domingo, 2 de abril de 2023

27.03.23

 

Quanto menos ouve o que contam os da rádio e da televisão mais vontade tem de continuar assim, como que ausente da vida.

Ao regressar da volta matinal, depois de tratar da Sacha senta-se e aguarda que o casal de chapins chegue para andarem saltitando em busca de algo que só eles sabem. Depois voltam a meio da tarde na sua vida de galho em galho até que vão para um outro destino que ele desconhece mas que as avezinha sabem onde fica.


26.03.23

Foi à vila. Gosta de passar na praça onde sempre compra alguma coisa, observando as bancas do designado mercado bio. No regresso passou numa fonte onde costuma encher uns garrafões de água.

O que viu na fonte, reavivou-lhe a memória da água e as políticas que a mesma origina.

Tem duvidas que a agricultura designada de “bio” seja a solução para as necessidades da economia e das gentes. A solução andará no meio termo, entre a agricultura convencional e a designada “bio”. Quanto ao que viu publicitado na fonte é a norma hoje em dia. Em tempo de eleições os candidatos prometem trabalhar na solução dos problemas das populações. Promessas que logo esquecem assim que são eleitos, fugindo da solução dos problemas escondendo-se atrás da legislação que os amigos no parlamento aprovam e os inquilinos em Belém promulgam. Podiam os políticos regionais publicar as análises às aguas das fontes nas mesmas, em vez de se esconderem atrás das leis que protegem o negócio mercantil da água.

Contudo, cansado que anda das trincas políticas cala-se. O país político é hoje aquilo que decerto os heroicos militares de Abril nunca imaginaram que depois de entregarem o poder à sociedade civil o mesmo chegasse a este estado de pobreza económica, política e abandono. 

 

23.03.23

 

Vive-se num mundo em que os homens sem rosto que nos parametrizam e formatam a vida, criam dias para tudo. É o dia do pai, o dia da mãe, o dia da poesia e ontem o da água, enfim um nunca mais acabar disto e daquilo de dias que nada de concreto acrescentam a não ser o aumento de consumo em alguns desses dias.

Procurou ouvir o que diziam os lordes instalados na ONU. Sentiu curiosidade em ouvir as palavras feitas, elaboradas para contornar o problema de fundo, não só ambiental como económico-social.

A água é um elemento composto que nos seus três estados (líquido, sólido e gasoso) é fundamental à vida no Planeta Terra. Um planeta com milhões de anos de vida em constante transformação , independente da vontade do ser humano na atual versão de Homo Sapiens.

O desenvolvimento económico vem exigindo e continuará a exigir que se procurem novos elementos na Terra Mãe para que o sistema continue a funcionar, pouco importando aos seres sem rosto o impacto ambiental que o mesmo continue a causar. Por ação humana e pela própria vida do Planeta temos assistido que não se alterando o ciclo da água, do estado sólido ao líquido e ao estado gasoso, o mesmo tem sofrido alterações sensíveis, sendo uma delas a frequência das chuvas que não caem quando previsto ou caem de forma intempestiva.

Com a chuva (água no estado líquido) tudo na terra renasce, sem ela tudo seca e ou definha.

Água é Vida! Mas só a água potável é boa para a saúde dos humanos.

Como necessidade urgente do sistema de exploração vigente em que vivemos, políticos de boas falas, submissos, vergados perante os senhores sem rosto, em gabinetes e grandes salas de ar condicionado, transformaram a água, o maior bem social ao longo de milénios numa mercadoria. A água deixou de ser um bem social das comunidades para ser um bem transacionável, ou seja uma riqueza detida ou a deter pelas grandes empresas químicas e suas subsidiárias ou filiais, que tem como finalidade a busca incessante do lucro para manterem a gula dos seres sem rosto que comandam e parametrizam a nossa vida quotidiana.

Claro como a água cristalina que nada disso iria ser aflorado por nenhum dos servos pensantes que vivem curvados mas faustosamente perante os tais seres sem rosto.


22.03.23

Hoje é um dia especial. Não pude assistir nem sequer podia imaginar que pudesse vir ao mundo fruto da união que o João Moreira e a Luísa Sousa (ao tempo assim eram conhecidos) celebraram a 22 de Março de 1947 na igreja da Misericórdia em Segura.

Coisas do passado que vou guardando e transportando nesta minha caminhada. 

