sábado, 3 de outubro de 2020

Pai (20.09.10)

 




Pai. Escrevo porque hoje é e será o teu dia enquanto eu andar por cá nesta viagem. Nasceste no tempo quente e seco e assim continua em mais um dia de céu azul com o calor a fazer-se notar.

Cá estou na nossa casa, arranjando-a ao meu jeito, nem tudo pode ser como gostaria mas vou fazendo o que posso. Sinto-me bem por cá. A casa pequena é o quintal igualmente pequeno dão-me uma noção de liberdade que não encontro em nenhum outro lado.

O mundo cá por baixo anda de confusão em confusão cada vez mais confuso. Os políticos, mesmo os do teu partido, governam sem bússola com terra à vista. Muitos sempre mais preocupados como inchaço do próprio umbigo enquanto o maralhal só sabe criticar, dizer mal de tudo esquecendo os seus próprios deveres e obrigações.

Espero que possas encontrar o caminho da Luz para que possas subir e encontrares a Paz.

Antigos Combatentes



 




E se duvidas existissem sobre o respeito que os Governantes tiveram e têm com os jovens de então grisalhos e velhos de hoje, que na flor da idade foram mandados combater nas diversas frentes em Goa Damão e Diu, Angola, Guiné e Moçambique de onde muitos não regressaram, outros muitos foram evacuados deficientes e doentes sendo que aqueles que do mato voltaram para o colo da mãe, para os braços das esposas e namoradas, já não eram de verdade os mesmos que um dia partiram do cais em Alcântara ou da Rocha de Conde Óbidos ou do aeroporto militar de Figo Maduro… se duvidas existissem a Lei nº 46/2020 agora aprovada na Assembleia da Republica e promulgada pelo Presidente, a mim não mas tiraram, antes pelo contrário.

A aprovação do Estatuto do Antigo Combatente só colateralmente, porque de outra forma seria uma afronta vergonhosa, engloba os ainda vivos grisalhos e velhos das frentes quer na Índia quer em Angola, Guiné e Moçambique.

O 25 de Abril aconteceu há 46 anos.

O Primeiro Governo Constitucional de Portugal tomou posse a 23 de julho de 1976, ou seja há 44 anos.

Em 44 anos a única medida que existiu foi a conceção de um «complemento especial de pensão» anual no máximo de 150,0€ aos antigos combatentes reformados e aposentados que comprovassem ter estado nessas frentes de guerra.

Um «complemento especial de pensão» não o reconhecimento publico. Como se com aquele valor calasse a revolta silenciosa de muitos e muitos dos antigos combatentes que obedeceram mandados à força para a guerra por um regime tão anacrónico, egoísta e cruel que os próprios militares de carreira lhe puseram fim a 25 de Abril de 1974. Para trás ficaram anos e muitas vidas que se perderam ingloriamente, sendo que nas frentes de guerra em África só houve perdedores de um lado e do outro, ninguém saiu a ganhar.

A minha Companhia de Caçadores foi das últimas a partir efetuando o embarque por avião a 15 de Dezembro de 1972. O 25 de Abril encontrou-nos no mato sem fim do Leste Angolano. Hoje, os que sobreviveram ao longo do tempo ao desgaste da vida dura e difícil, somos grisalhos e velhos com os mais novos na casa do 69 anos. Dos três Capitães Milicianos das Companhias Operacionais só o da minha Companhia é vivo.

Era um jovem de 20 anos quando ingressei no Calhau em Mafra. Tinha consciência do que me poderia acontecer. Formei um grupo de jovens tão jovens quanto eu em Chaves. O desertar e o cumprir a obrigação foram sentimentos vividos. A fronteira estava perto, o Rio Tâmega passava-se bem a pé ou a nado. Mas fui à guerra consciente de qual era a minha principal missão – o regressar são e salvo de todo o grupo, daquela guerra que não era nossa. Parti com 21 anos e com a responsabilidade de zelar pela vida de 30 jovens como eu.

