terça-feira, 14 de setembro de 2021

21.08.12 Zebreira


 

O facto de não estar recenseado no Município de Idanha a Nova não me impede de me interessar pelo que se passa no Município. Tenho lá casa. Vou todos os meses passar uns dias à Zebreira.

Vi o que de bem foi feito pelas gentes da terra com o apoio quer do Município quer de outros órgãos do Estado. Mas tudo isso pertence a um passado cada dia mais distante. Há já alguns anos que a freguesia de Zebreira e Segura ficou esquecida dos poderes municipais. Infelizmente não são apenas a Zebreira e Segura outras povoações estão na mesma circunstância.

Acompanho pela Internet e não só as publicações quer do Município quer de grupos de pessoas das várias povoações.

Ao acompanhar a vida dos munícipes, sinto crescer em mim a tristeza e a revolta, pelo estado político e social que se instalou no Município.

Que culpa têm as populações da Zebreira e de Segura que os órgãos do Município na figura do seu Presidente, esteja e estejam de relações pessoais cortadas ou às avessas com o ainda Presidente da União de Freguesia de Zebreira e Segura? Não sei os motivos de tal estado nem sou aspirante de justiça; não sei a razão dos motivos se pessoais apenas ou também políticos já que ambos foram eleitos para os cargos pelo mesmo partido político, o PS. Mas que culpa tem as gentes destas duas povoações, para serem esquecidas e desprezadas? A maior responsabilidade pelo estado de abandono é do Presidente do Município pois tem outras responsabilidades políticas e partidárias.

Não sou aficionado de touradas mas concordo com a revolta discordante do cancelamento do evento a realizar na Zebreira quando espectáculos semelhantes com as devidas proporções ocorrem na vila de Idanha a Nova ou pelo menos são publicitados.


Vejo que os apoiantes do movimento "Idanha Solidária" deixaram de por aqui, Facebook, publicitar e propagandear o "Cartão Raiano Saúde 0-114" que mais não serve do que para caçar votos, controlar apoiantes e enganar os mais ingénuos. Um seguro privado de doença básico não é complementar do SNS e afirmá-lo é uma tentativa de enganar o munícipe.


O mesmo movimento "Idanha Solidária" utilizando o máquina partidária do PS, que se mostra tão pouco solidário para algumas das suas gentes, utiliza as mesmas frases feitas do novo marketing político para ilustrar várias promessas e projectos a realizar, esquecendo o tempo que os anos de governação lhe têm proporcionado,

. Requalificação do Parque de Campismo

. Requalificação dos Postos de Turismo

. Requalificação dos Percursos Pedestres

. Rotas/Via da Estrela


Todas estas promessas e projectos anunciados com fotos e frases feitas de "pronto a vestir" como que para calar algumas vozes que nesta rede social têm reclamado da sua fraca qualidade, do seu estado ou da ausência de infraestruturas.


Falam muito de requalificação mas nada dizem de concreto. Primeiro pagaram para gente de fora vir elaborar uns planos pomposamente designados por ARU ou seja Acções de Reabilitação Urbana. Como os do Governo exigiam que esses planos ARU fossem explicitados elaboraram os "senhores" que mandam no Município os célebres e quase escondidos PERU ou seja Plano de Execução de Reabilitação Urbana. Elaboraram, aprovaram em Assembleia Municipal mas não explicam porque é que existem PERU elaborados de forma distinta consoante, penso eu, a acção solidária que as povoações lhes merecem. Isto é, para as povoações solidárias e protegidas da acção governativa municipal um plano com certas características específicas, para a maioria restante das populações do Município planos de idênticos com o fraseado das palavras sem grandes diferenças em PERU ou sejam PERU elaborados e aprovados para desenrascar de tipo "encher chouriços" cumprindo desse modo a disposição legal superior.

Agora em pré campanha muito se diz dos planos, projectos e promessas de "Requalificação" mas nada nos dizem sobre os cálculos científicos, sociológicos e políticos que servem de base às verbas previstas alocar pelo Município e pelos munícipes privados na reabilitação urbana das suas povoações das suas casas e arruamentos. Porque se esquecem de publicitar tais valores previstos e aprovados?

Sim, que estudos científicos, sociológicos e políticos serviram para afirmar que no PERU da Zebreira o Município de Idanha a Nova irá investir 520.000,0€ e os cidadãos da Zebreira irão realizar obras de reabilitação urbana da sua terra no valor de 2.650.000,0€?

Que estudos científicos, sociológicos e políticos serviram para o Município de Idanha a Nova comparticipar de forma tão diferente as várias povoações onde os tais PERU são comparáveis.?

Que bases científicas, sociológicas e de política solidária estiveram na base dos PERU de Idanha-a-Velha, Monsanto, Penha Garcia e Monfortinho já que são diferentes dos restantes e desse modo não comparáveis? Será que a tal solidariedade tão apregoada pelos do poder municipal se esgotou nesses planos?


Gosto de ouvir e ler muito quando nos falam da "Cooperação Transfronteiriça e do Tejo''. Gosto mesmo. Mas o que é que ao longo dos últimos mandatos foi feito? Será que a fronteira com a Extremadura para os actuais órgãos e candidatos a novo mandato, começa em Penha Garcia e acaba mais à frente nas Termas de Monfortinho? Serão Salvaterra do Extremo, Segura, Zebreira, Rosmaninhal povoações fronteiriças de um outro município? Ou serão terras virtuais apenas?


Porque gosto de saber da nossa história, não como me ensinaram na escola do livro e pensamento único, mas da outra história feita de muitas histórias escondidas pelos poderes.

Fui parte integrante e activa na última guerra em que o nosso país esteve enredado. Dois anos me roubaram de vida. Dois anos que me fazem olhar sem sentimento de revolta ou de nacionalismos populistas para as guerras que no passado fizeram de nós o país que somos hoje.

Vejo publicitar a presença dos Templários em Monsanto e Penha Garcia, quando na verdade os mesmos Templários foram donos e senhores de todas estas terras que pertencem ao nosso Município e presumivelmente já existiam Salvaterra do Extremo, Rosmaninhal e talvez Segura. Mas para alguns dos poderes de agora Templários só em Monsanto e Penha Garcia.

O mesmo se passa com as celebrações com o rei Wamba dos visogodos em Idanha a Velha quando o apogeu da velha Egitanea (Idanha a Velha) ocorreu com a presença dos romanos.