 

20.03.23

Ausente e cansado vive dia a dia mais afastado do rebanho, da matilha ruidosa que o rodeia.

Vivem-se tempos onde a mentira comanda a vida do rebanho, onde diversas matilhas sedentas de sangue se igualam a lobos famintos, ignorando que na natureza os animais só matam para saciar a fome, enquanto eles pedem e querem matar pelo prazer simples e egoísta de matar o sonho da utopia.

A falsa teoria do bem e do mal nunca esteve tão assanhada como nos tempos que correm, prelúdio que uma nova transformação social se avizinha, mais negra duma escuridão plena para durar novo ciclo, senão mesmo, nova era.

Já Lavoisier um dia disse que, na Natureza nada se perde tudo se transforma. Ora, alguns Homo Sapiens ignorando fazer parte dos elementos da própria Natureza em evolução, na sua ânsia e ambição desmedida de poder subjugar o seu semelhante, na posse das ferramentas de comunicação global, preparam utilizando as matilhas do rebanho em que uns são os bons e outros são os maus, a chegada de uma nova era das trevas, utilizando as capacidades inventivas e técnicas existentes, para tornarem de novo o rebanho em escravos amorfos, quais servos sem outros direitos que não sejam receber uns subsídios residuais para se manterem vivos no redil e no curral, que eles próprios escravos foram construindo como símbolo da sua felicidade. 

Vendem-nos hoje, esses Homo Sapiens sem rosto e seus súbditos servos, que as futuras máquinas da inteligência artificial são o progresso e futuro escondendo do rebanho a negritude desse novo futuro sem calor humano, sem abraços, sem beijos quentes nem afetividade. 

 

19.03.23

 


Primeiro li "Alma de Cão" . Gostei, leitura leve e bem disposta tratando assuntos sérios da sociedade citadina portuense e da fuga para o campo onde o tempo tem outra dimensão, outra qualidade. Do individualismo citadino à entreajuda das pessoas da aldeia longe do bulício egoísta da cidade.

Depois li "Um Cão no Meio do Caminho" que desde a primeira página até à última me foi tocando sempre.

A vida não é aquilo que sonhamos mas a sucessão de acontecimentos na maioria imprevisíveis que nos fazem atores da própria existência sem que compreendamos os porquês ou os "se" que se nos apresentam. Sabemos que em tudo existe a dialética, que se nos apresenta como as faces de uma qualquer moeda, «cara ou coroa». Contudo, não sabemos o que nos espera mais à frente depois de fazermos a escolha de uma das faces da moeda que simboliza a vida.

Não vi no livro o retrato da solidão como eu a imagino. Vejo a solidão de doutra forma. Para mim, o livro retrata de forma excelente o egoísmo individualista da nossa sociedade, onde cada um olha para o seu umbigo como se ele fosse a única fonte da verdade, da beleza do amor, do conhecimento. Vive-se o "eu" como o centro do mundo recusando-nos a ver a sua decomposição afetiva, porque vivemos num tempo onde a ditadura da felicidade individualista é lei, quando na verdade todos viveríamos melhor se soubéssemos ou tivéssemos a capacidade de aceitar o outro como ele é, de partilharmos com ele a própria existência, como no livro a avó Josefa o demonstra com a sua vida de luta e aceitação dos obstáculos que enfrentou.

Tocou-me, logo no início porque também eu vivo aos 72 anos, passados que são mais de cinquenta anos, a pensar, a querer amenizar um erro que cometi quando tinha os meus dezanove anos. Depois, folha a folha, parágrafo a parágrafo, frase a frase sempre me fui identificando com o sentido da escrita. Eu, como os vizinhos retratados no livro, somos seres tresmalhados do rebanho, da matilha que vive à nossa volta. A grande diferença é que de pequeno até já ser adulto e pai tinha medo dos cães, para agora ter como companhia uma pastora alemã maluca e possessiva que por vezes mostra os dentes. Na cidade quando ladra é de imediato repreendida porque os vizinhos se incomodam com o seu ladrar, na aldeia do meu abandonado interior raiano quando ladra e se a repreendo logo os vizinhos me dizem, não faz mal ladrar é a fala dela.


18.03.23

 

Por vicissitudes da vida de seus pais, os dois irmão nasceram em Lisboa e cresceram no concelho de Peniche. Seus pais eram oriundos das terras fronteiriças da Beira Baixa com os extremenhos espanhóis.

