nossas vidas acabam se transformando em sofrimento.
Muitos desses momentos acabam por ficar dentro de nós, sem que encontremos uma razão para a sua existência e permanência.
A vida é um mar de tantas batalhas que só lutando lhe tomamos o saber.
Não é uma flor de canteiro
nem sequer uma simples “azeda” é.
É um quadro, é uma foto
Não são netas, não são flores
Não são gatos, não é um cão.
É um amigo, é um surfista
É o Onix!
(24.12.02)
Num dia de sol em tarde cinza,
sentado num banco de pedra ali no largo
ao ler o jornal ao fumar um cigarro,
olhei, pensei e conclui:
- que não fumava não lia, que não vivia,
apenas respirava o suficiente
para manter viva a chama da esperança.
(Setembro 1980)
Criei os mitos,
desenhei as almas,
refleti os ídolos e,
então acordei apenas só
todos os que me rodeavam
continuavam dormindo este sono obscuro sem fim.
(Setembro 1980)
Na linha da vida
Quantas emoções
Quantos sonhos
Quantas utopias
Quantas desilusões
Desenganos,
Depois
Nasce o Sol, vem o dia
E,
entre emoções e desilusões
renasce a velha e nova história
“Na linha da vida”.
(22.12.02)
Deixas-me só, com estas duas gatas indisciplinadas
Que só correm, zangam-se e perturbam o meu descanso
Por vezes tenho de abandonar o descanso para por ordem na casa
Tal o barulho e os estragos que fazem ou podem provocar
Mas, as malvadas, conseguem sempre fugir
As portas estão semi fechadas e elas passam
Enquanto que eu não consigo passar onde elas passam.
Ah… se às vezes eu pudesse... metia-as na ordem!
Pois quem guarda a casa sou eu!
Ninguém entra sem minha autorização!
E como tenho voz grossa quem vem
Não se aproxima da porta... ou
Fecham-me na sala para não se assustarem comigo.
O meu dar ao rabo
As minhas lambidelas de carinho são manifestações de alegria pela companhia que eles me fazem
Mas...
Por mais voltas que de à cabeça, não consigo entender os humanos!
Onix,
Amigo
Companheiro
Que tudo farejas e assim tudo sabes
Que tud
Pedido de Sacrifícios
Atento ao mundo, ao que aqui se passa, ao que nos acontece
Sofrendo com a miséria que se instala, nos campos, nas cidades, nas mentes.
A memória é curta, mas a paisagem é deslumbrante, medonha. Por aqui passam as forças contrárias do bem e do mal, com estas últimas em vantagem a vencerem,
as guerras místicas estão no auge…
No meu canto, não dou para tanto peditório
Não dei para a “Pirâmide” e não me arrependi
Não dei no tal dia de salário para a nação (era militar em Angola). Não me arrependi
Não dou para as ONG’s e não me arrependo.
Dei sangue ARh+
Disseram que estava fora de prazo para doar medula.
Mas para este peditório já dei!
Na hora da morte darei tudo o que quiserem tirar que seja útil
O resto serão cinzas a serem distribuídas.
Que se lixe o controle orçamental!
Que se lixe a divida pública!
O Estado, que pague que está isento de IVA!!
Para este peditório já dei!!!
(19.08.03)
O meu Amigo,
Quando ele sai de casa olho-o com os meus olhos castanhos de tristeza
Quando ele sai de casa mesmo triste dou ao rabo
Como que a dizer-lhe,o escutas e assim tudo ouves.
Amigo
Companheiro
Incondicionalmente Incondicional!
(26.03.03)
No teu tempo ainda não havia as provas de surf naquelas águas.
Se tivesses vivido mais uns anos serias um cão-surfista de top, mas a vida nem sempre é boa para os mais fiéis.
A 19 de Fevereiro como ser quase humano que eras acabaste a tua luta contra a doença que te ia consumindo sem nunca te tirar a alegria de estares em família.
Tudo fareja e tudo sabe
Tudo escuta e tudo ouve em silêncio
Escuta, até as almas penadas que não nos largam.
(Abril 2008)
Aqui, nas margens do Sado pergunto ás aguas que correm onde estão as esperanças da igualdade, as utopias da fraternidade, para onde foram morar os humildes pensadores e estrategas que um dia mudaram a agulha da vida…
Fico à espera… foram perguntar a Neptuno que anda ausente e desiludido com o nosso navegar.
(31.05.04)
Bailarino nunca fui
os pés colavam-se ao chão,
só o pensamento bailava.
Bailarino nunca fui
futebolista, ciclista, quis ser
mas os estudos me chamavam.
Bailarino, nunca fui
estudar o meu destino
à cidade acabei por voltar.
via os barcos bailar no Tejo
da Lisboa amordaçada
e, o pensamento, voava
e, o pensamento ia ao infinito
e entre esquinas e ruelas bailava.
Pensando e bailando
a África fui bailar
Angola o meu destino.
Já o peito calava a revolta
o pensamento bailando sonhava
os pés se colavam à terra vermelha.
Mesmo sem saber bailar de pés
nunca deixei de bailar pensando
e entre empresas fui bailando.
Hoje continuo bailando
sem saber tirar os pés do chão
a música não me deixa, nem me larga
com ela vou deixando o sonho bailar
até que a música da vida se interrompa
e não possa mais dizer … a menina dança?
(23/06/04)
Esta dor que dói
Que faz correr o sangue
Que faz correr as lágrimas
Esta dor que dói
Que sobe quando se desce
Que nos torna mais pensativos
Esta dor que dói
Que não seca…
Que não quer sarar…
Que custa transportar connosco
Esta dor que dói
Que sangra…
Que pesa
Que desgasta
Que corta
Esta dor que dói!!
Corpos
O erotismo nasce dos corpos, vagueia pelos sentidos
E se sente no abraço sem fim
Nas mãos que se tocam, nos olhares que se cruzam,
No beijo que se funde.
Romântico é
Ver a vida pelo seu lado belo, sensual,
Que nos faz vibrar.
Falar com os olhos, com palavras mudas em singelos toques.
Beijo
Beijo de boca
Beijo de lábios que se tocam
Beijo de línguas que se chupam
Beijos simples, elaborados
Beijos doces, picantes e agri-doces
Beijos que vagueiam nos corpos
Em todos os sentidos.
Com um beijo se começa
Com beijos se ama
Com beijo se termina
Num nunca acabar,
Há sempre um novo recomeçar
Dos corpos saciados, no silencio dos desejos,
Nos gemidos dos mesmo em busca de um novo navegar
De um novo beijo.
Partem uns, outros ficam e novos chegam
Com o tempo a memória vai lentamente esbatendo a saudade
A fotografia teima em lembrar quem tanto nos quis e nos quer
Para que o espírito perdure nas nossas memórias vivas
Saibamos respeitar quem tanto nos quis,
Quem tanto nos deu!!
Dei as mãos aos braços e com estes me abracei a mim e ao mundo.
Chorei mais pelas mágoas do que pelas feridas,
Com o sofrimento na mochila aprendi a sentir o Sol nas noites de lua nova,
Ouço no silêncio o grito das aves voando nas escarpas do Erges,
No mar me embalo na rebentação das ondas na dança com as ninfas
Depois,
Que haverá para lá do depois?
Como vai a vida julgar-me se ela segue de mão dada comigo?
Mãe
Não é eterna saudade
Mas sim uma saudade sempre presente!
Às vezes tenho vontade de te ligar
Às vezes tenho saudades
Às vezes… Mãe
Uma coisa no peito, uma vontade de falarmos
De te ouvir
De te contar tantas e tantas coisa, Mãe
Às vezes… Mãe
Sinto tudo à minha volta sublimar-se
Fico sem saber que fazer, para onde caminhar…
Às vezes… Mãe
Mãe uma imagem que não se apaga,
Mãe uma companhia de todos os dias!
Procurei nas livrarias, percorri as estantes,
Folheei páginas e páginas, li, reli e voltei a ler
Mas não encontrei nenhum livro
Que dissesse, que transmitisse
A emoção do amor que por ti sinto
É bom, depois de velho ser outra vez moço tolo
É bom, saber que existes e que daqui a pouco podes sorrir para mim.
