A
coisa está a ficar negra. O sujeito logo em Abril daquele glorioso
ano renegou a família e seus educadores para se juntar ao grupo de
antigos deputados que na Assembleia Nacional do Estado Novo da Ação
Nacional Popular antiga União Nacional, pugnavam por uma certa e
módica abertura política do regime ditatorial então vigente.
Assim,
aquele que o regime educou com esmero para um dia poder continuar a
trilogia «Deus, Pátria e Família» desertou tornando-se um
converso democrata.
Andou
o converso democrata por jornais e governo, até se fixar como
professor universitário sem voltar as costas aos seus amigos de
desígnios políticos, ainda mergulhou nas águas do rio em busca de
vitoria mas de nada lhe valeu o espetáculo; amigos na comunicação
social radiofónica e depois televisiva deram-lhe espaço, tempo de
antena promocional em horário nobre domingueiro, tornando-se um
popular comunicador ao mesmo tempo que cuidava da sua imagem de
professor universitário.
Passavam
os anos e com o passar do tempo governos e presidentes a exercerem
os seus cargos, satisfazendo uns e contrariando outros. Com a figura
sorumbática de um antigo primeiro-ministro na presidência do país,
viu o converso democrata a sua oportunidade de saltar para o topo
substituindo no palácio o amigo de partido, ambos homens
simpatizantes do antigo Estado Novo, ambos conversos democratas no
pós Abril daquele glorioso ano.
Quis
a sorte e o azar que o Zé-votante levado pelos muitos anos de
promoção televisiva a disparar críticas, cinismo e classificações,
cansado da figura cinzentona ressabiada do último inquilino do
palácio, lhe tivesse dado a primazia de ser ele o novo inquilino na
presidência.
Astuto,
esperto e cínico o converso democrata novo presidente do país
esfregou as mãos e mal lhe deram luz verde foi logo a correr em
representação da República beijar a mão ao rei monarca vizinho,
mas não satisfeito com a sua atitude voou até ao Vaticano para em
obediência beijar o anel do Papa em representação de uma
Constituição laica. Ao mesmo tempo que incumpria a Constituição
que em juramento jurou respeitar e fazer cumprir, ia com os amigos
comunicação social cultivando uma imagem popular de afetos com
muitas fotos no meio dos cidadãos, cultivando uma imagem de homem
popular a quem tudo ia sendo permitido e até aplaudido, sempre
rodeado por um exército de repórteres da comunicação social para
poder emitir as suas opiniões, criando casos, levantando suspeitas,
sempre a imiscuir-se em assuntos governativos fora da sua
competência, beneficiando para tal da complacência de um líder
partidário e governativo também ele a julgar-se mais esperto que
todos os outros, dando uma imagem ao país de perfeita sintonia entre
“o Roque e a Amiga”. Tão “amigos” pareciam ser que o líder
governativo de família política diferente fazendo tábua rasa do
longo passado de luta política pela Liberdade, decidiu apoiar o
converso democrata inquilino do palácio para um segundo e último
mandato. Assim aconteceu. O converso democrata inquilino do palácio
tinha por fim as mãos livres achando-se no trono, ignorando a
República e a sua Constituição. Já na nomeação da nova
Procuradora da República tinha escolhido uma figura que lhe dava
garantias de confiança, iniciando de imediato bicadas e abraços
cínicos aos elementos governativos; “o Roque e a Amiga” entraram
em lenta rota de colisão acontecimento a acontecimento, buscando o
converso democrata inquilino do palácio todas as oportunidades para
promover politicamente homens de sua confiança a cargos superiores e
mesmo governativos. De falhanço em falhanço ia acentuando as
críticas veladas quantas vezes plenas de cinismo à ação
governativa procurando sempre que se proporcionava desgastar a imagem
governativa. Assim iam os inquilinos dos dois palácios do poder
dançando o tango do cinismo até que ao converso democrata lhe
rebenta nas mãos a bomba “da cunha”. Sentindo-se entalado com
medo de ficar encurralado faz valer a sua sacanice encoberta pelo
populismo barato das fotos e beijinhos fazendo valer a sua
experiência de escorpião mais velho que o líder governativo e com
a ajuda preciosa dos novos justiceiros-inquisidores comandados pela
amiga procuradora geral desfere bicada de morte política no líder
governativo que combalido sentiu o veneno
irreversível curvou-se
fazendo honra à sua imagem pessoal de democrata apresentou a
sua demissão do cargo que de imediato o converso democrata aceitou,
chegando ao fim a farsa do bom entendimento entre “o Roque e a
Amiga”.