Não ouço nem vi até hoje qualquer celebração oficial, qualquer placa comemorativa da entrada por Segura da Primeira Invasão Francesa cujo exército de franceses e castelhanos chegou a ocupar Lisboa. Porque não se evoca e comemora celebrando a Paz dos dias de hoje esta e outras datas históricas das guerras que nossos antepassados travaram e que pelas terras do Município entraram, passaram ou saíram. Porque só Templários é o tal rei Wamba visigodo. Um povo sem memória não tem história e sem história não há memória colectiva agregadora.

21.08.12


 

Para trás ficou o mar dos diferentes azuis. Não é tanto a ausência do mar que o faz nostálgico. Ao olhar a foto da neta olhando a praia sentiu que nas manhãs de agora já não recebe aquele odor único que a brisa de norte tempera na mistura da maresia com a flora dunar. É esse odor matinal que lhe faz falta, não tanto o mar de água um tanto fria para as suas artroses. Já por lá tomou muitos banhos num tempo em que até o electrodoméstico esquentador era desconhecido. Água quente só aquecida na panela grande.


21.08.05 Natureza



 

A Natureza é surpreendente. Num dia, quinta-feira, o mar calmo e sereno como no primeiro vídeo abaixo. Na manhã seguinte, sexta-feira, o mar na mesma praia mostrar-se poderoso, cheio de força reduzindo-nos a simples observantes tímidos (segundo vídeo).

A Natureza que tão explorada e tão mal tratada tem sido pelos humanos na sua ânsia e ganância de mais e mais poderes materiais de falsas riquezas, quantas vezes nos mostra que os seus poderes são indomáveis, seja na força do mar, seja nas chuvas que caem do céu para depois na sua correria louca galgar as margens que as comprimem e tudo arrastar nessa viagem medonha e destruidora, seja também quando a energia gerada no seu próprio interior se liberta causando terramotos e maremotos destruidores de vidas e obras feitas pelos humanos.

A Natureza dá-nos avisos, uns atrás dos outros, mas a massa humana liderada quer por políticos submissos aos poderes gananciosos da finança, quer por líderes religiosos vesgos na defesas das suas crenças de fé para manutenção das suas próprias mordomias materiais conquistadas pela violência ao longo de séculos, caminha incapaz sem líderes que a façam parar colocando um ponto de ordem ao modelo consumista que um vírus, seja ele natural ou de criação humana da qual se libertou, mais uma vez nos mostra quão frágil é o modelo económico que a grande maioria teima em voltar a viver como "normal".

Para mim que vivo na outra margem da vida este olhar e ouvir a zanga dos deuses do mar são momentos da felicidade que a vida me tem proporcionado

21.08.05


 

Ao acordar ouviu o mar a enrolar na areia. Decidiu saírem em sentido contrário. A manhã cinzenta com ausência de vento prenúncio de um bom dia de praia. O Sol deveria estar a romper perante as nuvens já que olhando para o lado do mar o céu estava quase azul. Ouvia o mar a enrolar na areia.

Quando decidiu ir até ao areal ver se as netas e o neto já estavam por lá, ao chegar viu as duas bandeiras vermelhas hasteadas. O mar como prenúncio da Lua Nova que está para chegar, rebentava com toda a sua força avisando que neste dia não havia banhos para banhistas. Os veraneantes estendiam-se pelo areal aproveitando o sol pois ninguém infringia o código da bandeira vermelha.

Por lá ficou quase uma hora olhando e ouvindo a música que os deuses do mar lhe davam num espectáculo de que tanto gosta.

Como não sente prazer em ficar deitado na areia ao sol e também se recusa a usar essas coisas de cremes para os raios UV, voltou para casa que netas e neto foram com o pai das netas até ao Baleal para a neta mais velha ter a sua aula de surf.

21.08.02 J.O. 2020

 

Vejo os atletas portugueses nos jogos olímpicos darem tudo o que podem e sabem procurando o engrandecimento não só pessoal como o levarem o nome de Portugal bem alto. Uns chegam às medalhas, outros não o conseguem, mas tudo fazem para alcançarem o objectivo do sonho sonhado durante dias e dias de grande sacrifício e muito trabalho intenso.

Emociono-me ao ver atletas desiludidos, chorando, pedirem desculpa aos portugueses por terem falhado o objectivo sonhado.

Como eu gostaria que a nossa classe política olhasse para a atitude destes atletas e lhes seguisse o exemplo, que não tivesse orgulho nem vergonha e fossem capaz de pedir desculpa quando os objectivos a que se propõem não são alcançados. Raros são os políticos que reconhecem publicamente o erro quanto mais o não alcançarem os objectivos…


21.08.02


 

No Oeste Penicheiro o tempo de verão sempre foi fresco. Por cá não há dias de calor calor, apenas dias quentes.

Antigamente no tempo anterior à implantação da Democracia o país era ainda muito mais pobre existindo televisão de canal único e de programação horária limitada. Era um privilegio ter televisão em casa; apenas algumas famílias podiam comprar um aparelho, a maioria contentava-se com a televisão em alguns cafés e nem em todas as terras havia a caixa que veio mudar a vida das populações citadinas e rurais.

Com a implantação da Democracia e mais tarde com a adesão à hoje União Europeia o nível de vida dos portugueses deu um salto qualitativo embora continuemos a ser um país pobre segundo os rácios do sistema económico que nos domina. Com essa subida de nível económico a televisão popularizou-se de tal modo que poucas ou raras são as casas onde não existe pelo menos uma televisão. Do preto e branco inicial passou a cores. De canal único e público passou a integrar outros canais privados de grupos de comunicação social. Da antena analógica, passou-se para as parabólicas e destas para a televisão por cabo com o sistema a oferecer cem, duzentos ou mais canais numa oferta que não para para nos adormecerem e anestesiarem a mente com os seus desígnios e vontades.

É pois a televisão o meio que melhor serve o sistema consumista em que vivemos, com os canais públicos a alinharem de acordo com a enorme falta de qualidade difundida pelos canais privados. A estes só lhes interessa as audiências como garante de receitas publicitárias. Qualidade e verdades de investigação séria custa dinheiro e eles não vivem para ajudar a educação das massas populacionais que os ouvem e veem. A função deles é anestesiarem as massas para a obtenção de receitas e promoverem os ideais mais liberais do capitalismo dito civilizado, nada lhes interessa na educação das pessoas que os ouvem e veem.

21.07.30


 

Leio e penso comigo mesmo. Porque não sou capaz de escrever coisas de amor, desejos sofridos ou exaltantes?

