quinta-feira, 24 de março de 2022

22.03.23

Nunca foi um homem da diversão noturna. Nem para estudar, porque mal começava a ler logo se deixava dormir. Em conversas de amigos pela noite dentro sim, de resto a noite para ele sempre foi negra como um dia na guerra olhou a morte.

O que se passou recentemente à porta de uma casa de divertimento noturno, tem causas que não conhece de todo. Limita-se a ouvir as notícias da morte do infeliz polícia assim como dos presumíveis culpados, sendo que pelo menos dois deles são ou pertencem ao corpo de fuzileiros. Fuzileiros que são a tropa especial da Marinha. Os fuzileiros, no seu tempo de serviço militar, estavam para a Marinha, como os comandos para o Exército e os paraquedistas para a Força Aérea. Com as reformas que vão acontecendo parece-lhe que a força especial dos paraquedistas está agora integrada no Exército.

Como os fuzileiros pertencem à Marinha que têm como Chefe do Estado Maior da Armada o senhor Almirante Gouveia e Melo que, como ficou à vista de todos aquando da sua nomeação, o mesmo não era escolha do agrado do Comandante Chefe das Forças Armadas, que é o Presidente da República, hoje há hora de almoço já viu o Presidente aparecer a comentar o caso da morte do infeliz polícia nos canais do seu amigo político Balsemão.

A vida do senhor Almirante Gouveia e Melo não será fácil nos próximos tempos. As toupeiras de Belém não lhe irão dar descanso. Ainda há pouco tempo o Presidente da República como Comandante Chefe das Forças Armadas vetou a nomeação de um oficial da Marinha proposto pelo senhor Almirante Gouveia e Melo.

Aguardemos a ação das toupeiras comunicacionais televisivas com os seus dizeres cínicos… que as águas vão andar agitadas neste tempo de pensamento único tão do agrado desta nova maioria que se formou com a maldita guerra na Ucrânia.


Depois do jantar leu os blogs que vai seguindo, assim como o que dizem os links lá aconselhados. Viu o outro lado da informação sobre a guerra. Guerra que tem causas que o pensamento único vigente não só omite como ignora e censura. Procurou de seguida ver um pouco de televisão mas como não dá ouvidos aos canais generalistas cheios de paineleiros que tudo sabem, acabou por ouvir falar de futebol e do mundo de interesses que se movem à volta dos chamados grandes clubes nacionais. Como aquilo é um fandango mal dançado logo se deixou dormir no sofá.

Já na cama, durante a noite, ao acordar escutou os sinais do corpo. A bexiga ainda estava calma. Quis lembrar-se do que estava a sonhar mas não foi capaz. Ficou contudo a ideia de que seria sobre a guerra e o pensamento único que domina não só na comunicação social mas na sociedade em geral, onde a minoria que pensa diferente é logo acusada de ser a favor do russo Putin, a fazer lembrar-lhe o velho slogan salazarista de que quem não está a meu favor, está contra mim, é comunista. Quarenta e oito anos de democracia onde se melhorou as condições de vida dos portugueses, mas as públicas virtudes e os brandos costumes salazaristas vestiram-se de roupagem democrática continuando na essência a dominar o pensamento da grande maioria dos portugueses.

Recorda o poema de Bertolt Brecht no livro da coleção Forma que lhe custou na altura 40 escudos em Setembro de 1972, poema que diz o seguinte:


Os tempos modernos não começam de uma vez por todas.

Meu avô já vivia numa época nova.

Meu neto talvez ainda viva na antiga.


A carne nova come-se com velhos garfos.


Época nova não a fizeram os automóveis

Nem os tanques

Nem os aviões sobre os telhados

Nem os bombardeiros.


As novas antenas continuaram a difundir as velhas asneiras.

A sabedoria continuou a passar de boca em boca.

(Bertolt Brecht)



Ao caminhar com a sua amiga Sacha pelo caminho usual de quase todas as manhãs, as suas lembranças voaram para a casa dos seus avós em Segura, lá onde o Rio Erges divide o território nacional do espanhol. Nunca entrou na casa onde seu pai nasceu. O seu avô vendeu-a ainda ele era jovem. Gosta contudo de andar por lá e, quando lá voltar irá de novo fotografar quer as janelas quer a porta. Não sabe se o símbolo em pedra que consta de uma das janelas é um sinal de que naquela casa viveram cristãos-novos. Sabe que a trisavó do seu avô quando chegou à região vindo de norte com a sua família Caldeira, carregavam consigo a designação pouco abonatória de cristãos-novos, isto porque eram judeus sefarditas convertidos ao cristianismo. Não sabe, nem sequer se importa saber se a conversão foi para fugirem à fogueira ou se foi voluntária, sabe sim que vieram emigrando para a região entre Zebreira, Segura e Salvaterra do Extremo. Até podem ter vindo a fugir de Castela em vez de virem de outras terras mais acima na Beira Baixa. Talvez um dia vá averiguar apenas para conhecer um pouco das suas raízes e nada mais que isso, pois ele é português de lés a lés, com as raízes na fronteira terrestre cresceu à beira mar na fronteira com o Atlântico. A casa que foi de seus avós ostenta dois beirais sinal de algum desafogo económico de quem lá viveu. O que sabe é que tanto do lado dos seus avós paternos (Segura) como dos avós maternos (Zebreira) todos eram cristãos católicos. O seu avô paterno, Luís dos Santos Andrade, de alcunha Luís Mouco foi por duas ou três vezes Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Segura. Sim, naquela pequena aldeia mesmo na fronteira, no esquecido e abandonado interior raiano de Idanha-a-Nova existe e sobrevive ainda com muita dificuldade a Santa Casa da Misericórdia de Segura de idade bastante antiga. O seu avô não foi só Provedor como era Legionário, fervoroso defensor das políticas de Salazar. Um bom vivant de hotéis e putas em Castelo Branco que mandou com a casa agrícola para a insolvência. Da herança da casa agrícola insolvente sobejou para os quatro filhos um terreno com oliveiras que de todos os atuais herdeiros só ele conhecia a localização. Terreno que após a morte de seu pai conseguiu, comunicando tudo aos seus primos, regulariza-lo em seu nome e do seu irmão para posteriormente realizar a vontade de seu pai, com a doação do terreno à Santa Casa da Misericórdia de Segura, sendo na altura Provedor o sr. Eduardo da Preta.

Depois de registar essas suas recordações, olhou a conta de e-mail, passou os olhos pelo facebook onde continua a cumprir os vinte e nove dias de censura às suas publicações, fechou o computador e voltou à leitura.