Claro que as doutas cabeças que elaboraram, aprovaram e promulgaram a presente Lei desconhecem totalmente o sofrimento, a angústia da incerteza, o conviver com a revolta surda todos os dias e todas as noites. Noites que o sexo com a preta lavadeira, a bebedeira , a masturbação num buraco de uma árvore feito durante o quarto de sentinela, e, por fim a liamba não acalmavam muitos dos espíritos que na ilusão de uma viagem ao Puto a ela se entregavam.

No vosso Artigo 4º “Deveres dos Antigos Combatentes” alínea b) aprovaram e promulgaram os senhores «Honrar a camaradagem, a responsabilidade e a solidariedade»… Ao fim de 44 anos se alguém Não Soube Honrar a camaradagem, a responsabilidade e a solidariedade, foram os senhores e todos os vossos antecessores quer em S. Bento, quer em Belém.

Esta Lei e o Estatuto a ela anexo que os senhores Governantes, Deputados e Presidente aprovaram e promulgaram, tem muito mais a ver com o satisfazer de reivindicações que os actuais militares do quadro e os outros militares a termo que se Oferecem Voluntariamente para as chamadas missões de Paz da ONU possam ter feito, do que se preocuparem com os grisalhos e velhos que andaram Obrigados à Força a lutar em guerras inglórias a mando de um Sistema Governativo Anacrónico, Egoísta e Cruel.

Hei-de ter o Cartão de Antigo Combatente, já que nunca me aprovaram o cartão de oficial milicianos com a farda número 1 por causa do tamanho das minhas patilhas. Só espero que não demorem tanto tempo a decidir a regulamentação como demoraram a aprovar a Lei do Antigo Combatente é que gostava de o guardar junto das minhas memórias.


Lares


 

Às seis da manhã do dia 25.08 estou levantado. Faço uma viagem virtual pelos jornais. Nos generalistas nada me prendeu a atenção, a cruzada deles continua; nos desportivos pior, muita imaginação pouca credibilidade no que publicam. Em resumo nuns e noutros, muitos palpites, alguns maldosos, de conhecidas origens.

Há quatro anos conhecia bem um Lar. Lar que é uma IPSS, instalações construídas pela Autarquia e cuja gestão foi entregue à uma comissão local eleita regularmente. Um Lar de idosos e velhos que integrou na sua acção social os utentes do Centro de Dia existente na terra há vários anos. Centro de Dia gerido na sua existência até então por um triunvirato de três amigos voluntários graciosamente, com instalações próprias condignas e acção meritória com mais de 25 anos. Falo por conhecimento já que o meu pai foi um dos integrantes do triunvirato do Centro de Dia, sabendo da luta que travaram para poderem acrescentar ao Centro as funções de um Lar.

Lar que acabou por ser construído pela Autarquia de raiz num outro local. As duas instalações e funções partilham os mesmos órgãos de gestão.

O Lar existe numa terra raiana do interior profundo deste país que já foi jardim e hoje caminha sem azimute, de nome Zebreira, a Autarquia é Idanha a Nova.

Meu pai, viúvo vivendo na sua casa, dono das suas ideias, sem informar os filhos (somos dois) mal o Lar começou a funcionar foi dos seus primeiros beneficiários. Digo beneficiários e não utentes.

Tirando um caso ou outro de velhos resmungões que sempre falam mal de tudo, ou uma outra situação que possa ter ocorrido de algum funcionário que não cumpriu com zelo as suas funções, não conheci casos de descuido e maus tratos aos beneficiários daquele lar. Depois de meu pai ter terminado a sua viagem terrena deixei de lá entrar regularmente.

Um Lar que já cresceu por necessidade da procura e que continua a ter mais interessados em poderem lá entrar do que vagas. Os beneficiários e ou suas famílias pagam em função do seu rendimento segundo a tabela estipulada pela Segurança Social (informação do meu pai).

