terça-feira, 25 de setembro de 2018

Porque não?


E porque não o Infarmed no Porto, ou até o próprio Ministério da Saúde, porque não?
Porque não o Ministério da Agricultura em Viseu ou em Évora ou em Castelo Branco, sim porque não?
Porque não o Ministério da Economia em Braga ou em Aveiro?
Porque não o Ministério da Educação em Coimbra porque não?, acabava-se de uma vez por todas com o enorme peso burocrático e inoperacional da 5 de Outubro.
Porque é assim tão difícil mexer com a organização administrativa do Estado?
Que lóbis, que corporações, cujos interesses impedem que o Estado e os seus funcionários se transformem numa organização mais eficiente e flexível promotora do desenvolvimento regional e nacional?
Na era da comunicação onde todos podem estar ligados por redes privadas e seguras, porque todos os ministérios e direcções gerais centralizadas em Lisboa?
Já sei, escusas de me chamar a atenção, tenho que parar de sonhar e acordar para a triste realidade dos dias que correm onde só os lóbis e as corporações mexem os cordéis com que nos atam à vida.

sábado, 22 de setembro de 2018

210918

Sais de cena com direito a uma boa aposentação. Para uns sais pela porta grande, para outros pela porta pequena, para mim que sou apenas mais um Zé Cidadão, sais pela mesma porta da política em que um dia entraste, se é grande, pequena ou de cor diferente pouco me importa.
Dizem-me que a justiça mudou no teu reinado, dizem-me mas eu não sei se foi mesmo por tua interposta acção ou se foi mais pelos desmandos que alguns dos arguidos e acusados praticaram, tendo duvidas que o mérito de alguns políticos serem investigados, como se isso não fosse normal, ou os clubes de futebol o serem, o que também me parece normal, o fossem apenas e só por mérito das tuas decisões, tu que sempre gostaste do discreto “ni” e recordo o caso da adopção/roubo de crianças praticado pela “iurd” debaixo dos teus olhos, isto para não entrar em questões políticas do porque uns serem investigados e bem, repito o “e bem” para não deixar duvidas, enquanto que outros passaram ao lado das investigações. O porque, tu lá saberás, eu fico com as minhas interrogações.
Não fosse um ex-primeiro ministro catapultar-te para a cena mediática pelas asneiras e presumíveis trafulhices que cometeu, um banqueiro a quem muitos jornalecos beijavam o cú, e que hoje bajulam a tua imagem e acção, dar cabo de forma presumivelmente dolosa do maior banco nacional e do grupo empresarial familiar, para assim te trazer de novo para a ribalta, ou de um possível hacker colocar a nu negociatas de dirigentes desportivos, não fossem estes desmandos destas personalidades pouco recomendáveis e o teu mandato seria mais conhecido pelas “fugas ao segredo de justiça” promovidas por subordinados teus, e a exemplo do teu antecessor a arquivamentos e omissões de gaveta sobre processos previsivelmente gravosos para os portugueses mas onde poderia estar gente amiga ou conhecida, pelo que a esses aplicaste o teu famosos “ni” (não fazer ondas que me possam comprometer), foi assim que chegaste ao cume e é mais ou menos assim que sais de lá.
Que agora os partidos e políticos digam todos bem da tua acção, a mim não me admira, são parte da corte, andam todos no sistema e nenhum terá telhados de vidro pelo que vamos conhecendo, há sempre algum político do partido que mete a pata na poça, pelo que há que acautelar as afirmações sobre quem poderá ter algum poder investigatório, não só por isto mas também por isto é que a nossa Democracia vai estando cada vez mais doente, cada dia mais longe dos cidadãos.
A ti como a todos desejo-te saúde e sorte que não sou invejoso. A cada dia que passa me sinto mais solitário na minha caminhada pela outra margem em busca de outra sociedade mais decente para todos e não só para alguns sortudos.


sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Dois livros


Dois livros neste tempo de verão que me transportaram para muitos anos atrás, quando ainda quase menino me levaram para bem longe, sabendo eu ao que ia e qual a finalidade daquela viagem tão longa, primeiro até às terras desconhecidas do chamado «fim do mundo» na zona militar leste de Angola, acabando depois já homenzinho nas terras de barro vermelho da fronteira norte com o Zaire de Mobotu.
Chegámos ao Mumbué no dia em que fazia os meus vinte e dois anos, era quase altura de se festejar no mundo católico o Natal, porque há outros natais, não existindo contudo Natal na guerra; dia que nunca esquecerei, que esta guardado nesta memória de um homem grisalho que teima em recordar as andanças da vida. Vinte e dois anos de menino e moço, longe do colo de minha mãe, de meu pai e do abraço de meu irmão, longe dos amigos, este alferes miliciano de uma companhia de caçadores (tropa macaca), tinha a responsabilidade de manter viva a vida de pelo menos trinta outros tantos jovens minhotos, transmontanos e angolanos do seu grupo de combate, custasse o que custasse, por opção não tinha desertado, logo contra ou contornando sempre que possível as regras ordenadas pelos superiores hierárquicos, o mais importante era podermos crescer e regressar todos juntos ao ponto de partida, os de Angola a Luanda e os do “Puto” ao colo das nossas mães, mulheres, namoradas, madrinhas, à terra que nos vi nascer e um dia partir de avião para outras terras de outros gentios. Objectivo conseguido, mas quando regressámos a guerra veio connosco e connosco vai vivendo como se fosse a irmã siamesa que um dia adotamos sem dar por isso. Numa guerra não há soldados vencedores, todos perdem.
Com o vinte e cinco de Abril, as operações de patrulhar o mato continuaram, mas tudo mudou mesmo no mato e num dia escolheram nomearam-me, para com uma equipa composta de vários soldados acompanhar as tropas da Unita que em acordos superiores realizados com os senhores da guerra, se apresentou no Mumbué para fazerem a sua acção psicológica nos diversos quimbos da nossa zona de acção militar. Se antes para um almoço um jantar especial se tinha que ir a um quimbo, apanhar um porquinho ou um cabrito à força do poder das armas, passei ao acompanhar os soldados da Unita a ser prendado com vários cabritos, tantos que já andava farto de comer ensopado ou cabrito assado no forno, e quando as altas patentes dos poderes militares nos ordenaram a mudança para o norte, lá deixei ficar no Mumbué quase vinte cabeças.
No norte, nos destacamentos de fronteira, as noites passadas a conversar com o capelão militar, o seu nome não era Juvêncio como o do livro A Rebelião, mas porque ainda hoje é pároco amigo, o seu nome e as nossas conversas ficaram guardadas nas noites de Malele. Mas quem não tinha duvidas naqueles tempos naquelas terras, onde a tal mão de Deus parece nunca ter por lá andado. Duvidas que ele terá contornado resolvido e eu adensado.
Dois livros, duas formas de escrever, mas ambos na minha ideia muito bons. Se o Nó Cego é o melhor livro sobre a guerra colonial para todos aqueles que a fizeram em operações no mato onde o sofrimento, a crueldade e a miopia das altas patentes do reino estão retratadas a preceito de forma realista, A Rebelião é um outro caminho que começa passa pela guerra não acabando nela, daqueles jovens que um dia foram sonhando com um mundo onde a justiça, o bem e o amor fossem as forças e a razão do viver; do desencanto com os sofrimentos da guerra, viram no vinte e cinco de Abril a chama que lhes reacendeu todas as utopias para hoje grisalhos e mais velhos viverem quase todos na borda do sistema, sentindo-se um estorvo para os actuais governantes, como se fossem eles próprios os culpados de um dia terem participado numa guerra que nunca foi deles; mas, como existe sempre um candeia acesa mesmo na noite mais escura, a utopia em muitos desses antigos combatentes é a flor utópica que não morre, a flor que lhes fornece o pólen com que fecundam os seus sonhos para um Mundo Melhor, mais Fraterno onde a Igualdade não seja só uma palavra mas também um conceito, uma Sociedade Decente e Digna sem “sobejos” nem rejeitados, onde os direitos, deveres e as obrigações não conheçam classes sociais nem estatutos profissionais, se apliquem a todos por igual e não este faz de conta que vivemos nos dias de hoje. Um mundo onde o Amor seja como um dia uma criança na escola primária terá escrito «Amor é não haver polícias» e outra terá escrito «Amor é um pássaro verde num campo azul no alto da madrugada» (Vitor Barroca Moreira, aos nove anos, e Maria Rosa Colaço colheu e plantou, junto com outras obras de precisão de crianças no livrinho A Criança e a Vida nos anos 60 do século passado )