Lembras-te dos tempos de bicicleta
Dos tempos de escola
Dos poucos dias sem chuva no inverno
Lembras-te das rajadas do vento “berlengueiro”,
Das viagens sem oleado
Colocando as bicicletas atravessadas na estrada
Agachando-nos para que a chuva passasse
Os corpos molhados até aos ossos
O aquecimento da escola desligado em poupança
Lembras-te disso?
E agora,
Lembras-te do tempo onde estamos?
Pertencemos a uma geração que muito do que aprendeu foi pela leitura, muito do que comunicou foi pela escrita de cartas, postais a até aerogramas quando estávamos na guerra.
Líamos livros às escondidas dos mais velhos, líamos livros que passavam de mão em mão por serem proibidos pelo poder dominante do «Deus Pátria e Família» .
Namorávamos por recados, por cartas e aerogramas, namorávamos e sonhávamos com uma nova vida cheia de felicidade colorida.
é a nossa evolução dependente do tempo?
os anos que passamos são um tempo de vida
tempo que é tempo nesse espaço-energia que é vida.
Vamos andando por aqui às voltas com o tempo de vida.
O barco vai cheio
Cheio de passageiros
Cheio de vazio
Cheio de solidão.
Os semblantes vão carregados
A custo, ouvem-se vozes tão baixas
Que parecem ter medo de se ouvirem.
E o barco vai cheio
Não se ouvem vozes como antigamente
Falam dos desamores, do trabalho
Das dificuldades em casa
Falam do vazio em que vivem
já não acreditam na esperança.
E o barco vai cheio
Cheio de solidão.
Os semblantes vão carregados
Cheio de medo sem esperança
Onde andarão os sonhos e a utopia?
E o barco vai cheio
Cheio de solidão.
Gosto do silêncio das manhãs, de
ouvir a voz rouca do mar ora se espraiando na areia ora
batendo nas rochas enquanto caminho à sua beira
Gosto do azul do mar no céu ainda cinzento, dos odores da maresia que o vento me trás
Gosto de caminhar na baixa-mar ao clarear do dia, ouvindo os gritos matinais das gaivotas pousadas no areal
Gosto do vento norte e da chuva miudinha à beira mar
Gosto de ir caminhando e dialogando com a minha sombra, com os meus deuses e com o além infinito.
Os olhos secos de lágrimas doem-me,
olho para trás sem medo ou vergonha do que fui até chegar aqui.
No horizonte da minha memória lá estamos sempre os quatro, a mãe que já lá está aguardando a chegada do pai que aos 89 anos anda cansado de viver com as dores que o apoquentam, o irmão e eu
Sorrio para a mãe, apago a luz que o sono já bateu à porta.
Morreu Mandela morreu o revolucionário dos consensos
Em vez da luta armada optou pela luta dos consensos
e, nem por isso a sua vida foi mais fácil.
Hoje, todos vão clamar bem alto quanto o respeitam e o admiram, mas ainda ontem o catalogavam nos seus registos mais ou menos secretos como
«preto», um perigoso «terrorista».
De mim já ouviu o meu simples voto “Descansa em Paz, tu que escreveste um dos mais bonitos saltos civilizacionais do séc. XX”.
(07.12.13)
Tantas são as ideias dos porquês,
as lembranças do que fomos e não fomos,
que correm sem parar na minha mente.
Ideias, lembranças, casos, situações,
todos querendo ficar na memória mais próxima.
Quando me sento para procurar arrumá-las
fogem-me todos para o fundo da memória. Danadas.
Lá fico perdido no turbilhão das ideias, incapaz de as arrumar.
Por vezes só o teu sorriso é uma luz lá bem ao fundo do túnel,
tão distante nos tornámos.
Demasiado cansado para conseguir arrumar as ideias que fervem à flor da pele.
Não é baixar os braços. Isso seria desistir. E, desistir é palavra proibida.
É um cansaço que dói sem dor. É um sentimento de solidão este de estar sozinho rodeado de gente.
O egoísmo anda à solta nas ruas, avenidas, nas aldeias, vilas e cidades, entrou nas casas habitadas, divide famílias, amantes e amigos.
O egoísmo veste-se de amor e ilude os incautos,
sorrindo com sorrisos de ilusão.
Veste-se de várias formas. Declara-se como se declaram os falsos amigos.
O ciúme e a inveja são as suas características mais visíveis, mas há tantas e tantas outras formas dele se desenvolver entre nós, sendo o fanatismo aquela que hoje se desenvolve de forma mais perigosa, já que mistura em si, o ciúme e a inveja o bem e o mal numa cegueira crescente.
Anda por aí mas não se vê. Não dorme. Está sempre vivo procurando atacar qual vírus mortífero, sem outro antídoto para o combater que não seja o do amor simples, desinteressado, amor pelo bem estar de todos com respeito pela liberdade dos outros.
O egoísmo é um sufoco que vai matando tudo aquilo que um dia nos uniu.
Fecho os olhos, a pouco e pouco o pensamento ausenta-se, fico
apenas com o sentir da respiração num vai e vem,
qual mar de azul infinito que observo do alto da minha duna,
mar com as suas ondas num vai e vem beijando a areia,
acariciando as rochas.
Queria ficar assim, ausente de tudo menos de mim
no embalo de um sonho acordado.
Gosto de sentir o mar, de o olhar, de o ouvir
estejam os deuses serenos ou zangados,
os murmúrios, os gritos dos deuses são música que me acalmam,
que me ajudam a compreender quão bela é a vida,
plena de emoções felizes para as poder guardar
na minha "nuvem" de memórias.
A vida é uma mudança constante. Quantos vezes nos recusamos a olhar as nossas mudanças de vida. As mudanças como pensamos. As mudanças como olhamos e sentimos.
Hoje não somos o que fomos, nem o que seremos num amanhã. Mudamos como tudo muda na vida, na Natureza.
O Sol está à milhões de anos fixo no nosso universo. Aos nossos olhos vai aparecendo mais a direita ou mais à esquerda no horizonte a leste. São os movimentos silenciosos do Planeta mudando num constante processo de milhões de anos.
Sabes o que me dói?
Não, não é dor física, nem é uma dor constante, chega normalmente nos finais das tardes de sábado ou de domingo. O tempo passa e com o tempo vai passar, eu sei, mas que hei-de eu fazer se nas tardes de domingo o telemóvel já não toca e a dor, a angustia se instala pela ausência de te ouvir perguntar se esta tudo bem e as meninas como estão? Às vezes a conversa durava pouco mais de 30 segundos, que tu nunca foste de grandes conversas ao telefone.
Ah como hoje sinto a falta desses segundos, tão curtos.
Até quando esta angustia vai permanecer ou voltar todas as tardes dos fins de semana.
(16.06.17)
Uma lição.
Tocou-me e muito ouvir referência à guerra colonial. Voltei ao arame farpado, ao medo que me acompanhou desde o dia em que em Chaves soube que ia para Angola comandar um pelotão de rapazes transmontanos e minhotos, alguns casados pai de filhos, que iam ter o azar de me ter como comandante de pelotão armados em Caçadores numa guerra em que não fomos ouvidos.
Fomos, voltamos todos mas já não éramos os mesmos!
(11.03.17)
Há janelas e janelas, todas com sua beleza, todas guardam histórias. Histórias que em silêncio elas nos transmitem quando as olhamos e as escutamos na linguagem muda que no instante se estabelece entre nós. Às vezes umas entram-nos na câmara mais coloridas outras nem tanto.
É que nem todas as histórias têm a mesma cor, a mesma energia, o mesmo final feliz!
Contudo, elas, as janelas, aí estão todas com sua beleza, todas guardando histórias de vidas!
(13.04.17)
E tudo ou quase tudo começava “era uma vez”
Hoje, porém, tudo começa de forma diferente, o “era uma vez” é passado, está desatualizado passou à história.
Já não há mais príncipes e princesas encantadas, nem lobos maus Agora somos todos “capuchinhos vermelhos” vivendo num mundo não de ilusões e sonhos, mas, num mundo de um medo quase constante.
Dão-nos mordomias
Embalam-nos em estádios cheios vibrando vitórias
Ajoelham-nos em recintos religiosos a abarrotar de crentes na esperança do milagre
Dão-nos televisões e telefones móveis com mensagens constantes promovendo futilidades
Criaram novo conceito de “felicidade” servida em cápsulas vazias de amor, de solidariedade para com o próximo, na ideia plena de que a felicidade se pode comprar se a procurarmos nas suas catedrais de consumo.
