domingo, 30 de janeiro de 2022

22.01.29

 

Sente-se ausente. Desligou no início da campanha. Que se fodam quase todos. Nem a chuva cai para limpar tanta mentira proclamada. Os do centro, os híbridos vendilhões, irão ganhar. É ao centro que o país se vende a troco de ilusões.

Ah, o voto é a arma do povo. Uma arma sem munição na câmara. Uma ilusão para nos chuparem até ao tutano.

Ausente na outra margem, as dúvidas o acompanham. Por onde andará. Em quem irá votar? Procura esquecer mas o sorriso dela não o abandona. Sente medo. Um frio diferente.

Ele que desligou, que se ausentou por decisão própria, sabe a quem irá ajudar com o seu voto. Nisso não tem dúvidas. A democracia precisa deles no parlamento. Não, não é sequer simpatizante-seguidor, mas dá-lhes o voto consciente. É o que lhe resta. A utopia de um outro modo de vida não pode morrer. Se a utopia morrer também ele morre. Precisa de viver mais uns anos. Não quer deixar rabos de palha quando o espírito partir para o desconhecido e a água secar no seu corpo reduzido a pó. Irá votar. Só um terremoto na sua vida o impedirá de votar. Os outros precisam do seu voto consciente.

Foi também pelo direito de se votar livremente que se iniciou nestas coisas da política aos dezoito anos em mil nove e sessenta e nove, contra muitos dos que hoje se passam por democratas ao centro, mais à direita ou mais à esquerda mas sempre ao centro. Para eles é ao centro que está a virtude… do dinheiro, do compadrio… do capital apátrida… segreda-lhe a sua sombra. Manda-a calar.

Como Republicano muito mais à esquerda que ao centro, irá votar consciente da importância do seu voto. Depois do voto na urna, como cidadão pacato, anti-anarquista, pacífico sem medo da guerra, irá seguir pela outra margem da vida na travessia do deserto. A maioria irá ganhar. Ele não pertence a esse rebanho. Já guardou os programas eleitorais de todos os partidos. Procurou lê-los sentindo-se incapaz de os ler todos, guardou-os, até um dia. Não os irá imprimir por consciência ambiental. Deixou-os ao alcance da tecla que tudo apaga com um simples clique.

22.01.28

Nunca foi de grandes festas e ainda amenos de festejar dias disto e daquilo. Não foi e não será.

Viveu, cresceu em Peniche no tempo em que naquele forte se prendiam e torturavam pessoas cujos crimes, sem direito à presunção de inocência, era apenas o sonharem de forma diferente com o estabelecido pelo regime do velho tirano "o Botas" na santa aliança com o amigo cardeal "o Cerejas".

As portas do velho forte abriram-se à Liberdade com o 25 de Abril. Sucederam-se governos provisórios e definitivos saídos do 25 Invernoso e o forte quase abandonado sem perceber qual o seu futuro lá resiste sentindo a erosão do mar e dos ventos marítimos que o castigam nas suas “artroses” continuamente indiferentes ao desleixo governativo dos muitos governos sem cultura que lhe valha.

As obras para um futuro disto e daquilo e por último do museu da resistência são anunciadas mas tardam sempre.

Nunca lá entrou para ver o interior onde as barbáries eram cometidas por zelosos funcionários do regime. Não entrou nem entrará. Foram, são e serão locais de baixas energias vibracionais, de tristes recordações a exigirem políticas governativas que impeçam o seu regresso, que infelizmente tardam em acontecer.

O tempo não pára, nem permite voltar atrás, é uma constante em movimento de sentido único, pelo que, nesse constante movimento o mundo mudou e muda sub-repticiamente constantemente, pensando ele que a história não absolverá quem tanto mal, tanta dor e desgraça causou aos seus iguais, seres humanos. Mas o ser humano com as suas coisas continua na sua luta gananciosa, destruidora e cega pelo "ter" não olhando ao como, não olhando ao próprio "ser".

Por isso ao ler o que se diz no tal dia que dizem comemorar o genocídio que foi o holocausto, abre-se uma das suas gavetinhas de memória e pergunta-se a si próprio o porquê de haver todos estes dias e nunca os senhores que criam estas coisas destes dias se lembrarem de criarem um dia para as vítimas da Santa Inquisição que tanto mal, tanta desgraça, tanta miséria causou. Fechou a gaveta. Ele não é nem será dessas coisas de festejos disto e daquilo. Não se deixa ir no rebanho, prefere outras ondas, outros trilhos na outra margem da vida.

É assim que volta a Peniche não só ao forte mas a toda a muralha que a envolve construída em tempos históricos para defesa dos seus cidadãos e que hoje até aos olhos mais míopes se vai degradando sem dó por falta de manutenção. Manutenção que exige trabalhos técnicos com alguma complexidade, como tal verbas avultadas, imagina no seu pensar. Peniche não está situado no esquecido e abandonado interior, antes pelo contrário está bem no litoral continental a menos de cem quilómetros a norte de Lisboa. Contudo, sofre da mesma doença que o seu interior raiano de Idanha-a-Nova. O abandono, o esquecimento, o serem ambos ignorados nos corredores dos palácios em Lisboa onde se decidem as políticas governativas.

A sempre anunciada descentralização dos serviços do Estado é uma falsa mentira que governo após governo nos impingem como sendo para bem das regiões e das suas populações. Não há descentralização quando apenas se cedem aos «pequenos poderes autárquicos» serviços e responsabilidades e não se reforma, não se clarifica de forma cristalina por via a simplificar a teia de dependências ministeriais criada ao longo dos anos por Secretários de Estado e Ministros sem visão na gestão política dos bens e serviços que o poder central transfere para os «pequenos poderes autárquicos».

Tem consciência que a sua luta contra o sistema é inglória no curto e no médio prazo. Quando Peniche voltar a ser ilha, quando o mar começar a galgar inundando as zonas baixas do litoral e das cidades, os que andarão pelos corredores do poder nos palácios Lisboetas ir-se-ão lembrar que há um interior esquecido há muitos e longos anos. Nessa altura farão as malas tão apressados como um dia a Corte do Reino fugiu para o Brasil abandonado o povo português à sua sorte.


sábado, 29 de janeiro de 2022

22.01.27

Olha a temperatura que o seu aparelho telemóvel lhe dá para os seus três lugares. No litoral mais seis graus que no seu profundo interior raiano. Depois, se disser que sente mais o frio andando nos trilhos da beira rio nos arrabaldes da cidade grande do que quando anda pelas quelhas da Zebreira com as baixas carregadas de geada, não o acreditam, julgam-no tonto ou mal intencionado. Ele que viveu outros frios nas suas sete décadas que leva de muitos invernos e não só.

