segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Vazio



Estou cansado e triste de já não te ouvir mais
Estes dias, assim como em alguns domingos, dou comigo a olhar o telemóvel na esperança de que o teu nome apareça
Eu sei que não é possível, andas numa outra dimensão
Mas, que hei-de eu fazer, pai?
Não é só saudade, é bastante mais do que isso
É um vazio que ficou, uma ausência que nunca se preencherá
Apenas quando estou na nossa casa, tudo parece mais leve
Sei que é ilusão, que a ausência perdura, mas o vazio por ser mais leve, é menos vazio

Medo


O turbilhão das ideias na mente não me deixa descansar. A realidade é o que é,, não só me impede de programar planos e ideias, como me deixa ansioso, desgostoso com a vida.
Falaram-me de tudo ou de quase tudo, pois não me disseram, não me falaram do que era ou poderia ser o pós operatório depois da retirada da algália.
Logo eu, crítico de muitos estados depressivos, sinto-me com um ou se calhar os dois pés dentro da malvada depressão. Não gosto deste estádio da vida. Não gosto e tenho medo.

Talvez


Talvez tenha abusado nos dias que antecederam o Natal.
As prendas estavam decididas, para os homens uma garrafa de um vinho reserva ribatejano, daqueles que não frequentam as prateleiras dos supermercados; para as mulheres o mesmo livro quase para todas, adquirido via net, mas porque gosto de andar pelas livrarias, escolho o levantamento em loja, assim vou vendo e cheirando as tendências editoriais. Dos livros expostos como líderes de vendas, nem um me chamou a atenção, tudo ou quase tudo sem interesse para a minha maneira de olhar a vida. Levantei os livros para oferecer na noite de Natal e os que comprei para me oferecer a mim próprio.
O livro deste Natal foi “Mãe, promete-me que lês” de Luís Osório. Como também me ofereci um a mim, estou contente com a prenda que distribui.
O cansaço, o possível abuso das condições físicas ficou a dever-se à busca da última prenda para a neta mais velha. Percorri as centrais e catedrais de consumo da cidade em busca da prenda, mas estava esgotada. Quando cheguei a casa cansado e dorido, lá a comprei via net pois diziam estar disponível no armazém “virtual”.
Agora é esperar que os correios cumpram a sua função de a mesma me chegar antes do dia 6 de Janeiro, o dia que segundo a lenda bíblica os Reis Magos chegaram a Belém com as suas ofertas para o Menino Jesus.
O cansaço trata-se com descanso, já a maneira como os Correios estão a funcionar, não sei se terão alguma terapia que não seja radical e forte.

domingo, 30 de dezembro de 2018

Novos romeiros


Ontem uns, hoje outros. Vão ou estão todos em romaria. Romaria não de graças mas de reivindicações. Seguem-se uns aos outros, todos levando aos ombros os andores das reivindicações por mais dinheirinho.
Os grevistas transformados em romeiros, acordaram com as notícias que relatavam a melhoria das condições económicas do país. Eles querem lá saber do aumento da dívida publica, dos juros que a mesma divida carrega sobre as costas de todos. Vão em romaria, seguem-se aos outros, rezando as suas palavras de ordem.
Quando “o mal” os asfixiava, apertando-lhes os garganetes e os ditos testículos, curvaram-se com as mãos entre pernas, perante os «mandantes» dos senhores poderosos do capital. Nada disseram que se ouvisse. Nenhuma romaria foi efectuada a Belém. Não esgrimiram as suas armas contra a asfixia troikana.
Curvaram-se perante a homilia de que tudo era em nome de «A Bem da Nação, Nada Contra a Nação».
Os grevistas de hoje, qual exercito ordeiro de ontem, querem tudo; os direitos que esqueceram ontem, as lutas que guardaram na gaveta dos fundos, são hoje a oportunidade única; os direitos esquecidos em banho-maria querem-os hoje com correção monetária, porque eles, todos, têm os seus direitos consignados na Lei.
Ontem uns, hoje outros,e amanhã novos se seguirão. Que linda romaria vai neste país…

