sábado, 11 de setembro de 2021

21.06.22


 

Tinha quase tudo para ser politicamente de direita, mas não sou.

Meu avô paterno foi um legionário Salazarista de sete costados, agricultor amante da boa vida de putas e hotéis em Castelo Branco.

Meu avô materno foi muitos anos Regedor na Zebreira, ou seja a figura menor do poder administrativo salazarista. Abaixo dele só a "bufaria" usada pela polícia política da ditadura. Também já me contaram que pertencia à legião portuguesa, mas isso não sabia.

Contudo a vida quis que crescesse e me formasse como homem na outra fronteira do meu país, junto ao mar onde este é mais mar longe das terras raianas de Idanha a Nova com a Extremadura espanhola.

Cresci e ao crescer abri os olhos, ouvi o mundo e as suas lutas por uma outra forma de vivermos em sociedade.

Embarquei por vontade própria, ainda jovem, num barco carregado de utopias e vontades de um mundo diferente para melhor.

Anos mais tarde, desiludido com o rumo mas consciente do meu lugar como cidadão, desci do barco para o cais da outra margem da vida por onde me mantenho, caminho e caminharei até que a minha capacidade de ver e ouvir o mundo me permita.

É neste cais da minha vida que olho com tristeza e mágoa o que vejo e vou ouvindo como vai a política no pequeno mundo das terras de meus avós e de meus pais após tantos anos de democracia.

Como pode um partido político que há tantos anos domina politicamente o Município andar tão ansioso, tão sem norte correndo de povoação em povoação a divulgar e promover junto dos seus munícipes um seguro básico de doença privado como forma de cativar os eleitores mais crentes para o voto nas próximas eleições autárquicas?

De tal modo correm ansiosos na promoção do seguro básico de doença privado que até alteraram as datas de visitas programadas e divulgadas para a carrinha visitar as populações só para poderem estar com as suas carrinhas em Proença a Velha aquando do dia seguinte ao final feliz do aparecimento do menino Noah, quando pela programação divulgada não deveriam lá estar. Contudo, lá estavam os dirigentes locais do partido e de novo candidatos a um novo mandato em busca de uns segundos de notoriedade televisiva para promoção da sua imagem. Tiveram azar, o repórter televisivo não reparou.

E tudo isto porque?

O que os faz andar nesta correria ansiosa?

De que terão medo ao fim de tantos anos à frente dos destinos do Município?

Têm obras feitas, coisas positivas realizadas ao longo dos anos… Porque esta ânsia, esta correria de promoverem com as suas figuras principais um seguro básico de doença privado que em substância nada irá resolver a não ser a promoção dos maiores inimigos do Serviço Nacional de Saúde universal para todos, porque a todos os cidadãos o Estado Português garante o direito à saúde. Está na Constituição democrática de 1976 e para tal foi criado o SNS, que tantos ataques têm sofrido de forma ardilosa, sendo esta promovida pelo Município mais dolorosa ainda.

Os partidos opositores tradicionais PSD e CDU embora presentes não têm constituído oposição aos mandatos em maioria, nem mostram estarem em campanha activa para constituírem uma presumível alternativa. Então será o aparecimento do "MPT Movimento Para Todos" e a adesão dos munícipes a este Movimento independente que faz os dirigentes municipais candidatos a andarem nesta lufa lufa de promoção de um seguro básico de doença privado para conseguirem com a ilusão de que o seguro é complementar ao SNS, a manutenção da tendência do voto?

Onde estiveram e estão as companhias privadas de seguros de doença aquando da fase inicial e em toda a pandemia que estamos vivendo?

Quem é que evitou e está evitando maiores males com os contágios e mortes por covid?

Os seguros de saúde privados ou o SNS recorrendo quando necessário aos laboratórios privados para a realização dos testes?

Mais. Quando os munícipes precisarem de realizar exames complementares para diagnóstico médico, será que não vão precisar da aprovação do médico do Posto de Saúde do SNS? - Claro que vão, claro que terão de continuar a espera para que os exames possam ser efectuados na rede do SNS.

Ou será que o Município lhes promete custear de forma graciosa esses exames nas clínicas privadas da Casa de S. Mateus em Viseu e Guarda ou nas outras clínicas e laboratórios da rede da seguradora privada AdvanCare?

Outras situações existem a pedirem a minha atenção. Esta da saúde não é única infelizmente mas é a que mais me revolta e me faz escrever.

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