Em criança nas idas de bicicleta para a escola com as luvas de lã que a mãe lhe fazia e o boné de orelhas para defender os ouvidos das frieiras que o frio húmido de Peniche causava. Pior, quando chovia e chegavam molhados à escola, secando a roupa no corpo que a senhora diretora numa de desprezo pelos pobres estudantes nunca ligou o aquecimento existente. As instalações eram novas e modernas para a época do Estado Novo, tinham aquecimento mas a senhora salazarista impunha regras draconianas aos jovens estudantes e nos cinco anos que lá passou não se recorda de uma única vez em que as referidas instalações tivessem o aquecimento a funcionar. Recorda-se de ter dias de inverno em que o frio e a roupa molhada não deixavam ter "gadanhos" nas mãos para poder tomar nota do que a professora escrevia no quadro ou ditava para sumário.

Depois, quando aos quinze anos deixou os caminhos da escola de Peniche e voltou para a cidade grande que o viu nascer, aprendeu que afinal o frio Penicheiro era bem mais temperado que o frio de Lisboa. Mais húmido mas mais temperado. O frio de Lisboa era mais agreste de uma humidade diferente mas húmido qb.

Quando chegou o serviço militar e foi colocado em Chaves ainda conheceu uma amostra do frio transmontano. Foi coisa passageira. Uns meses depois voltava ao frio húmido do litoral por terras da Serra de S. Luzia em Viana do Castelo.

Estranhamente para o saber de então foi em Angola que conheceu o que era frio frio de verdade. Sabia pelas lições de Geografia Económica dadas pelo grande professor Knapik no velho Cortiço na Rua das Chagas, que Angola tinha vários climas, mas nunca na sua juventude imaginou que na época seca pudesse haver tanto frio como aquele que passou. É certo que estavam sediados no planalto central a mais de 1.500mt de altitude, mas tanto frio nunca imaginou. Então, quando nesse tempo de Abril a Setembro ou Outubro saiam em operações o dormir no mato apenas com saco cama era um dormir sempre de frio para gelado. O acordar de madrugada com frio, o fumar mais um cigarro dentro do próprio saco cama na ilusão do fumo do cigarro poder aquecer o corpo.

Quando voltou no final do mês de Novembro, deixando para trás o tempo que lhe roubaram de vida, os seus pais estavam na Zebreira. Mais uma vez não os informou da sua chegada. Só quando estes ligaram para casa é que souberam que ele já tinha voltado. Foi visitá-los passados uns dias . Andavam os seus pais na apanha da azeitona, vivendo na casa onde a sua mãe nasceu. Uma casa de construção em pedra bem antiga, onde o quarto em que dormiu era telha vã. Voltou a conhecer o frio seco do interior perdido e abandonado à resistência das suas gentes. Ainda foi com os pais apanhar azeitona mas as suas mãos vinham de estarem mais habituadas a acariciar a sua G3 não se adaptaram à apanha, voltando para casa em Lisboa.

Com o passar dos anos, principalmente depois do AVC de sua mãe foi-se habituando ao frio da Zebreira nas visitas que fazia aos seus pais. Pior quando seu pai decidiu ir para o lar e a casa ficou vazia. As casas não gostam de estar vazias e abandonadas, arrefecem ainda mais que o próprio frio que corre no exterior. Elas gostam de se sentirem úteis e aconchegantes aos seres humanos. Quando entramos numa casa vazia, fechada há muito tempo é como se entrássemos no mundo gélido, podendo sentir-se o choro frio das paredes que a sustentam. Aí sim mora a solidão ávida de preencher outros vazios. Por uma vez teve esse sentimento ao chegar à sua casa depois de quase três meses sem a visitar, sem partilhar com aquelas paredes os sentimentos vividos por quantos lá viveram. Estamos no Inverno que é a nossa estação mais fria do ano, onde deveria chover a água abençoada das chuvas que tudo faz renascer, mas as alterações climatéricas e a possível zanga dos deuses para com a humanidade sapiens não nos têm dado essa satisfação. Os campos cheios de uma erva verde rasteira sinónimo de seca são de uma tristeza quer faz doer os olhos

Ontem no seu passeio matinal pelos trilhos da beira rio nos arrabaldes da cidade grande no seu corpo a costura maior deu-lhe sinal. No horizonte uma frente compacta de nuvens. Sentiu a esperança de chuva reanimar. Olhou as previsões do tempo no telemóvel e de novo a tristeza da falta de previsão para a sua amiga chuva como que o desanimou.

 

22.01.24

Já pouco se importa com o que se passa à sua volta. Ouve muito ruído, muitos dizeres, acusações e elogios, tudo numa salada sem tempero. Tudo lhe aparece desfocado. Poucos, raros mesmo, são os que se diferenciam. Fazem tanto ruído com os seus dizeres, acusações e elogios que até o deus da chuva se esquece dos campos e rios desta Ibéria, deixando-nos o céu azul sem as abençoadas nuvens de água.

Voltou aos arrabaldes da cidade grande. Voltou ao mundo dos impessoais onde todos, novos e menos novos vivem correndo, acotovelando-se na ânsia do «ter», sempre o «ter» a comandar as suas ações. Já não é desse universo de correrias sem sentido. Já foi. Já teve o seu tempo em que viveu correndo de tal modo que se esqueceu de viver. Hoje não é por aqui que sente a vida. O que é que as cidades grandes oferecem depois de uma vida de trabalho em correria louca pelo «ter»? Sim, o que é que elas dão ou oferecem em troca? Ruído e só ruído. E quando alguns se aventuram para lá do ruído caem na solidão dos jardins despovoados onde até as flores tem vida efémera. 

