Vivemos
um tempo triste de difusão de valores numa
sociedade que se desejava mais evoluída e decente.
O
dinheiro perverteu, anulou, como que arrasou os sonhos dos que
sonharam com uma sociedades mais culta no saber, mais tolerante nas
diferenças, mais respeitadora dos seus idosos, mais amiga do seu
amigo, mais amante do seu país.
Tudo não
passou de um sonho lindo que durou muito pouco tempo. Arautos da
liberdade, amigos do capital e de outras culturas estranhas às
nossas, ditas mais modernas e evoluídas, impuseram e implementaram
novos hábitos em nome do progresso copiado das tais ditas culturas
estranhas e pretensamente evoluídas.
Paulatinamente
o poder do dinheiro impôs-se terminado que foi o tempo de todos os
sonhos. Terminado o tempo dos sonhos os grandes homens do capital
financeiro juntaram seus interesses aos homens do betão com a
conivência e anuência de políticos mansos amigos. Nova classe de
jornalistas foi formada. Outros jornalistas e não só, amantes do
«orgulhosamente sós» foram recuperados e promovidos a fazedores de
opinião em horários nobres e editoriais jornalísticos. Tudo
democrático e «a bem da nação».
A
pouco e pouco martelando as consciências, instituíram nos
cidadãos a ideia, o sonho, o desejo de que todos podiam pertencer
a uma nova designação de classes neste tempo moderno - “a
classe média”. O sonho de vida das famílias deveria ser
e passou a ser esse. Esse grande objectivo de pertencer
à classe média. Estar também na mesma classe onde os
ricos endinheirados pelo novo Portugal Democrático são
apresentados como cidadãos modelos, gente que conhece o êxito.
Nesse
modelo a caminho do anunciado mas desconhecido paraíso tudo se
facilitou. Criaram-se os instrumentos económicos e políticos para
que os campos fossem trocados pelas cidades. Cidades que ofereciam
melhores condições de poderem encontrar um emprego, um trabalho que
lhe proporcionasse dois dias de descanso semanal, que com um pouco de
sorte e oportunidade poderiam ter subsídio de férias e até
subsídio de Natal. Coisas que o trabalho duro do campo nãos lhes
garantia. Lá a garantia de trabalho resumia-se ao trabalho de sol a
sol com o descanso dominical para os mais crentes poderem ouvir as
palavras de promessas que o santo padre lhe dizia na missa dominical.
Encheram-se as cidades de populações carregadas de novas
esperanças.
Encontrado
o trabalho o sonho foi o de poder ter uma casinha sua. O
dinheiro não chegava mas os amigos do governo fizeram umas leis para
que os bancos pudessem emprestar o dinheirinho para a compra da casa.
Sempre era melhor pagar ao banco durante 20, 30 ou mais anos do que
andar a pagar a renda ao senhorio que desde sempre foi visto como o
mau da fita. A casa estava hipotecada ao banco mas podia-se dizer «a
minha, a nossa casa». Hipotecada a vida futura ao banco havia que
comprar um carrito, mesmo que em segunda mão, para nas férias ou
nas épocas festivas poder ir à santa terrinha e mostrar o seu
sucesso na cidade grande. Mais uma hipoteca a pagar suavemente que o
pessoal do banco era amigo. Era tão amigo que até facultava um
daqueles cartões que os ricos usavam para comprar a crédito. Assim
os filhos já poderiam também ir de férias para o Algarve, comprar
um computador e um telemóvel dos mais modernos etc
etc. Filhos que agora podiam estudar nas escolas publicas se
assim o quisessem e se não quisessem estudar para além do
obrigatório não fazia mal pois eles, pais, também não estudaram e
fizeram-se à vida. Para mais, muitos dos que estudam e tiram cursos
superiores de muito "marranço" depois não encontram
trabalho… por isso é melhor deixa-los viver a vida à vontade.
Os
jovens que estudam e muitos outros que não
quiseram habituam-se a uma vida de facilidades, onde os pais se
endividam para que os seus meninos não sejam menos que os filhos do
senhor engenheiro, do senhor doutor. Habituam-se a viver a vida
sem grandes sacrifícios. Tudo lhes é facilitado. Os maus hábitos
crescem como os cogumelos nos subúrbios e alastram-se aos centros
das cidades. O regime e os que de tempos a tempos são
eleitos para governarem deixaram-se enredar numa teia social
onde todos só têm direitos cívicos, onde a própria lei foi
aprisionada por conceitos de psicologia barata de que todos
parecem ter medo.
A
teia da aranha venenosa estava montada. Com ela os lucros usurários
do capital financeiro garantidos. Tudo sempre «a bem da nação».
E
assim aos altos e baixos vivia-se sempre na ilusão de que o
prometido paraíso estaria mais próximo do que poderíamos imaginar.
A ilusão é uma felicidade.
De
repente, do nada surgiu um bichinho tão pequenino que não se vê à
vista desarmada. Veio de algures na Natureza e espalhando-se entre as
nossas células humanas, mudou a vida no Planeta. Do oriente ao
ocidente, do Ártico à Antártida a todos mete
medo, pelo sofrimento que causa quando se instala nas nossas células.
A economia do mundo capitalista parou, confinou e como só existe
essa forma de economia no Planeta a vida como que esta suspensa na
quase totalidade dos países.
E
agora que iremos, que poderemos fazer?
Como
mudar o paradigma da vida fácil para os mais jovens?
Como instruí-los
de que o amanhã não será igual ao ontem?
Sem
trabalho à vista como sobreviver?
Como
pagar as hipotecas que não nos deixam sequer dormir?
Que
futuro para os mais jovens?
Uma
coisa é certa, a frase de que «Vai Tudo Ficar Bem» é uma
falácia, uma porra, nesta vida de tantas e tamanhas
incertezas, de choros doridos pelos que vão partindo mais cedo desta
viagem.