 

terça-feira, 22 de março de 2022

22.03.19

Lê mais do que escreve. Lê para aprender. Lê porque gosta de ler. Nas entrelinhas do que lê sempre encontra motivos que o levam a pensar como tudo na sua vida poderia ter sido diferente. Vira a página. Acaba o capítulo. Termina o livro. Começa outro de novo. Mas não esquece. Entre páginas e capítulos há sempre um parágrafo, uma frase que o leva para longe, neste seu silêncio sofredor que carrega consigo dia e noite.

Não, não vai desistir, não é da sua natureza teimoso, desistir. A sua timidez impede-o, ele sabe, reconhece que é difícil libertar-se da timidez que há muito é sua companhia e contra a sua vontade continua a sofrer. Não sabe se irá vencer essa sua timidez de tantos e tantos anos mas não vai desistir.

Acabou de ler mais um livro "A Vida Brinca Comigo" de David Grossman. Leu-o não de uma assentada, mas quase de empreitada. Não pode negar que gosta de ler autores Judeus. Ele não é judeu. É português de lés a lés, simplesmente. Cresceu à beira mar com raízes na fronteira do esquecido e abandonado interior raiano de Idanha-a-Nova. Ao longo da leitura tomou notas que escreveu em folhas com esferográfica "Bic fina" um dia a azul e no outro a preto. Algumas vezes as frases que anotava levavam-no para o seu segredo silencioso, contudo sabe que não se pode imaginar o que não se viveu por medo. Um medo talvez covarde. Situação que tenta esquecer sem o conseguir por agora.

Hoje é sábado, dia 19 de Março. Dizem que é dia do Pai, dia de S. José para os que têm fé nos santos. Pouco lhe importa. Não liga a estes festejos de dias, promulgado pela sociedade que nos domina e parametriza o pensamento. Recorda o dia porque há muitos anos, tantos que já nem se lembra se tinham já as duas filhas ou apenas uma. Nesse ano, conduzia o seu Fiat127 deslocando-se para o trabalho quando no Restelo atropelou um senhor que inadvertidamente atravessou a estrada não lhe dando possibilidade alguma de não lhe bater. É a maior recordação que tem do designado dia do pai. A vida prega-nos muitas partidas.

Abre o computador, apenas para ver o seu e-mail e talvez dar continuidade ao que vai escrevendo no telemóvel, que funciona como mais uma gaveta de memórias que o tempo se encarrega de transformar em recordações. Passa os olhos pela rede social e lá continua o sinal de «conta restrita». Lê e vê o que outros publicam. Muitas mensagens e fotos a festejarem as lembranças, as saudades que quem as publica tem do seu pai. Um dia, onde o passado de muitos está semeado de recordações.

Recorda a frase que leu e anotou nos seus papeis «na vida há coisas que podem ser concretizadas e outras que não podem. As que se concretizam, esquecemo-las imediatamente. Contudo, as que não conseguimos concretizar, guardamo-las eternamente no nosso coração como algo que nos é muito caro» (Kyoichi Katayama – Um grito de amor desde o centro do mundo). Sorri para si. 


Salva o que escreveu no computador e desliga-o.

 

22.03.17 Inicio

Ao sentar-se à secretaria, vestiu o roupão, colocou a manta sobre as pernas e olhou pela janela o céu com o dia a clarear. O vento corre forte pela rua da urbe, avisando-o para se preparar para o frio que o vento sempre agudiza. A Isis já subiu para cima da secretária, já se sentou em cima dos livros ficando a olhar para os movimentos que faz no ecrã do telemóvel onde escreve. Hábitos que ela repete quase todas as manhãs, indiferente ao que se passa lá fora no mundo, onde as desgraças da falta de água potável, da fome, do trabalho escravo e infantil, as várias guerras estão em expansão a mando dos senhores sem rosto que decidem no mundo, satisfeitos nos seus palácios com os rendimentos materiais que as mesmas desgraças lhes garantem através das ferramentas criadas e aceites como forma de vivência em sociedade.

Ele para e fica a olhar para a sua gatita que olha fixamente ora para a sua caneta ora para a rua, questiona-se com o que estará ela a pensar, a ver, a observar no seu mundo de gata que desconhece e nem imagina como será. Até o seu próprio pensamento por vezes ele desconhece temporariamente. Olha o relógio. Está na hora de se vestir para o passeio matinal com a sua outra amiga, a Sacha.

O tempo está cinzentão, o vento acalmou. Os da meteorologia anunciam chuva por vezes forte. Faz uma pausa para no próprio telemóvel olhar a previsão. Diz-lhe o mesmo que a previsão de chuva às sete da manhã é de 58%. Lá no seu canto raiano também as previsões dos aguaceiros são animadoras com intervalos para que a terra possa absorver a água abençoada deste início de Primavera. As barragens locais estão com boas reservas, cheias ou quase, para garantir o regadio que intensivo cresce em exponencial, alterando completamente a paisagem e a biodiversidade dos campos que se encontram abastecidos pela barragem Marechal Carmona. Preveem-se milhões de investimento para a manutenção da rede a fim de evitar as enormes perdas de água que a idade da rede com os seus cinquenta anos potencia, também pelo desleixo e incúria que têm existido ao longo dos anos, mas isso não se pode dizer, não é politicamente correto. O correto é pedir subsídios e financiamento versus endividamento para permitir a manutenção da rede e sua adequação aos novos tempos de cultivo super intensivo e intensivo de amendoal e olival em nome da campanha levada a cabo pelo Município de ser uma Bio-Região ou Região-Bio, designação que permite a quem preside aos destinos do Município uma certa visibilidade pessoal e política. Assim se vai cantando e rindo, prometendo-se sol na eira e chuva no nabal. As eiras foram um bem necessário quando no passado as gentes da terra tinham de semear cereais para a própria sobrevivência das suas casas, hoje são lembranças, reminiscências de um passado muito sofrido; já o nabal virou hectares a perder de vista de árvores pequenas plantadas umas em cima das outras como manda o plantio super intensivo do amendoal e olival. Todo esse mar de pequenas árvores em cima uma das outras se traduz em investimento em nome do progresso e do desenvolvimento da região, dizem-nos os senhores que governam.


Depois da volta matinal sem pingo de chuva, embora o céu se apresentasse cinzentão ameaçando chover, do pequeno almoço tomado, procurou no telemóvel mensagem que normalmente o Hospital de Vila Franca de Xira lhe envia a relembrar a marcação de consultas e análises. Não encontrou. Procurou então na pasta de arquivo onde guarda tudo o que diga respeito à sua saúde. Procurou uma e outra vez. Apenas o pedido de consulta que o médico tinha efetuado na consulta de Setembro do ano passado está arquivado.