 

22.01.22

Em 1969 entrou na política em oposição à ditadura. Tinha ainda 18 anos. Esteve mais na CEUD que na CDE. Em 1972 em Mafra esteve à porta do PC mas não entrou. Na guerra o Major segundo comandante do batalhão safou-o das garras da PIDE. Regressado da mesma, esteve à porta da UDP mas não entrou. No mundo do trabalho nunca foi sindicalizado por divergências. Mais tarde esteve à porta do PS mas não entrou. Gosta de se sentir político livre, sem partido. Não tem sentido de disciplina partidária. Não gosta de Ordens profissionais. Olha-as como entidades corporativas. Está inscrito numa à qual teve de aderir por imposição legal. Vê essa Ordem como um apêndice corporativo das Finanças do Estado rebatizada pelos neoliberais como Autoridade Tributária. Saiu de outra ordem profissional quando a mesma se formou a partir de uma associação. Caminha consciente na outra margem da vida na travessia do deserto. Longe de tudo mas perto da vida. Não é anarquista, longe disso. Define-se politicamente como uma ovelha ranhosa e tresmalhada. Em tempos de juventude o líder do seu respeito foi o grande Ho Chi Minh. Teve outros, entre eles Jesus antes de lhe adicionarem Cristo. Hoje admira o exemplo dado pelo grande uruguaio Pepe Mujica. Não professa nenhuma das religiões. Gosta de afirmar que a sua religião é o Bem Social. Foi praticante católico saindo pelo seu pé caminhando sem olhar para trás. Esteve à beira dos sem abrigo mas não deu o passo em frente. Resistiu às dificuldades. Desistir não está no seu dicionário. Teimoso continua na busca sonhando com a utopia. 

 

Direitos

Quando era jovem aprendeu com professores de Direito Civil, Direito Comercial e Direito Fiscal no velho Cortiço à Rua das Chagas que nas matérias acima dadas e estudadas, havia sempre duas interpretações, "a letra da lei" e o "espírito da lei" ou seja do legislador, abrindo-se assim um vasto leque de hipóteses na sua leitura e interpretação.

Há muito que não percebe, não entende para que serve um tal dia de reflexão, nesta coisa importante das eleições. Sempre se questionou se haverá alguém minimamente capaz de decidir por si própria, que nesse dia, sempre ao sábado, mude o sentido do seu voto domingueiro?

Agora com este tempo de guerra contra um vírus acentua-se o voto antecipado a quem assim deseje, isto é a prova de que o tal dia de reflexão é uma inutilidade política.

Ouve na rádio que o número de infectados é grande no país, implicando que o número de confinados seja na altura de exercer o dever cívico de votar muito grande.

Pensa com a sua sombra "os barões sem brasões" enganaram-se nas previsões quer de eleições antecipadas, quer na ajuda ao amigo partidário.

Pensa nisso quando ouve, na rádio, o Primeiro Ministro argumentar que o horário das eleições está na Lei e que só a Assembleia da República pode alterar a dita lei e esta como se sabe está em off. O argumento ouvido na rádio teria como base a letra ou o espírito da lei, ou agora nestes novos tempos de muitos saberes haverá mais interpretações sobre as mesmas? A sua sombra encolheu os ombros como sinal de não saber responder à dúvida.

Fecha o rádio. Antes de se deitar fala ainda com a sua sombra, porque não se utiliza o tal dia inútil de reflexão e se decide excecionalmente porque estamos nesta "guerra pandémica" alargar o dever cívico de votarmos ao fim de semana, reservando a tarde de domingo para os cidadãos confinados em casa pelo vírus que continua à solta por aí? A sua sombra ri-se ao ouvi-lo referir-se à "guerra pandémica" dizendo-lhe que é um lírico utópico, eles os "barões sem brasões" só conhecem as guerras das intrigas palacianas e nessas são mestres, quanto às outras guerras deixam a desejar pois são "barões sem brasões", homens de comendas palacianas e outros negócios.

Fechou a luz e virou-se para o outro lado, na certeza que se tudo correr normalmente dia 30 lá estará logo de manhã a exercer o dever cívico de votar.

 

22.01.19

Olha os livros em cima da mesa. Sempre leva livros quando vai para qualquer local, seja mais longe ou mais perto.

Olha-os com o sentimento de lhes pedir desculpa. Trouxe-nos, pô-los em cima da mesa mas ainda não lhes acariciou as páginas com os olhos, lendo-os. E, os dias estão a chegar ao fim. O regresso à cidade grande esta para breve.

 

Sonhar

 

Sonhar não paga imposto de circulação, nem está sujeito à incidência do IVA. Sonhar é pois um movimento, uma ação de Liberdade que tanto pode ser individual com coletiva.

As coisas que nos prometem

 

As coisas que nos prometem anotadas num caderninho dariam uma biblioteca.

Mas a vida não é feita de promessas.

Lá diz o ditado: - "fia-te na Virgem e não corras, logo vês o trambolhão que apanhas".

Depois, promessas leva-as o vento, que no tempo de agora sopra adverso à solidariedade, à fraternidade entre os cidadãos.

Andam todos entretidos

 

Andam todos entretidos. Todos prometem o paraíso sem custos. Os caminhos para alcançarmos o paraíso varia com as opções que os conselheiros do marketing político indicam aos líderes. A chuva não caça votos, segreda-lhe a sua sombra.

O País, este triste jardim à beira mar, aguarda pela chegada da chuva que tarda. Eles, tão entretidos em cantar ao vento as suas promessas eleitorais, nem dão conta do problema que irá condicionar o futuro.

O ambiente é visto como um novo negócio e nada mais. Quando falam do ambiente não o sentem, falam porque parece bem falar nas alterações climáticas, na transição energética (negócios chorudos), as quais podem dar vantagens em estudos de opinião, quantas vezes encomendados para o efeito.

Os papagaios avençados das televisões mal caem uns pingos falam logo em mau tempo. Metem-lhe nojo.

A chuva está a fazer tanta falta que já viu gado a comer palha por falta de pastagem, por falta da chuva. Mas este e outros problemas não serão analisados na campanha.

Propõe-se fazer a leitura dos programas de cada um dos partidos que prometem o paraíso. Lá terá que ler todos. Será que vai ter paciência para levar a cabo tão árdua tarefa?