Natal_18


Nesta noite de 24 todas as iguarias tem lugar à mesa que se enchem repletas de comidas tradicionais e não tradicionais. As muitas conversas cruzam-se e perdem-se com o que as televisões dizem. Alheio as televisões e às conversas que andam no ar, fica em conversa com a sua sombra num diálogo mudo, que ninguém os ouve: “- como hoje o Natal é a negação completa do Natal da minha meninice”.
Já durante a tarde o aparelho de rádio ia tocando músicas de Natal de um cd com vários anos. Desligou-o. Ficou só nos afazeres das suas iguarias, relembrando os Natais da juventude e falando agora com a mãe ausente, ouvindo-a cantar enquanto amassava as filhoses, que afinal eram coscorões,
Oh meu menino Jesus
Oh meu menino tão belo
Quando vieste nascer
Na noite do caramelo”
Depois enquanto estendia a massa e controlava a fritura, cabendo-nos a nós, filhos, o colocarmos as mesmas nas travessas depois de as passarmos pela mistura do açúcar com canela,
Entrai pastores entrai
Por esse portal adentro
Vinde adorar o Menino
No seu santo nascimento”
Quantas noites de Natal passamos apenas os três, já que calhava ao pai ficar de plantão no posto da guarda fiscal. Mas fossemos os três ou o quatro o dia passava-se à volta das tais filhoses. Tu mãe, sempre risonha ia-nos ensinando a cantar ao Menino Jesus como na tua terra, na outra fronteira distante aprendeste quer dos avós, quer das celebrações religiosas que por lá se faziam. E a uma quadra outra se seguia,
Entrai pastores entrai
Por esse portal sagrado
Vinde adorar o Menino
Numas palhinhas deitado”
E, muitas outras contavas, mas que a minha memória não as encontra no baú do inconsciente.
No final, o jantar simples das batatas cozidas, com a couve portuguesa e o bacalhau suficiente para os quatro, e, para com o bacalhau que sobrava fazeres uns deliciosos pasteis de bacalhau. Como estávamos nas férias de Natal, ou líamos algum livro, que nesse tempo televisão só existia num café lá6 na aldeia, colocávamos o sapatinho ao pé da chaminé para no dia seguinte de manhã termos lá uma ou outra peça de roupa nova para vestirmos e irmos à missa.
Tudo era simples mãe.
Mesmo nos últimos anos, depois de sofreres o malfadado avc, nunca deixaste de ir cantando ao teu Menino Jesus, quando te ia buscar para passarem o Natal na minha casa. Sabendo disso, preparavas tudo para que cumprindo o que me ensinavas, amassar as filhoses, e, depois de levedar estendia a massa e cortava as filhoses, contigo a meteres a mão esquerda na massa para te aperceber do ponto, já que a direita ficou inválida com malfadado avc. Ao lume da lareira, a velha frigideira com a azeite quente recebia os coscorões, ficando a fritura dos mesmo sob o olhar atento do pai. No final dividiam-se as filhoses pelas travessas de acordo com o que decidias, umas para dividir por primas e vizinhas, outro para o mano, outra para trazermos e algumas para vocês comerem depois ao pequeno almoço migadas no café.
Enquanto tudo isto acontecia, sempre ias cantando ao Menino Jesus,

Agora mãe, quase nada se faz, tudo se compra. Os adultos dizem às crianças “Olha o que o Pai Natal te deu, ou te trouxe”. O tal Menino Jesus está fora de moda ou em extinção precoce. A Multinacional da Coca-Cola ganhou a guerra aos ultra-conservadores da Cúria Romana. Bem pode pregar o Papa Francisco, dissertar sobre as virtudes da humildade, sobre os malefícios sociais do consumismo exagerado, poucos mesmo na sua igreja o ouvem e seguem.
O Menino Jesus que tu cantavas e que um dia terá nascido em Belém na Judeia, cuja história é escrita na Bíblia cem anos depois, para dar origem ao nascimento dos cristãos, e daí à mais poderosa organização religiosa existente, parece estar a atravessar momentos difíceis...mãe!

Religião


É Natal, época mística. Segundo a lenda contada na bíblia, em Belém lá na Judéia, terá nascido um menino de sua graça Jesus. Nasceu pobre e humildemente, filho de refugiados, embora fosse agraciado dias depois com as oferendas de uns tais Reis Magos.
Pouco se sabe como cresceu, se aprendeu a ler, por onde andou. Quando voltou a ser notícia nos relatos bíblicos, era já adulto fazendo milagres como antecâmara da sua morte. Contudo, a possível luta ao lado dos desprotegidos contra a opulência dos ricos fariseus e ocupantes romanos é ignorada.
Naquele tempo, os povos da Judeia, da Galileia que habitavam a terra hoje denominada Palestina, eram oprimidos pelo ocupante romano. É possível, segundo investigadores, que o homem, Jesus, enfrentasse os ricos e religiosos fariseus sendo por eles, e pelas autoridades romana, visto como um ser humano perigoso, já que com a sua palavra, as suas acções, arrastava consigo multidões indefesas.
A sua morte, a ocorrer numa santa aliança entre o opressor ocupante, os romanos, e os ricos fariseus, dá origem ao nascimento da religião cristã, criando-se a imagem bíblica de Jesus Cristo, a qual virá a dominar a vida no Continente Europeu. Durante séculos o Vaticano em Roma exerceu poder secular, reconhecendo Reis e Países, distribuindo benesses a todos aqueles que lutassem e matassem os seus inimigos, fossem eles mouros, judeus (Inquisição, Santo Ofício) ou simples intelectuais e cientistas que perfilhassem ideias que podiam pôr em causa a noção de poder que tinham alcançado com a sua doutrina religiosa.