Procurou no telemóvel o número do hospital e ligou. Do lado de lá a gravação diz-lhe para ligar dentro do horário normal de serviço. Olhou as horas ainda não eram nove. Voltou a verificar todos os documentos. O hospital normalmente nunca lhe falhou, quer com análises quer com a consulta. Passava das nove quando voltou a ligar. Deram-lhe a música habitual e pacientemente aguardou o tempo necessário até que do outro lado ouviu uma voz humana de verdade. Apresentou a razão do seu telefonema. A senhora funcionária do hospital do serviço de marcação de consultas pediu-lhe o nome e a data de nascimento que ele prontamente deu e aguardou, até que a senhora lhe diz que o doutor já não tem vaga até ao final do mês de Maio. Engoliu em seco o murro no estômago respirando fundo, disse à senhora que ficava então a aguardar que lhe dissessem para quando a consulta, já que o que lhe apetecia dizer ela não tinha culpa. Do outro lado a senhora dizia que ia enviar um email aos serviços sobre o seu caso. Desligou. Respirou fundo várias vezes e ligou o computador para também ele enviar um e-mail a solicitar a marcação da consulta. É a primeira vez que tal lhe acontece. Ele que é um defensor acérrimo do SNS universal e público, com consciência das limitações que o mesmo atravessa pelas políticas governamentais que vêm esvaziando ao longo dos anos o SNS em recursos humanos e técnicos, vê agora a diferença do que era a gestão do Grupo Melo Saúde para a gestão pública dos serviços do mesmo hospital. Nunca durante a gestão anterior teve qualquer problema no atendimento do mesmo, quer em consultas normais, quer nas deslocações à urgência, mas quem manda pode e lá saberão o porquê de não renovarem o contrato com o Grupo Melo Saúde. Aquilo que na sua ótica funcionava bem, deixou de funcionar. Diga-se em abono que tem muitas dúvidas sobre a competência da equipa que dirige a Saúde. Ao procurar pela marcação da consulta encontrou as “cartas-cheque” que lhe enviavam para ele escolher uma unidade de saúde privada quando aguardava pela marcação cirúrgica no hospital, onde na segunda carta o prazo de espera de uma das unidades de saúde privadas era superior ao tempo que lhe indicavam ser o do seu hospital público. “Cartas-cheques” a forma como os governantes ( tanto à esquerda como à direita), híbridos nas suas ações, escolheram para em vez de investirem no SNS público, alimentarem desse modo os amigos do negócio privado da saúde. Assim não há estado Social que não empobreça. Quando o exemplo vem do topo passa a coisa pública a ser gerida pela estrutura com falta de profissionalismo e humanismo. O que lhes interessa para a sua carreira pessoal são os rácios que com estes erros se obtém para apresentarem aos amigos liberais de Bruxelas, que indiretamente nos vão governando nas grandes opções de política económica e social.

Já que estava com a mão na massa, depois de enviar educadamente o e-mail ao hospital, enviou outro ao Centro de Saúde solicitando novamente a marcação de uma consulta para a sua médica de família da qual só conhece o nome. Desde o início de 2020 que não mais foi ao Centro de Saúde, senão apenas para levantar a prescrição dos medicamentos que toma regularmente para a pressão arterial. Prescrição que solicita por e-mail e foi num desses pedidos que soube o nome da sua nova médica de família.

Ainda olhou os blogs que segue, preparando-se para ir almoçar com o amigo de infância que ao tempo e no Centro de Saúde a seu pedido, solicitou ao Hospital de Vila Franca de Xira uma consulta de urologia. Consulta que fez toda a diferença na saúde de sua vida.


Da guerra que vai lá pela Ucrânia invadida, apenas fala normalmente com o seu irmão ao telefone, já que para os dois não há apenas um lado mau na origem da mesma, mas essa visão dos factos está quase proibida pela opinião pública que corre na sociedade do pensamento único existente. Para essa maioria de pensamento único, só o filho da puta do Putin com a sua estrutura de apoio são os únicos culpados. Cegos que querem ser, incapazes de olhar para o governo do comediante ucraniano Levinsky, de forma um pouco independente para com essa réstia de independência que ainda possam ter, abrirem a pestana das células cerebrais e verem o apoio que os ditos governos democráticos saídos do golpe da designada revolução laranja na Praça Maidan tem dado às diversas milícias (Batalhão Azov, Setor Direita, Svoboda…) que impunemente ostentam e difundem com orgulho símbolos nazis, a forma como branquearam a figura de execrável nazi Stepan Bandera promovendo-o a herói nacionalista com estátua e tudo. Situação essa que levou o primeiro ministro do governo de Israel a recusar o pedido de Levinsky para que as negociações entre ucranianos e russos se realizassem em território israelita, recomendando ao ucraniano a reposição da verdade histórica sobre os crimes que Stepan Bandera e os seus homens cometeram contra os Judeus nos campos de concentração nazi ao serviço de Hitler, assim como retirar todo o apoio às milícias nazis que estão integradas nas estruturas governamentais. Milícias que matam e violam Judeus ucranianos, russos ucranianos, o povo roma (ciganos), gays e imigrantes. Mas, o realçar das razões apontadas pelo primeiro ministro israelita não passa na censura auto-aceite do pensamento único, que a cegueira do ódio ao ditador filho da puta Putin o confunde com o povo russo colocando todos na mesma bandeja servida pela quase totalidade da comunicação ocidental obediente aos interesses dos falcões americanos e dos súbditos vassalos da UE perante aqueles.


Hoje já estamos a viver o início dos tempos negros que a guerra na Europa oriental nos irá presentear.

 

sexta-feira, 18 de março de 2022

22.03.16 - Mães

Ao acordar lembrou-se que tinha deixado as calças penduradas na porta da casa de banho. Vestiu-se, olhou o tempo no telemóvel e espreitou pela janela o céu. Como as poeiras continuavam no ar, saiu de casa com a máscara para se proteger das mesmas.

Seguiram o caminho normal de todas as manhãs. Já as mesmas pessoas de todas as manhãs chegavam e partiam para os seus locais de trabalho. Era um pouco mais cedo que nos dias anteriores. As poeiras em suspensão no ar dão uma tonalidade à luz esquisita agoirando desgraças.