22.01.18

 

São sete e ainda o escuro da madrugada permanece. Ligou a televisão num canal público. Ouviu excertos, frases acusatórias. Desligou que aquela não é a sua praia.

Trabalhou sempre no sector privado da economia, pelo que nunca sentiu a segurança do emprego (trabalho) fixo que existia no funcionalismo do Estado.

Participou na realização de muitos orçamentos anuais e quinquenais, assim como no reajustamento dos objetivos ao longo dos controles trimestrais.

Um ano na empresa farmacêutica onde trabalhava como diretor administrativo e financeiro face aos excelentes resultados do exercício reforçou por sua iniciativa uma das contas de "Provisões" existentes com um montante considerável para baixar o lucro líquido ao nível da previsão orçamentada. Os auditores não gostaram ameaçando colocar uma nota de ressalva no relatório de aprovação das contas. Apertaram-lhe os calos, mas a vida lá continuou, com a empresa a cumprir anualmente as suas previsões orçamentadas.

Dois meses depois da auditoria às contas, aparece-lhe o diretor de produção todo aflito. Uma máquina tinha dado o berro e a nova custava muito mais do que tinham previsto no plano de investimento, pelo que não tinha verba para a máquina e a produção corria o risco de trabalhar abaixo dos 50%. Disse-lhe para falar com o Diretor Geral porque havia uma solução. Foi chamado ao gabinete do DG para explicar que solução tinham para avançar com a compra da máquina, respondeu-lhe se ele se lembrava do aperto de calos que lhe tinham dado por causa de uma tal “provisão”, pois essa mesma conta tinha verba para a compra da máquina. No final foram almoçar os três.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

22.01.17

Habituou-se a levantar-se cedo. Raros são os dias em que dorme oito horas seguidas. Cinco ou seis horas seguidas são suficientes. Agora até usa um relógio no pulso que o informa do número de horas dormidas em sono profundo e em sono leve. A tecnologia ao serviço da informação. Depois, bem depois do almoço, seja verão ou inverno sabe-lhe bem uma pequena sesta. Sua mãe dizia que o filho tinha sono de gato. Quantas vezes no trabalho depois de almoço se sentava na casa de banho para uma sesta rápida fora de olhares indiscretos. É assim que acorda às cinco da manhã sem vontade de voltar a dormir. Neste mês de Janeiro, neste interior profundo e há muito abandonado à sua sorte, depois de se lavar decide sentar-se na cama para ler ou escrever. Na casa de banho já olhou as capas dos jornais, já olhou a rede dita social onde ainda permanece. Agora, sentado e agasalhado na cama que herdou dos seus avós e sempre o acompanhou, ouve o silêncio e pensa na vida, desembrulha memórias há muito guardadas, para voltar a embrulhá-las e arquivá-las de novo na gaveta de onde as retirou. De nada lhe serve pensar no que fez, no que deveria ter feito, no que teria sido se tivesse feito escolhas diferentes. O passado é passado, uma escola onde não se pode voltar atrás, onde as repetições estão ausentes por impossibilidade que não se discute, aceita-se e nada mais se pode do que trazê-la à memória ativa, para recordar o que fez; lembrar o que não deveria ter feito é perda de tempo e às vezes puro masoquismo. Na vida só há um sentido, seguir em frente até que a água seca no nosso corpo que o espírito já se foi para uma dimensão desconhecida dos nossos sentidos.

Gosta de ouvir as falas do silêncio. Assim como um dia na sua juventude o velho banheiro lhes ensinou a olhar o mar escutando o estado de espírito do deus Neptuno, também o silêncio tem suas falas que dependem muito do estado de espírito de Éolo, o deus do vento.

A sua amiga Sacha já quis ir lá para fora ver como acaba a luz noturna e começa a diurna. Tudo nesta manhã de segunda-feira é silêncio, calmo e sereno a aconselhar reflexão, embora já saiba quais as tarefas que terá de fazer neste dia no seu pequeno quintal. Irá podar as videiras. É a primeira vez que irá executar este trabalho. Depois preparar a terra para umas batatas. Manias que mantém porque sempre disse ao seu pai que não iria abandonar quer a casa quer o chão onde algumas oliveiras resistem à pobreza do terreno. De tal modo leva esse desígnio que daquele chão de oliveiras já leva um outro que foi do seu tio avô João Capelo e presta-se para ficar com um outro chão de oliveiras de seu primo e padrinho. E entre as ondas do silêncio pensa no que o seu pai diria se ainda por cá andasse. Ele que o conhecia melhor que ninguém ficaria admirado mas orgulhoso de certo. A vida é um mar de muitas ilusões e de muitas surpresas daí o podermos dizer que entre o bom e o menos bom tudo somado, a vida é bela. 

 

21.01.15a

 


As árvores autóctones já eram. Se quiser cortar uma azinheira que me está a dar cabo de um muro é complicado por ser espécie protegida, mas as inúmeras azinheiras e sobreiras puderam ser arrancadas, dizimadas pelos investidores estrangeiros da monocultura do amendoal. Para eles não há entraves burocráticos, é tudo facilidades, calças em baixo porque é tudo a Bem da Nação. Para o Zé cidadão português a coisa complica-se com as burocracias e dificuldades porque há leis e pareceres a cumprir dificultando a própria vida, como que incentivando à pratica da ilegalidade.


22.01.15

 


Tenho dias que penso estar a ficar louco com o que ouço ou vejo. Depois, ouço o riso da minha sombra. Procuro um espelho para me olhar, para certificar-me se ainda sou eu. Então eu e a minha sombra sorrimos num só sorriso. A loucura ainda não entrou no meu mundo mas anda a rondar, concluo.

Aos sábados gosto de ir ao talho comprar umas morcelas de assar e umas alheiras que são muito diferentes das que se vendem nos supermercados. Como o talho está no mercado municipal aproveito e passo pelos resistentes vendedores de frutas, hortaliças, queijos e outros, antes de ir ao talho.

Hoje ao entrar dei com o cartaz da figura e logo ouvi o riso da minha sombra. Depois vi aqueles aquecedores no corredor. Perguntei aos vendedores se tinham produtos bio à venda. Riram-se e informaram-me que não havia nenhum produto bio no mercado, assim como os aquecedores nunca os ligaram, pelo menos aos sábados.