Livro "A Rebelião"


170818

Hoje pela manhã , no excelente livro (na minha opinião, claro) “A Rebelião” de Afonso Valente Batista, li isto que tomo a liberdade de reproduzir, depois de ter pedido autorização ao autor, não me cansando de ler e reler esta fotografia tão nítida aos meus olhos, do que se passou desde aquela aurora redentora e florida madrugada em que a ponta das armas floriram até aos nossos dias cinzentões carregados de tristezas, incertezas e sombras sombrias:
“- Depois da Revolta, o povo foi dado como desnecessário e enxotado para as suas casas e os soldados encafuados, de novo, nas casernas. Os mestres de todas as ideologias tinham chegado com a pompa e a circunstância a reclamar, alto e bom som, que o poder era seu. Passaram a disputá-lo assanhadamente. O povo prestou vassalagem ao voto que lhes deram como se fosse uma carta de alforria. Era a sua arma, como lhe disseram , e ele acreditou. Amansou-se. Trocou a exigência de lutar pela dignidade ultrajada anos a fio, pela vida refastelada a vaguear pelo mundo do consumismo, entretanto criado para o entreter, e delegou nos profissionais da ambição o mando do seu destino. Passou a ser chamado, ciclicamente, a participar no ritual de votar e decidir, alegremente, quem iria mandar nele, de acordo com as convicções que lhe inculcaram na moleirinha em campanhas disputadas numa espécie de renhido Benfica-Sporting. Entretanto, deixou-se corromper por novos hábitos, cercado por montes de tralha inútil que compra, endividando a alma a juros usurários. Os peraltas das finanças passaram a governar-lhe a vida e a sugar-lhe o que ganhava e não ganhava. Passou a viver a crédito e a prestações. Até a casa. Até a vida. E desta forma, habilmente manejado, o povo enterrou aquilo que de melhor o homem possui: a esperança em lutar pela utopia que nasce em cada dia para a creditar que um dia será diferente”
E, um dia vai terá de ser diferente e possível! não sei se será ainda no tempo em que vou caminhando pela outra margem, mas assim como um dia as flores irão de novo florir, a utopia de uma vida diferente e decente voltará a ser possível...

Pai ausente


Fui um pai ausente
O como e o porque pouco interessa, fui ausente e pronto, afinal sempre vivi agarrado ao meu umbigo. Sempre deixei as filhas em casa dos avós e de amigos para ir divertir-me para a noite, para ir fins de semana com a mãe passear conhecer outras terras, outras gentes e hábitos. No verão o mês de férias na praia da Consolação quase nunca era vivido pois como vivi mais interessado com o meu umbigo ou não havia dinheiro ou já não tinha dias que chegassem de férias para poder dar o mês de praia às filhas. Coisas de um pai ausente.
Um pai, que nunca se importou em dar estudos às filhas, que nunca acompanhou os estudos, as notas, que nunca permitiu que as filhas tivessem explicações, que pudessem fazer férias em Inglaterra para desenvolver a língua, um pai ausente apenas interessado no seu umbigo, na sua vida profissional para que nunca faltasse nada em casa, onde nunca chegava pois gastava o mesmo sem dar nada às filhas… afinal um pai ausente é isso mesmo, ausente, que nunca se importou com a evolução da vida das filhas, que não lhes proporcionou condições para estudarem, que sempre impediu que as mesmas não participassem nos gostos que a mãe tinha para elas, ginástica, canto, etc, etc...
Um pai que passou ao lado da puberdade das filhas, que alimentou vícios de gastador compulsivo, gastando todo o dinheiro que ganhava dos avós e até o dinheiro que não era seu, mas que estava à mão… um pai que não soube ouvir as lamentações das filhas, não soube conversar e aconselhar… um pai ausente sempre.

