O lítio
e a falta de confiança que a história nos tem ensinado.
O
fácil é ser a favor ou ser do contra. O difícil é procurar o
ponto de equilíbrio que no caso não é de todo fácil.
Deixando
os impactos ambientais causados na paisagem de lado, porque na minha
modesta opinião não são o maior problema para as regiões dadas
como potencialmente ricas no minério. Não sou radical contra a
prospeção do minério salvaguardadas que sejam os interesses,
primeiro das populações que resistindo ao abandono vivem nessas
zonas, depois que sejam salvaguardados os interesses do país e nunca
dos governantes e, nunca dos governantes, repito.
A
memória é curta e os que defendem cegamente a exploração do lítio
já não se recordam do que se passou e ainda se passa na Urgeiriça
com a mina do urânio, os seus resíduos e lamas. Urânio que há
época foi anunciado com pompa e circunstância como estão fazendo
hoje com o lítio.
Somos
um país pobre de uma pobreza que pouco têm a ver com as riquezas
naturais existentes nos nossos solos e águas marítimas. Não será
o lítio que nos irá colocar no pelotão dos ditos países ricos,
porque a nossa pobreza têm outras raízes bem mais profundas, que os
sucessivos Governos não têm resolvido.
Pensa-se
muito com o umbigo. Embandeiram-se as vantagens que dizem o lítio
trazer às regiões do interior pobre, abandonado e esquecido e
esquecem os recursos naturais que a exploração de minério a céu
aberto irá requer. Quantas toneladas de granito, feldspato, mica,
xisto e outros será necessário remover para a obtenção de uns
quilos de minério? Quantas toneladas de resíduos impróprios para a
exploração agrícola serão produzidos nessa exploração? E, onde
serão depois colocados esses resíduos?
Diz
o senhor ministro de letra pequena que o minério vai ser processado
no país. Claro que vai. Mas quantos milhares metros cúbicos de água
serão necessários para a obtenção do minério?
Água
que é um bem a cada ano mais escasso no pobre e esquecido interior.
Anunciou há poucos meses o senhor ministro de letra pequena a
possível construção de um túnel do rio Zêzere para regularização
do caudal do rio Tejo. Hoje, todos sabemos o que alguns dos
sobreviventes habitantes do interior já previam, que a seca que o
país enfrentam há anos consecutivos iria ter as suas consequências
nas reservas de água das Barragens do Cabril e Castelo de Bode ambas
alimentadas pelo nosso Zêzere. Mas o senhor ministro de letra
pequena e os seus adjuntos e consultores desconheciam, vindo a correr
anunciar a redução da produção de energia elétrica quando
acordaram para o problema da falta de água nos rios que alimentam as
barragens. Falta água nos rios e não apenas nas barragens.
Pensa-se
na riqueza imediata que a exploração do lítio pode proporcionar
mas omitem-se os impactos de pobreza futura que a exploração irá
ter nos pobres ribeiros, rios e águas subterrâneas com as águas e
lamas residuais altamente poluídas derivadas da exploração do
minério. Não sou radical contra a exploração mas tenho as maiores
duvidas de que a riqueza obtida seja superior a pobreza futura
deixada pela exploração e não me refiro à paisagem porque depois
nesses terrenos esventrados sempre haverá um ministro da agricultura
que a mando de Bruxelas crie uma linha de financiamento bancário com
alguns subsídios como engodo para plantar floresta, ou seja, mais
eucalipto e com eles criar a imagem do verde tão a gosto de alguns
turistas de fim-de-semana.
Não
acredito que os senhores que nos governam tenham capacidade para
impor ao “explorador do minério” condições altamente seguras
para o tratamento quer dos resíduos sólidos quer das águas
residuais e respetivas lamas. Não acredito, porque para existir
condições de segurança cem por cem seguras os custos desta
inviabilizam o negócio da exploração que alguns governantes
(incluindo os dos pequenos poderes autárquicos) tão desejosos
alguns parecem estar.
A
maior riqueza da exploração e consequente processo não esta na
obtenção da matéria-prima lítio, mas sim na cadeia de
transformação do minério aquando da criação das diferentes
baterias. É aí que está o valor acrescentado que designa a maior
fatia de riqueza criada pela cadeia de exploração do lítio, e,
essa o senhor ministro de letra pequena e seus pares não garantem
que seja transformada no nosso território, preferencialmente no
interior onde o minério existe em condições de previsível
exploração. Autoestradas no interior existem. Linha férrea também
por lá existe.
O
Saber fazer essa transformação existe no nosso país. Mas será que
há vontade política e “tomates no sítio” para impor em
Bruxelas o investimento publico necessário à transformação do
lítio em baterias “made in Portugal”?
Como
observação é de assinalar o silêncio das senhoras ministras da
agricultura e da tal coesão do território dando a imagem que só o
senhor ministro de letra pequena do ambiente é que sabe opinar sobre
os interesses em jogo à volta do lítio.
Para
acabar este longo desabafo. A zona de Segura de onde um dia os meus
progenitores saíram, e onde vou praticamente todos os meses, ficou
fora do estudo de prospeção o que não me impede de ser solidário
com alguns dos que em outras zonas contestam o processo “lítio”,
até porque leio que poderá haver alterações nos limites da área
designada como Tejo Internacional e gato escaldado de água fria tem
medo.