Porque vejo a vida de forma simples, sem arabescos ou grandes pinturas. Olho as chamadas obras de arte e não alcanço mais nada do que simplesmente o que olho. Vejo mosteiros e palácios e o que me vem à cabeça é o sofrimento dos trabalhadores que neles trabalharam, quantos terão morrido durante a construção. Não sei distinguir se é gótico, romântico ou outro estilo, não sei, sabendo que são grandes obras de engenharia construídas com muitos cálculos, quantas vezes inovadores, sem programas computacionais. Outras vezes fico a pensar nos tristes criados e criadas que eram necessários para tratar dos quartos, salas e salões sem esquecer as grandes cozinhas daquelas grandes mansões, quantos deles seriam escravizados e abusados pelos barões e baronesas dessas grandes casas ditas senhoriais?

Porque vejo eu a vida desta forma incapaz de entender o que é a vida cor-de-rosa que tanto é publicitada de forma intensa a toda a hora pelos vários órgãos do sistema onde vivo desenquadrado?

Os meus porquês e as minhas dúvidas há muito que continuam sem respostas. Quando regressas ausente sem aviso gostava de encontrar palavras que me permitissem jogar com elas de modo a conseguir refletir as imagens que passam na mente sorrindo um sorriso de há tanto tempo perdido neste caminhar em busca dos meus porquês da solução para as minhas eternas dúvidas.

21.07.30


 

Saíram cedo para o passeio matinal. O tempo cinzento esperava-os com aquela chuvinha que sem se notar vai refrescando a própria roupa. Frente ao mar agradeceu ao Senhor criador de todas as coisas finitas e infinitas, de todas as coisas visíveis e invisíveis. A sua amiga senta-se aguardando que ele fale com os deuses do além para depois quando ele acabar as suas conversas com o infinito de vários tons de azul a solte para ela poder correr e saltar vivendo o contentamento da sua liberdade.

Quando regressam ele prepara-lhe a refeição da manhã e depois prepara o seu próprio pequeno-almoço.

Como o tempo estava cinzento e fresco, sentou-se no sofá olhando indeciso se ligava a televisão para ouvir a rádio mas nem isso fez. Arrumou o livro que ontem terminou de ler. Livro que o levou de volta a Angola e à cidade de Luanda. A nostalgia daquela terra e daquelas pessoas ainda o acompanham passados que são quarenta e muitos anos em que por lá viveu dois anos de guerra. Tem vários livros para começar a ler. Entre "A Galeria dos Notáveis Invisíveis" de Afonso Valente Batista, o "Angoche Os Fantasmas do Império" (de novo as questões da guerra colonial) de Carlos Vale Ferraz e "A Ditadura Da Felicidade" de Edgar Cabanas e Eva Illouz. Escolheu começar pelo primeiro "A Galeria dos Notáveis Invisíveis". Assim passou a manhã a ler. À hora de almoço aqueceu no micro-ondas parte do grão com mão de vaca que ontem foi comprado em "take away" na Lourinhã. Um prato de comida forte a pedir uma caminhada pela beira-mar depois de ir tomar um café.

21.07.29 BB TV


 

Ontem terça-feira apanhei a chamada grande entrevista da Beira Baixa TV a mais de meio.

Hoje procurei a gravação do programa de ontem. Digo programa porque aquilo foi mais o estender da passadeira ao entrevistado do que uma entrevista.

O entrevistado era o senhor Armindo Jacinto, actual Presidente do Município e candidato a novo mandato autárquico sob a sigla de Idanha Solidária.

No tempo que lhe foi dado de antena podemos resumir que talvez em vez de Idanha Solidária fosse mais ajustado Idanha Projectos, porque a prática solidária é limitada a algumas povoações enquanto que as restantes têm sido ignoradas e esquecidas, não faltando contudo ideias de projectos em negociação e em estudo segundo entendi das suas palavras.

Não vou falar da área da saúde pois já emiti a minha opinião sobre o tal seguro de saúde privado com a designação de "Cartão Raiano Saúde 0-114", aguardando que os serviços apresentem o protocolo assinado com a ULSCB que lhes permita dizer de verdade que o seguro privado é complementar do SNS.

Na área da cultura nada tenho a comentar face ao que o candidato a novo mandato expôs. Embora eu não veja a Cultura como um polo do desenvolvimento económico, mas pode ser um defeito meu.

Fala-se muito na educação. Quer a nível do país quer a nível do Município fala-se mais do que se realiza. Onde e quando irão estar disponíveis as trezentas e tal camas para os estudantes que optarem por estudar em Idanha-a-Nova? Educação e mais projectos e nem uma única palavra, nem uma única ideia sobre a resolução para as miseráveis condições de acesso à rede de Internet que algumas das populações e locais têm. Quando se fala em estudo em casa, em trabalho em casa ou à distância, como podem os jovens alunos dessas povoações e locais estudar em igualdade de circunstâncias com os outros que usufruem de boa acessibilidade à rede? Que garantias de trabalho qualificado oferece a ESGIN e o Município aos estudantes locais e aos que sendo de outras terras optem por estudar em Idanha-a-Nova no término dos seus cursos?

O entrevistador ainda falou nas pessoas que podem vir viver para o Município e trabalhar à distância, como está sucedendo com o Município de Penamacor, digo eu, mas o entrevistado numa finta em fora de jogo ignorou e voltou aos projectos em curso e a outros em estudos.

Quanto ao turismo religioso limitou-se a enaltecer a figura do santo S. Pedro de Alcântara e à Virgem Guadalupe, muito reconhecidos na Extremadura e em toda a Espanha e que tem em Idanha o seu lugar. Muito, muito pouco senhor Presidente. E dizia o entrevistador que o senhor é um visionário. Num Município com tantas tradições e história resumir o turismo religioso aquelas prestigiadas figuras da igreja católica não é só muito pouco como triste.

Entraram os dois, entrevistador e entrevistado, nos projectos para o Geoparque do Tejo internacional, pertencendo ao Município a maior parte desse território, mas logo o senhor Presidente e candidato desviou a conversa com outros projectos e ligações. Nem uma palavra, nem uma ideia para a riqueza da biodiversidade que existe no território de Salvaterra do Extremo, Segura, Zebreira e Rosmaninhal, porque senhor Presidente e candidato? Não vê o senhor qualquer interesse em investir nestas populações fronteiriças do Geoparque do Tejo Internacional?

Mais assuntos há a comentar mas ficam para mais à frente.