(14.05.17)
Neste mares navegados por gentes, barcas e deuses
Nestes feixes de virtuais a caminharem para reais
Acordei um dia e senti um sabor estranho nos lábios
Quis saber o que era
Perguntei ao deuses e eles se riram
Caminhando junto ao farol olhei o mar
Perguntei ao vento notícias de tal sensação
E o vento nada me disse
A brisa que soprava não sabia a maresia
Era de rosas o seu cheiro, o seu sabor
Icei as velas do pensamento e parti
Em busca da deusa que me tinha visitado.
(12.07.17)
35, 36 ou 37, talvez mesmo um 38
Um pé na areia molhada
A donzela que por mim passou deixou a sua marca.
Vai a donzela pensativa no seu caminhar
neste amanhecer sereno de domingo.
Que preocupações a consomem a esta hora da manhã?
Uma noite de festa não vivida?
Ou o amor que não chegou?
Quem saberá...
Com tanto mar para amar
Vai pensativa no seu lento caminhar
A donzela que na areia a sua marca deixou para eu a guardar.
(06.08.17)
Eu e o meu mundo sem fronteiras, sem amarras, apenas lembranças do passado que por estas areias pelas ondas deste mar, um dia em meses e anos vivi, amores e sonhos de juventude cheios de esperança.
A sinfonia do vento acompanha o coro do desfazer das ondas beijando a areia dourada que as recebe numa cumplicidade de muitas vidas, de muitos anos.
Neste universo de boas vibrações chegam até mim as oliveiras de meus antepassados que lá estão na fronteira raiana de Idanha-a-Nova, resistindo e sofrendo a canícula de mais um verão, como que pedindo o fresco destas águas cristalinas e frias.
Assim vou caminhando com um pé à beira mar e o outro lá onde o calor é mais quente, dentro do meu mundo de sonhos, ilusões e amores.
(06.08.17)
Ah se eu soubesse
ou
se eu pudesse dizer-te tudo o que eu sinto por ti, por nós,
se ao menos eu fosse capaz
de traduzir em atos tudo aquilo que processo na mente,
o mundo seria um universo de luz e felicidade
Ah se eu pudesse… se eu soubesse.
(20.09.17)
Uma janela que se abre
Uma porta que se fecha
Caminho no meu passo
olhando tudo ao meu redor.
Atrás de mim sinto passos apressados
Olho para cima, para o azul celeste do céu,
como que procurando sinais da vossa presença amiga.
Agora, são as janelas que se fecham, mas, uma outra porta se abriu à minha passagem.
De dentro chega a luz da lamparina que alimenta a esperança e dá força à vontade de continuar esta luta de muitas batalhas que é a vida.
O amanhã jamais será como o ontem e, o hoje é o primeiro dia do resto da minha vida!
(21.09.17)
Olho para ti
Abraço-te pela manhã
Todos os dias, todas as noites
Porque as noites também têm manhãs
Mas nem sempre tu me abraças
Olho para ti e vejo aquilo que não somos
No meu olhar te vejo qual musa, qual deusa
No meu pensar as palavras bailam sem saberem dançar
Podíamos ser felizes
Porque é que com o passar do tempo, dos dias e anos, só por momentos cada dia mais ténues nos abraçamos com o desejo da permuta?
(25.12.17)
As palavras vão e vêm.
Dizem que é uma tal lei do retorno, outros porém dizem que tudo é obra do Divino. Outras explicações existem para o facto de elas virem e irem.
Para onde vão e como voltam nem sempre se sabe. Porém, sabe-se que vão e voltam num constante fluir, para nessa viagem nos ligarem aos outros que nos rodeiam e interagem connosco.
Palavras há que leva-as o vento. Outras são ditas apenas com um simples aceno de cabeça. Outras, porém, dizemo-las apenas e só com o silêncio de um simples olhar ou da complexa não resposta.
(10.01.18)
Ando cansado de te olhar
de te pedir um abraço
de não darmos um beijo beijado.
Há quanto tempo não nos beijamos
como nas nossas noites proibidas
Mas tu
Continuas ausente no teu passado
no teu não querer ver a realidade
que só te mata e nos mata.
(27.01.18)
O rio corre indiferente às tropelias,
às maldades que os humanos lhe fazem,
todos os dias a todas as horas
O dia renasce indiferente às loucuras
que andam em alta velocidade
pelas ruas e avenidas sem controle
O Sol desponta indiferente
inundando tudo com sua energia
Só as nuvens não trazem a chuva desejada.
(19.02.18)
Nas coisas simples se encontra quase sempre o prazer de vivermos, não precisamos de coisas complicadas, apenas uns euritos e estarmos atentos ao que nos rodeia, termos a mente aberta à inovação, à aprendizagem com outras pessoas que independentemente dos estudos convivem connosco, porque todos temos coisas a ensinar, coisas a aprender.
Ao receber estes espargos selvagens, apanhados por quem conhece e sabe, logo se pode preparar um petisco. Se com os euritos tivermos comprado uma boa carne, o petisco vira manjar.
Não sei os minutos que levei a fazer, sei que me soube divino.
(25.02.18)
Nunca fui de modas, nem sou de modas.
Não dou importância alguma ao que dizem ser a tendência das cores, dos feitios, quer seja no vestir como no calçar, quer seja nos carros ou nos cinemas.
Nunca comprei um livro por ser best seller, não fui ver um filme ao cinema por ter ganho ou ter sido nomeado para os óscares, gostava tanto do cinema americano como do europeu onde pontificava o cinema italiano, francês e sueco.
Não sou de modas nem nunca fui de modas.
As modas são, para mim, apenas um instrumento desta sociedade de consumo, um instrumento inútil, uma felicidade vazia na vida comum dos cidadãos.
Não sou de modas nem nunca fui de modas.
(23.03.18)
Porque é que eu nunca me despedi de ti, mãe?
Nem quando parti para a guerra me despedi de ti mãe
Nem quando naquele dia triste em que nos deixaste e te meti naquela caixa de madeira, me despedi de ti mãe
Porque, mãe?
Porque é que com o passar dos anos, cada vez gosto menos do Natal, da Pascoa e do Carnaval, porque mãe?
Que terão estes dias de tão especial, que a cada ano eu me sinto mais ausente, mais sozinho, sem compreender a alegria dos outros… sozinho, na outra margem onde ando e navego, mas de onde não consigo voar
Porquê mãe?
(28.03.18)
Neste final de tarde, levantando os olhos observo uma a uma as pessoas que estão sentadas como eu, nesta sala de espera do piso 3 no HVFX, aguardando que no ecrã apareça o nosso numero de consulta. Olho-os e penso, que seria de nós se não existisse este “SNS Serviço Nacional de Saúde”, que com todas as insuficiências e problemas, é com a “Liberdade de Expressão” as duas maiores riquezas que mau grado todas as desilusões do pós 25 de Novembro, ainda temos vivas e partilhamos.
São para mim os dois maiores bens conquistados graças ao golpe dos militares que dizendo basta aos antigos governantes do salazarismo, souberam depois, dar de mão beijada o poder à sociedade civil.
Só por isto, a frase tantas vezes gritada nas ruas, e atualmente tão incomodativa a tanta gente, tem razão para continuar a ser dita,
“25 de Abril Sempre”.
(20.04.18)
Gostei de ter vivido o que vivi, com dores e alegrias sentidas, por vezes com medos à mistura, com amores e desamores, gostei de ter vivido o que vivi.
Tenho saudades do futuro, que com a sua incerteza me faz querer viver, chegar mais à frente na esfera do tempo para poder espreitar como será a incerteza do mesmo.
Às vezes fico a olhar pela minha janela, aqui no meu canto, olho e fico pensando, se Charles Darwin não se equivocou na sua teoria da evolução das espécies, estaremos a viver os tempos de uma pré-revolução na evolução da nossa própria espécie?
Olho pela janela o azul do céu, depois olho o ecrã, bato teclas para falar escrevendo, recuso-me a usar o aparelho do telemóvel para lá de telefone e máquina fotográfica, não quero ficar mais isolado do que esta forma de viver prisioneiros em que docemente nos transformamos, seres humanos isolados agarrados a máquinas frias para fugirmos do medo que nos isola e ao mesmo tempo nos alimenta enganando a esperança.
