terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

22.02.05

Caminha mas não sabe para onde irá. Plantou e alimentou esperanças, colheu desilusões. Do passado não tem saudades, só lembranças, memórias guardadas em várias gavetinhas esperando que nunca se percam. As exceções são, o cheirinho das filhas bebés, os seus sorrisos, a sua meninice, o seu crescimento até um dia voarem com as asas que ajudou a criarem. Outra saudade, mais antiga, a bicicleta que aos nove anos lhe proporcionou poder continuar a estudar para lá da escola primária. Tem saudades da sua bicicleta roda 28 com 5 mudanças. Seu pai ganhava 800 escudos e a sua bicicleta custou-lhe 1.100 escudos. Não esquece. Nunca esquecerá o que eles fizeram pelos dois filhos. Comprou uma bicicleta destas modernas de agora. Não é a mesma coisa.

Olha os discos de vinil mas o gira-disco já não funciona. O leitor de cd's dizem-lhe os técnicos que já não há peças no mercado para voltar a ter vida. Só os livros não se estragam, envelhecem mas resistem nas estantes e agora também nas prateleiras que vai colocando nas paredes. E ele? Para onde o levam os trilhos e veredas por onde caminha? Que futuro o aguarda no virar da próxima página? Irá resistir? Até onde irá chegar, ele que caminha mas não sabe para onde irá. 

 

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