Não digo que seja uma maravilha, mas ali alguns dos beneficiários encontraram condições de higiene, alimentação e cuidados que de outro modo não tinham nem talvez tenham conhecido.

Claro que nem tudo são facilidades e maravilhas. As dificuldades de contratarem pessoal de enfermagem que preste os serviços necessários aos beneficiários é grande e maior do que o contratarem médico pois na altura o Lar era visitado por dois médicos de especialidades distintas.

A Zebreira está a cerca de 42 quilómetros de Castelo Branco junto à fronteira com a Extremadura espanhola. A cidade aglutina na sua urbe os profissionais mais qualificados em quase todas as áreas, seja no litoral ou no interior. Foi e é este o modelo de desenvolvimento económico dito social das sociedades desde meados do século XX.

Lembro-me de ir visitar os meus avós e residirem na Zebreira dois médicos com consultório e actividade. Mudaram-se os tempos e o tal desenvolvimento capitalista concentra tudo nas cidades onde a vida se tornou impessoal, vaidosa, egoísta e individualista… passando os mais velhos a ser um empecilho, um encargo improdutivo e como tal descartáveis.

Os gestores do Lar, a sua jovem directora geral (assistente social), com os serviços da Autarquia de Idanha a Nova e ARS de Castelo Branco, todos os funcionários e colaboradores que nele trabalham têm usado com sabedoria e profissionalismo os meios disponíveis para que o malvado do vírus não tenha lá entrada…

Não sou de bater palmas ou de dar parabéns, até porque todos têm cumprido com zelo as acções e medidas que a profissão e o humanismo para com os beneficiários do Lar lhes impunha, mas gosto de dizer BEM HAJAM, porque com o vosso trabalho e dedicação quer o Lar quer o nome da Zebreira não faz parte das notícias, umas desgraçadas outras caluniosa que se ouvem e leem sobre os Lares neste tempo de pandemia viral e também já económica.

Bem hajam, pelo trabalho e cuidado com que ao longo da vossa existência tem tratado todos os vossos beneficiários, repito beneficiários e não utentes.

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Sento-me na varanda

 

Sento-me na varanda. É domingo. Olho a ponte que as nuvens não me deixam ver. Está mais fresco esta manhã. A Sacha respira ainda ofegante da caminhada que fizemos. Quando estiver mais calma dar-lhe-ei a refeição da manhã. Olho a mulher da limpeza que fuma e varre o chão exterior do supermercado. Não gosta de mim. Sei que não gosta pela expressão que faz ao passar por mim. Ela vem entrar ao trabalho e eu estou a começar a volta matinal de todos os dias. Poderá ter medo dos cães. Poderá não gostar de animais. Está no seu direito. Eu continuo no meu mundo. Um mundo cada vez mais fechado, mais solitário sem solidão. Só as janelas estão abertas ao exterior. Fechei as portas sem trinco nem fechadura. Quem vier por bem pode empurrar e entrar não precisa de pedir licença. Depois se verá.

Vejo as previsões que o telemóvel me fornece. Três lugares. Nesses três lugares vivo. Primeiro o telemóvel diz-me que hoje o calor chegará aos 29 graus em Alverca. Passo o dedo no ecrã e vejo que no meu canto raiano chegará aos 38 graus. Passo de novo o dedo no ecrã e vejo que na minha praia a previsão aponta para os 21 graus. Um país pequeno com diferenças significativas entre o litoral e a fronteira com os vizinhos espanhóis da Extremadura. O meu país de lés a lés.

No céu as nuvens de Sudeste vêm para se encontrarem com as nuvens de Noroeste. Talvez façam alguma festa, talvez se abracem sem medo do vírus que vai matando e lançando medo nos Humanos.

Está na hora de dar de comer à Sacha.

Ligo a televisão para ver se há novidades sérias. Parece que nada aconteceu entre o ter-me deixado dormir no sofá ontem à noite e o agora de hoje nesta manhã agradável de frescura cinzenta.

