Como
entender que o Estado financie a compra de carros que só estão ao
alcance de uma pequena franja de cidadãos, quando essa franja é
felizmente para os seus integrantes, a classe dos cidadãos que vivem
melhor financeiramente?
Dão-nos
um bolo possivelmente envenenado em nome de um melhor ambiente,
quando os defensores dos carros eléctricos não são capazes de nos
dizerem quanto custa em termos ambientais a construção e reciclagem
das viaturas eléctricas comparadas com as atuais a combustíveis
fósseis.
Promovem
esses veículos sem nos dizerem o que pensam fazer com a exploração
do lítio. Metal fundamental para o fabrico das baterias mas que pode
a sua exploração causar imensos problemas ambientais. Que medidas
vão impor para a exploração do referido metal?
Como
pensam resolver o fornecimento da água à exploração em locais
onde hoje ela é escassa? Com furos? Com barragens? Com a água dos
ribeiros e rios?
Como
ira o Estado cobrar os muitos m3 necessários?
Que
imposições vão colocar para o tratamento das águas residuais
utilizadas na exploração do lítio?
Porque
empurram com a barriga para depois das eleições todas as questões
pertinentes à exploração do lítio?
Não
sou contra a exploração do lítio, mas como gato escaldado de água
fria tem medo, gostava de saber o que pensam os candidatos a
governaram o país sobre estas coisas, bem mais importantes do que as
promessas que nos oferecem e que já estamos habituados a ouvi-las
sem resultados práticos no pós-eleições. Sempre nos prometem o
céu para depois nos pedirem sacrifícios.
Será
que iremos assistir à destruição de alguma agricultura e da
biodiversidade dessas terras onde o metal existe em quantidade de ser
explorado como aconteceu com a exploração do volfrâmio?
Que
os actuais ministros do ambiente e da agricultura estejam calados,
até agradeço pois quando abrem a boca e os ouço alteram-me o
sistema nervoso. Já o da economia cumpre as ordens do chefe e se
fala fá-lo com rácios de crescimento do investimento, do pib, do
emprego, números frios, bonitos para os entendidos e para o rebanho
dos seus seguidores mas sem calor afectivo para a vida real. Números
que pouco o nada dizem sobre o problema ambiental de que todos
parecem fugir, vergados pelos interesses das empresas que querem o
"ouro dourado" borrifando-se para o ambiente e para as
populações que teimam em viver nas suas terras do interior.
Querem-nos fazer crer que querem melhorar o ambiente com a história
dos carros eléctricos versus combustíveis fósseis, mas continuam a
facilitar investimento a abutres gananciosos ignorando a poluição
que os aviões causam e vão continuar a causar. Não só os aviões
como também a poluição das novas cidades flutuantes que aportam
aos nossos portos. Aviões e cidades flutuantes para gáudio dos
rádios do Turismo que garantem emprego de cartilheiros oficiosos com
notícias pomposas em revistas jornais e televisões. Li no anos
finais do século passado uma entrevista a um professor do IST em que
ele dizia que uma viagem de avião Lisboa até Faro causava mais
poluição do que todos os veículos que circulavam no mês de Agosto
entre as duas cidades.
O
amanhecer hoje parece prometer um dia bonito. Ouço o mar a enrolar
na areia. Tudo pronto para nova caminhada.
Olhando
o horizonte pergunto aos deuses se toda esta novela dos carros
elétricos é na verdade para um melhor ambiente de verdade ou antes
mais uma etapa fundamental ao crescimento económico para a
manutenção do sistema capitalista e da sua sociedade de consumo
onde os glutões estão insaciáveis?
Gato
escaldado de água fria tem medo.