Aniversário


Naquele final de mil novecentos e cinquenta, o Natal chegou mais cedo ao quarto que o jovem casal beirão, emigrado na cidade, tinham alugado. Pouco faltava para as oito da manhã quando o pai chegou ao local de trabalho em Cabo Ruivo e já lá estava a notícia que no quarto do número 25 lhe tinha nascido outro rapaz. Tinham começado esse ano com o nascimento do primeiro filho e acabavam o ano a festejar o nascimento do segundo.
Não me lembro de ter nascido, o que sei foi por intermédio de minha mãe e de meu pai.
Assim nasci e fui crescendo naquela rua, que ainda hoje resiste ao assalto imobiliário. Aos cinco anos mais mês menos mês estive com a “mortalha” feita, mas a penicilina me salvou, não era ainda a minha hora. Iniciei a escola com seis anos, apanhei muitas reguadas porque não escrevia direito no caderno de duas linhas. Quando um dia me levaram à Feira Popular criei problemas aos meus pais, deu-me vontade de fazer xixi e fi-lo na fotografia do Salazar que estava exposta no chão do stand. No Baleal aprendi a nadar à cão, e porque gostava se saltar das rochas em mergulho, virei o “bucho”, sendo tratado por uma velhota que morava em Ferrel salvo erro nos Leões. Sofri vários acidentes de bicicleta a caminho da Escola em Peniche, quase todos por maluquice minha. Assim fui crescendo entre a Escola, o mar, as dunas, o campo e o saber dos livros.
Dos anos que marcaram este dia um se destaca de todos os outros. O de 1972, o dia em que fazia 22 anos no dia 22. O dia em que viajei com a 2ª Companhia de Caçadores 5010, de Nova Lisboa para o Mumbué lá no centro leste de Angola. A paisagem, as vilas por onde passámos, os gentios dos quimbos à beira da estrada, tudo era uma interrogação, um desconhecido profundo, com as mãos fixas naquela que seria durante dois anos a minha companheira de vida, a G3 que me distribuíram no Grafanil em Luanda. Chegamos quase à hora do crepúsculo mas ainda dia. Arrumado o pelotão na caserna que lhe foi destinada, sentei-me na minha mala, olhando atónito para a festa que soldados, furriéis,e oficiais faziam pela nossa chegada. A alegria louca de uns era a interrogação e o medo dos “maçaricos” acabados de chegar para os rendermos. Ali, sentado no meio do nada, rodeado pela loucura em festa, pensava na minha mãe, no meu pai, de quem não tivera a coragem de me despedir. Ali fiquei sentado de lágrimas nos olhos, G3 entre as mãos, com o pensamento muito longe, sem compreender o que fazia eu ali. Alguém me procurou, já não me lembro quem foi, e ajudou a levar as coisas para o quarto que os quatro alferes dividíamos. Ninguém ali a não ser eu próprio sabia que naquele dia 22, fazia os meus 22 anos. Uma idade bonita para festejar com meus pais e irmão, mas estava ali só no meio daquela festa que não era minha, embora fosse uma festa justa para todos aqueles também jovens que fomos render.
Hoje, olho e lembro tudo o que a memória guardou, o bem que fiz, mas também o mal e a dor que causei nos outros.
Já não vou fazer tantos anos como fiz até hoje. Entrei na recta final, desejando que a mesma seja um caminho longo, para o ir percorrendo com alguma qualidade de vida, de modo a poder dar o meu contributo singelo por uma sociedade mais decente, mais humana e solidária, menos consumista, do que aquela que felizmente temos hoje, pois tanto nos custou chegarmos até aqui.
Para todos Boas Festas. Um Bom Natal, e um Bom Ano que o meu Ano Novo começa hoje!!