No caminho de regresso parei na estrada para certificar-me de que a monocultura do amendoal usa tanto produto amigo do ambiente (outra mentira) que nem as ervas que crescem nos campos e à beira da estrada lá entram, não tem ambiente para poderem sobreviver aos químicos usados, já lá não há biodiversidade que lhes permita sobreviver. O mar de amendoal utiliza químicos tão amigos do ambiente que o Rio Aravil já não tem peixes, a biodiversidade aquática do mesmo já era no passado recente.

Vende o Município o slogan de "Bio Região". Vende e gasta recursos na promoção dessa ideia peregrina que depois vai-se ver e é só publicidade à boa maneira dos liberais mais liberais.

Por respeito aos meus amigos socialistas, contenho-me nos comentários. Ainda não estou louco de todo mas a revolta contra o estado em que se encontra o Município é grande, proporcional há extensão do mesmo.


22.01.14


Depois de uma noite bem dormida, levantei-me, tomei banho, olhei a temperatura que o telemóvel indicava para aquela hora e vi que já eram sete horas mas lá fora ainda o escuro da madrugada permanecia. Liguei a televisão num canal público. Ouço excertos, frases acusatórias. Desliguei. Bastou-me ver os comentários que os adeptos colocaram nas redes sociais enquanto o jogo corria e no final depois de terminado o combate. Vi que segundo uns ganhou o António Costa, segundo outros foi o Rui Rio que ganhou. Conclui, eu que não ouvi o debate-combate (nada tenho de pessoal contra os senhores), que devem ter ganho os dois, continuando eu com a minha dúvida: - Será que o país ganhou?

O que é que estes combates de frases pré-fabricadas, ditos pré – eleitorais, trouxeram de novo?

Nem o país nem a política enquanto arte das ideias, beneficiaram ou estarei enganado?

Basta ouvir pequenos excertos desses combates para se concluir que o jogo sério das ideias foi maltratado pelos intervenientes em confronto.

Mas, dia 30 temos o dever cívico de cidadania para expressarmos em voto o nosso sentir face às alternativas que se nos apresentam. 



22.01.13


 Votar não é só um direito. É antes de tudo um dever de educação cívica.

Irei votar mesmo sem ter dado um minuto de atenção aos políticos que aceitaram participar nos debates televisivos. Dez ou doze minutos não dá tempo de debater coisas sérias e importantes para o futuro, cada dia mais incerto. Mais uma vez os novos donos disto tudo impuseram a sua vontade aos políticos. Aos seus protegidos convinha esse intervalo de tempo para a arruaça, para as falsas promessas. Aos outros não restou outra alternativa senão participarem no confronto não de ideias mas de golpes, mentiras e promessas chamadas de populistas.

No dia 30 não iremos escolher diretamente um Primeiro Ministro, desenganem-se. No dia 30 iremos escolher os deputados dos partidos políticos para a Assembleia da República e nada mais diretamente.

No nosso sistema regido pela Constituição votamos diretamente para a eleição do Presidente da República, para a Assembleia da República e para os Órgãos das Autarquias. Nunca votamos diretamente num Primeiro Ministro.

A indigitação do Primeiro Ministro ao Presidente da República cabe à maioria parlamentar que exista na Assembleia da República e nunca diretamente pelo voto direto do cidadão. Foi assim que o político António Costa chegou a Primeiro Ministro, isto é, liderando o seu partido às eleições de presumível ganhador o PS perdeu as eleições, caiu no ringue do combate político e não sofreu KO porque outros partidos considerados por alguns de esquerda extremista e outros de esquerda caviar, num golpe de teatro mas constitucional face ao preceituado na Constituição, não só lhe deram a mão como confiaram que seria o PS melhor solução do que a neoliberal Aliança que tinha obtido mais votos sem maioria na eleição então ocorrida.

Mais uma vez, dia 30, todos os cenários são possíveis. Não nos faltam exemplos na nossa Europa de Governos de alianças e acordos partidários em que por vezes o Chefe do Governo não pertence ao partido político mais votado, antes resultante de acordos parlamentares.

O que estará em causa é a defesa do nosso pobre Estado Social e pouco mais. Que irá fazer o novo Governo com o SNS, com Educação Pública, com a CGD, com a TAP, com a CP, com a EFACEC, com a Exploração do Lítio etc etc.

Não nos faltam exemplos das aldrabices, das mentiras que nos impingiram com as privatizações da EDP, da REN, da GALP que privatizada nos asfixiam o nosso orçamento familiar; a privatização da PORTUGAL TELECOM que deixou de investir na investigação para em mercado de oligopólio com as outras duas empresas nos fornecerem as comunicações mais caras da Europa; o mesmo com a privatização dos CTT cuja privatização em nada contribuiu para melhorar a vida dos cidadãos. E muitos outros exemplos temos infelizmente da aplicação das teorias liberais e neoliberais que nos têm governado.

A Política é uma coisa séria que não se resume a discussão de tasca televisionada, nem pode ser analisada e discutida como se os partidos fossem clubes de futebol ou mesmo desportivos.

Nesta eleição do dia 30 podemos com o nosso voto em urna condicionar a escolha e indigitação que os deputados eleitos para a Assembleia da República irão fazer.

VOTAR é pois um dever, uma obrigação cívica de Liberdade.

22.01.12


Vim de longe mas não sei para onde irei. Andei por caminhos, veredas, estradas e ilusões para poder chegar aqui. Vejo tanta mentira andar à solta que me fecho no meu casulo solitário. A vida é e foi um mar de ilusões onde a verdade sempre andou escondida. Hoje continuam a vender-nos ilusões para que não pensemos nos porquês.