Enquanto caminhava recordou o sofrimento da sua mãe quando ele esteve na guerra em Angola. Não teve coragem de se despedir dela. Nem dela nem do seu pai. Só o irmão com os primos da Azambuja estavam presentes no aeroporto do Figo Maduro na noite em que embarcaram para o destino incerto daquela guerra sem sentido, de onde tantos inocentes lá ficaram abandonados, outros regressaram em caixões e outros ainda inválidos para o resto das suas vidas de deficientes militares. A sua mãe chorou lágrimas que ele não viu, não quis ver porque não teve coragem. Tinha decidido que iria para a guerra. A ideia do desertar tinha ficado para trás. Aquela guerra não era sua nem dos seus soldados, quase todos ainda mais novos que ele próprio nos seus vinte e um anos. Contudo a oposição mais séria ao regime era na altura favorável ao não desertar. Cada oposicionista podia desempenhar naquela guerra o papel de consciencializar os seus camaradas da injustiça não só da guerra como do regime que nos oprimia com mão de ferro.

Por duas vezes no dia do embarque olhou a casa nos Olivais onde vivia com os pais e o irmão mais velho, que por andar a estudar em económicas tinha pedido espera do serviço militar. Por duas vezes o coração bateu dorido de uma dor que nem sabe descrever. Os olhos choraram lágrimas de revolta que ninguém viu, imaginando a dor, os ais, o choro de sua mãe quando visse o seu irmão com os primos da Azambuja entrarem em casa aquela hora da noite.

Hoje, ao caminhar, ao recordar o sofrimento de sua mãe, lembrou-se do sofrimento de muitas mães, ucranianas e russas que têm os seus filhos a combaterem-se de morte numa guerra que não lhes pertence. As mães ucranianas sofrem com medo de perder os seus filhos que combatem na defesa do seu país contra o invasor russo. Já muitas mães russas sofrem o medo de perderem os seus filhos que foram contrariados, obrigados, para aquela guerra de invadir um país vizinho. Mães que de um lado e do outro sofrem, choram, vivem em pânico com o medo de perderem os seus filhos. Claro que haverá muitas mães orgulhosas pelos seus filhos estarem a combater, a matarem-se inimigos que se tornaram uns e outros por ódios que não entende. Mas a lembrança dele é das mães que como a sua um dia sofreu um sofrimento que só as mães conhecem com medo de perderem os seus filhos que tanto amam, quando estes são mandados para a guerra, quando não foi para isso que elas geraram e criaram os seus meninos, os seus filhos feitos homens.

No histerismo propagandista que corre por cá, quem se lembrará que na Rússia também há mães e soldados que são contra aquela invasão dum país vizinho. Mães que sofrem como todas as outras mães cujos filhos são obrigados, contrariados, a irem combater numa guerra que não é deles. Quem se lembrará delas? 

 

22.03.15



Voltou ao hospital seu conhecido, agora com gestão pública. Já não é uma PPP. Pequenas diferenças, algumas melhores do que há seis meses atrás.

Sempre que vai tirar sangue para o controle semestral tem de aguardar, dependendo a espera dos casos e dos técnicos que tiram o sangue. Às vezes é rápido, outras demora mais. Às vezes os números de chamada no ecrã parecem não andar, outras vezes mudam de forma rápida. Não se aborrece. Sabe que é assim. Ainda bem que existe o SNS universal para todos e em especial para os que como ele trabalharam sempre em empresas privadas de pequena e média dimensão sem possibilidades de terem outra assistência que não seja a do regime geral do SNS. Não imagina o que lhe teria acontecido se não houvesse este SNS tão atacado injustamente por políticos e cidadãos defensores do liberalismo mais canibal.

É certo que a assistência prestada pelo SNS poderia e deveria ser muito melhor, mas, para que tal acontecesse o país teria de ser um outro país, mais solidário com os seus cidadãos, mais independente nas suas políticas económicas e sociais face à Europa bruxeliana neoliberal. Enfim teríamos de ser um povo diferente, com outro nível de educação cívica e política para usarmos o ato eleitoral com outra consciência de cidadania e não como o temos feito. 


22.03.14




 

A caça às bruxas no chamado mundo ocidental em especial o europeu, teve o tiro de início ao fim de uma semana de guerra fratricida entre russos invasores e ucranianos invadidos. 

É vê-los saudosos salazaristas, juntos com antigos revolucionários maoistas e marxistas-leninistas convertidos ao liberalismo mais liberal da boa vida burguesa, em acérrimas manifestações sejam de rua, sejam de terço católico apostólico romano ou de espetáculos com artistas convidados. Quase todos cegos contra o povo russo e não apenas contra o energúmeno ditador que está a frente dos destinos da Rússia com mão de ferro, como se a Rússia fosse hoje a antiga potência comunista que, para muitos destes atuais manifestantes, ensinava a comer criancinhas ao pequeno almoço.

O histerismo fruto de cálculos programados esta a fazer a sociedade portuguesa regredir aos tempos do século XVI. Um canal televisivo dominado pelo conservadorismo mais bolorento pede denúncias para as incluir nas suas emissões. “Autos de fé” adaptados à modernidade na comunicação social já existem fomentados por «justiceiros» da nossa triste Justiça. A democracia do politicamente correto cheira mal, está dia a dia apodrecendo. 

A classe política que nos governa não é apenas de compadrio mas também submissa aos fracos e maus liberais de Bruxelas, que por sua vez se curvam obedientes perante os agressivos falcões americanos, que não olham a meios para atingirem os seus fins de mandarem no Planeta. Em Bruxelas em vez de se estudarem e avançarem em alguns pontos de “federalismo” (força militar comum por exemplo), sempre aquela aristocracia liberal que lá se instalou é obediente concordante com as estratégias ditadas do outro lado do oceano, onde os falcões da industria da guerra escolhem e mandam, seja o Presidente republicano (conservador) ou democrata (liberal liberal). Para eles, falcões e presidentes, os que morrem de um lado e do outro da guerra são pequenas coisas necessárias que infelizmente têm de ocorrer para a vitória dos seus desígnios, tão importantes para a sua soberania sobre os outros povos. 

As famílias, as mulheres e crianças, que fogem da guerra deixando tudo para trás sem ideia do que as espera no final da linha, serão num futuro mais ou menos próximo um bom mercado para as suas organizações que atuam na Europa sob capa de ong's ou de caridade religiosa, poderem calmamente selecionar quer as crianças, quer as mulheres para as suas redes clandestinas, mas necessárias ao mercado de compra e venda. Tudo em nome da ajuda caridosa que o povo americano presta aos seus amigos europeus.


Que puta de vida esta, em que se sente impotente perante as mentiras desgraçadas que vendem aos incautos que só sobem mamar e beber nos ecrãs televisivos, quase todos eles alinhados com os agressivos falcões americanos, gente que se recusa a ler um pouco de história daquela região da Europa, daqueles povos, gente que se recusa a ouvir jornalistas independentes que felizmente ainda os há e desse modo poderem pensar um pouco sobre o perigo que estamos a viver.