Amarelos


E a palavra de ordem é ‘Vamos parar Portugal”.
Assim como o direito à greve está consignado na Constituição, também o direito à manifestação está consignado na democracia, porque é inerente à liberdade de expressão, que só a democracia garante a todos os cidadãos.
As reivindicações apresentadas pelos “indignados amarelos”, são aquilo que todos queríamos, isto é, menos impostos, salários e pensões mais altas etc. etc..
Mas por detrás destas questões não nos dizem os organizadores e manifestantes que tipo de sociedade querem e defendem para colocar em prática, aqui que dizem defender, aquilo que reivindicam. Como não os vejo a defenderem a anarquia, que tipo de sociedade organizada defendem?
As convocações para manifestações colectivas têm sempre uns organizadores, que pelas redes sociais tornam mais fácil o anonimato. Mas não fosse a publicidade ao acontecimento dado por todos os canais televisivos ditos de informação, quantos estariam hoje a manifestarem-se de amarelo tentando fazer piquetes para o bloqueio das estadas que dão acesso às cidades?
Falar mal e atacar os políticos em democracia é fácil e populista, caindo e soando bem a muitos cidadãos,mas que organização política propõem os “indignados amarelos”? Em 2019 há eleições quer para o Parlamento Europeu, quer para o nosso Parlamento Democrático, podendo aí os “indignados amarelos” exprimirem o seu descontentamento democraticamente com vista a alcançar os seus objectivos políticos, já que apoio televisivo não lhes tem faltado.
Mas, nesta manhã de nevoeiro o D. Sebastião não irá ressuscitar em Santa Comba Dão!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Caminhos


Há muito que não te vejo
Vagueio entre muros de silêncio, autoestradas corridas
Na busca de te encontrar
Por andarás tu?
Que caminhos estarás percorrendo?
Tantas são as interrogações, mais do que as dúvidas e incertezas


Alfinetes


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Estamos na época do Natal, isto é,, no mês de todos os consumos, discursos e outras hipocrisias sociais. O homem botou discurso, lendo aquilo que um assessor mais ou menos conhecido, menos ou mais letrado, lhe costuma facultar para lhe facilitar o discurso oficial. Logo o homem poderia ter saltado por cima de algumas linhas de alfinetes, mas não. Demonstrando ou querendo demonstrar uma unanimidade em volta da sua própria sombra, o homem leu todas as palavras, mesmo aquelas que não fazendo jus à época natalícia podem alimentar o amor dos seus seguidores.
Não terá sido contudo, o homem que leu o discurso, o principal responsável pelas ditas ou pretensiosas alfinetadas a uma outra organização rival. Não é que o autor, pretensamente letrado, se esqueceu, ou não se esqueceu e pretendeu passar um daqueles panos que dizem limpar todas as nódoas, mesmo as mais difíceis?

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Fanáticos


Na outra noite apanhei um susto ao deparar-me com uma burra a falar na televisão.
Hoje, andava eu na rua com a minha amiga ouvindo o relato do jogo do FCP para a liga dos campeões europeus, quando no final do jogo a rádio dava como “notícia de última hora” o tiroteio em Estrasburgo num mercado de Natal. São nove e meia, já jantei e vejo que ainda há “fanáticos” televisivos a darem imagens e a fazerem dissertações entusiásticas, sobre mais um acto tresloucado de um outro tipo de fanático, que desta forma tresloucada e violenta acredita que os “infiéis” se irão converter naquilo que para si é o bem e talvez a salvação das almas.
Procuro alternativas e encontro em Freitas do Amaral a alternativa a dissertar sobre os possíveis cenários do divórcio anunciado entre o Reino Unido (cada dia mais dividido) e os Eurocratas de Bruxelas.
Recosto-me no sofá, fecho os olhos e dormito a pensar no fanatismo que grassa na sociedade do século XXI, nos porquês, causas e consequências. Desta forma fui adormecendo sem fanatismos, para uma noite mal dormida.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Olho-te

Olho-te
Apetece-me abraçar-te
Abro os braços e recebo-te
Encaixados no abraço
Sentindo o teu calor
Fico a pensar na vida

Porque não nos conhecemos enquanto jovens
Porque foi a vida tão ingrata para nós

Que mal fizemos para que nos conhecêssemos tão tarde
Amantes incompletos, proibidos