O Sol nasce dos lados da Extremadura cada dia um pouco mais ao lado. Também eu caminho um pouco mais ao lado. Para onde irei não sei. Mas sei que vou caminhando sem pressa porque o tempo é uma constante independente da pressa.


domingo, 9 de janeiro de 2022

22.01.09

Vírus. Sars-cov-2, Covid-19, Delta, Omicron e mais umas novas mutações nos são repetidamente anunciadas hora a hora, com o número de novos contágios quantificados, os números de internados hospitalares e em unidades de cuidados intensivos, assim como de falecidos sempre num tom de voz alarmista para impressionar e meter medo aos fieis que hora a hora os escutam sentados nos sofás. Todos estes números são esmiuçados a preceito por contratados avençados encartados, gente de muita opinião opinativa quase sempre condizente com os interesses do capital que lhes paga, seguindo-se depois as análises e críticas negativas dos costumeiros especialistas da área da saúde alguns alérgicos e outros inimigos do SNS público. Nos intervalos do hora a hora viral ou temos futebol com mais especialistas clubistas encartados sob a capa transparente, mas falsa, de independência clubística ou análises políticas de outros especialistas encartados e a preceito contratados pelos donos do capital envolvido nos tristes e maus órgãos de comunicação existentes cá no triste país que um dia sonhou ser um jardim à beira-mar criado pela mãe Natureza mas que há muito sofre de doença gananciosa destruidora de utopias e sonhos diferenciadores.

Este país não foi nem é para velhos já há muito que se sabe mas está ficando ruim para os mais novos que sonham com um outro futuro mais decente para viverem.

No meu pessimismo vejo jogos de futebol porque gosto da emoção que as peripécias do mesmo criam assim como da arte que alguns artistas desenham no relvado. Já não vejo nem ouço debates políticos e menos os debates eleitorais, assim como as análises político-eleitorais dos tais costumeiros, lá atrás referenciados, logo eu que gosto de uma boa conversa sobre política, recusando-me ouvir “politicos-vendedores-de-promessas” balizados pelos chavões do marketing político atual, insípido e inodoro qual banha da cobra vendida em supermercados de classe média alta, para o pobre crente acreditar que o senhor doutor vai fazer o que promete. Não vou por aí.

Não andando nesse carrossel da vida atual, chegam-me aos ouvidos frases e chavões de promessas populistas, de mentiras descaradas e outras que nunca irão ser implementadas pela atual classe política dominante ao centro uma vez que eles próprios já são produtos híbridos criados nas estufas partidárias implementadas após um longínquo vinte e cinco invernoso.


22.01.08

Sinto teus passos. Olho em redor buscando-te. Apenas vislumbro tua silhueta desfocada. Teus passos se afastam. Fica comigo a tua ausência. Ninguém sabe, ninguém nota. Nem tu saberás por certo. Ouço teus passos distantes. Já não há silhueta. Apenas a avenida dos nossos encontros permanece. 

 

quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

22.01.06

 


22.01.05 Antigos Combatentes

A pouco e pouco fui-me desligando dos grupos que no facebook se formam à volta dos antigos combatentes e outros que se designam de ex-combatentes. Desde sempre que considero que “antigos combatentes” é a designação correta, porque quem um dia foi combatente não mais pode dizer que não o foi.

Nunca concordei com a política que os diversos governos constitucionais tiveram para todos aqueles que um dia foram obrigados a combater na Índia, Angola, Guiné e Moçambique. Não que estivesse à espera de compensações monetárias, pois dinheiro nenhum paga o tempo de vida que me roubaram. A minha revolta sempre se prendeu com a falta de apoio por parte do Estado a todos os que pelas vicissitudes da guerra sofrem de stress pós-traumático de guerra e, depois de tantos anos da maldita guerra ter terminado ainda são aos milhares. A esta revolta foi-se juntando a outra, pela falta de apoio aos antigos combatentes sem abrigo que vagueiam pelas cidades e vilas, com tantas instalações militares do Estado desaproveitadas, semi-abandonadas. Gente humilde que merecia mais atenção.

Há uns anos um governo de coligação do centro-direira instituiu uma compensação monetária anual para todos os que tenham cumprido o serviço militar nesses territórios em guerra. Na minha companhia todos cumprimos o mesmo tempo de comissão nas mesmas zonas operacionais e alguns recebem os 150,0€ e outros menos do que esse valor. Dizíamos quando nos encontrávamos nos nossos almoços e falávamos destas diferenças que «eram contas à tropa». Agora, este Governo de esquerda-ao-centro lá vai cumprindo com o objetivo que enunciou aquando da sua formação, concedendo aos antigos combatentes ainda vivos algumas benesses em termos de taxas moderadoras e transportes públicos para agora nos dar este pequeno mas significativo pin de reconhecimento.

Quantos dos ainda antigos combatentes vivos das guerras da Índia, de Angola, da Guiné e de Moçambique não doariam a esmola dos 150 euros atualizados este ano, para um Fundo de Assistência aos Combatentes que viveram aquelas guerras e sofrem ainda hoje de stress pós-traumático de guerra, quer para os outros deficientes daquelas guerras? Fundo de Assistência cuja finalidade fosse a prestação da assistência médica devida aos antigos combatentes que ao longo do tempo têm sido simplesmente ignorados pelos Governos Constitucionais.

Quantos não doaríamos esse valor, que nos creditam na pensão de reforma ou de aposentação em Outubro, para um Fundo de Assistência aos Antigos Combatentes gerido de forma independente pela ADFA por exemplo, sem interferência alguma da Liga dos Combatentes, se o nosso Estado fosse uma pessoa de bem que tivesse a confiança dos antigos combatentes que decidissem contribuir para esse Fundo? Podendo o valor doado ser compensado na declaração anual de rendimentos.

E não havendo mais nada a declarar, aos costumes disse nada, ficando-me por aqui...


22.01.05


 Se nos descuidarmos a vida atropela-nos.

Foi a frase que ontem ouvi e gravei na memória. Frase dita por uma jovem numa cadeira de rodas que se recusa a ser deficiente porque apenas se sente diferente. Não anda como a maioria pois não tem pernas, mas esse facto apenas a faz diferente e não deficiente. Uma jovem com uma capacidade muito acima da média que lhe proporcionou ao longo da sua vida estar sempre à frente de muitos ditos normais. Completou o décimo segundo ano na vertente de história para depois ingressar no ISCTE em psicologia, sempre como melhor aluna. Ao apresentar-se na sua cadeira de rodas a concurso num banco foi discriminada pelos examinadores que subestimando-a a puseram a fazer inicialmente a prova de matemática quando todos os outros candidatos faziam prova de português, pensando eles que dessa forma a afastavam de imediato. Enganaram-se rotundamente. A jovem que apenas é diferente ficou em primeiro lugar entre os mais de mil candidatos que se submeteram às provas, sendo admitida. Foi mais tarde dispensada num dos despedimentos em massa que a instituição bancária efetuou. Não ouvi da sua boca qualquer palavra de despeito ou revolta pelo facto.