Domingo de Carnaval (22:02.27)





Depois de terem almoçado a preceito de acordo com a tradição da terra, juntaram-se quatro amigos para se deslocarem a Segura afim de observarem o porquê de no sítio do Município o percurso pedestre "Rota das Minas" estar indisponível há dois anos.

Logo no início junto ao edifício onde deveria funcionar o “Centro Interpretativo da Biodiversidade Terras de Idanha” se verifica que independentemente do horário lá anunciado há muito que o mesmo tem as suas portas fechadas. Inaugurado no ano de 2013 para dar a conhecer à população e ao visitante não apenas a beleza natural dos poderosos canchais (montes de grandes blocos de granito), do imponente desfiladeiro do Rio Erges chamado “as fragas”, os magníficos afloramentos rochosos na Freiras junto à ponte cujos alicerces são romanos, mas também a riqueza da biodiversidade podendo-se observar grifos, abutre-preto, cegonha-preta, abutre-do-egipto e a águia-imperial-ibérica em extinção, está de portas fechadas, voltadas para o esquecimento.

Aquilo que em tempo o Município investiu, com dinheiros públicos, criando instalações focadas na disseminação do conhecimento do património cultural e da riqueza natural, podendo ser um importante fator para o desenvolvimento do turismo na aldeia, na agora União de Freguesias, está de portas fechadas, abandonado pela gestão atual do Município, mais interessada em outros temas com visualizações mais pessoais, do que na divulgação da história e da cultura desta esquecida e abandonada região fronteiriça do Rio Erges. Infelizmente não é única, já que na mesma margem do Rio mais a Norte, Salvaterra do Extremo se encontra em idênticas condições. Abandonadas à sorte das suas gentes que teimam em nelas resistir ao tão apregoado progresso consumista.

Tomado este apontamento, seguimos o percurso indicado quer no documento que alguns tinham em posse, quer nas indicações usuais para estes percursos. Ao passar junto à Fonte da Calçada vimos as obras da ETAR, esperemos que as mesmas sejam terminadas antes da próxima campanha eleitoral.

Alcançado o cruzamento que leva às ruínas da Lavandaria fomos visita-las. Em tempos existiu um placar que se supõe ter sido explicativo mas que a ação do tempo tornou ilegível. As ruínas da Lavandaria são só ruínas abandonadas sem sinal de qualquer preocupação pela sua manutenção.

Os caminhos ainda se encontram em mais ou menos bom estado até atravessarmos a Estrada Nacional em direção à mina de estanho, depois tudo se complica assim como a conservação da entrada da mina quase inacessível.


Visto e confirmado, o desleixo, o porque da “Rota das Minas” estar indisponível no sítio do Município, regressámos pela Estrada Nacional até ao ponto de partida onde tínhamos deixado o carro, junto ao abandonado “Centro Interpretativo da Biodiversidade Terras de Idanha”.


Se olharmos aos orçamentos e opções de investimento do Município e da União de Freguesias temos a certeza que a “Rota das Minas” em Segura não faz parte do pensamento cultural de quem governa o Município de Idanha a Nova. Quase que dá vontade de pensar que para os atuais políticos municipais a velhinha aldeia de Segura infelizmente para eles esta do lado de cá da fronteira, tal o abandono a que tem estado sujeita nestes últimos anos.


Já depois de escrever o que acima escrevi, vejo a notícia de que o Município de Castelo Branco disponibiliza APP com dez rotas para se conhecer o concelho. O mesmo partido político governa os dois municípios mas diferentes são as praticas e os objetivos da governação. Enquanto um, Castelo Branco, promove as suas rotas o outro, Idanha-a-Nova, abandona-as ao esquecimento.


Tudo Muda num instante nesta vida (22.03.12)

No início do mês publiquei um texto sobre a guerra que ocorre na Ucrânia e os motivos porque sendo contra a guerra, não tomo partido por nenhum dos líderes em confronto. Se Putin é um ditador energúmeno do pior, para mim Zelinsky, presidente ucraniano, não é nenhum santo, antes pouco difere do filho da puta do Putin. São dois seres que não deviam ser Presidentes de coisa nenhuma.

A acompanhar o texto publiquei duas fotos, uma de uma manifestação da extrema direita ucraniana com a esfinge do nazi Stepan Bandera, promovido a herói nacionalista pelos governos saídos do golpe conhecido por revolução laranja; a outra foto era do célebre batalhão Azov com os seus símbolos nazistas ostentando bandeiras nazis lado a lado como a bandeira da Nato.

De imediato a bandeira do Batalhão Azov desapareceu e fui avisado que estava suspenso por 29 dias, pelo motivo de publicar símbolos contrários ao funcionamento da organização. Passaram-me a “conta restrita, só eu posso ver o que publico”. Deixei de publicar e só partilho publicações com que me identifico.

Tentei publicar outras e de imediato lá vinha a informação de estar suspenso “conta restrita” . Entretanto, fotos e partilhas fazia sem que o "algoritmo da censura" interviesse.

Ao tomar conhecimento que o entendimento da empresa sobre os símbolos nazis mudou, desde que os mesmos sejam contra os russos, publiquei e pareceu-me que já não estava impedido, censurado. Engano meu. Logo depois veio o sinal de “conta restrita” por 19 dias.

Não vou mudar de opinião, face à censura facebookiana, os responsáveis desta guerra, invasor e invadido, não prestam, nenhum gosta da democracia como nós temos a felicidade de conhecer, ambos são flores carnívoras de quem não nos devemos aproximar quanto mais cheira-las.

22.03.12

Sente-se cansado e perdido. Não sabe que caminho tomar.


Vive na cidade com pensamento na aldeia. O sentimento de Liberdade que sente na aldeia do abandonado e esquecido interior raiano não se compara, não tem qualquer semelhança com o da cidade. Se na aldeia o seu sentimento de liberdade é “lacto sensu”, na cidade o mesmo é menos que “stripto sensu”.

Que lhe importa que a casa na cidade seja bem melhor que a da aldeia, se depois lhe falta o espaço circundante e muitas vezes o próprio ar que respira.

Onde é que na cidade se pode tomar o pequeno almoço em casa ouvindo e vendo a passarada cantando e buscando na terra o seu alimento ali mesmo à sua frente. Onde é que na cidade se pode escutar a sinfonia do canto dos pintassilgo que poisam nos cabos telefónicos? Onde é que existe essa cidade, que ele não conhece.