21.07.29 Ando cansado



Estou cansado. Sinto-me cansado. Estou na praia e não vou à praia. Leio e quanto mais livros leio mais distante me sinto desta vida. Raramente leio jornais. Lia o Público mas até esse deixei de ler nestas últimas semanas. Há muito hipócrita a escrever coisas que não me agradam. Muitos a tentarem malhar no Governo com o objectivo de desgastarem a Democracia e a Constituição que a garante. As redes sociais são campos minados de notícias falsas onde é cada dia mais difícil distinguir o falso do verdadeiro, a humildade da vaidade.

Na altura tive conhecimento do que se passou em Angola entre as forças do MPLA fiéis ao senhor Agostinho Neto e as forças do MPLA fiéis ao senhor Nito Alves. Nunca imaginei que a luta entre duas facções levasse a uma purga tão grande de tantos assassinados sem julgamento. Tinha conhecimento das divergências que ocorreram entre os guerrilheiros na Zâmbia comandados por Chipenda, a chamada "Revolta Activa" em oposição à nomenclatura central do MPLA no Congo Brazzaville. Dessas divergências resultou o enfraquecimento das acções guerrilheira no Leste de Angola. Conhecimento, porque aos domingos quando estava no arame farpado o cabo cripto me cedia as chaves do seu gabinete e sorrateiramente entrava para ler todas as mensagens e relatórios considerados "confidenciais". Aquando do 25 de Abril de 1974 a acção do MPLA no Leste de Angola era quase nula, pelas divergências internas e pela acção das "Nossas Tropas".

O livro "Em Nome do Povo, O Massacre Que Angola Silenciou" de Lara Pawson, da editora Tinta da China, fez-me pensar em tantas coisas.

A guerra entre as Forças Armadas Portuguesas com os movimentos guerrilheiros MPLA, UNITA E FNLA, terminou sem vencedores, de todos os lados só existiram perdas. O cessar-fogo é consequência directa da acção gloriosa ocorrida em Portugal no dia 25 de Abril de 1974 com a mudança de regime político e não de qualquer facto ocorrido naquela colónia. Qualquer dos três movimentos estava enfraquecido nas suas acções de guerrilha quando se dá a mudança de rumo na política em Portugal.

Em finais de 1974 estava em Luanda aguardando o regresso a Portugal. Os sinais do que se iria passar no decorrer de 1975 eram já evidentes. Cada um dos três movimentos julgavam-se donos e senhores de Angola sendo incapazes de se entenderam tal o ódio que nutriam entre si. Todos queriam o poder.

Depois de ler "Em Nome do Povo" vem-me à memória a minha visita a uma loja do MPLA em plena cidade de Luanda. Chegamos a Luanda vindos da fronteira Norte no início de Novembro. Os soldados ficaram aquartelados no Grafanil. Os graduados, furriéis e alferes, espalharam-se em pensões e hotéis pela cidade. Com o amigo Mário arranjamos um quarto para os dois numa pensão. Todos os dias pela manhã ou ao início da tarde apanhávamos um táxi para irmos ao Grafanil inteirarmos-nos da situação da Companhia. Numa dessas tardes quando regressamos a Luanda seguindo a pé passamos por uma loja do MPLA dizendo ao meu amigo para esperar por mim que ia procurar pelo livro de poesia do senhor Agostinho Neto. Ao entrar fardado como alferes do exército português o ar gelou, todos os jovens que estavam nos dois pisos pararam olhando-me com olhos ameaçadores de animais felinos. Com calma cortando o ar gelado cheguei junto da menina do balcão em frente e perguntei pelo livro de poesia, informando-me a menina que estava esgotado, virei-me para o balcão dos discos de vinil na altura a música que saia das colunas também já tinha gelado. Escolhi um LP que ainda hoje guardo, paguei e virando costas, saí sem olhar para trás com a sensação que se olhasse para trás algum deles me iria espetar uma navalha. O meu amigo esperava-me e chamou-me de louco. Passamos pela pensão, mudamos de roupa e lá fomos para a Restinga no início da Ilha de Luanda beber imperiais com camarões e caranguejo de Moçâmedes. Hoje ao ler a matança que ocorreu nos dias que se seguiram ao 27 de Maio de 1977, pergunto-me se todos aqueles jovens seriam "netistas" ou "nitistas" e se "nitistas" será que sobreviveram à matança desencadeada por Agostinho Neto e cubanos?

É muito triste como um país com tantas possibilidades de ser um país rico economicamente viva subjugado por uma elite que do propagado marxismo passou ao capitalismo puro e duro usurpador das riquezas em proveito próprio deixando milhões de angolanos viver na miséria. 



 




21.07.29

 

Acordei cedo como sempre acontece. Hábito que vem de longe. Hoje pensei ficar um pouco mais de tempo deitado, mas logo o corpo deu sinal de que o melhor era levantar-me, preparar-me e sair para a rua a fim de receber as energias que o Rei Sol nos manda lá do alto há milhões de anos.

Uma manhã a prometer um dia de Sol com a brisa de norte fresquinha.

Por volta das sete e meia já havia quem se dirigisse para as rochas cheio de fé na crença que a cura das suas dores reumáticas está naquelas rochas.

As obras no Forte continuam, pelo menos é a ideia transmitida pelo contentor e vedações. A ideia de manutenção da muralha virada para a norte é boa. Tudo o que seja para conservar a história deste pequeno lugar é positivo. É bom lembrar que foi aqui que D. António Prior do Crato desembarcou com os seus homens na esperança de poder recuperar a independência do Reino entregue de mão beijada e corpo curvado aos Filipes de Castela por uma Nobreza e um Clero pouco patrióticos. Voltando às obras no Forte desde o anúncio oficial do acordo celebrado entre o Município de Peniche e as várias Secretarias de Estado para a realização das mesmas que demonstrei ao então Presidente do Município, meu conhecido e amigo, as minhas dúvidas pela viabilidade sustentável das mesmas. Oxalá que mais uma vez esteja enganado.

Triste é a situação que se arrasta com parte da muralha que dá para as rochas. Depois das obras de sustentabilidade realizadas na arriba à volta do Forte e das casas antigas construídas sobre o limite da arriba, uma parte da muralha no largo junto à primeira casa deu de si com a própria muralha a inclinar-se ameaçando poder ruir. Que fizeram as autoridades locais (freguesia e município) e nacionais responsáveis pela costa marítima? Simplesmente colocaram umas barreiras metálicas ligadas pela usual fita plástica limitativa, lavando as mãos como Pilatos segundo reza a Bíblia. Os anos passam e até a fita plástica cansada desistiu de resistir à nortada carregada de maresia.

