domingo, 12 de setembro de 2021

21.07.14



 Consolação, Zebreira

Nesta terra esquecida de todos os poderes vejo coisas publicadas com pompa e circunstâncias aqui e em outros locais por onde caminhei nesta viagem dorida de sete décadas.

Nasci por força do acaso em casa num quarto alugado numa rua de Lisboa que vai resistindo ao avanço dos interesses especulativos e interesseiros imobiliários. Quis de novo o acaso que crescesse à beira mar, primeiro a Norte e depois a Sul da península de Peniche que há alguns séculos atrás foi uma ilha. Depois, quando nos mudámos para Sul nunca mais fui assíduo das praias do Norte da península; foi no mar a Sul da península que me ensinaram a respeitar e até ouvir a fala e a fúria dos deuses que o dominam. Praias e terras de gente no litoral mas já então esquecida dos poderes central e local. Mesmo assim, como que esquecidos aprendemos a ser felizes com o que a Natureza nos oferecia. Nesse tempo da mordaça do lápis azul que escondia do conhecimento público todas as poucas vergonhas, todos os compadrios numa corrupção transversal ao Estado, já o poder local desse tempo olhava com olhar único para Norte para o Baleal, a menina dos seus olhos, tudo o resto era paisagem povoada por saloios. Nem a chegada da Democracia trouxe alterações à visão territorial do Município. Os vários poderes locais que tem existido no Município (PS, PPD/PSD, CDU e Independentes) continuaram e continuam a só olhar para Norte, para o Baleal. As praias do Sul como que constituem um peso administrativo aborrecido e chato de cuidar para os serviços do Município sendo tratadas com o estigma de filhas ilegítimas. Praias que também têm virtudes que as do Norte da Península não possuem. É a sina das praias e das gentes que vivem a Sul da Península dir-me-ão. Nem a existência de um Hotel de qualidade faz os serviços municipais olharem para a quase picada alcatroada que vai de Geraldes ao Casal Moinho passando pelo Lugar da Estrada, pela Consolação, pelo Hotel antes do Casal Moinho.

Venho para o interior para as terras onde nasceram os meus pais, Zebreira e Segura. Terras pertencentes ao Município de Idanha a Nova que neste tempo de Democracia tem sido governado pelo PS com a excepção de um mandato em que o PPD/PSD governou. A princípio olhava com agrado sentindo algum orgulho pela maneira como o Município tentava sobreviver ao esquecimento quer do Poder Central quer das gentes que habitam nas grandes regiões do litoral. Procurei estar presente em alguns eventos sempre anunciados com pompa em alguns meios de comunicação e mesmo nas redes denominadas sociais. A pouco e pouco fui observando e interiorizando o abandono a que as terras do sul do Município estão votadas, são terras esquecidas quase que abandonadas com uma ou outra excepção. Num Município com tanta história, com tantas lendas, está resumido ao rei visigodo Wamba em Idanha-a-Velha, aos Templários em Penha Garcia e Monsanto esquecendo-se que os mesmo Templários terão também andado por Salvaterra do Extremo cuja origem remonta ao período pré histórico também. Segura poderá ser tão antiga já que existia aquando da fundação do Reino por D. Afonso Henriques. Terra pequena por onde ocorreram grandes momentos da nossa história mas que são completamente esquecidos e ignorados pelos que governam o Município.

Depois queixamos-nos das políticas centralizadoras do Poder Central e esquecemos que também o Poder Local do Municípios aplica os mesmo princípios olhando para uns como os filhos dos seus olhos e para outros como enjeitados, filhos de um Deus menor. Há que lutar contra essas injustiças pois todos somos portugueses iguais perante a Constituição. Se o voto é a arma do povo há que saber utilizar esse poder democrático do voto para podermos fazer ouvir o descontentamento perante o tratamento diferenciado existente.

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