Na cidade algumas casas têm varandas mas por muito bonitas que sejam não se comparam a um quintal pequeno com árvores de fruto e terra para poder cultivar a sua pequena horta, comer os seus produtos, couves, alfaces, favas ou ervilhas, ter as suas ervas aromáticas, as suas flores, todos isentos de químicos. Sentir como a Natureza é fenomenal.

Viver no alto em prédios da cidade é totalmente diferente de viver no chão na aldeia. Deveria ser proibido construir prédios de andares nas aldeias.

Na cidade os vizinhos quase não se conhecem, vivem correndo sempre apressados sem tempo para dois dedos de conversa. Na aldeia todos se conhecem, até mesmo os que por desavenças antigas ou atuais não se cumprimentam não deixando de saber uns do outros.

Na cidade todos vivem correndo num stress sem sentido, na aldeia reina a calma, já ninguém tem grandes pressas pois a idade da maioria assim os aconselha.

As aldeias como que pararam no tempo do desenvolvimento capitalista-consumista.

Os governos submissos e amigos dos poderosos donos do mundo escolheram esse modelo de desenvolvimento social para as suas sociedades. Abandonar as populações aldeãs, forçando-as a saírem das suas terras centralizando a vida nas grandes cidades que depressa se tornaram metrópoles, onde tudo existe para a ilusória diversão da força de trabalho que nelas procuravam uma vida melhor que os seus antepassados tiveram trabalhando a terra dia e noite, abandonados à sorte do tempo.

A vida comunitária em algumas aldeias do interior é inimiga do modelo desenhado pelos senhores dos modernos meios de desenvolvimento da sociedade capitalista que apoiados no desenvolvimento da televisão mudaram de que maneira a vida de todos nós, isolando-nos nas gaiolas de betão das cidades metrópoles vendidas como fator de felicidade e de realização individual.

 

quinta-feira, 10 de março de 2022

22.03.10

Corria o ano de 1960 quando Portugal ainda não refeito da perda dos territórios de Goa, Damão e Diu, soube pela voz radiofónica da Emissora Nacional que inimigos revoltosos tinham iniciado uma mortandade de colonos, suas famílias e seus trabalhadores no norte de Angola. O velho tirano da janela do seu palácio gritou para os que em enorme manifestação o apoiavam no largo defronte do palácio, onde o velho tirano professor de finanças públicas vivia e governava o país com mão de ferro - «Para Angola e em Força».

Era ele um miúdo com ainda com nove anos, que recorda o choro de mães, de esposas e namoradas dos soldados da aldeia que se despediam porque foram mobilizados para a guerra em Angola.

O tempo passou. O miúdo cresceu deixando a aldeia e regressando à cidade grande. Já um jovem de 16, 17 anos ouvia na rádio os Governantes “senhores da guerra” que a guerra, não só em Angola mas também na Guiné e em Moçambique, estava ganha. Os inimigos da Pátria tinham enormes baixas e a vitória estava à vista.

E… os anos passavam com a anunciada vitória sempre ao virar da esquina, segundo os Governantes e seus seguidores apoiados pelo lápis azul da censura e por um exército de pides e bufos.

O miúdo que era jovem entrou para o serviço militar. A guerra esperava por ele. No dia em que fez os seus 22 anos chegou ao Mumbué nas quase terras do fim do mundo no designado leste de Angola… e a guerra estava quase ganha.

O jovem alferes nos seus 22 anos ciente do seu papel naquela guerra que não era sua carregava às costas o medo de perder o juízo, a razão, se alguns dos seus soldados, cabos ou furriéis do seu grupo de combate perdesse a vida naquela guerra inglória. O jovem militar, que se recusava ser uma máquina de guerra, tinha consciência e transmitia aos seus homens (alguns ainda nem a barba faziam) que o primeiro mandamento da guerra era, “tenho de o matar antes que ele me mate a mim”; o segundo mandamento era “ao ouvir o segundo tiro nunca posso estar no mesmo local onde ouvi o primeiro”; o terceiro e último “temos de voltar para as nossas casas, custe o que custar”.

Andando nesta vida de palmilhar quilómetros e quilómetros nas matas das terras do fim do mundo atrás do inimigo, decidiu com outro alferes comprarem um rádio com ondas curtas para ouvirem as notícias do mundo. Rádio que lhe dava a possibilidade de ouvir as então designadas rádios “turras”. Aprendeu o jovem alferes que essas rádios do inimigo difundiam a ideia de que a guerra pela independência estava quase ganha, já que o inimigo colonialista, ou seja as nossas tropas, estavam sofrendo pesadas baixas com as ações heroicas, diga-se emboscadas e minas, que os seus guerrilheiros militantes nos impunham.

Tretas de um lado e do outro. Na guerra a contrainformação é rainha e rei.

Quando regressou da guerra para o colo de sua mãe, o ainda jovem participou em manifestações contra a NATO. Ainda hoje é contra a participação de Portugal em forças militares externas fora do âmbito da ONU.

O jovem é hoje um velho antigo combatente. Ao ouvir, ler e ver tudo o que levou à invasão da Ucrânia pela vizinha Rússia, decidiu: - não ouvir televisão que fale ou comente a guerra, nem na rádio ouve programas que analisem a guerra que ocorre na Ucrânia. Não tomar partido por nenhum dos lados. Os dois lados não falam verdade. Ser solidário com os cidadãos ucranianos e russos que sofrem com esta guerra fratricida.

A NATO que se confunde com o poder Americano está estão envolvidos na preparação desta tragédia. Provocaram querendo enjaular o urso raivoso.

Putin, é ser energúmeno de sangue frio, do pior que há. Sempre se conheceu o seu carácter de ditador feroz, ambicioso e sem escrúpulos. Putin, nunca foi flor que se cheire.

Mas, quem é Zelinsky? Como chegou ao poder? Que medidas procurou tomar para impedir a mortandade dos seus cidadãos? Porque manteve Zelinsky no Ministério do Interior Ucrâniano, os nazis do "Batalhão Azov"? Porque não procurou retirar poder de intervenção ao “Setor Direita”? Porque nunca procurou fazer cumprir o célebre, mas esquecido pelo ocidente, o acordo de Minsk entre o Governo da Ucrânia com os rebeldes pró-russos em que a Alemanha e a França estiveram presentes?

Não tomo partido por nenhum dos lados desta guerra fratricida entre ucranianos invadidos, russos invasores e promovida por forças externas (EUA, NATO e UE).

Como digo, sou solidário com todos os cidadãos anónimos que sofrem com os horrores desta invasão. Não esqueço que no lado do povo russo também há quem esteja a sofrer, quer as mortes dos seus familiares nesta invasão, quer os que estão nas muitas prisões russas por se oporem à guerra.