Ausente é ausente e ponto final parágrafo, levando mais um soco no estômago.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Viagens


120918


Hoje, ao ir a Espanha abastecer o carro para voltar à cidade grande, vi junto à paragem da carreira, duas senhoras com mais uns anitos que eu, e como seguia devagar deu para olhar para os volumes, sacos de viagem, que estavam junto a elas e lembrei-me não só de te ir esperar a Santa Apolónia ao comboio da Beira Baixa, como do numero de volume que trazias comparado com o número de braços disponíveis. Depois, já em plena
auto-estrada relembrei a cena que era nos idos anos cinquenta e sessenta do século passado o regresso de férias logo a seguir à festa de Nossa Senhora da Piedade, a guerra para apanhar lugar na carreira, mas antes a guerra para colocar os volumes todos juntos em cima da carreira, porque nesse tempo tudo ia para lá para cima, tudo numa despedida corrida com o avô Chico Capelo sempre com ar de zangado a fumar o seu cigarro kentucky, tu e a avó com a lágrima ao canto do
olho, eu e o mano meio ensonados e meio perdidos naquela azafama para que não ficássemos em terra sem lugar na carreira; depois outra guerra em Castelo Branco para ir da estação da carreira para a estação do comboio, o arrumar os volumes todos na carruagem de terceira classe onde depois tentavas que um de nós passasse com menos idade do que tínhamos, para assim poderes poupar uns escudos. Comboio a vapor e depois a diesel, que parava em todas as estações e mais algumas, os bancos de madeira ergonómicos e confortáveis de suma-a-pau, as janelas abertas para funcionarem como ar condicionado por onde por vezes entravam a sujidade que a maquina largava, viagens intermináveis essas até chegarmos à estação dos Olivais que hoje já não existe e depois à de Santarém. Na estação salvo erro de Alvega - Ortiga lá estavam as mulheres a venderem as bilhas de barro com água fresquinha sem ser do frigorífico (já que, frigorífico era um bem de luxo nesse tempo de reinado dos “Botas”).
Hoje, felizmente para a maioria que utiliza os transportes públicos tudo esta de tal modo melhor que não é justo fazer comparações entre o antes e o agora.
A maioria vai e vem de carro, porque o carro é também uma imagem que se dá, às vezes de uma vida que não se têm, mas é melhor ter e parecer do que ser, uma regra desta forma de se viver hoje e que muitos e muitos seguem sem parar para pensar um pouco no porque de ser assim.
Mas se na viagem pela A23 falávamos tu e eu dos volumes que trazias para os teus dois braços, e eu ria-me, olha que ao chegar e começar a tirar as coisas do carro comecei a contar e perdi o conto sem contar com as batatas, as uvas e os figos tudo produtos biológicos que ainda ficaram no carro para agora depois de passear a Sacha os ir buscar.
Lembranças e pensamentos de conversas em que só eu falei o tempo todo da viagem, pois já lá vão quase vinte anos em que partiste sem carreira nem comboio para outra viagem.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Aniversário ausente


100918
Hoje é aquele dia especial, que não pode ser vivenciado como quando todos estávamos nesta viagem terrena que é a vida.
Hoje, mais uma vez sentado à mesa de frente para a porta aberta da cozinha olho e vejo passar os carros na estrada nacional, estando só não me sinto só, comigo estais vós nas lembranças de todos os momentos que passámos na vida e em especial nesta altura e neste dia do mês de Setembro, que aprendemos ser o verdadeiro dia e não aquele que constava no bilhete de identidade.
O pai uns anos após teres partido por sua vontade entrou no lar e a pouco e pouco tudo foi mudando lentamente, e nesta casa ficaram todas as lembranças daquilo que juntos vivemos e partilhamos, tristezas, alegrias, incertezas e momentos de felicidade.
Por tudo isso, hoje é um dia especial que mesmo estando sozinho cá em casa, tenho vocês aqui comigo, só não fiz o gaspacho da ordem porque não arranjei o poejo para o fazer, o ano foi ruim, mas fui ao chão comer do figos pequeninos como tu pai gostavas de fazer e comer.
Hoje um dia especial, um dia diferente embora igual a tantos outros que vivemos juntos,  um dia vivido por mim de uma outra forma...