Que no abraço tardio se sentem unidos


Futebol


O negócio do futebol é uma bolha que quando der o berro, não vai haver dinheiro limpo para salvar a banca das imparidades.
Até lá discutimos, quase sempre como fanáticos, mais os erros dos árbitros no campo, e na célebre salinha no Jamor, do que o futebol propriamente dito.
Foram precisas duas jornadas para que em dois jogos com as equipas maiores do nosso futebol o triste espectáculo chamasse para cima da mesa, a discussão do templo útil de jogo jogado em Portugal. Penso eu de que, se no futebol português o relógio contasse o tempo útil, quer o jogo do Bessa, quer do Bonfim, seriam precisas umas boas horas de jogo para se chegar aos 90 minutos.
Esta situação vem de longe e pretende-se com a própria organização do futebol quer do altamente profissional quer do futebol amador-profissional. Culpados existem, mais do que os jogadores serão os treinadores, e estruturas clubísticas que sem meios para a disputa leal e aberta dos seus jogadores, fomentam e cultivam a falta, e a sua simulação, para desse modo interromperem o maior poder técnico-táctico e individual do adversário. Depois lá estão os comentadores oficiais, e oficiosos, encartados ou não, dos chamados grandes, para falarem de tudo menos do futebol.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

A velhice é um posto


Preparava-me para jantar quando ouço um dirigente sindical justificar na sua opinião a justeza da greve em curso. Queixava-se o dito sindicalista que há colegas de profissão que há dez anos estão no mesmo escalão.
Quer dizer, na função pública continuam a existir vícios e pensamentos que há muito deveriam estar enterrados. Vícios e pensamentos corporativos que dirigentes sindicais assumem como um dos motivos para uma greve de luta.
Lembro-me do meu pai, que quando jovem queria ser agricultor, mas vicissitudes da vida o trouxeram como praça para a extinta Guarda Fiscal, sujeitando às regras para-militares da organização enquadrada no Ministério das Finanças. Para poder evoluir, nas horas vagas do serviço estudava para todos os anos se submeter a exame por forma a subir na escala hierárquica. Na lista oficial final desses exames nunca figurava em lugar de promoção. Foi sempre a exame com o saber dos seus estudos, sem notas por debaixo da mesa. Depois do 25 de Abril, o irmão Chico, meu tio, colocado no Comando Geral, teve acesso às listas dos ditos concursos e na lista após-exames meu pai nunca figurava abaixo do quinto classificado, mas oficialmente havia outras notas bem mais interessantes. Tempo «das públicas virtudes brancos costumes».
Outra situação passou-se comigo. No serviço militar fui colocado em Chaves no então BC10 para dar instrução como Aspirante. Por razões que desconheço fui colocado como adjunto do Oficial de Operações. Para poder cumprir os preceitos de promoção a Alferes fui um dia fazer uns dias de campo numa das serras que circulam a cidade. O Comandante da Base um dia chamou-me e deu-me a ordem de por alguns soldados a ajudarem o cozinheiro a descascar as batatas. Dirigi-me com os galões nos ombros a uns soldados que se encontravam deitados a. apanharem sol, que o tempo ainda era freso. Um desses soldados olhou-me sem se levantar e perguntou-me se eu sabia quantos meses tinham de tropa ou quantos dias lhes faltavam para a “peluda” (termo que designava a disponibilidade, o fim do serviço militar), apontando de seguida para um outro grupo dizendo-me que os outros eram “maçaricos” e bons para fazerem o trabalho, continuando todos deitados indiferentes. O capitão que comandava a base observava a cena, chamou-me e disse-me “ O Aspirante Andrade não sabe que no serviço militar a velhice é um posto? Ponha os outros na cozinha a ajudar”. Isto passou-se em 1972, depois disso existiu o 25 de Abril em 1974, mas em 2018 ainda há nas estruturas de funcionários públicos e dirigentes sindicais que acham que “a velhice é um posto”.
Grevistas quase todos a reclamarem por revisões de carreira, isto é, mais dinheiro de forma automática porque a velhice continua um posto! mas, nenhum a reivindicar melhores mais justas e difíceis avaliações a fim de dignificar a função que desempenham. Porque?
Depois, dizem os políticos, e dizemos todos nós que merecemos e queremos melhor e mais eficiente Estado, mas será que com pensamentos destes vamos algum dia ter melhores serviços do Estado à comunidade?

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Cansado, farto, desiludido


Não sou contra a lei da greve. Não sou contra a lei do aborto. Não sou contra a lei do casamento homossexual. Procuro, às vezes com sacrifício, não me tornar fanático nestas e em outras questões. Nunca fiz greve, nunca provoquei um aborto, nunca fui a um casamento de homossexuais.