É Urgente, é Preciso a Paz e recuperar de novo a velha frase do «Make Love Not War».


https://www.youtube.com/watch?v=D4a4ULXed_0

Embora o realizador americano seja considerado como pró- Putin, o filme dá-nos uma visão do que era e é a política naquela região e naquele país Ucrânia.

https://www.youtube.com/watch?v=XAWedhn1kBk

Esta reportagem para o Canal Plus francês mostra-nos uma realidade diferente daquela que nos contam.

Com isto, longe de mim estar a defender a invasão ou então o pior energúmeno que dirige um país. Muito pior que o louco norte-coreano. Mas o ucraniano também não é flor que se cheire, no meu modo de olhar o mundo. Infelizmente quem sofre são os inocentes cidadãos, como sempre acontece numa guerra.

Não vejo televisão quando estão "papagaios" a falar da guerra.

Um abraço pela Paz na Ucrânia e no Mundo


quarta-feira, 9 de março de 2022

Navega caminhando sem destino marcado. Vai na contracorrente deste modo de vida consumista sem sentido para além da ilusão do ter, do poder e do parecer, tão publicitado e incentivado pelos agentes do sistema, onde com o passar do tempo se sente mais ovelha ranhosa a cada dia, a cada acontecimento público.

Depois de renovar a assinatura do cartão-passe de transportes urbanos que o poder lhe concedeu por lhe terem roubado tempo de vida na sua juventude, decidiu apanhar o primeiro comboio que passasse em direção à cidade grande.

Diz-lhe o relógio eletrónico da estação de metro que faltam 7 minutos para o próximo transporte que o levará até à Baixa Chiado onde irá apanhar o da linha verde até ao Cais do Sodré, para subir ao cais de embarque onde tantas vezes apanhou o comboio para Caxias. Sete minutos, um tempo tão longo ou tão curto consoante os ângulos em que nos coloquemos. Sentado no banco de pedra onde tantas vezes se sentou não olha o tempo, deixa-o passar no seu constante. Só tem uma ambição, ter saúde enquanto a vida lhe permitir andar por cá. Desejos têm alguns, uns mais prementes que outros. Desejos que o ajudam a alimentar as suas energias de resistência já que gostava de viver mais uns anos, mesmo que tresmalhado do rebanho, sempre é bom andar por cá com saúde que lhe permita qualidade de vida, caso contrário não valerá a pena.

Hoje é dia 8 de Março. Diz-lhe o sistema que hoje é o dia internacional da mulher. Ele que pouco ou nada liga a essa coisa de dias internacionais, ainda comentou numa rede social a uma amiga, antiga colega de trabalho, "Que seria de nós seres humanos sem as Mulheres?". Passa a frente, nem quer pensar em quantas serão as mulheres que hoje recebem flores para amanhã receberem uma crítica perversa, um palavrão, uma proibição para não falar em outras formas de violência mais dura. Não, não celebra estes dias promulgados pela ONU.

Depois de olhar os ecrãs indicativos dos destinos dos comboios que estavam prestes a partir, decidiu regressar caminhando à beira rio até ao Terreiro do Paço para depois subir a Rua Áurea em direção à estação do metro Baixa Chiado, regressando a Santa Apolónia para voltar para casa.

Não conhecia a zona ribeirinha como ela está hoje. As obras duraram uma eternidade, muito se escreveu e criticou para agora a cidade e o rio se enamorarem naquele espaço, que convida todos, turistas, passeantes, namorados e amantes a celebrarem a vida, a paz e aquela natureza citadina. Enquanto ia registando no seu telemóvel alguns momentos fotográficos a sua sombra segredou-lhe, como é desigual este mundo de hoje, pois enquanto na desgraçada Ucrânia as mulheres fogem com as suas crianças deixando tudo para trás sem saber o que as espera no final da linha, ali nas margens do rio na cidade grande, outras mulheres iguais indiferentes às desgraças da guerra celebravam a vida, expondo-se umas aos raios solares enquanto outras trocavam beijos e olhares cúmplices entre promessas e desejos que as águas do rio ouviam sorrindo.

A Praça do Comércio ou Terreiro do Paço esta mais leve e colorida com os restaurantes e bares. Até o velhinho edifício do Ministério do Exército já tem as portas cercadas por taipais modernos de alumínio. A velha esquadra da polícia na esquina da Rua Áurea virou Pousada Lisboa do Grupo Pestana. Depois de tantos anos carregada de um ambiente austero que lhe era dado pela presença de tantos Ministérios, a Praça do Comercio ganhou vida e alegria onde até o cavalo do Rei D. José parece um pouco mais vaidoso na sua pose.

O espaço da Rua Áurea percorrido diz-lhe que os antigos edifícios que albergavam os serviços de bancos, seguradoras e companhias de navegação marítima estão a ser convertidos em Hotéis, tantos são estes que qualquer dia ainda mudam o nome à rua. Resistem algumas poucas das casas de negócio. Sorriu satisfeito quando viu que a antiga Papelaria da Moda é agora Papelaria Fernandes e que assim permaneça por muitos anos.

Desceu aos subterrâneos do metro e regressou do seu caminhar já com destino marcado.



 

22.03.06

Coloca o telemóvel em posição de poder escrever alguma coisa das tantas coisas que andam à deriva na sua cabeça.

Anda cansado com as notícias da guerra. Foge das notícias mas elas estão por todo o lado. 

O Facebook já bloqueou as suas publicações. Quis escrever a sua posição sobre o conflito e os seus líderes assassinos de muitas vidas humanas. O algoritmo do lápis azul facebookiano não gostou e bloqueou-o nas publicações. Mas a exemplo dos censores humanos também erra. É assim que o deixa publicar fotos sem receber de imediato a informação de que as publicações estão restritas por ter publicado fotos com simbologia que vai contra as normas da organização. 

As fotos ou melhor a foto colocada em causa referia-se ao "Batalhão Azov" ucraniano, composto por «gente de bem» segundo a ideologia e terminologia que defendem alguns dos nossos "cheganos" por cá aos quatro ventos.


22.03.04

Depois de ontem ter chovido bem durante pouco mais que uma hora, voltou o Sol hoje a brilhar num céu quase totalmente azul.

Lá longe mas perto, a guerra continua devastando vidas e bens, como sempre acontece em todas as guerras. Uns e outros em campos diferentes num mundo dominado pela informação televisiva, onde domina quase em exclusivo a ideia de que só há um lado mau e assassino naquela guerra, o que não é verdade.