Gostei de viver o que vivi, mas a cada dia de vida, sinto dentro de mim esta luta crescente entre o querer ir espreitar o futuro e o medo de o ver metálico, frio, impessoal sem emoções. Só a esperança de querer ver as netas e o neto crescerem me dá algum alento, para continuar a caminhar os trilhos armadilhados desta vida.
(22.04.18)
«Não te iludas, nem cries mais ilusões», diz-me em silêncio a minha sombra.
Quase tudo aquilo que sonhaste não deixou de ser sonho e pouco mais.
Estás só e vais continuar só, mesmo vivendo acompanhado vais continuar só, tu, eu, e aquilo que sonhas e idealizas, só a ti mais do que a mim, tua sombra, diz respeito.
Os outros? Querem saber de ti, quando precisam.
Não te iludas, nem cries mais ilusões, que a vida é isso mesmo.
(23.04.18)
Viver é a palavra de ordem.
Que interessa a fúria do mar se cada dia representa um pequeno passo no longo caminho que há que percorrer até que tudo esteja resolvido, até que o veredito da cura(?) seja proferido.
Viver livre e preso, é outra forma de levarmos a vida. Tudo passa a ser diferente depois de se ouvir o veredicto médico do que a biopsia indicou. As cores deixam de ser simples, tudo adquire novos tons, novos sabores, o sentido da vida passa unicamente pela vontade, pelo desejo de viver mais um dia, mais outro e assim sucessivamente.
Que importa a fúria do mar se agora os ventos já não alimentam as velas dos vário sonhos, agora só há um único sonho, viver e matar a filha da puta da aranha de baba peçonhenta que por causas desconhecidas habita comigo talvez há mais de um ano, mas de forma conhecida há sete meses.
Agora mais do que nunca caminho só, acompanham-me a minha sombra, o meu passado e a aranha de baba peçonhenta que dentro de mim se instalou sem pagar renda. A par deste viver caminhando, o silêncio, a ausência. Um viver sem outro horizonte que não seja vencer para poder cumprir com todas as obrigações que assumi e tenho que cumprir sem baixar os braços sem desistir, porque desistir, já a vida me ensinou que é palavra proibida...
Junto à fronteira, o meu refúgio, o meu canto onde os meus antepassados celebram comigo a alegria de podermos estar juntos, mesmos que não os veja paira no ar a sua presença amiga, o seu abraço de boas vindas.
Cada momento desta viagem é um milagre traduzido na alegria do canto das aves, dos odores das flores, no sabor dos frutos que saem da terra pobre mas amiga, da magia que a fúria do mar incute em nós quando o olhamos revolto nas asas do vento, do sabor da esperança, do querer continuar a viver!
(26.04.18)
Pode alguém ser quem não é?
É este o pensamento que baila na minha mente,
ao deitar, ao acordar e me acompanha dia a dia nesta caminhada.
Afinal o que é a vida, quem sou eu e o que ando a fazer por aqui?
Tudo parece simples mas assim como as cores do arco íris chegam e logo desaparecem, também esta simplicidade perdeu a cor apresentando-se agora, opaca com alguns buracos negros.
(29.04.18)
Quanto mais nos olhamos ao espelho e olhamos um para o outro, eu e tu, sombra, mais me sinto em contramão, às vezes até penso se não estarei enganado, se estarei vivo e lúcido ...
Aí só o teu riso me faz voltar à realidade, procurando continuar a caminhar na nossa outra margem, onde não caminhamos só nós é certo, outros também procuram andar por esta margem, que é a outra.
(16.05.18)
Há! se tu soubesses a falta que me fazes. Podias estar longe mas fazias-me companhia, agora desde que partiste desta viagem, sinto um vazio difícil de conviver com a tua falta, com esta ausência, que em momentos me invade, e, hoje é um desses dias.
Tenho-te a ti e ao nosso amigo Master, no ecrã do meu computador, mas nunca foi tão longa a ausência. Nunca aquele minuto de conversa semanal, em que procurávamos saber um do outro, sem nunca te esqueceres das netas, foi tão longo que se torna um peso infinito. Um minuto em que nos alimentávamos aos dois. Como pesa a ausência desse minuto, que sabendo não voltar nunca mais tem momentos, tem dias em que pego no telemóvel para ver se tem alguma chamada tua, como se isso fosse possível.
Nunca foste de muitas palavras, mas as pronunciadas foram e eram sementes de sabedoria, de exemplo e dedicação aos teus filhos e netos.
Hoje o dia, que começou como todos os outros dias nesta rotina sempre renovada, logo pela manhã ficou mais pesado do que o cinzento do céu, zanguei-me com a minha nova amiga Sacha e bati-lhe o que me causou grande sofrimento.
Esta luta que travo dia a dia, acreditando que o amanhã pode e deverá ser melhor, também me cansa, me desgasta, mas desistir é palavra proibida e, quero acreditar ser possível que o sofrimento de hoje seja paz e amor amanhã.
(04.06.18)
Apetecia-me contar uma história onde só amor e felicidade tivessem lugar, mas não sou capaz de escrever tal história.
A realidade dos dias que correm é bem diferente desse sonho de um mundo só de amor, rodeado de campos verdejantes e flores perfumadas, onde não haja lugar à inveja, ao ódio, ao ciúme, à eterna desconfiança que existe em nós sobre quais as intenções do outro ou dos outros.
Apetecia-me contar uma história de um mundo onde só possa existir a verdade geradora de felicidade.
Apetecia-me mas não sou capaz.
Fico assim no meu mundo, às vezes isolado outras em confraternização, mas procurando sempre estar em paz e poder ser amigo, respeitador e cúmplice de quem possa gostar da minha maneira de ser.
(06.06.18)
Hoje, também sigo sentado de telemóvel na mão, fora do mundo que me rodeia nesta carruagem de comboio; enquanto uns jogam, outros se entretêm com as redes sociais, e, outros como a moça à minha frente leem, eu escrevo palavras ao acaso, escrevo sem os óculos que seguem guardados na bolsa, assim sem ver todos os erros dados nesta transferência de pensamentos para a memoria desta poderosa maquina, que vai mudando silenciosamente os nossos hábitos de vida, vou revendo memórias e muitas duvidas.
(04.07.18)
Estou aqui a procurar lembrar-me se alguma vez trabalhei menos de 40 horas semanais, muitas mais sem duvida.
Trabalhei sem receber um cêntimo de horas extra, menos de 40 é que não sou capaz de me recordar.
A minha cabeça já não é o que foi.
(05.07.18)
E os dias passam sem que as notícias desejadas cheguem via correio ou por mensagem para o telemóvel.
Sem as notícias desejadas fica-se sem saber o que fazer no amanhã próximo. Vive-se dependente da notícia que não chega.
Estou cansado pelas notícias que não chegam, cuja ausência cansa pela incerteza do amanhã.
Estados de alma desconhecidos pelos governantes deste país.
(06.07.18)
Na manhã a notícia da morte de João Semedo, faz-me pensar mesmo sem nunca ter votado na sua força política: - “Hoje morreu um Homem Bom”.
Crente ao não crente nas coisas do sagrado e do profano, que descanses em paz João Semedo!
(17.07.18)
Estou velho, mais o corpo que a mente.
À medida que caminho pelos trilhos de vida em direção ao incerto amanhã, sinto o corpo a não acompanhar a mente.
Tenho tempo para pensar em quase tudo o que a vida me deu e naquilo que ainda desejo que ela mo permita.
Ontem e hoje, leio e ouço coisas que nos dizem respeito a todos e não só aos interessados diretos.
Caminhando no meu passo, continuo sem entender qual a justiça das progressões por antiguidade de tempo.
Não, não entendo os méritos de tal método, sabendo contudo, que quase sempre paga o justo pelo pecador e no fim todos se queixam, sendo que alguns de barriga cheia.
(24.07.18)
Quantos sonhos eu tive desde o dia em que ficou assente a tua adoção, quantos sonhos…
Imaginava eu, nós os dois a passearmos, a fazermos os nossos quilómetros nas calmas pelos trilhos à beira Tejo, tirando uma fotografia ao rio, outra a ti, outra a uma das aves que por ali vivem, imaginava eu...
Sonhava contigo a meu lado, sentada ou deitada quando encontrássemos um banco público onde batesse a sombra nos dias de maior calor, sonhava eu…
Mas tu não tens culpa de te escolher entre os teus irmãos, nem eu sequer tenho culpa, talvez se tivesses adivinhado como eu sou, te terias recusado a vir comigo, aguardando um outro ser humano mais dócil para te fazer companhia.