Eram seis da manhã quando me levantei para me preparar e antes de sair para a rua, colocar a minha amiga a andar na passadeira de modo a que ela possa queimar alguma da sua energia, fazendo depois um passeio mais calmo. Enquanto ela caminhava, a televisão ia dando as notícias que passavam da greve dos guardas prisionais, à greve dos funcionários judiciais, davam um salto à greve dos técnicos diagnóstico terapêuticos, seguindo depois para o tempo de antena do quase eterno líder dos professores afectos à fenprof a ameaçar novas formas de luta, e voltada a página, o anúncio da greve na CP para amanhã, continuando com a greve dos enfermeiros e as ameaças dos estivadores… sem esquecermos a dos juízes (classe que não depende sendo independente do Governo)
Isto é, parece que neste Natal ou neste fim de ano a moda é o «fazer greve». Nestas greves algumas poderão ter as suas razões de lógica, mas outras são puro oportunismo político dos lideres sindicais e de quem esta por detrás dos mesmos. Nem todos os sindicatos seguem a lógica doutrinária afecta ao pensamento da esquerda enquanto luta de classes, havendo sindicatos afectos a outros pensamentos políticos. Os sindicatos sempre foram, também, uma arma de arremesso político. Não há nem almoços grátis nem anjinhos, nestas andanças sindicais.
Não sendo eu fanático a defender o Governo, fico a pensar no porque em algumas delas o mesmo Governo não pede ou decreta a «requisição civil». Que interesses se juntam na saúde para a Ministra não recorrer à mão forte da requisição civil? Estará ela e o seu Governo preocupados com os milhões que investidores privados e ocultos, investiram e investem na saúde privada? Não compete ao Ministério da Saúde a defesa intransigente do Serviço Nacional de Saúde Publico?
Porque não o decretar serviços mínimos em todas as outras situações?
Tenho duvidas e não são boas.
E nesta época grevista fico pasmado com a defesa dos direitos dos presos efectuadas em todos os canais televisivos. Não entendo. Não me lixem com os direitos humanos dos presos. Os presos devem e tem de ser tratados com a civilidade que eles não tiveram enquanto cidadãos livres. Mas daí ao reivindicarem direitos e condições, com os canais televisivos a darem-lhes tempo de antena, não é o meu futebol e causa-me uma certa revolta.
Para quando os sindicatos envolvidos neste folclore, se apresentam a ameaçar fazer greve pela defesa de um melhor Serviço Nacional de Saúde, de melhores condições, de melhores equipamentos nos hospitais e em alguns centros de saúde; os professores a exigirem melhor ensino, com curriculum que vise o futuro cada vez mais tecnológico, exigindo a sua participação na elaboração das matérias dadas, com menos peso nas mochilas e mais saber dos próprios professores; as outras classes profissionais envolvidas a fazerem greve por melhores condições de trabalho, mais profissionais nos serviços etc…. Isso não ouço, só ouço é pedir revisão do plano de carreiras e mais euros para o final do mês.
Tudo isto cansa, revolta e abre o campo político ao regresso do D. Sebastião para repor a ordem já que a Democracia parece estar em causa nestas manhãs de nevoeiro.



quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Para todos os dias








Para todos os dias deve haver um pensamento de boas energias, com amor, logo, sem descrenças nem invejas. Somos todos iguais e ao mesmo tempo todos diferentes, com ou sem religião nascemos todos para ser felizes… Manda pois as tristezas, os maus olhados, as invejas embora, para que possam ser recicladas. Abre teu peito, solta o teu pensamento à vida, canta, dança e chora de felicidade, porque tu te amas, estás viva, de saúde e queres ser feliz!

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Dias sem rumo

Criei os mitos

desenhei as almas
reflecti os ídolos
então acordei apenas só.
todos os que me rodeavam
continuavam dormindo este sono obscuro sem fim.

Vou...












Vou para férias!
Cansado das noites virtuais
Cansado dos amores virtuais
Cansado das esperanças virtuais
Cansado dos momentos íntimos virtuais
Cansado do prazer virtual
Cansado das imagens virtuais
Cansado da correspondência virtual
Cansado da esperança virtual
Vou para férias!

Quando volto?
Não sei se volto!

Filho enteado do vento
Vou à procura da minha meia irmã “a chuva”
Vou
Livre e independente!

Solidário
Amigo
Amante

Homem pensante
Homem sonhador
Aberto ao mundo
Soldado da Paz!
Soldado da Amizade!


Quem me irá julgar


Dei as mãos aos braços e com estes me abracei a mim e ao mundo.
Chorei mais pelas mágoas do que pelas feridas,
Com o sofrimento na mochila aprendi a sentir o Sol nas noites de lua nova,
Ouço o grito do silêncio das aves voando nas encostas da Estrela,
No mar me embalo na rebentação das ondas na dança com as ninfas...
Depois,
Que haverá para lá do depois?
Como vai a vida julgar-me se ela vai comigo de mão dada?