Dos trinta e sete primos e primas direitos de seu pai, só dois ou três não saíram em busca de uma vida melhor continuando na lavoura por Segura e Salvaterra do Extremo. De todos os primos só os seus pais voltaram logo que o pai atingiu o dia da aposentação, passando a viver na Zebreira.

No sótão da casa foram amontoando papeis, roupas e mobiliário cujos familiares herdeiros de tios e primos lhes pediam para guardar e por lá ficaram esquecidos.

Ao arrumar ou dar uma ordem ao que encontrou após a morte do pai, encontrou a relíquia do:

Número Único – Novembro de 1982 do “JORNAL DE SALVATERRA DO EXTREMO”, editado com o patrocínio de VIMÓVEIS, LDA., sendo director do mesmo o senhor Carlos Alberto Garcia Teodoro.

Já leu o pequeno jornal várias vezes, que retrata o espírito pleno de esperança que as gentes da terra viviam na década de oitenta, fruto também do trabalho, que o senhor Joaquim Mourão, jovem autarca e Presidente do Concelho de Idanha-a-Nova ia desenvolvendo com dinamismo “atento às carências dos lugares mais remotos e escondidos”.

Dos vários assuntos chamou-lhe a atenção o artigo sobre “O bodo ou festa de Monfortinho em Salvaterra do Extremo”

Não estando as páginas 5 e 6 em perfeito bom estado, as mesmas tratam da Origem e da Festa,

ORIGEM

A Senhora da Consolação adorada no lugar de Monfortinho, freguesia de Salvaterra do Extremo, atraíra a devoção da cristandade por dezenas de léguas em redor.

Não havia desgraça, contratempo ou aflição que, não podendo ser remediada pelo poder dos homens, não fosse levada aos pés da Virgem da Consolação em rezas e promessas.

Em certo ano – 1870 – segundo informação local, Maio de 1877 segundo Pinho Leal, os ubérrimos campos de Salvaterra foram invadidos por uma grande praga de gafanhotos.

Nem os ardores do sol estival, nem as aves que os devoravam aos milhares, lhes faziam dano apreciável. A praga indina não só roía o grão dos trigais como devorava as próprias folhas e rebentos das plantas. Maldição, diziam uns, castigo do céu lhe chamavam outros. Vá de prometer festa rija à Senhora da Consolação sempre tão solícita e bondosa, e procissão de penitência e bodo anual para ser servido a toda a pobreza e a quem mais o quisesse. Tudo saíria das ofertas de trigo, azeite, vinho e demais géneros que a terra livre da praga voltaria a dar com fartura.

A festa, a procissão e o bodo, deveriam realizar-se na segunda-feira depois do Domingo de Páscoa e a ser pagos com dávidas dos lavradores e pastores de toda a freguesia nomeadamente dos povos de Monfortinho, Torre e Carriçal.

A FESTA

Efectivamente até 1905, data em que os beneméritos Joaquim José Fernandes, por alcunha o canhoto, José Fernandes Moreira (meu bisavô paterno), João Gordo e José Folgado Moreira, o Branco, atendendo os protestos dos velhos que por sua idade ou achaques não podiam deslocar-se a Monfortinho, resolveram reconstruir sobre as ruínas da capela do Senhor da Pedra outra dedicada ao culto da Senhora da Consolação.

Quem todos os anos ao dealbar da segunda-feira referida percorresse as ruas de Salvaterra e dos povos anexos, notaria movimento desusado: os animais de tracção e os que davam cavalaria a serem engatados ajaezados ou aparelhados para se incorporarem na procissão e levarem as populações ao bodo a Monfortinho. Grande cortejo de cruzes, pendões, carros, carroças, cavaleiros e peões com a bandeira do Espírito santo à frente, seguia vagarosamente (que outra coisa não permitiam os velhos caminhos) a cumprir o voto, a rezar, a dar aos pobres e a todos os que quisessem servir-se, pão, caldo, carne e vinho com abundância.

Como a distância que separa Salvaterra de Monfortinho era comprida (18 quilómetros) sobretudo se tivermos em conta os meios de transporte do tempo os romeiros faziam um descanso no sítio do Vale do Pereiro.

Desatrelados os animais, abertos os sacos e os cestos com os farnéis, tudo comia e bebia, conversava e galhofava porque o vinho não deixava gorgolejar dos bocais das borrachas.