Tens génio próprio, esperta, sempre atenta a poderes liderar toda e qualquer situação, seja ela visível ou invisível ao meu olhar, não és fácil de lidar, tens a boca sempre pronta a mostrar os teus dentes brancos de cadela pastor alemã, não mordes mas metes respeito...
Na rua continuo a perder a paciência contigo, quando encontras outros animais de quatro patas, puxas a trela, elevas no ar as patas dianteiras, rodas na tentativa de te livrares do meu controle, fazendo-me sentir um carcereiro da tua liberdade, quando não o sou, sinto que ficas triste comigo por não te deixar brincar com o outro, não te deixar correr atrás dos outros animais baixinhos como os cá de casa, contrariada não atendes, não respeitas as minhas ordens para “sentar” antes de, nas passadeiras atravessarmos a estrada, não sem primeiro nos certificarmos da civilidade dos condutores, bem quando te chamo pelo teu nome para olhares para mim e poderes usufruíres do biscoito compensatório, pois tu és pastor alemã dona e senhora do teu nariz…
Como sou um sonhador, não imagino como vai ser quando formos para a Consolação passar uns dias. A casa é pequena, com gente estranha a passar de dia e de noite ao pé de casa… será que vais ladrar sempre que alguém passar à porta, ou à janela do quarto?
E, quando formos passear no areal pela maré baixa, será que vou sentir confiança em ti para te deixar andar à solta na beira mar? como irás reagir às ondas, serás afoita como foi o Onix, ou medrosa como era o Master? Como irás reagir às gaivotas, voarás atrás delas na ânsia de lhes mostrares quem és? Mas se te deixo em liberdade e vês outras pessoas a passear mesmo que a mais de cem metros, correrás para elas para as cumprimentares colocando as patas dianteiras no corpo e procurando mostrar-lhes como os teus dentes são bonitos e preciosos?
Tantas duvidas, tantos sonhos, incertezas e medos, mas cheguei de novo à estação dos comboios no regresso a casa e há que guardar o telemóvel que a bateria já deu sinal.
(06.08.18)
Hoje é aquele dia especial, que não pode ser vivenciado como quando estávamos todos nesta viagem terrena que é a vida.
Hoje, mais uma vez sentado à mesa de frente para a porta da cozinha olho e vejo passar os carros na estrada nacional.
Estando só não me sinto só, comigo nas minhas lembranças estão todos os momentos que passámos na vida, em especial neste dia do mês de Setembro, que aprendemos ser o verdadeiro dia e não aquele que constava no bilhete de identidade.
O pai uns anos após teres partido por sua livre vontade entrou no lar e, pouco e pouco tudo foi mudando lentamente. Nesta casa permanecem todas as lembranças daquilo que juntos vivemos e partilhamos, tristezas, alegrias, incertezas, momentos de felicidade.
Por tudo isso, hoje é um dia especial que mesmo estando aqui sozinho, tenho vocês comigo, só não fiz o gaspacho da ordem porque não arranjei o poejo para o fazer, o ano foi ruim, mas fui ao chão comer dos figos pequeninos como tu, pai, gostavas de fazer.
Hoje é um dia especial, um dia diferente embora igual a tantos outros que vivemos juntos, vivido agora por mim apenas de uma outra forma.
(10.09.18)
Eram jovens saídos da puberdade. Andavam na mesma escola secundária, desde sempre na mesma turma, que por coincidência era mista nas aulas, com recreios separados por um muro real e imaginário que uns e outros não podiam pisar nem ultrapassar.
Ele olhava para fora da turma, gostava de uma moça lá da sua aldeia. Mas ele sabia que ela, a sua colega desde o primeiro ano, gostava dele naquele último ano em que estudaram juntos naquela escola. Ela era uma excelente aluna, sempre com notas altas, já ele era um aluno com as notas suficientes para passar os anos sem sobressaltos de maior.
Chegados ao quinto ano de então, duas alternativas havia, ou começavam a trabalhar, que naquele tempo não se conhecia esta coisa de “desemprego” nem de “subsídios”, ou continuavam a estudar.
Quis o destino que ele e o irmão, filhos de funcionário público, pudessem continuar a estudar. Ela com o pai ligado às lides do mar por lá ficou, fazendo o percurso normal dos jovens de então, trabalhar, casar para constituir nova família.
Ele continuou os estudos, por força das condições económicas de seus pais voltaram para a cidade grande, de onde tinha saído aos oito anos. Para trás ficaram alguns amigos, amigas e amores de juventude. Novos amigos, novos amores com namoro, outros horizontes, novos mundos, com a vida a ficar suspensa com a mobilização para a guerra em África. Sobrevivente dessa guerra inglória, logo no regresso casou constituindo nova família. Os anos passaram, apenas nas férias a sua família fazia férias na praia de juventude onde cresceu e aprendeu a conhecer o mar, a ouvir Neptuno e a respeitá-lo.
Um dia já ele estava divorciado, ao passar numa das ruas da cidade por onde tantas vezes passou em jovem viu a antiga colega de turma. Há mais de cinquenta anos que não se falavam, até que um ano tomou coragem, entrou na loja, a empregada perguntou-lhe o que ele desejava, apontando ele que desejava falar com a pessoa que estava a atender outra pessoa. Esperou uns momentos olhando os artigos expostos até sentir que as pessoas já tinham saído. Olharam-se, sorriram e ela diz-lhe o nome completo dele, ao que ele retorquiu dizendo-lhe o nome completo dela de solteira. Agora, ele sempre que passa pela rua, entra na loja para a cumprimentar e desejar-lhe o melhor que a vida tem para dar à sua família.
Eram jovens e hoje são grisalhos com caminhos distintos.
(07.11.18)
Olho o vazio que me rodeia,
o ruído das notícias não me animam,
adensando o nevoeiro que paira sobre a minha cabeça.
Uma jovem guarda prisional morre ao ser atingida no peito por uma bala disparada por um formador.
Caberá agora à Justiça averiguar e julgar o sucedido,
na certeza de que não irão devolver a vida àquela jovem.
(07.11.18)
São as viagens fictícias
São as moradas falsas
São as assinaturas de presença por fantasmas
Tudo isto na Assembleia da República.
Assim não, senhores deputados tenham vergonha!
Não brinquem com coisas demasiado sérias.
Com estes comportamentos os senhores são o embrião dos tumores malignos existentes na Democracia.
Tumores esses que estão a degenerar.
Do outro lado da vida, o “António das botas” e o “Américo, corta-fitas” estão a rir de gozo, por causa do vosso miserável exemplo de conduta política, cívica e de disciplina Parlamentar.
(08.11.18)
Não sei se vou por este rio acima ou se vou rio abaixo
Caminho nas margens deste rio que está cada vez mais estreito,
cheio de lameiros, de areias movediças e até agueiros
Contudo, não vou só neste caminhar solitário.
Olho em frente e só vejo nevoeiro cerrado
Olho para trás e vejo as nuvens negras de
poeiras tóxicas puxadas pelo vento, cada dia mais próximas.
Caminha a meu lado uma multidão de solitários e desiludidos como eu.
Na outra margem desfilam multidões usando bandeiras ao vento e largas tarjas com palavras de ordem que não entendo na totalidade,
gritam em coro palavras de ordem inteligíveis e ruidosas na minha margem, seguem em festa colorida, cantando, dançando, aplaudindo, nada que se compara contudo à célebre manifestação de 7 de Fevereiro do século passado, quando a utopia não era ainda um sonho no horizonte.
Recolho-me no meu casulo, tapo os olhos às notícias que canais de propaganda de sentido único nos dão de forma repetitiva
A propensão genética para ouvir mal, ajuda-me.
Contam-me que os robots humanos em teste de inteligência artificial, impõem a taxa reduzida para o espetáculo das touradas, enquanto que a eletricidade irá continuar na taxa máxima.
Duvido da programação daqueles seres que me dizem serem inteligentes.
Fecho-me quando me dizem que aqueles robots humanos aprovaram químicos que servem para vacinas, sem que os organismos competentes da Saúde do Estado tenham emitido a sua opinião,
no ar o cheiro do poder lobista da industria junto de tais seres robotizados.