Dada
a ferroada no opositor político e governativo saiu o converso
democrata da trincheira e ao revés do que era aconselhável
dissolveu a Assembleia da Republica convocando novas eleições
posteriores ao que seria normal para dar tempo a que os amigos
partidários se unissem, assim como, aos mais salazarentos populistas
que tem vindo a ressuscitar depois de anos de hibernação, mas
também um tempo precioso para os seus amigos de peito na comunicação
social fossem cozinhando em lume brando as suposições e cheiros de
presumíveis atos de ilegalidades praticados por políticos
governativos; o Zé povinho já não se lembra de como os
inquisidores-justiceiros assassinaram politicamente ministros quer
do próprio partido do converso democrata como da oposição, o Zé
já não se lembra que M. Macedo foi absolvido do caso dos vistos
gold, assim como o triste Azeredo Lopes no caso de Tancos, isso para
a multidão não interessa pois antes de serem julgados nos
competentes órgãos de Justiça já tinham sido condenados,
crucificados e queimado nas novas fogueiras do século XXI.
E,
neste tempo de alguns agitação política recolheu-se um pouco o
converso democrata das fotos e beijinhos não deixando contudo de
veladamente mostrar o seu cinismo ao escrever comentários
incendiando as forças de segurança contra não só governo mas
contra a própria democracia converso que é com os amigos que
governos submissos e sem coluna vertebral desta Nova Ordem
Democrática nascida num Novembro invernoso, permitiram que a Justiça
fosse tomada por funcionários técnicos justiceiros e inquisidores,
gente de uma nova versão 2.02 dos inquisidores que durante três
séculos reinaram ao serviço da ditadura religiosa que no século
XVI se impôs no reino, no seguimento da versão 2.01 que existiu já
na Republica durante os quarenta e oito anos de ditadura de miséria
batizada e abençoada pela dupla Salazar-Cerejeira onde bufos faziam
de ouvidos para os justiceiros em tribunais plenários julgarem os
acusados quantos deles sem direito a defesa, só porque um bufo
escutou ou presumiu que aquele cidadão era perigoso ou tinha
pensamentos pecaminosos contra a segurança do Estado e da sua
trilogia «Deus, Pátria e Família».
É
assim que a aliança entre o converso democrata com os
inquisidores-justiceiros sob o mando da sua amiga procurado geral,
lança ao mesmo tempo para a comunicação social um caso já com barbas e
promovem novos casos numa das Ilhas a fim dos seus autores, ambos a exerceram cargos governativos em democracia, sejam, um recozinhado e os outros cozinhados, todos em fogo lento nas fogueiras escritas e televisivas dos
amigos da comunicação social assim como nas fogueiras virtuais existentes na
internete, por forma a que o “Zé povinho” que vive dependente
das televisões se canse de tantas histórias de presumíveis
ilegalidades e comece a estar farto do regime democrático, ao mesmo
tempo que os canais televisivos dos amigos deitam nova lenha para as
fogueiras condenando os presumíveis hereges democráticos, passam a
promover a imagem do líder do partido político que se assume
salazarista e fascista, amigo do converso democrata inquilino do
palácio cor-de-rosa..
O
converso democrata neste seu último tempo como inquilino da palácio
tem vindo paulatinamente a conduzir golpes para o regresso do País
ao passado onde com esmero foi educado para ser o futuro dirigente da
trilogia «Deus, Pátria e Família» agora numa versão ilusória,
benevolente e talvez um pouco caridosa segundo a ortodoxia
religiosa mais conservadora adaptada aos novos tempos.
O
converso democrata nunca me enganou.