Vivi por cá a minha juventude voltando depois a viver o tempo de férias que a Lei do Trabalho me dava, porque se vivesse sempre aqui iria tentar criar um movimento cívico apelando ao voto em branco nas próximas eleições autárquicas quer nas listas para a Junta de Freguesia quer nas listas para o Município de Peniche. Votando mas demonstrando a insatisfação.

Levamos 47 anos de Democracia mas as forças políticas que governaram o Município assim como o Movimento de cidadãos actual, demonstraram ao longo dos anos não olharem com olhos de ver e sentir que estas povoações e estas praias (Consolação e S. Bernardino) merecem pela sua beleza natural uma outra política diferente daquela que já o antigo Estado Novo seguia e que tristemente os eleitos democraticamente ao longo destes quarenta e sete anos seguem de forma idêntica, ignorando simplesmente a Natureza destes locais e as suas gentes aqui residentes (não apenas veraneantes).

Aqui nesta praia, Consolação, viveu algum tempo da sua vida o grande poeta Rui Belo. Não existe uma simples placa indicativa. Talvez os vereadores culturais do Município não saibam quem foi Rui Belo, talvez. Talvez saibam que o escritor Raul Brandão passou por estas terras considerando na sua obra "Os Pescadores" ser o Baleal a praia mais bela de todas as praias. Talvez saibam isso porque existe essa placa na Ilha do Baleal.

Deu a Natureza nozes a quem demonstra não ter dentes que mereçam tal fruto. 


21.07.27

 

Fui levar a minha neta à escola de surf no Baleal. Por força da maré levei-a às 13H e fui buscá-la às 15H30. Não me lembro de ir ao Baleal neste horário mas há sempre uma nova ocasião.

O areal é muito extenso mas o parque automóvel estendia-se por todos os parques e caminhos de terra.

Ali aprendi sozinho a nadar com oito ou nove anos. Mergulhando a saltar das rochas para o mar "virei o bucho" segundo a velha curandeira de Ferrel que me tratou quando a medicina convencional nada resolvia para desespero de meus pais.

Olhei a antiga fonte, agora desativada pelas autoridades. Era daquela fonte que bebíamos a água em casa transportada em garrafões na "pasteleira" de meu pai.

Mais triste fiquei com as novas modernices de toldos. Numa praia onde a nortada é uma quase constante não percebo estas modernices a quererem imitar as praias tropicais.

Poderei voltar ao Baleal cuja beleza natural é uma realidade quando olhamos para a Ilha mas a envolvente urbanística entre o Baleal e Ferrel é muito betão anárquico para o meu sentir.

À praia há muitos anos que não vou. Gosto mais de caminhar na baixa mar entre a Consolação e o Molho Leste mesmo em dias de nortada.


21.07.25 Morreu Otelo Saraiva de Carvalho


Morreu Otelo. Morreu o homem. Ficam os actos por ele corporizados num tempo em que o individualismo se sobrepõe ao colectivo.

Falar só de Otelo como o homem do 25 de Abril é injusto para todos os outros. Acompanhei durante algum tempo Otelo e o que ele representava naquele tempo.

Dou comigo a pensar porque será que alguns dos valorosos militares do Movimento de Capitães são tão lembrados e relembrados enquanto que pouco ou nada se fala do pensador Melo Antunes.

Morreu Otelo, operacional activo do grandioso 25 de Abril de 1974.

Políticos de hoje no poder democrático nomearam para as celebrações do cinquentenário do glorioso 25 de Abril de 1974 um homem do 25 de Novembro.

Neste domingo morreu o homem, não morreu Abril e todo o sonho de Liberdade e Igualdade que ele e os seus camaradas militares deram ao Portugal amordaçado, triste e miserável de vida para a grande maioria dos portugueses que então se vivia.

Como é natural nestas coisas, nem todos os portugueses gostaram do dia redentor e glorioso de 25 de Abril. Muitos dos amantes e apoiantes da ditadura de Salazar-Caetano abrigaram-se debaixo das saias dos partidos políticos existentes e recém formados graças à acção militar colectiva do homem e seus camaradas militares.

Viveram muitos dos saudosistas do antigo regime hibernando em partidos políticos do regime democrático saído do 25 de Novembro de 1975, até que, um dos seus filhos e enteados, bem falante aldrabão de primeira água sem vergonha, foi promovido a figura nacional pela comunicação social televisiva. Com a promoção que a comunicação social televisiva promoveu e promove de tal figura, acordaram perdendo a vergonha os hibernantes saudosistas dos velhos tiranos que a 24 de Abril em tribunais plenários prendiam e julgavam todos os que sonhavam que havia um outro modo de vida para lá da miséria que o slogan de "Deus Pátria e Família" instituído na Constituição de 1936 como alicerce do Estado Novo impunha à vida dos portugueses.

Não nos admiremos pois do que ouvimos falar a muitos dos comentadores e paineleiros que opinam na comunicação social televisiva, sobre o homem que neste domingo nos deixou.

Muitos dessa gente submissa ao pior que o capitalismo actual tem, incluindo o próprio Presidente, nunca gostaram de verdade do 25 de Abril de 1974, apenas se adaptaram à Democracia não esquecendo o passado da gloriosa ditadura dos seus antigos líderes.

Ao não decretar luto nacional, o Governo mostra a sua natureza de classe submissa, apoiantes que são de Novembro em oposição a Abril. 


domingo, 12 de setembro de 2021

PRR

 

Ouço o sr. Primeiro Ministro a bater com o punho na mesa dizendo que as Autarquias têm de executar o PRR.

Começo a ficar preocupado com a utilização futura de tanto dinheiro.


Que planos terá o Município de Idanha a Nova para a utilização dos fundos que o PRR lhe pode proporcionar?

Irá o Município investir nas mesmas e habituais povoações?

Ou irão lembrar que o Município não é só Idanha-a-Nova, Termas de Monfortinho, Penha Garcia, Monsanto, Idanha-a-Velha e Ladoeiro que também começa a distanciar-se nos apoios públicos de todas as outras povoações do Município?

Que planos e projectos sustentáveis têm todas as forças políticas e movimentos de cidadãos que se apresentam às próximas eleições que estejam dentro das metas do tal PRR?