Espreito para fora do meu casulo, vejo o rio ora de margens estreitas ora se espraiando entre margens, correr cheio de águas negras e poluídas, cadáveres de peixes, aves e animais vão mortos na corrente apressada, desejosa de entregar tudo aquilo ao mar que a jusante espera, também ele cheio de materiais pesados e não biodegradáveis.
Por onde caminhamos não sei, mas não vamos por um bom caminho,
os seres robotizados aprovam constantemente leis que visam a liberalização das leis do trabalho, quando eles próprios são um mau exemplo de assiduidade e de verdade para os cidadãos que têm de trabalhar para garantirem não só o posto de trabalho, como a subsistência da família, a educação dos filhos, porque a quem trabalha o patrão não pode perdoar tais faltas, equívocos e enganos.
Ao meu lado, de cabeça ora levantada, ora no chão farejando tudo, segue a minha amiga indiferente a tudo, quer viver, brincar e saltar indiferente ao mundo dos humanos. Olho-a e penso nos mais novos, naqueles que andam na escola, nos infantários, nos berçários, nos que estão para nascer e não sei se vou por este rio acima ou por este rio abaixo, sendo certo que,
«as águas do rio que tudo arrasta se dizem violentas, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem» (B.B. seu autor)
(29.11.18)
Há muito que não te vejo
Vagueio entre muros de silêncio, autoestradas corridas
Na busca de te encontrar.
Por andarás tu?
Que caminhos estarás percorrendo?
Tantas são as interrogações, mais do que as dúvidas e incertezas
(20.12.18)
Nesta noite de 24 todas as iguarias tem lugar à mesa que se enche em excesso de comidas tradicionais e não tradicionais.
As muitas conversas cruzam-se e perdem-se com o que os canais televisões apregoam. Alheio à televisão, às conversas que andam no ar, fica de lado em conversa com a sua sombra num diálogo mudo, que ninguém o ouve: “- hoje o Natal é a negação completa do Natal da nossa meninice”.
Já durante a tarde o aparelho de rádio ia tocando músicas de Natal de um cd com vários anos. Desligou-o. Ficou só com os afazeres das iguarias, relembrando os Natais da juventude e falando com a mãe ausente, ouvindo-a cantar enquanto amassava as filhoses, que afinal eram coscorões,
“Oh meu menino Jesus
Oh meu menino tão belo
Quando vieste nascer
Na noite do caramelo”
Depois, a mãe continuava cantando enquanto estendia a massa e controlava a fritura, cabendo aos dois rapazes, colocar as mesmas nas travessas depois de as passarem pelo açúcar com canela,
“Entrai pastores entrai
Por esse portal adentro
Vinde adorar o Menino
No seu santo nascimento”
Quantas noites de Natal passaram apenas os três, já que o pai estava de plantão no posto da Guarda Fiscal. Fossem os três ou os quatro o dia ou a noite passava-se à volta das filhoses. A mãe, sempre risonha ia ensinando a cantar ao Menino Jesus como na tua terra fronteira distante aprendeu com as celebrações religiosas que por lá se faziam. E a uma quadra outra se seguia,
“Entrai pastores entrai
Por esse portal sagrado
Vinde adorar o Menino
Numas palhinhas deitado”
Muitas outras contavas, mas já não as encontro no baú da memória.
No final, o jantar simples, batatas cozidas com a couve portuguesa e o bacalhau suficiente para os quatro; com o bacalhau que sobrava fazia-se uns deliciosos pasteis de bacalhau.
Como estávamos nas férias de Natal, líamos algum livro que televisão só existia no café da aldeia; antes de nos deitarmos colocávamos o sapato ao pé da chaminé para no dia seguinte de manhã termos lá uma ou outra peça de roupa nova como prenda de Natal para vestirmos e irmos à missa.
Tudo era simples, nada de excessos, tudo tinha encanto.
Mesmo nos últimos anos, depois do malfadado “avc”, nunca a mãe deixou de cantar ao Menino Jesus.
Quando os ia buscar para passarem o Natal na minha casa, preparavas tudo para que cumprindo o que me ensinavas, amassar eu as filhoses, e, depois de levedadas estendia a massa e cortava as filhoses, contigo a meteres a mão esquerda na massa para te aperceberes do ponto, já que a direita ficou inválida. No lume da lareira, a velha frigideira com a azeite quente recebia os coscorões, ficando a fritura sob o olhar atento do pai.
No final dividiam-se pelas travessas de acordo com o que decidias, umas para dividir por primas e vizinhas, outro para o mano, outra para trazermos e algumas para vocês comerem depois ao pequeno almoço migadas no café.
Enquanto tudo isto acontecia ias cantando ao Menino Jesus,
Agora mãe, quase nada se faz, tudo se compra. Ainda a noite é noite e já os adultos dizem às crianças: “Olha o que o Pai Natal te deu, ou te trouxe”. O tal Menino Jesus está fora de moda ou em extinção precoce. Os americanos da Coca-Cola ganharam a guerra aos católicos, o lucro destronou o Menino Jesus da manjedoura.
Bem pode pregar o Papa Francisco, dissertar sobre as virtudes da humildade, sobre os malefícios sociais do consumismo exagerado, que mesmo na sua igreja poucos o ouvem e seguem.
O Menino Jesus que tu cantavas e que um dia terá nascido em Belém na Judeia, cuja história é escrita na Bíblia muitos anos depois, para dar origem ao nascimento do cristianismo, e, daí à mais poderosa organização religiosa existente, parece estar a atravessar momentos difíceis...mãe!
(25.12.18)
Estou cansado de já não te ouvir mais
Estes dias, assim como em alguns domingos, dou comigo a olhar o telemóvel na esperança de que o teu nome apareça.
Eu sei que não é possível, andas numa outra dimensão
Mas, que hei-de eu fazer, pai?
Não é saudade pai, é bastante mais do que isso
É um vazio que ficou, uma ausência que nunca se preencherá.
Apenas quando estou na nossa casa, tudo parece mais leve
Sei que é ilusão, que a ausência perdura, mas
o vazio por ser mais leve é menos vazio, até o silêncio é mais aconchegante.
(27.12.18)
Dia 1 de Janeiro, primeiro dia do ano.
Cumprindo uma das tradições, a passagem de ano ocorreu
numa sonolência de mais a dormir que acordado.
(01.01.19)
Olho o mar, hoje de um azul mais revoltoso.
Ainda ontem em tons de azul e verde nos enchia o coração de esperanças
Hoje, porém, a força indomável das suas ondas a rebentarem, tanto no areal, como nas rochas, transmitem uma paz que enche o peito…
A sua cor de verde escuro transforma-se numa brancura que só o mar nos dá,
Ouvir o seu grito de poder e revolta,
É um ansiolítico natural que não cria dependência, permitindo que o vento ao entrar leve angústias e incertezas para longe.
Aprendi a gostar do mar de ondas fortes, do mar que não engana, que por vezes é traiçoeiro para os homens que em pequenas embarcações procuram nele o sustento das suas famílias.
O mar de Peniche, a norte ou a sul do Cabo Carvoeiro é único.
Há muitos mares com outras belezas e encantos, mas nenhum outro mar transmite a mesma empatia seja a sul na Consolação, seja na ponta do Cabo Carvoeiro ou a norte na Ilha do Baleal, o mar de Peniche é único.
(07.01.19)
Abraço-te na esperança de sentir o teu abraço,
O teu corpo colado ao meu na permuta de energias e desejos.
Que os nossos olhos nos digam o que nos vai na alma
Que nossas mãos enlacem nossos corpos usados, conhecidos e amantes
Abraço-te na esperança de podermos ser indiferentes aos que nos olham de soslaio quando por nós passam na avenida da vida em qualquer cidade onde nos abracemos
(07.11.19)
Homens que sem computadores, sem internet, sem telefones, sem energia elétrica, homens que calmamente olhando as estrelas do céu ou experimentando materiais, construíram ideias, definiram conceitos, axiomas e proposições, como por exemplo o valor numérico do “pi”(π 3,141592653589793) do “fi”(Fi (Φ) 1,6180339887 ) ou a coisa, para mim extraordinária, de que todo e qualquer número elevado a zero é igual à unidade.
Falamos da roda, da construção de templos e pirâmides muitos anos antes do início da era cristã, mas quem terá descoberto que os ovos das galinhas serviam para fazer tantas e tantas coisas boas?