Tropa










Novembro passou e de tão atento andava comigo mesmo, que este ano nem dei pelo dia 29, nem sei qual foi o dia da semana em que o mesmo ocorreu. Hoje ao ler a lembrança do regresso de um camarada da terceira companhia, também eu tive uma luz e, me lembrei do dia 29. Quarenta e quatro anos já passaram desde o dia em que ao final da tarde chegámos ao aeroporto Figo Maduro em Lisboa.
Aí e nesse dia, começou o fim da tropa. A farda guardei-a na mala que dias mais tarde fui levantar ao cais de Alcantara. Mala onde a tinta preta estava escrito «Alferes Andrade 2ª C. Caç. 5010» só este ano me desfiz dela. A filha mais nova levou o que restava do camuflado ainda em bom estado, possivelmente para brincar com ele no Carnaval de Torres Vedras. Mas, a tropa e a guerra essas duas que são uma só, vivem comigo como uma sombra oculta e presente. Não que sofra de qualquer trauma, mas não há nem borracha, nem tinta que consiga apagar o que foram esses 39 meses de vida ao serviço de uma falácia. A minha Pátria era uma outra ideia, voava com o pensamento silencioso dando as mãos ao sonho da liberdade não amordaçada.

Dezembro, também é um mês de datas e factos marcantes nesta minha viagem de vida. Nasceu-me a filha mais nova, depois no dia em que fazia anos passei finalmente à disponibilidade e acabou a tropa. O melhor desse tempo de muitas interrogações foi a amizade e o respeito que ficou do pessoal do Batalhão, mas em especial dos elementos da 2ª Companhia. Fomos jovens, regressámos menos jovens ( O “Vila real” e o “Pimenta”já falecido, quando voltaram ainda nem barba tinham), com as nossas diferenças de opinião, somos um corpo de amigos não fanáticos.



segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Eles estão aí


Eles aí estão, sem grandes ideias de governo, com chavões e ideias claras contra aquilo que muitos consideram como avanços civilizacionais.
Políticos engravatados, bem comportados com os poderosos da finança, da industria e do comercio, mais interessados em promover familiares e amigos, foram desgastando a discussão por uma sociedade mais decente, mais solidaria, quase tudo sob o chavão das políticas de integração europeia. Outros políticos engravatados e submissos ao liberalismo económico, ofereceram ao capital privado e estrangeiro, bens públicos de elevado interesse nacional, seguindo políticas sociais contra os trabalhadores e reformados. Políticas que no todo, havendo uma excepção, não foram revertidas por políticos engravatados, que em aliança quase contra natura, segundo os comentadores e analistas situados ao centro, apenas distribuíram pelo país uns antipiréticos e ansiolíticos nada mais, vendendo novos chavões como o do deficit zero ou de superavit nas contas publicas, como se estes chavões tenham tornado a sociedade mais decente e solidária.
Mas como poderá haver solidariedade para com os imigrantes, quando as oportunidades de trabalho ou até de emprego escasseiam para os nacionais que os procuram? As taxas de desemprego que nos vendem a custo zero, são falaciosas e quase nunca traduzem a verdadeira situação da sociedade.
Mas como poderá haver solidariedade entre todos, se os diversos políticos desta frágil União Europeia, para criarem a sua imagem de caridosos, foram instituindo e criando sem dar por isso uma sociedade frágil subsídio dependente. Em nome de teorias sob o funcionamento dos mercados, pagaram bem e bons subsídios a alguns para que deixássemos de produzir aqui e ali. Num país onde a formação cultural e profissional não era nem é famosa, de baixos salários e desigualdades crescentes, leva-nos a situações caricatas, fruto das leis injustas que muitas vezes se fizeram sem visão de futuro.
Não sou contra a instituição do RSI. Mas como poderá haver solidariedade entre cidadãos que trabalharam toda a vida e hoje sobrevivem com reformas ou pensões iguais ou até inferiores a outras famílias que vivem e sobrevivem do RSI, sem nunca mostrarem interesse em procurar trabalhar. Há muito que acho que quem recebe o RSI deveria ter que prestar trabalho comunitário, na sua freguesia onde teria que ir levantar o mesmo. Por exemplo, limpar as ruas e zonas verdes… limpar os baldios existentes à volta da comunidade, etc. etc..

