sábado, 11 de setembro de 2021

21.06.21

 

Hoje deu-me uma vontade de comer aquele puré de feijão encarnado que a minha avó Maria Isabel fazia de um jeito único. Não sei se era dos feijões se era da água do poço ou se era da panela a cozer em lume de lenha, o que eu sei é que era uma maravilha de puré e hoje lembrei-me e deu-me uma vontade de o comer. Quis imaginar quais os outros ingredientes usados mas não fui capaz, até porque eram pobres remediados logo poucos seriam os elementos que juntavam ao feijão demolhado desde a noite anterior. E , naquele pobre mas honrado viver remediado uma outra comida que naquele tempo de férias em que os visitávamos também sabia a manjar dos deuses, umas migas de batatas com um bocadinho de farinheira. Tempos de pobreza onde os alimentos confecionados na água que se ia buscar aos poços matavam a fome ao pessoal porque depois da sopa, das migas ou do gaspacho comia-se uma fatia de pão com queijo ou com o presunto da matança, já que eu não gostava das fatias de toucinho salgado. Nos dias de festa, para minha desgraça, matava-se o galo ou uma galinha. Minha desgraça porque não gostava de canja (ainda hoje passo ao lado). Uma alimentação à base de hidratos de carbono sem que o pessoal fosse gordo e muito menos obeso antes pelo contrário.

Tenho lembranças e saudades dos meus avós mas não digo nem direi que naquele tempo é que era bom, não digo nem direi porque isso era estar a mentir, já que foram tempos de muita pobreza e maior miséria escondida.

Mesmo as lembranças das noites quentes de Verão em que os vizinhos se juntavam à noite na rua sentados uns nos bancos de pedra e ouros nas suas cadeiras pequenas para falarem e comentarem os factos que se iam sabendo, assim como a Ti Isabel do Ti Albano sapateiro contar aos mais pequenos as histórias fantásticas e tenebrosas de lobisomens e almas penadas. Essas pequenas reuniões à noite ao luar, já que a luz eléctrica na Zebreira era um luxo prometido mas sempre adiado até aos quase finais da década de sessenta do século passado. Dizia eu que essas lembranças desses serões eram como que o embrião da ideia das redes sociais, com a vantagem que nesses serões estar sempre presente o calor humano enquanto que nas redes sociais de hoje calor humano é treta virtual.

Com a luz electrica chegou também a televisão e depressa a vida das pessoas mudou sem que dessem por tal. Os serões à porta de casa deixaram de existir. Sem se dar conta a pouco e pouco as pessoas fecharam-se nas suas casas ou nos cafés e Casa do Povo e alegremente foram ficando prisioneiras daquela caixa a preto e branco que emitiam imagens e voz.

Em casa dos meus avós nunca houve televisão. Na casa dos meus pais só já em 1970 é que existiu uma Panasonic a preto e branco que o meu irmão comprou lá para casa.

Hoje não sou grande telespectador e não sinto necessidade de me sentar a ouvir e a ver os avençados e trauliteiros que por lá existem a mando. Sinto muito mais vontade de comer um puré de feijão encarnado ou de umas migas de batata que a minha avó Maria Isabel fazia do que olhar a caixa que agora é plana e a cores cada vez mais coloridas.


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