Ao
longo da história da humanidade "Homo Sapiens" existiram
muitas guerras, muitas lutas de poder. As guerras foram
e são um mal terrível
mas
contribuíram para o avanço da ciência. O livro "O Físico"
de Noah Gordon, é
apenas um dos muitos livros
que relatam
guerras sanguinárias mas também da guerra que ocorreu
sempre ao longo da história
com os
religiosos perseguindo,
sem apelo nem agravo, todos
aqueles que procuravam o evoluir do saber, dos conhecimentos, no
fundo da ciência.
Foi,
é e será uma luta de pólos quase sempre divergentes. Uns porque
pensam através da ciência mostrar a inexistência de um ser divino
que designamos por Deus. Os outros, os das religiões, quase sempre
com medo de que o seu poder possa ser questionável, as suas verdades
absolutas postas em causa, procuram fechar as mentes dos seus
seguidores, servindo-se para tal do maior produto imaterial que ao
longo da história lhes deu o poder, ou seja, "o medo do pecado"
.
Mesmo
assim chegamos aqui depois de
Nicolau Copérnico, de Galileu Galilei,
de Charles.
Darwin e de tantos outros cientistas,
filósofos e livres pensadores serem
perseguidos e condenados só porque cometiam
o «pecado» de verem,
estudarem
e concluírem
saberes, que os religiosos no seu poder quase absoluto de
então, negavam apavorados,
escondendo o medo que eles próprios sentiam por esses avanços do
conhecimento lhes poder tirar
status e poder.
No
passado da nossa história o clímax do fanatismo medroso da Igreja
foi a Inquisição com o famigerado tribunal de assassinos designado
por Santo Ofício. Os Autos de Fé o maior exemplo da piedade que os
ditos religiosos tinham sobre o conceito do sofrimento e da vida
humana, foi exercido, levado
a cabo em
nome do seu piedoso deus.
Tenho
as minhas dúvidas e a minha ideia sobre a eutanásia, não vou
criticar uns e aplaudir outros nem sequer tecer armas sobre as minhas
dúvidas e a minha certeza de estar em perfeito juízo para poder
decidir. Ao referendo digo não. Não! porque irá dar largas aos
fanáticos, ao ódio que cega as mentes, aos oportunistas retrógrado,
aos "beatos" que nem sequer frequentam a missa dominical
das religiões mas que agora batem com a mão no peito num «ai
Deus que nos acuda e nos
livre das garras de
satanás»
que nos querem matar.
A
eutanásia não é o fim da picada e muito menos o fim do mundo. A
eutanásia não é matar os velhos. A eutanásia não só é
fraturante na sociedade como no íntimo de muitos, dos que estão a
favor e dos que estão contra a sua promulgação. É porventura uma
das decisões mais difíceis, senão mesmo a mais difícil, que o ser
humano poderá ter após o nascimento.
Para
terminar. A ciência e a medicina desenvolveram-se graças à luta de
muitos homens do saber contra os preceitos, as verdades absolutas das
Igrejas.
Dizer que a ciências médicas se desenvolveram para defender a vida
é apenas meia mentira
escondendo o Sol com uma peneira, porque lhe falta o elemento
fundamental, o ser humano, o tal "Homo Sapiens" de
que todos fazemos parte. Todo
o desenvolvimento do conhecimento científico ao longo dos séculos
na área da saúde tem como objectivo o bem estar do ser humano,
porque é este o seu principal elemento. Por
mais que os defensores do "não" possam gritar e propagar
por todos os meios ao seu dispor, de que é a "vida" no
seu conceito mais conservador-religioso e abstrato,
não é verdade. A ciência
que hoje chamamos de Medicina desenvolveu-se e desenvolve-se na
procura de melhorar o bem
estar do ser humano.
Em
última análise será o ser humano consciente, na posse de todas as
suas valências psíquicas que caberá a dificílima decisão sobre o
que fazer à sua vida ao seu sofrer sem solução, caso a lei que
autoriza a eutanásia venha a ser promulgada. Ao técnico de saúde
restará a obrigação de exercer a sua profissão de acordo com a
legislação em vigor porque na eutanásia não se mata ninguém,
acaba-se com o sofrimento de alguém que teve capacidade de escolha.
A
eutanásia é como o "aborto" sempre existiram na
sociedade, de forma clandestina mas existiram. Torná-la não
clandestina será o fim da picada? Duvido. Eu e as minhas dúvidas.
Lembro
o slogan que um dia encontrei nas ruas da cidade de Luanda depois de
Abril 74, " A minha Liberdade acaba onde começa a Liberdade do
outro".
Parafraseando
o padre Felicidade Alves "Deus na sua transcendência a todos os
Homens quer bem".
Acabo, esperando não voltar a falar deste
assunto que só ao ser humano na sua intima unidade diz respeito
desde que tenha Liberdade de escolha.