É a segunda vez que nos encontramos à mesa a bebermos um café numa grande superfície onde vem com o seu pai, meu amigo. Nas duas tardes em que passamos a falar não só das oliveiras, do azeite, dos problemas da agricultura do distante pobre e esquecido interior raiano, assim como dos problemas do país e da vida, nunca lhe ouvi uma palavra de desânimo, uma frase de pensamento menos positivo sobre as dificuldades que a vida lhe coloca pela frente pelo facto de ela ser diferente fisicamente pois que mentalmente o seu pensamento está sempre à frente do nosso. Para acabar estas palavras recordo o ela me dizer que nós para fazermos ou realizarmos uma tarefa apenas pensamos numa forma simples para a realizarmos enquanto que ela para a realização dessa mesma tarefa pensa logo em duas, três ou quatro alternativas para a sua realização.

Despedimo-nos. Eles foram às compras no supermercado e eu voltei a pé para casa pensando nos porquês desta existência, nas injustiças deste sistema, procurando abafar a revolta que crescia dentro do peito.

Sei que não vou ouvir nenhum dos debates televisivos entre os políticos candidatos à Assembleia da República. Raros serão os momentos em que falarão a verdade que gostaria de os ouvir debater.

Irei votar consciente do valor do meu voto, mas não dou tempo de antena a estes curtos episódios de discussão em doze minutos que o poder dos OCS dá aos partidos políticos. Basta-me olhar para os moderadores para de imediato desligar.

Não foi para isto que aos dezoito anos entrei na política participando nos comícios mais da Comissão Eleitoral de Unidade Democrática do que da Comissão Democrática Eleitoral. Não foi para isto que nesse tempo pela calada da noite distribuímos pelas caixas de correio nos Olivais os boletins de voto daquelas forças políticas que se opunham ao regime de ditadura asfixiante da Acção Nacional Popular ex União Nacional. Irei exercer o meu voto consciente, é esse o meu desejo e a minha vontade.

Depois, irei continuar a andar na outra margem da vida na travessia do deserto, mais consciente que nunca que não há Democracia sem a existência livre de partidos políticos. Os mais novos não conheceram felizmente os tempos negros e miseráveis da ditadura salazarista. Muitos das gerações mais velhas podem-se recordar desses tempos de quarenta e oito anos, mas, o atraso económico e social do nosso país tem as suas raízes muito mais profundas. Quarenta e oito anos do regime de Salazar-Caetano é uma gota comparado com os anos que durou no país a ditadura fanática da Inquisição (de 23 de Maio de 1563 a 31 de Março de 1821) com os «irmãos» do Santo Ofício em exercício e para os quais só existia a presunção de culpabilidades sempre que alguém era denunciado, fosse o acusado judeu sefardita, cristão-novo ou outro ser humano desde que tivessem a ousadia de pensar e olhar a vida de modo diferente dos preceitos instituídos pela organização religiosa que dominava quer o clero quer grande parte da nobreza desses tempos. O Marques de Pombal decretou o fim da Inquisição mas a bufaria, o mal dizer ou mais recentemente o prender primeiro acusando antes de interrogar, tem raízes históricas muito profundas as quais ainda perduram no ADN de muitos.

Irei votar mas vou continuar qual ovelha ranhosa tresmalhada a ler e a estudar a história que nunca nos contaram nem o poder atual tem coragem de enfrentar, preferindo apresentar-se em Bruxelas como um dia a nobreza monárquica o fez perante Castela, apenas os tempos e as condições objetivas e subjetivas são diferentes das de então.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

22.01.01


 

E o dia mudou o ano, só isso nada mais que isso.

Tudo o que nos mostram de festas e celebrações não passam de criadas ilusões transferidas e empurradas com a barriga para a frente, para o futuro que a cada dia está ficando mais incerto do que sempre foi.

Neste 2022 que agora se inicia o ser humano continuará a ser o que tem sido ao longo da sua existência, pouco ou nada irá mudar na sua atuação, mantendo-se vivos e atuantes os designados sete pecados – gula, ganância(avareza), luxúria, ira, inveja, preguiça e vaidade. O sistema criado pelo designado capitalismo civilizado continuará com os seu objetivos de gula e de ganância crescente a agravar as condições de vida de milhões de seres humanos. Os políticos de todas as tendências ideológicas irão continuar a fazer promessas que sabem não irão cumprir. Todos irão prometer criar novas oportunidades, novos postos de trabalho para depois na prática facilitarem não só os despedimentos coletivos como legislarem favorecendo sempre os desígnios do capital. Todos irão prometer lutar contra a pobreza para na prática se curvarem baixando as calças aos poderosos sem rosto nem alma que controlam o mundo financeiro. Mesmo o Papa Francisco irá continuar solitário a pregar ao mundo mensagens humanistas, que a exemplo da sua própria Igreja os outros poderosos farão “ouvidos moucos” às suas mensagens humanistas de amor ao próximo.

Por tudo isto 2022 não irá ainda ser um ano onde a felicidade seja a eterna companhia de todos os cidadãos. Só por respeito aos que se iludem desejando um «Feliz Novo Ano» respondo com um «Bom ano 2022».

Há uma semana celebrou-se a presumível data do nascimento de Jesus para ao longo da história os homens criarem não só a religião cristã como outras histórias à volta da sua personagem. Religião que visa à submissão dos crentes pelo medo do pecado e pela fé da salvação eterna, conseguindo com a sua difusão e imposição criar tal poder à volta da imagem de Jesus Cristo e não apenas de Jesus, que durante séculos lhes deu o domínio sobre os habitantes da Terra. Depois, talvez mais pela inveja que fomentavam entre si, foram-se zangando, separando, divorciando, criando com essas zangas e divórcios o universo das muitas igrejas cristãs que hoje existem em acérrima luta pela sobrevivência e ou manutenção do poder e mordomias que usufruem no seio das sociedades.