Projectos sustentáveis criadores de riqueza e de trabalho que não tragam para o Município apenas e só imigrantes de mão-de-obra indiferenciada e ocasional?, que não sejam projectos incumpridores das leis vigentes, que apenas mascaram os números macroeconómicos das estatísticas com o valor acrescentado da riqueza criada a fugir para off shores internacionais.

Irá a tão propagandeada "região bio" continuar a apoiar investimentos de culturas intensivas e super intensivas, temporárias e sem controlo superior dos adubos e pesticidas utilizados?

Que indústrias agro-alimentares terão os responsáveis em mente apoiar para a criação de cadeia de riqueza aproveitando os produtos agrícolas criados e produzidos no Município?

21.07.22

 

De madrugada acordo. Ouço o silêncio. O mar deve continuar calmo. Imagino as gaivotas na areia da praia. Os pássaros e as rolas ainda dormem. É madrugada escura ainda. A Sacha olha-me interrogativa. Deita-se aos meus pés. Escrevi coisas sobre o cartão. Não era este cartão o mais aguardado. A esperança persiste ténue mas persiste. Vai-me acompanhar. Até quando não sei. Mas sei que caminha comigo ao meu lado.


Saímos para a manhã cinzenta e fria. As ruas dormiam ainda. O mar na vazante e calmo. Uma rola voa de um telhado para outro. Apenas um carro passou por nós. Subimos a duna para falar com o Senhor de todos os céus. A vista perde-se na fusão dos azuis do mar com os cinzentos das nuvens. No mar imenso um barquito da pesca desportiva tenta a sua sorte. Caminhamos depois pelas dunas. A Sacha sente-se feliz correndo e saltando livre da trela. Na volta encontramos outros madrugadores. A vida na pequena Consolação estava a começar.


21.07.21


 

Olho o cartão que a República Portuguesa me enviou. Foram necessários quarenta e sete anos para receber um sinal de agradecimento por parte da República pelos dois anos de vida, que os "mandantes" do poder de então, me roubaram à minha juventude, para ir para uma guerra na defesa dos interesses financeiros e especulativos de meia dúzia de famílias amigas e sustentáculo dos velhos ditadores Salazar/Caetano. A mim e a muitos milhares de jovens como eu.

Depois de tantas promessas de tantos recuos finalmente desta vez cumpriram. Importa-me mais o símbolo que o cartão representa do que a parte material que o mesmo me concede. Benefícios materiais que ainda não estão totalmente disponíveis, aguardando alguns a sempre famigerada e adiada regulamentação.

No cartão em vez de um número de identificação, mais um número, que nada me diz, porque não utilizaram o respectivo número mecanografico de cada um dos antigos combatentes vivos. Se é por questões informáticas ao 04420571 bastava acrescentar antes um 0 ou outro algarismo, para perfazer as nove casas deste novo numero de identificação que nada nos diz ou transmite a não ser a frieza, a falta de senso humanista com que os "mandantes" do novo poder democrático sempre trataram os jovens que foram obrigados a combateram em Angola, Guiné, Moçambique sem esquecer os territórios de Goa, Damão e Diu na Índia.

Deram-me um cartão acompanhado de um carta. Agradeço à senhora Secretária de Estado de Recursos Humanos e Antigos Combatentes e não tendo nada mais a declarar aos costumes disse nada.

21.07.17

Olha a praia com nostalgia, sem outras emoções. Olhando sentado no cimo da arriba, sobranceiro ao extenso areal deixa o pensamento sair e no embalo das ondas vê que não é preciso saber das imagens das cheias que assolaram em especial a Alemanha e a Bélgica estendendo-se a outros países europeus de forma menos assassina para vermos com olhos de gente séria as alterações climatéricas que o modelo de desenvolvimento escolhido pelo sistema capitalista-consumista provocou, provoca e nos trás. Vem-lhe à memória as palavras de Bertolt Brecht "Do rio que tudo arrasta se diz violento. Ninguém diz violentas as margens que o comprimem".

Nesse embalo das ondas lembra-se da largura grande do areal e vê as muitas toneladas de areia que o avanço das águas do mar ano após ano tem levado para outras paragens. A praia embora continue grande a fazer inveja a muitas praias badaladas pela comunicação social existente, ano a ano vai ficando mais pequena. Mas naquela manhã sorriu e inspirou bastas vezes o aroma a iodo que os limos trazidos para o areal pelo mar estão a provocar. Desceu para verificar se aquele aroma a iodo não era mesmo do chamado limo correia que há anos tinha desaparecido da nossa pequena costa entre a Consolação e S. Bernardino. A Natureza é um milagre tão poderoso e bonito de se olhar e sentir simplesmente sem necessidades de grandes voos, porque de certo os ultra-ricos que pagaram fortunas para sentirem o orgasmo da ausência de gravidade, desconhecem inteiramente estes pequenos grandes acontecimentos de renovação da Natureza marinha.

Mais triste é a situação em que se encontra o Porto Batel. Só o mar continua o mesmo com as suas rochas. A areia vai e vem consoante os ventos das marés. Olhar a arriba a degradar-se é de profunda tristeza que depressa se transforma em pequena revolta. Ao desinteresse dos poderes locais (freguesia e município) junta-se a ignorância e os interesses obtusos que existem nos vários corredores de ar condicionado dos vários organismos estatais responsáveis pela segurança da fronteira marítima sem milhas. Sentado lá no fundo olha toda a arriba a degradar-se e pergunta-se porque no seu tempo de juventude a mesma arriba era muito mais segura do que hoje se apresenta. O Porto Batel nunca foi praia no termo exacto de praia, mas era o lugar especial abrigado da natural nortada onde as gentes do Lugar da Estrada e não só procuravam o seu banho de sol e de mar. Nunca ali existiu qualquer banheiro, muito menos salvador-nadador. Aquele lugar era e é um porto de abrigo ou como hoje se diz uma quase piscina natural sem correntes marítimas a puxarem, sem agueiros. Só a força do mar quando Neptuno se enfurece metendo respeito e medo impede o tomar banho naquele local mítico. Quantas tardes na sua bicicleta pelo caminho de terra entre fazendas transportou ele o Carlos, deficiente com a sua bóia de câmara de ar, e às costas o levava arriba baixo para que ele também pudesse desfrutar do seu banho de mar. Teria ele uns 13 a 15 anos, não existindo nesse mundo de então as muitas ideias negativistas que hoje grassam na sociedade. A amizade e a solidariedade tinham outro viver mais humanista entre as pessoas. Hoje, com poucas excepções, tudo é mais individualista. O indivíduo foi criado pelos senhores que comandam o mundo como a figura essencial ao desenvolvimento do consumo. Depois dizem-nos os governantes submissos que sem o crescimento do consumo é difícil o crescimento económico pelo que somos induzidos a consumirmos tudo, o que precisamos e o que não precisamos. Sorrateiramente até o consumismo faz parte dos múltiplos conceitos criados pelos arautos do poder como uma das formas de Felicidade.


