Sexta-feira em mais um dia cinzento deste mês de Fevereiro.
Sentado no banco sobranceiro à praia olha e sente o mar e o
vento, amigos habituais naquele lugar. As tonalidades dos cinzentos animam-se
com a música que o rebentar das ondas espalha e o vento transporta. Não sente
saudades dos tempos ali vividos, esta numa fase da vida em que gosta de
recordar os tempos passados, as alegrias, as tristezas, os amigos, tudo isso
com a alegria de os ter vivido. Saudades tem algumas principalmente do que
sonhou e não viveu ainda.
Ali naquela praia quando era jovem um velho banheiro lhes
ensinou a olhar o mar, a ver a corrente que há muitos anos por ali vive.
Ensinamentos da sabedoria popular de quem conhecia o mar e o respeitava.
Gostava por isso de estar ali frente ao mar e estabelecer com Neptuno, que anda
aborrecido, os seus diálogos a três.
Talvez influenciados pela cor que os dominava a conversa
resumiu-se à crise e ao ponto em que nos encontramos que pode ser de chegada
mas também de partida.
Resumindo, dizer que a culpa é deste governo é esquecer e
lavar o desgoverno dos anteriores sem excepções desde que entramos na União
Europeia. Uns e outros têm seguido o mesmo padrão de governação. A cobro de se
dizerem sociais-democratas, democratas-cristãos, do centro-direita, do centro, do
centro-esquerda ou da esquerda-moderada seguem sem levantar dúvidas, sem bater
o pé aos senhores, os ditames de Bruxelas.
Umas vezes por pragmatismo, outras por bom senso ou de
mercado, tocam a mesma música com instrumentos diferentes. A questão de fundo
que os diferencia é uma questão de maestro e da forma como a pauta alinha as
notas musicais que nos vão servindo em nome do progresso e do bem-estar social
a que chegamos.
Quem me dera poder estar fora desta sinfonia musical que me
servem e onde de quatro em quatro anos vou colocar o voto para escolher o
maestro da música. Mas não estou, estou dentro e consciente.
Dizem uns que há uma nova pauta de música lá para oriente,
onde os gregos estão gregos para saírem da arena onde se meteram. Dizem outros
que os tais gregos estão loucos e que vão continuar gregos com a gestão da
dívida e das promessas gregas feitas em campanha eleitoral. O frio acentua-se e
os aquecedores vão perdendo a batalha, mas os gregos continuam a lutar, a
discutir propostas, modelos macroeconómicos.
Não sei se vão ganhar ou continuar
ainda mais gregos, o que sei e registo com satisfação é a luta, é a vontade de
mudar as pautas e os instrumentos de música usadas por Bruxelas.
A democracia é isto, luta, discussão e respeito pela vontade
do povo expressa em urnas e dos compromissos assumidos pelo Estado em nome da
Nação.
Uma coisa é certa, os gregos vão continuar gregos com a sua
vida, gregos com a Europa e gregos com a gestão da divida. Mas uma coisa é
viver grego sem horizontes e outra é viver grego com um horizonte difícil mas
não intangível.
Cá estamos para ver se os gregos ficam mais gregos ou menos
gregos.
Eu registo com apreço a vontade de mudar de pauta, de
maestro e de instrumentos nesta Europa a que pertencemos. A ver vamos…