(08.01.19)
Ouço-te e não te vejo
Sinto-te e não te encontro
Calados damos as mãos
Hoje frias, outrora quentes
Porque?
É a pergunta sem resposta ...
(10.01.19)
O que faço eu nesta vida?
É a pergunta que muitas vezes me faço,
para a qual ainda não encontrei a resposta certa.
(14.01.19)
A mosca que teima em viver comigo,
não quer sair para a liberdade da rua,
prefere viver uma vida de sobressalto no quente da casa.
A Sacha sempre atenta aos seus voos, persegue-a…
que notícias terá a mosca para me dar neste frio de inverno?
(15.01.19)
O senhor Ministro falou e ao falar disse coisas.
Não esperava que o senhor Ministro justificasse a ausência da chuva, mas dizer-nos que temos de produzir mais para depois garantir água aos urbanos e racionamento aos que apostaram no regadio para se produzir mais, baralha-me, faz-me confusão.
Talvez fosse melhor o senhor Ministro ter ficado calado.
Quem deve ter gostado das suas palavras, foi a equipa do seu colega das Finanças, o mais poderoso do seu governo.
Aumento do preço da água origina um precioso aumento das receitas para o equilíbrio das contas.
(25.01.19)
Noite de futebol
Noite de espetáculo
Noite de paixões
Paixões que geram ódios e zangas
Noite de erros humanos
Erros exacerbados pela paixão cega dos amantes.
Ah o árbitro, essa figura
Que inclinou o relvado
Que não quis ver a falta
Que apitou o fora de jogo inexistente
Que condicionou o jogo.
O jogo
Gritos de alegria
Explosões de clímax
Goollloooo!!!!
Alegria de uns
Tristeza de outros.
Comentadores de clubes
Oficiais e oficiosos
Uns e outros mestres
Na análise e ilusão de factos
Na mentira institucional catedráticos
Investigadores de excelência na alienação
Mestres no fanatismo com cara de santos
Paixões coloridas, ciúmes exacerbados ao rubro.
Mas...
Que fazer quando se gosta de futebol?
(31.01.19)
Na vida há momentos onde a tão desejada felicidade nos faz companhia.
Momentos onde não são precisas coisas complexas, para
poderem ser vividos, saboreados e guardados.
Um pouco de sorte, é o tempero necessário.
A luz do dia que renasce é a musica suave na manhã fria que os olhos ouvem, o cérebro saboreia e a máquina fotográfica, com sorte, guarda.
O cenário ocorre nas margens da pequena barragem na Herdado do Soudo, baldio pertencente à Zebreira na raia de Idanha a Nova.
(01.02.19)
Corpos que dormem desencontrados
Há muito que o fogo que os unia perdeu intensidade.
Hoje, são apenas corpos que partilham a mesma cama,
Aquecem-se sem fogo.
(05.02.19)
Amor não é paixão, muito menos sinónimo de posse, de propriedade,
Amor é partilha da vida em união com respeito e, muita paciência mútua.
(08.02.23)
Abril mês do Portugal florido
Abril mês de águas mil
Abril mês da Liberdade conquistada
Abril mês da Esperança renascida
Abril mês de todos os sonhos de todas as utopias
Abril, Abril..., Abril…
Por onde andas?
Que é feito de ti?
Porque te enclausuraram no palácio?
Deixaram-nos a Liberdade é certo
Mas Abril, que fizeram à Esperança?
Porque a aprisionaram com tantas leis, decretos, portarias, despachos… ocultações, meias verdades e inverdades, porque Abril?
Porque não acreditaram em nós “Nação valente” como diz o Hino Nacional?
Porque nos prometem o céu e só nos dão mais sacrifícios?
Abril mês do 25 de Abril!
Como estás tão longe tão distante que só a memória dos teus fiéis amantes te recordam e celebram com Felicidade!
(24.04.19)
Sinto que a cada passo, a cada curva vou ficando mais conservador, mais desligado, mais tresmalhado do rebanho maior,
sem grandes esperanças de que o rebanho tome consciência da qualidade da pastagem que lhe servem.
(10.05.19)
Caminho com saudades do futuro e, como um dia ainda jovem aprendi «posso remar contra a maré mas, não nado contra a corrente», para desta forma seguir caminhando sem amarguras, com algumas tristezas é certo, mas também sem ódio, nem ciúme, nem inveja, fugindo do fanatismo crescente, aceitando regras com que não concordo porque a minha Liberdade assim me diz.
(14.05.19)
O que é a vida?
O que é a felicidade?
Onde mora a verdade?
Tantas são as perguntas, mas
muito mais são as duvidas.
Até um dia…
(16.05.19)
Vou à vida que já são horas
Vou ver se ouço novas que o vento me traga
andando por aí, escutando assim o que não me dizem
nem me mostram os poderosos do Reino.
Estou velho mas ainda alimento sonhos.
(19.05.19)
Sonhos
Pensamentos
Olhares
Sentires
Cheiros
Em abraços
Em olhares
Em sentimentos
Surdos
Mas não mudos
Quando os corações amantes permutam
energias que se fundem em emoções felizes
(29.05.23)
A lembrança perde-se no tempo
Olho para trás, divido-me entre o agora e o passado,
indo em busca daquele abraço de almas.
Tão longe, tão distante que quase lhe perdi o gosto, o cheiro,
aquele sabor de almas e corpos se fundindo na
energia da permuta dos amantes.
O que é que nos aconteceu?
Poder-se-á viver sem lembranças?
Poder, pode-se, mas o sabor da vida não é o mesmo!
(06.06.19)
Palavras soltas,
palavras que doem
que perduram em nós
qual sentença
que nos persegue.
Palavras que não são só palavras
que são lágrimas
secas
de dor
sangrando.
Palavras que são vida
palavras que são emoções
palavras que nos fazem felizes
ao ouvi-las
ao vê-los
ao saboreá-las
palavras que são marcas quânticas na nossa alma.
Palavras que são
O Tudo e o Nada
só palavras
que são emoções ou dor
palavras que são vida.
(02.07.19)
Para onde queres voar se tu não tens asas? Diz-me a minha sombra
- Não sejas assim. Deixa-me voar, deixa-me ser livre, voar nas asas do vento. Ir em busca de outros continentes do meu próprio ser dual. Deixa-me voar e lá do alto ver como vivemos esta correria louca e suicida sem outro sentido que não seja a ilusão do ter sempre mais, esquecendo o outro que corre a mesma corrida a nosso lado, deixando para trás de mão estendida pedindo ajuda os outros que por razões conhecidas e desconhecidas não conseguem entrar no sistema que de ilusão em ilusão nos leva para o desconhecido onde todos nós somos reduzidos a pó depois da água secar no nosso corpo, desconhecendo que acontecerá, que caminhos irá percorrer o espírito após a separação.
(04.07.19)
Aqui, tenho lembranças de lá
no meu canto, não tenho lembranças daqui.
pelo meio tenho recordações de um outro lugar
onde podia subir à duna ao romper da manhã,
olhar a fusão dos azuis no horizonte sem pensar em mais nada,
levitando sobre as ondas do mar que me abraçou um dia
e ficámos cúmplices.
(16.08.19)
Gosto de te ouvir
gosto da tua música
sinfonia dos deuses sem pauta.
Gosto de Setembro à beira mar
do desafio que é subir em ti
das sensações que nos dás
como é bom mergulhar na tua espuma,
penetrar-te e beijar esse beijo salgado de tantos sabores.
Como gosto de ti
onda da Consolação.
Não te troco por outras
em outras costas de outras temperaturas
o teu verde escuro cristalino
transforma-se em branco de alvura celestial
abraçando quem te desafia.
(13.09.19)
Sempre gostei de olhar a silhueta feminina por trás.
Os biquínis antigos mais que os fatos de banho, como que as aperfeiçoavam nas suas curvas, realçando em muitas um rabo bonito, que dava gosto olhar.
Hoje, a idade e apesar das vicissitudes da vida não deixei de apreciar
o belo feminino.
Contudo, a moda importada do «biquíni fio dental» estraga a beleza feminina aos meus olhos.
Parece que já não há rabos bonitos belos como os de antigamente.
O tal de «fio dental» tira-lhe beleza, no meu gostar de olhar o belo feminino, sem outro interesse que não seja o apreciar a Natureza na sua beleza.