21.07.16


 

Escreve quando o dia de domingo ainda não acordou, tudo à sua volta é silêncio. E, no silêncio do amanhecer, deixa-se embalar pelas memórias boas vividas quando rapazinho aqui chegou e jovem por cá se fez. Embala-se nas boas recordações porque saudades só as sente pelo futuro. Contudo, pela primeira vez ao chegar à sua terra adoptiva e ao não sentir qualquer emoção lembrou-se do seu pai. Quantas vezes ele lhe disse que foi por cá que viveu os melhores tempos da sua vida de Guarda Fiscal mas que era lá na Zebreira que estava bem. Acreditava o seu pai ter sofrido um milagre quando para lá voltaram no mesmo dia em que se aposentou do funcionalismo público. Nesse dia terminou o seu sofrimento com a malvada asma que durante tantos anos o fez sofrer. Também ele sente em si essa mudança surda e constante de se sentir melhor lá no seu canto no profundo e esquecido interior de todos os poderes executivos. Lá a vida como que tem uma outra dimensão pelo sossego, pela calma que a passagem dos dias lhes transmite. Sente-se a ficar com as dúvidas se esta mudança nas emoções não será o prenúncio do conceito depreciativo de "velho". Para as suas dúvidas e questões não encontra contudo uma resposta que o satisfaça.

 


Ao descer para a Lourinhã entrou na frente de um nevoeiro que se vinha anunciando. Para trás ficou o sol em mais um dia de calor deste mês de Julho. Pela primeira vez ao passar o Fialho antes de entrar nos portões da cidade de Peniche não sentiu a emoção de outras vindas. Muito trânsito com automobilistas apressados. A pandemia dos contágios desta nova variante do vírus está viva no concelho mas a ausência de máscaras é notória. Passou indiferente pela Escola onde estudou e tomou conhecimento com as artes dos registos contabilísticos.. Dirigiu-se ao mercado em busca das ameixas amarelas de que tanto gosta. Abastecido de fruta deu à ignição e rumou à Consolação. O Sol começava a despontar pela dissipação do manto de nevoeiro.

Indiferente ao mar e à praia foi para casa. Depois de almoçarem, sentou-se e começou a ler mais um livro sobre Angola. Um livro bem diferente do que no dia anterior tinha terminado. O livro acabado levou-o de volta para a guerra no Leste de Angola onde andou como "tropa pacaça " segundo o alferes comando figura principal do livro. Ao "Elogio da Dureza" segue-se "Em Nome do Povo" onde a autora inglesa trás para a memória presente e futura os ocultados e trágicos acontecimentos no 27 de Maio de 1977 em Angola. A nostalgia daquela terra daquelas gentes sempre presente no seu pequeno universo pensante.




21.07.15

 

E como não obtendo qualquer informação via telefone dos Centros de Saúde decidiu fazer-se ao caminho na sexta-feira, três dias antes da sua previsão de regresso, já que a mensagem recebida do número 2424 lhe dizia que sábado era o último dia para se apresentar. Para trás ficaram coisas em suspenso até à próxima ida. Saiu com 37° e chegou com 27°. Tudo normal em mais uma viagem pela A23 ouvindo a rádio e conversando com a sua sombra.

Há hora que viu na Internet ser o horário para a segunda dose dos já vacinados com a primeira dose da AstraZeneca compareceu a tempo pois não gosta de chegar atrasado. Com tantas filas presentes procurou um segurança para saber em que fila teria de ficar. Indicou-lhe o segurança a fila das 16H00 e por lá ficou. A tarde estava quente variando a temperatura entre o termómetro do caro e a indicação do telemóvel entre os 37º e os 35º graus. A confusão junto a uma das entradas do pavilhão era de tal modo que teve de chegar um carro da polícia para os ânimos se acalmarem. O tempo ia passando e a fila não se mexia porque a fila das 15 era bastante grande e ele aguardava calmamente lendo página a página “O Elogio da Dureza” de Rui de Azevedo Teixeira. Embrenhando-se nas aventuras do antigo alferes comando Lobo lia página a página alheando-se das muitas vozes que botavam opiniões até que a fila começou a andar. Fechou o livro porque um segurança que fazia o controle o chamou e lhe pediu o cartão da primeira inoculação e ao ver a data o informou que aquela não era a sua fila. Mostrou ao segurança a mensagem recebida no telemóvel mas o segurança informou-o que as senhas para o seu caso já tinham sido distribuídas, que o seu colega se tinha enganado e ele teria que voltar na data hora indicada no cartão da primeira inoculação. Saiu da fila e dirigindo-se ao carro olhou as horas. O relógio marcava 18H10. A temperatura um pouco mais fresca com a brisa que começou a soprar vinda do rio. Muita coisa haveria para dizer mas o segurança era o menos culpado de toda aquela confusão. Não sentiu revolta já estava habituado a que o Estado o tratasse assim. Tudo o que alcançou na vida foi fruto do seu trabalho e do muito sacrifício que os seus pais fizeram para que os filhos pudessem estudar. A não revolta deu lugar a um sentimento de desprezo pelos políticos que nos tem dirigido. Sim dirigido é o termo certo já que governar é outra coisa bem diferente de dirigir.

Os idosos, como ele, que foram inoculados com a primeira dose a 22 de Abril podiam tomar a segunda dose antes do tempo previsto sendo que as inoculações para eles estavam racionadas a um certo número de senhas diárias. Sentiu saudades da sua amiga G3 mas logo afastou esse pensamento. Irá apresentar-se no dia programado à hora certa sentindo desprezo quando ouve na televisão que os vacinados com a primeira inoculação da AstraZeneca o podem fazer sem agendamento. “Vão gozar com o…” é a sua reação muda a tal notícia. A vida prega-nos partidas que nunca imaginamos

21.07.14



 Consolação, Zebreira

Nesta terra esquecida de todos os poderes vejo coisas publicadas com pompa e circunstâncias aqui e em outros locais por onde caminhei nesta viagem dorida de sete décadas.