Mas não. Os papagaios da comunicação a mando dos senhores que controlam os cordelinhos da vida, vendem-nos a ideia que é ao centro é que se ganha quer a vida, quer as eleições políticas e entretém-nos com big brothers e talk shows. E tudo isto debaixo das barbas de ministros que vaidosos da sua posição, nada fazem, antes procuram passar entre os pingos da chuva, ao mesmo tempo que acrescentam mais uma página A4 ao seu curriculum vão criando e nomeando amigos para entidades reguladoras que a única coisa que fazem deve ser o controle das mordomias que lhes oferecem os governantes amigos.
Não queremos ver, o que se vai passando neste mundo globalizado da nossa Europa, depois ficamos alarmados com os resultados das eleições que se vão realizando nos diversos estados, nas diversas regiões. É melhor discutir as curvas, as pernas ou os seios de uma modelo ou apresentadora de TV, discutirmos a porcaria do IVA das touradas, do direito dos animais se sentarem à mesa nos restaurantes… quando o essencial, seria olhar os porquês dos partidos tradicionais estarem moribundos, alguns em coma profunda… com os radicais agora à direita a ocuparem o espaço político dos parlamentos regionais e nacionais.
Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão, velho ditado, mas país onde não há trabalho a xenofobia e o racismo crescem como os cogumelos venenosos.
Uns atrás dos outros os políticos ao centro vão caindo ou sentindo a areia a fugir-lhes debaixo do pés. Será que a culpa é só deles? 
E eu, tu, nós, vós, eles, não temos culpa quando nos acomodamos aos desmandos, que dia a dia vão acontecendo à nossa frente, sejam de juízes, de enfermeiros até de professores, estivadores, funcionários numa qualquer repartição publica, etc., limitando-nos comodamente a culpar os políticos da ocasião... Olhamos apenas a árvore não querendo ver o que se passa na floresta. Eles não dormem, estão aí andando no meio de nós quais lobos esfomeados com pele de cordeiro.


sábado, 1 de dezembro de 2018

1 de Dezembro


Ao ver hoje o Presidente da República a fazer publicidade à acção de recolha de alimentos para o Banco Alimentar, sempre com aquela conversa da solidariedade para com os desprotegidos da sorte, fez-me lembrar as senhoras, que por acaso ou não, eram próximas de sua família, nos tempos em que a juventude era obrigada a participar numa guerra em África, inglória para todos. Falo das senhoras do Movimento Nacional Feminino, nas suas intervenções junto dos soldados e transmitidas depois como exemplos de solidariedade das senhoras da alta sociedade para com os bravos soldados, que desprotegidos da sorte davam a vida pela Pátria. Já os seus meninos ou ficavam livres do serviço militar, ou quando o cumpriam mesmo no dito Ultramar, tinham quase sempre uma boa especialidade, um militar de alta patente como padrinho para que o menino não tivesse que comer e beber junto dos tais desprotegidos da sorte, que depois das fotos para a propaganda, eram brutos e incultos.
O Sr. Presidente dá mostras do desgaste que os anos de mandato presidencial sempre provocam. Pois já esta semana numa das suas emissões opinativas, veio com a história de que os órgãos de comunicação social deveriam merecer uma atenção por parte do Estado. Isto é, o Sr. Presidente não esquecendo que o próprio é numa parte importante, um produto televisivo, está a pedir para os seus amigos, uns benefícios fiscais, ou uns subsídios fora do alcance dos fiscais de Bruxelas. Não lhe fica nada bem essas insinuações para benefício dos amigos. Como se a lei do mercado para eles não fosse a mesma que para o pequeno empresário agrícola ou industrial. Em vez de pedir, poderia fomentar a discussão do porquê da crise que os órgãos de comunicação televisiva e escrita estão a atravessar, com tantas dificuldades económicas e financeiras.
Eu gosto de ler Sr. Presidente mas já não me lembro de quando comprei o último jornal. Mas não substitui o jornal pelas ditas redes na net. Simplesmente não me atraem. Estarei a ser inculto por deixar de comprar jornais?
Para acabar, o Sr. Presidente continua a dar uma imagem de solidário com os mais pobres, desde que envolva quase sempre organizações religiosas, mas não têm uma palavra solidária para com os antigos combatentes que vagueiam pelas cidades sem eira nem beira, aqueles de quem as senhoras suas conhecidas se serviam para propagandear um Portugal do Minho até Timor que na verdade nunca passou de mais um mito criado por políticos com a bênção da igreja católica apostólica romana.
Viva o 1º de Dezembro! Viva o povo anónimo português!!