Costume curioso com cuja explicação não se atina, antes que se retomasse a marcha, os maridos com as respetivas consortes e os namorados com as namoradas, abraçavam-se, deitavam-se entrelaçavam as pernas e rebolavam desde o cimo até ao fundo do vale. As mulheres que por motivos especiais ou pelo seu feitio não desejassem tomar parte na brincadeira deveriam sentar-se antes que os maridos ou os namorados as abraçassem. Se não conseguiam sentar-se antes de ser agarradas, não podiam eximir-se à curiosa e velha prática.

TRANSFERÊNCIA DO LOCAL

Com a reconstrução da capela que fora do Senhor da Pedra a que já nos referimos, os Salvaterrenhos, roubaram, segundo é fama, a imagem de Nossa Senhora da Consolação aos de Monfortinho que passaram a adorá-la no seu novo templo e a fazer o bodo na Deveza de Salvaterra. Não obstante ainda hoje o bodo é conhecido por «festa de Monfortinho». Esta povoação não quis deixar perder a tradição e continuou por sua vez a fazer um bodo com as ofertas dos seus moradores três dias depois do de Salvaterra

BODO DE 1944

Neste ano de 1944. os Bodeiros juntaram para o bodo, além do azeite e carne de porco, 38 alqueires de trigo, 4645 escudos e cinquenta centavos em dinheiro, 72 rezes (cabeças de gado). Compraram 107 quilos de arroz, 715 litros de vinho, 7 litros de aguardente, 150 escudos e trinta centavos de tabaco.

Compareceram cerca de 1000 pobres e sobejaram 5 caldeiros de ensopado.

A ementa do almoço constou de tripas com arroz e fígado e pão, e a do jantar, arroz com carne, chouriço, toucinho, ensopado, pão e vinho à descrição.


13.03.23


Tornou-se hábito nos últimos anos que quando chega o dia da consulta semestral hospitalar, a ansiedade acorda com ele num acordar diferente onde de imediato a reconhece porque ao sentar-se na cama antes de se levantar sente o corpo diferente. Um estado que o irá acompanhar até à hora em que o médico olhando o ecrã do computador lhe diga o valor do "psa".

Um dia embarcou para a guerra nas terras longínquas de Angola, quando voltou para o colo de sua mãe, já não era o mesmo que um dia tinha partido para a guerra.

Um dia ao sair do recobro depois das horas passadas no bloco operatório tomou consciência que já não era o mesmo homem que na manhã daquele dia foi levado numa maca por corredores e elevadores para aquela sala fria onde de imediato uma médica o adormeceu.

Se o tempo de guerra é uma lapa que veio agarrada às suas memórias naquele dia de finais de Novembro de setenta e quatro, já o dia de Outubro de dois mil e dezoito lhe mostrou e mostra como a maior riqueza que cada um pode usufruir na vida é a saúde, o resto são complementos, desvios, vícios e ilusões que transformam a existência em tantas coisas inúteis à vida do ser humano.

Não existisse um SNS com médicos, enfermeiros, auxiliares e outros, onde estaria ele agora? Se a teia de baba peçonhenta quando foi descoberta estava no início, e, passado um ano já ocupava dez por cento da próstata, onde e como estaria hoje?

Nesta manhã em que a ansiedade acordou para o acompanhar até ao momento de saber se o "psa" está estável nos valores anteriores ou se dá mostras de alterar a boa sequência, pensa em como deve agora a sua existência ao serviço público do SNS que tantos políticos e politiqueiros avençados querem destruir em nome do pragmatismo duma falaciosa concorrência, a exemplo do que aconteceu com os combustíveis, as comunicações, energia etc. etc.?

Desde que aos 18 anos tomou consciência e abraçou a política, que defende um Estado Social forte, porque só esse permite aos cidadãos poderem usufruir das condições elementares para uma vida mais condigna, mais solidária e fraterna entre todos os concidadãos. É, foi e será um defensor acérrimo do SNS publico. Os fracos governantes que vamos tendo ainda lhe propuseram custear a sua intervenção cirúrgica em hospital e clínicas privadas, respondendo a essas designadas "cartas-cheque" na volta do correio com um rotundo Não! Queria ser operado naquele hospital do SNS. Toda a vida de trabalho descontou o que os fracos governantes impuseram e impõem, para que o Estado garantisse o direito à saúde, sem esquecer a educação e os outros direitos fundamentais a qualquer cidadão.