Na outra margem na travessia do deserto, há muito tresmalhado do rebanho, ovelha ranhosa que é, recusa-se a ouvir os muitos "papagaios" e "paineleiros" das televisões. Procurando demonstrar que naquela guerra lá longe mas perto, não há só um «lobo mau», viu-se impedido na rede social “facebook” de publicar os seus pequenos pensamentos, as suas visões, sobre o tão ocidentalmente adorado governo ucraniano.

Vivem-se tempos medonhos. O ódio saiu à rua andando por todo o lado querendo voltar a ser pensamento dominante. Não não vou em manifestações. No meu deserto não há lugar nem para «lobos maus» nem para «lobos com pele de cordeiro».

 

22.03.02

Guerra e mais guerra. Ao levantar, ao almoço e ao jantar ligo a televisão que só me dá "papagaios" e "paineleiros" especialistas em tudo, a opinarem sobre a guerra. É normal que a guerra seja notícia, mas tantas opiniões, tantos sabichões? Exceção são os militares que têm falado e escrito sobre a guerra. Passo aos vizinhos espanhóis mais comedidos, mas também é muita guerra. Desligo.

Anda muita contrainformação à solta noticiada como verdade do lado ucraniano, carecendo de informação quando se referem ao lado russo. Uma guerra tem sempre pelo menos dois lados em conflito. Lados em que os líderes se preocuparam mais com a sua ambição do que com os seus cidadãos, com as suas crianças e jovens (aqueles que sempre mais sofrem com a guerra). Dos dois lados da guerra não há santinhos. De um lado e do outro em contenda haverá sempre cidadãos, como eu, que se manifestam contra a guerra contra a mortandade que os "senhores da guerra" provocam, com as suas ambições e ou decisões.

Há muito que se conhece o caráter do líder russo. Antigo espião dos sovietes, de sangue frio, que através de golpes palacianos se mantém no poder, através de eleições, para alcançar os desígnios da sua ambição czarista, de uma Rússia do século XXI imperial. Não esconde a aversão que tem à Democracia liberal, nem o quase ódio que nutre para com os antigos líderes da Rússia Bolchevique, adepto que é do capitalismo puro e duro, contando com o apoio da grande e Santa Igreja cristã ortodoxa russa, numa tal aliança que uma das suas últimas e mortíferas armas aéreas usa o símbolo da própria Igreja ortodoxa. Líder e ditador que não esconde o apoio dado a grupos de extrema direita em vários países europeus.

Do outro lado, um país invadido, cujos dirigentes eleitos começaram por alcançar o poder através de um golpe de estado instigado e apoiado pelos EUA e UE. Dirigentes influenciados por grupos de extrema direita que não tendo representação parlamentar, têm enorme peso na sociedade, condicionando e influenciando as decisões governamentais. Um poder dito democrático que recuperou como heróis, antigos líderes que não só combateram ao lado das forças de Hitler, como se prestaram em campos de concentração nazi a matarem milhares e milhares de Judeus. Quando substituíram o nome da Avenida Moscou, porque não lhe chamaram Avenida da Libertação em vez de Stepan Bandera, o líder dos ucranianos nazistas, agora convertido em herói nacionalista ucraniano, omitindo o seu pensamento ariano da raça pura ucraniana? Regime que se proclama democrático mas que impediu de votarem nas últimas eleições 8 milhões de russos ucranianos. Um regime que se proclama de democrático mas acabou proibindo a tradicional bilingue ucraniano e russo. Proclama-se o seu presidente Zelensky de ser judeu, como se nos Judeus não existissem ditadores, fascistas e nazistas. Basta recordarmos o agora esquecido Médio Oriente. Mas o que fez este presidente para excluir do seu Ministério do Interior o Batalhão Azov?(foto de net). Que fez para anular as outras milícias que defendem princípios arianos, que matam e queimam vivos não apenas cidadãos russos como emigrantes e gays? Que medidas tomou para evitar a entrada no país de elementos extremistas a fim de treinarem e integrarem as várias milícias que utilizam símbolos nazistas? Que fez ele, para agora se armar de vítima, sacrificando o povo ucraniano a um sofrimento escusado. É que bastava cumprir o que o governo ucraniano assinou com os rebeldes pró-russos em Minsk na presença dos representantes da França e da Alemanha e talvez o outro energúmeno não tivesse argumentos para invadir militarmente o seu país.

As lembranças, as saudades que muitos de nós, opositores à guerra, temos da Senhora Chanceler Merkel. Com ela à frente dos destinos da Alemanha e até da UE talvez a guerra nunca tivesse chegado a este ponto, em que o único vencedor será o imperialismo americano, que secundariza a Europa no contexto mundial, enfraquece de que maneira o poder da Rússia, ficando apenas com o problema da China pela frente. Os ucranianos, serviram aos americanos apenas como rastilho para a obtenção dos seus objetivos imperialistas e pouco ou nada mais.

Quando jovem participei em manifestações contra a OTAN. Não me envergonho. Sempre fui e continuo não alinhado, contra a participação do meu país em qualquer estrutura de poder militar externa, que não seja a ONU.

Quanto aos jovens papagaios que soletram o pensamento dos chefes, o que é que eles sabem do que é a ansiedade, a angústia de um combate iminente numa guerra? Não sabem, felizmente, o que é o sentir os pintelhos do cu a bater palmas. Não sabem felizmente. E muito menos o que o militar é capaz de fazer depois de sair vivo de uma emboscada, de uma batalha, quando toda a energia que a emboscada, a batalha gerou e nele se acumulou… é capaz de fazer ao "inimigo". Não sabem, nem imaginam felizmente.

Por fim e para piorar a nossa situação económica e social a entrada à pressa da Ucrânia na União Europeia só nos vai trazer mais e mais dificuldades económicas. O sagrado "Capital" da UE assim como o americano fará da nova Ucrânia o destino dos seus investimentos, das suas empresas e dos seus subsídios…

Se sou contra a guerra e esta em particular, como posso eu escolher o lado de um destes beligerantes se ambos são flores que não se cheiram? 




 

22.03.03


 

Chove chove galinha a nove. Já não há galinhas nas ruas. Perderam essa liberdade em nome do progresso. Tudo muda, tudo cambia. A chuva que está caindo não é chuva, é antes uma bênção dos deuses atmosféricos. Caindo certa é música, sinfonia celestial para a terra que a recebe, para as plantas e árvores tão necessitadas dela andam. As ervas dançam cantando hinos de agradecimento.

A passarada recolheu-se, só o estorninho continua no cimo do telhado, como todos os dias a esta hora. Será que não se molha ou também ele estava ansioso por sentir os pingos da chuva nas suas penas? Tenho de lhe perguntar. Talvez ele me possa entender. Quem sabe?

Gosto da chuva. Com ela tudo renasce, até mesmo a Esperança na Paz se fortalece.