domingo, 12 de setembro de 2021

21.07.17

Olha a praia com nostalgia, sem outras emoções. Olhando sentado no cimo da arriba, sobranceiro ao extenso areal deixa o pensamento sair e no embalo das ondas vê que não é preciso saber das imagens das cheias que assolaram em especial a Alemanha e a Bélgica estendendo-se a outros países europeus de forma menos assassina para vermos com olhos de gente séria as alterações climatéricas que o modelo de desenvolvimento escolhido pelo sistema capitalista-consumista provocou, provoca e nos trás. Vem-lhe à memória as palavras de Bertolt Brecht "Do rio que tudo arrasta se diz violento. Ninguém diz violentas as margens que o comprimem".

Nesse embalo das ondas lembra-se da largura grande do areal e vê as muitas toneladas de areia que o avanço das águas do mar ano após ano tem levado para outras paragens. A praia embora continue grande a fazer inveja a muitas praias badaladas pela comunicação social existente, ano a ano vai ficando mais pequena. Mas naquela manhã sorriu e inspirou bastas vezes o aroma a iodo que os limos trazidos para o areal pelo mar estão a provocar. Desceu para verificar se aquele aroma a iodo não era mesmo do chamado limo correia que há anos tinha desaparecido da nossa pequena costa entre a Consolação e S. Bernardino. A Natureza é um milagre tão poderoso e bonito de se olhar e sentir simplesmente sem necessidades de grandes voos, porque de certo os ultra-ricos que pagaram fortunas para sentirem o orgasmo da ausência de gravidade, desconhecem inteiramente estes pequenos grandes acontecimentos de renovação da Natureza marinha.

Mais triste é a situação em que se encontra o Porto Batel. Só o mar continua o mesmo com as suas rochas. A areia vai e vem consoante os ventos das marés. Olhar a arriba a degradar-se é de profunda tristeza que depressa se transforma em pequena revolta. Ao desinteresse dos poderes locais (freguesia e município) junta-se a ignorância e os interesses obtusos que existem nos vários corredores de ar condicionado dos vários organismos estatais responsáveis pela segurança da fronteira marítima sem milhas. Sentado lá no fundo olha toda a arriba a degradar-se e pergunta-se porque no seu tempo de juventude a mesma arriba era muito mais segura do que hoje se apresenta. O Porto Batel nunca foi praia no termo exacto de praia, mas era o lugar especial abrigado da natural nortada onde as gentes do Lugar da Estrada e não só procuravam o seu banho de sol e de mar. Nunca ali existiu qualquer banheiro, muito menos salvador-nadador. Aquele lugar era e é um porto de abrigo ou como hoje se diz uma quase piscina natural sem correntes marítimas a puxarem, sem agueiros. Só a força do mar quando Neptuno se enfurece metendo respeito e medo impede o tomar banho naquele local mítico. Quantas tardes na sua bicicleta pelo caminho de terra entre fazendas transportou ele o Carlos, deficiente com a sua bóia de câmara de ar, e às costas o levava arriba baixo para que ele também pudesse desfrutar do seu banho de mar. Teria ele uns 13 a 15 anos, não existindo nesse mundo de então as muitas ideias negativistas que hoje grassam na sociedade. A amizade e a solidariedade tinham outro viver mais humanista entre as pessoas. Hoje, com poucas excepções, tudo é mais individualista. O indivíduo foi criado pelos senhores que comandam o mundo como a figura essencial ao desenvolvimento do consumo. Depois dizem-nos os governantes submissos que sem o crescimento do consumo é difícil o crescimento económico pelo que somos induzidos a consumirmos tudo, o que precisamos e o que não precisamos. Sorrateiramente até o consumismo faz parte dos múltiplos conceitos criados pelos arautos do poder como uma das formas de Felicidade.


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