Nasci por força do acaso em casa num quarto alugado numa rua de Lisboa que vai resistindo ao avanço dos interesses especulativos e interesseiros imobiliários. Quis de novo o acaso que crescesse à beira mar, primeiro a Norte e depois a Sul da península de Peniche que há alguns séculos atrás foi uma ilha. Depois, quando nos mudámos para Sul nunca mais fui assíduo das praias do Norte da península; foi no mar a Sul da península que me ensinaram a respeitar e até ouvir a fala e a fúria dos deuses que o dominam. Praias e terras de gente no litoral mas já então esquecida dos poderes central e local. Mesmo assim, como que esquecidos aprendemos a ser felizes com o que a Natureza nos oferecia. Nesse tempo da mordaça do lápis azul que escondia do conhecimento público todas as poucas vergonhas, todos os compadrios numa corrupção transversal ao Estado, já o poder local desse tempo olhava com olhar único para Norte para o Baleal, a menina dos seus olhos, tudo o resto era paisagem povoada por saloios. Nem a chegada da Democracia trouxe alterações à visão territorial do Município. Os vários poderes locais que tem existido no Município (PS, PPD/PSD, CDU e Independentes) continuaram e continuam a só olhar para Norte, para o Baleal. As praias do Sul como que constituem um peso administrativo aborrecido e chato de cuidar para os serviços do Município sendo tratadas com o estigma de filhas ilegítimas. Praias que também têm virtudes que as do Norte da Península não possuem. É a sina das praias e das gentes que vivem a Sul da Península dir-me-ão. Nem a existência de um Hotel de qualidade faz os serviços municipais olharem para a quase picada alcatroada que vai de Geraldes ao Casal Moinho passando pelo Lugar da Estrada, pela Consolação, pelo Hotel antes do Casal Moinho.

Venho para o interior para as terras onde nasceram os meus pais, Zebreira e Segura. Terras pertencentes ao Município de Idanha a Nova que neste tempo de Democracia tem sido governado pelo PS com a excepção de um mandato em que o PPD/PSD governou. A princípio olhava com agrado sentindo algum orgulho pela maneira como o Município tentava sobreviver ao esquecimento quer do Poder Central quer das gentes que habitam nas grandes regiões do litoral. Procurei estar presente em alguns eventos sempre anunciados com pompa em alguns meios de comunicação e mesmo nas redes denominadas sociais. A pouco e pouco fui observando e interiorizando o abandono a que as terras do sul do Município estão votadas, são terras esquecidas quase que abandonadas com uma ou outra excepção. Num Município com tanta história, com tantas lendas, está resumido ao rei visigodo Wamba em Idanha-a-Velha, aos Templários em Penha Garcia e Monsanto esquecendo-se que os mesmo Templários terão também andado por Salvaterra do Extremo cuja origem remonta ao período pré histórico também. Segura poderá ser tão antiga já que existia aquando da fundação do Reino por D. Afonso Henriques. Terra pequena por onde ocorreram grandes momentos da nossa história mas que são completamente esquecidos e ignorados pelos que governam o Município.

Depois queixamos-nos das políticas centralizadoras do Poder Central e esquecemos que também o Poder Local do Municípios aplica os mesmo princípios olhando para uns como os filhos dos seus olhos e para outros como enjeitados, filhos de um Deus menor. Há que lutar contra essas injustiças pois todos somos portugueses iguais perante a Constituição. Se o voto é a arma do povo há que saber utilizar esse poder democrático do voto para podermos fazer ouvir o descontentamento perante o tratamento diferenciado existente.

Cartão Raiano de Saúde 0-114

 

https://www.diariodigitalcastelobranco.pt/noticia/57034/idanha-a-nova-camara-disponibiliza-casa-a-medicos--

O “Cartão Raiano de Saúde 0-114” que dá cobertura a um seguro privado básico de doença foi lançado há pouco tempo pelo Município de Idanha a Nova com pompa e circunstância.

Como defensor do SNS critiquei e critico o facto de terem escolhido fazer um contrato com uma entidade privada cuja Associação representativa dos seguros de saúde tem desenvolvido ao longo dos anos uma luta intensa pela privatização, contra o SNS publico e universal.

O funcionamento do SNS não é nenhum modelo de virtude onde tudo funciona sobre rodas, antes apresenta ainda muitas carências não só no interior de Portugal, mas mesmo assim é com a sua rede de hospitais públicos ou em PPP (participação publico privada) quem socorreu e socorre todos os cidadãos e famílias que foram vitimas de contágio com o malvado vírus que veio mudar a vida de todos nós. Não foram os seguros de saúde nem as clínicas privadas que desde a primeira hora fecharam as portas aos seus segurados.

Atenta e ciente às várias criticas ao contrato de seguro de doença que suporta o “Cartão Raiano de Saúde 0-114” como medida eleitoral desligada da complementaridade apregoada com o SNS pois nunca foi dado a conhecer qualquer protocolo assinado com a USLCB entre o Município a própria ULCCB e A Seguradora Lusitânia, pelo que qualquer exame prescrito nas consultas médicas abrangidas pelo “Cartão Raiano de Saúde 0-114” precisa de ser autorizada pelo médico(a) do Centro de Saúde para poder ser realizado e comparticipado na rede de laboratórios e clínicas habituais do SNS, vem agora o Município num comunicado informar tentando «lavar as mãos» que o Município disponibiliza alojamento aos médicos que se queiram instalar num âmbito do recrutamento que a Unidade Local de Saúde de Castelo Branco está ou vai realizar, dizendo que, “A medida está a ser implementada em articulação com o Serviço Nacional de Saúde, no âmbito de um protocolo da Câmara de Idanha-a-Nova com a ULSCB, que visa garantir a prestação de cuidados de saúde de qualidade neste concelho”.

Sem por em causa os bons serviços que ao longo dos anos os órgãos do Município estabeleceram com algumas entidades de saúde como seja o caso com Fundação Álvaro Carvalho por exemplo, sem que para tal tenha sido necessário um contrato de seguro de saúde privado, não posso deixar passar em claro toda esta situação em que se procura misturar um seguro de uma empresa de seguros privada com o SNS como se de um bolo se tratasse.

As eleições para os diversos órgãos autárquicos estão a chegar e quer o “Cartão Raiano de Saúde 0-114” quer agora este comunicado da oferta de alojamento aos médicos, como se isso fosse suficiente para atrair médicos ao Município, não passam de “armas eleitorais” para caça ao voto de quem há tantos anos governa o Município mas que vem revelando algum medo de perder a maioria que tem desfrutado ao longo dos anos.

Porque não sei mas tenho a liberdade de desconfiar.