Ontem celebrou-se a passagem de ano que nada parece ter de religioso mas que no fundo da sua essência, no porquê da sua existência, está representada em êxtase coletivo a celebração da religião consumista, atualizada pelo sistema atual do capitalismo civilizado, sem que a mesma necessite da identificação de uma personalidade para a sua realização e propagação por todos os cantos da Terra.

Na verdade, o nosso ano muda quando celebramos o dia abençoado do nosso nascimento e não de 31 de Dezembro para 1 de Janeiro.

Pela vida difícil mas honesta que vivemos nas aldeias onde crescemos, esta celebração da passagem de ano pouco significado teve na existência da nossa família a quatro e às vezes a três quando o meu pai estava de serviço. Contando e levando com setenta e uma mudanças de calendário nesta minha viagem pela vida, foram muito mais as vezes que no momento do êxtase coletivo, no momento da mudança do calendário gregoriano já eu me encontrava a viajar nos braços de Morfeu, num descansar do corpo e de cérebro onde por vezes os sonhos abrem gavetas que viram pesadelos.

São sete da manhã levando já hora e meia de acordado e, como a minha amiga vive mais em função do horário solar do que de calendários para humanos se organizarem, lá vamos mais ou menos à mesma hora dar a nossa volta habitual, dando assim início às rotinas habituais deste dia 1 de Janeiro. Rotinas que são também elas parte da nova vida de todos os dias do ano com poucas variações.

Que título irei dar aos escritos que irei escrever em 2022 que agora já começou? é o que vou procurar encontrar durante o passeio deste primeiro dia do ano de vinte vinte e dois de século vinte e um em plena mutação pandémica «sars-cov-2» que um dia viajou de avião desde a China com passaporte «covid-19» para nos atormentar a vida.

Em 21 comecei mas em 22 terminei






 (começado em 2021)

A Política e o Estado.

Os políticos e os funcionários públicos do Estado. Fui funcionário do Estado apenas e só durante trinta e nove meses que foi o tempo em que cumpri o serviço militar obrigatório.

A estratégia política implementada pelas forças políticas ao longo dos anos após 25 de Abril, ao procurarem anular o Estado corporativista de Salazar e Caetano não só não o destruíram como abriram caminho à desresponsabilização do próprio Estado.

Os partidos políticos que nos têm governado quer no poder central quer nas autarquias (pequenos poderes) criaram um máquina trituradora que em muitos casos se pode identificar como um "super aspirador de alta voltagem" dos recursos gerados pela fraca economia quer no país como um todo, quer nas regiões onde o "pequeno poder" se afirmou como máquina empregadora de familiares, militantes, simpatizantes, conhecidos amigos e afilhados. Em muitas das autarquias do país a população diminuiu mas "o pequeno poder" instalado não para de aumentar o número dos seus empregados funcionários para a manutenção da sua importância eleitoral, assim como do próprio ego presidencial que tantas vezes se julgam acima da Lei. Neste "pequeno poder" estão representadas todas as formações políticas que conhecemos com representatividade eleitoral e regional. As exceções são isso mesmo, exceções e raras.

Contudo, a maior responsabilidade no estado a que o Estado chegou tem nos políticos do poder central PS, PSD e CDS os grandes obreiros da desresponsabilidade do próprio Estado perante os anónimos cidadãos contribuintes.

Já perdi o conto aos governos que paulatinamente depois de eleitos nos apresentam planos e projetos para diminuição do número de funcionários, como se fossem os funcionários os únicos culpados do estado em que o nosso Estado se encontra. Para implementação desses planos-promessas os que nos governam arranjam processos vários para forçar a saída de funcionários do quadro, quase sempre os mais incómodos ou de mais fracos rendimentos sem olharem à importância que as suas tarefas tem no seio da sociedade, porque o que lhes interessa é a obtenção de rácios para Bruxelas aplaudir, exigindo os liberais de lá, sempre mais e mais rácios que representam mais e mais cortes na pobre estrutura do nosso pobre Estado Social. Saem da estrutura funcionários que se cansaram do desrespeito político pelo seu trabalho ao mesmo tempo que Ministros, Secretários de Estado e Diretores-Gerais de nomeação política, vão admitindo sob o designado “recibo verde” e ou através das famigeradas empresas de trabalho temporário, os seus familiares, amigos e conhecidos políticos, muitas vezes sem curriculum nem experiência com remunerações contratuais ofensivas para os outros funcionários públicos que levam anos de trabalho não só de saber fazer como de saber decidir sem que a sua situação seja revista. Diminuem os funcionários do Estado mas aumenta a despesas com o pessoal sem que os funcionários que resistem tenham a sua situação remuneratória revista. Tudo pela via dos contratados familiares, amigos e jovens das estruturas das juventudes partidárias.

A célebre "cunha" da pequena corrupção salazarista transversal ao Estado Corporativista de Salazar-Caetano como que se democratizou e qual vírus infeccioso continua a expandir-se em progressão geométrica nas estruturas do sector público e empresarial do Estado, tomando várias formas, consoante os políticos que nos têm governado, sempre com palavras redondas de novos planos de múltiplas saídas e de tristes resultados.

Felizmente, quer na Saúde pública , quer na Educação pública e em todos os Organismos do Estado, ainda há muitos excelentes funcionários que indiferentes às asneiras, às injustiças, às sacanices cometidas pelos governantes e seus nomeados agentes, continuam zelosamente a exercer a sua função de funcionários públicos para bem dos cidadãos em geral.

Paulatinamente os partidos que nos têm governado depois do vitorioso vinte e cinco invernoso, criaram a máquina infernal que hoje usufruímos, que há muito deixou de respeitar os cidadãos para agora obrigarem os mesmos cidadãos a recorrerem à frieza da tecnologia de informação quando necessitamos de esclarecer alguma dúvida, algum assunto. Se ainda há bem pouco tempo quando nos dirigíamos a uma repartição publica na esperança de resolver um problema, saíamos de lá sem o problema resolvido e com mais dois ou três problemas, agora por vezes só nos resta a solução de dar um murro no telemóvel ou no tablete ou um pontapé no computador acompanhado de um chorrilho de nomes aos filhos da outra que com paleio de puta nos convencem que defendem o Estado Social modelo Europeu e nos põem possessos a olhar para ecrãs tão frios que só criam revolta.