(16.09.19)
Deixa-me correr à vontade diz-me com o olhar a minha amiga. Deixa-me gastar algumas das muitas energias que acumulo na vida sedentária que me dás.
Deixa-me que eu não te deixo. Eu é que tenho medo que tu me deixes por eu ser assim com este meu génio de linhagem alemã.
Vá lá solta-me para eu poder correr e saltar.
Assim vamos caminhando os dois pelas margens da pequena barragem. Os dois livres. Os dois contentes por mais um dia que começa sem outra preocupação que não seja o podermos inspirar e receber as energias que a Natureza nos proporciona.
(22.09.19)
20 anos estão quase passados. 20 anos em que continuas presente na minha vida. Não há frios, nem calores, nem tão pouco tempestades que te afastem de mim. Podem até amarrar-te nessa tua outra dimensão que nós continuamos unidos aqui. Unidos por laços invisíveis fabricados pelo aço mais forte de todos que foi e é o amor que nos uniu, que me ensinaste a criar, a usufruir.
Depois de num ato de amor teres sido fecundada, geraste-me no teu ventre e deste-me vida. Os quatro vivemos sempre unidos. Hoje, pela ordem natural das coisas só restamos os dois que vocês souberam criar com sacrifícios pelo amor que sempre nos deram e ensinaram como exemplo de vida.
Aqui, neste quarto com o Sol de Outono a entrar pela, agora, minha janela, olho a tuas fotos que tenho à cabeceira, os teus olhos já tristes pelo maldito avc que te roubou forças. Na memória viva as minhas visitas quinzenais, as nossas conversas, as tuas revoltas que te levavam ao cansaço da vida.
20 anos estão quase passados. Resta-me a alegria feliz de ter sido teu filho, de poder partilhar contigo e com o pai, sem esquecer os avós, estas paredes que vocês nos deixaram. Aqui continuamos todos vivos, não vos vejo, não vos cheiro, mas sinto que vocês andam por aqui. Aqui nunca estou sozinho.
O mundo lá fora está cada vez mais longe de mim. Sou eu que me tresmalhei porque não me identifico com este modo de viver, demasiado consumista e ganancioso para o meu modo de sonhar a vida.
Podem achar-me louco que não me importo. Sigo em frente pela outra margem da vida na vossa companhia.
(26.09.19)
Muros,
muitos muros
uns transparentes
outros opacos
uns verdadeiros
outros falsos e invisíveis
os mais perigosos.
Muros elaborados e planeados pelos fazedores das meias verdades construindo narrativas para que não tenhamos duvidas, para que deixemos de pensar que eles pensam por nós.
(04.10.19)
Em política é normal dizerem-nos:
«olha para o que eu digo e não para o que eu faço»
por isso,
aprendi a ouvir o que não nos dizem, a ver o que não nos mostram.
(02.11.19)
Falo sem falar
falo porque me escuto
não duvides que falo sem falar
ouço as minhas falas sem falar
não. Não é loucura, eu falo sem falar.
Não queiras saber o que falo sem falar
não irias entender as minhas falas sem falar.
Escuta o vento
quando entenderes o que ele diz
quando compreenderes as conversas do vento com as árvores
as falas das árvores umas com as outras
quando ouvires e entenderes…
esses murmúrios, gritos silenciosos
então, poderás ouvir as falas que falo sem falar
irás entender o andar «Na outra margem da vida»
caminhar solitário sem solidão
triste por vezes sem deixar de ser feliz.
Irás ver que tristeza e felicidade são as duas faces da vida
quando entenderes tudo isso
irás compreender que posso falar sem falar.
Depois, sem falarmos de olhos fechados
seguiremos de mãos dadas rumo ao inexistente futuro.
É lá que mora a Esperança.
(10.11.19)
Aqui, quase na linha de fronteira andando pela Herdade do Soudo olho o horizonte. Em frente lá está o rochedo onde na vertente oposta nasceu há muitos séculos Monsanto. Mais à esquerda um pouco mais ao longe o esplendor do manto branco de neve que cobre o cume da magnífica Estrela. Com um quadro natural de tanta beleza na companhia do vento que sopra frio de oeste quase consigo ouvir o ronco do mar revolto a bater nas rochas a espraiar-se na areia que um dia me viu crescer.
Os tiros dos caçadores correndo na sua ânsia de caça interrompem os murmúrios que a aragem do vento me trás. Indiferente aos tiros deixo-me ir com o olhar até onde o pensamento me leva para lá da linha ténue do horizonte em busca do desconhecido.
(19.11.19)
O telemóvel não dá sinal
Mas continuo a olha-lo
Como há muito me habitei
A olha-lo sem cansaço
(01.12.19)
Dezembro chegou
como era esperado
nada irá mudar
como há muito acontece.
Continuarão as notícias
sobre toneladas de alimentos
para os desprotegidos da vida.
Da miséria a preto e branco
daqueles anos de juventude
passámos à miséria colorida
destes novos tempos de agora.
Muito nos prometeram e prometem
mas, Dezembro chegou
e a exemplo do passado
pouco ou nada mudou.
Só a cor com que é servida
a velha e nova miséria
dos desprotegidos da própria vida.
(02.12.19)
O ser e o ter, três letras apenas.
Três letras de significado tão diferente.
Hoje, o ter é mais importante que o ser.
Os valores de outras gerações deixaram de ter sentido para as novas gerações.
O ser avô ou avó já não são prendas para este Natal, perderam significado e importância perante o ter um ipod ultimo modelo ou um telemóvel 5G ou aquela televisão quase maior que a própria parede, isto sem falar no carro estacionado na rua em cima do passeio para os peões.
Porque é que o ter ganhou importância sobre o ser?
Todos sabemos mas ninguém sabe ao certo. Muitos desconfiam. Os que falam desses porquês pondo em causa o modelo de sociedade consumista para o qual temos contribuído, ou são mandados calar ou simplesmente são ignorados, acusados mesmo de radicais desviantes das boas normas e dos bons costumes vigentes.
Mas que normas são essas?, que valores elas integram? Silêncio, apenas silêncio… cala-te que a discussão sobre o tema não é oportuna. Mais tarde quando for oportuno talvez se aborde esse problema, mas agora não é conveniente
Mais tarde será tarde.
(03.12.19)
Não gosto da memória
aliás,
não quero ter memória
cansei de a ter
de vivermos em comunhão
não quero mais tê-la comigo
cansei
vou deixa-la .
Tê-la presente só me faz sofrer
quero viver em Paz
sem sofrimento nem revolta.
Por isso
não preciso dela
ela que se vá para onde quiser
que eu cansei
não a quero ter comigo.
Quero continuar a Sonhar
quero continuar a acreditar
ponto final, parágrafo.
(10.12.19)
Se aqui estivesses
Amanhã iríamos subir
La acima à Estrela
Para no alto do manto branco
Com a neve e o céu por testemunhas
Darmos os braços ao mundo
E com os corpos abraçados
Numa união só nossa
No alto do monte branco
Festejarmos o nosso Natal.
Mas... tu não estás
Andas ausente, distante
Assim não vou subir lá acima à Estrela
Talvez um dia… quem saberá?
(16.12.19)
Frio.
bastante frio
aqui o da casa.
um frio mais frio
que o que corre lá fora.
Um frio diferente dos outros
que nos castiga até os ossos.
a casa está fria
fria pela ausência de vida.
As paredes sofrem
a ausência humana é-lhes cruel
Arrefecem
ficam tristes
chorosas
moribundas
aguardando ansiosas
a chegada dos seus amantes.
(19.01.20)
No alto daquela duna sentou-se à mesa com os deuses
as ninfas os aguardavam na rebentação das ondas
ondas únicas as daquela praia.
Depois, deuses e ninfas foram mar adentro
ele ficou sentindo-se levitar sobre as ondas
prometeu a si próprio voltar no tempo seguinte…
E o longe se faz perto
e o perto fica tão longe que só o sonho o conhece.
(19.01.20)
A vida hoje mudou
tudo muda no seu tempo
todo o tempo é feito de mudança, escreveu um dia o poeta.
Neste tempo de agora a mudança é diferente pela forma
como o velho corpo que me acompanha sente a vida.
Tudo muda. Por onde andarás tu?
Como terá sido a tua vida?
Tudo muda neste rio do tempo quase sem tempo.
(20.01.20)
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