Um cinzento natural. Diferente do cinzento das nossas vidas nestes tempos de pandemias várias. Mesmo com a vida suspensa num coma induzido o país vai à banhos indiferente ao que será o dia de amanhã. Faz-me confusão como sempre me fez este modo de olhar a vida. A pressa, a ânsia como vivem o presente sem se importarem nem com o amanhã nem com o outro. Um presente ganancioso, egoísta que recuso. Nos trilhos por onde ando e navego faço de cada dia o primeiro dia do resto da minha vida. Vivo caminhando com as lembranças levando a esperança como companhia. Não quero viver o dia como se fosse o último. Não alinho nessa marcha anónima.

Quero saber o que resolvem os senhores importantes desta União desunida lá em Bruxelas. Mas o que me oferecem são imagens e mais imagens de fogos, é a coscuvilhice de milhões sobre uma tal Cristina de gritos estridentes e de um Jesus treinador que regressa ao local onde foi feliz mas onde os donos do lugar diziam que não mais voltaria. E como se essas tristes figuras não chegassem para me castigar, ainda me martelam os neurónios com a figura sinistra de um bastonário que cursou na universidade pública, que acabadinho de se licenciar logo encontrou trabalho seguro num hospital público, onde à custa do orçamento de Estado estagiou, tirou a sua especialidade para agora andar numa peregrinação cínica venenosa contra o mesmo Estado, sempre a favor dos grupos económicos privados e amigos onde também exerce. Grupos económicos que vêm nas nossas doenças a forma mais rentável de sugarem o nosso parco rendimento disponível.

O céu vai ficando azul. Vou esquecer estas figuras tristes que me entram pelas janelas.

Judeus Sefarditas 20.07.19

 

Ainda não entendi o ódio que alguns destilam contra os descendentes dos Judeus sefarditas.

A lei de 2013 que concede a possibilidade da nacionalidade portuguesa aos descendentes dos Judeus sefarditas do séc. XVI que cá viviam e tiveram de fugir para não serem obrigados a renunciar à sua religião, aos seus costumes, não serem queimados vivos nas fogueiras do Santo Ofício só porque perfilhavam uma outra religião outros hábitos diferentes dos oficiais decretados pela cúria romana e tomados como oficiais e salvadores do mundo pelos Reis de então em união com um Clero pouco recomendável sempre contrário ao desenvolvimento das ciências, será essa lei tão perigosa para o país como fazem crer algumas figuras da política, deputados e não só, assim como gente das artes e cultura? Não eram essas famílias de judeus sefarditas parte integrante da nação e como tal portugueses?

Serão os Judeus sefarditas assim tantos milhões que venham por em causa o equilíbrio, o modelo e a ordem da nossa sociedade?

A lei nada tem a ver com os famigerados vistos gold. Esses vistos gold serviram para salvar a compra de investimentos imobiliários luxuosos e pouco ou nada mais, dando guarida a alguns milionários. Quantos postos de trabalho os beneficiários dos vistos gold criaram?

A lei de 2013 para a obtenção da nacionalidade obedece a quesitos determinados. Como alguém já escreveu a pátria dos sefarditas não é Israel mas a Ibéria (Portugal e Espanha) foi aqui que os seus antepassados viveram séculos.

Já há investimentos produtivos e imobiliários de descendentes sefarditas que obtiveram a nacionalidade e estão a investir na nossa pobre e confinada economia.

Sou descendente do amor entre cristãos-novos (Judeus sefarditas convertidos à força ao cristianismo) com cristãos-velhos ou seja os cristãos tradicionais.

Não sou judeu assim como não me sinto cristão embora tivesse sido baptizado e na minha juventude um praticante católico.

Porque tanto medo e tanto ódio?

20.07.18

 

Vivemos um tempo triste de difusão de valores numa sociedade que se desejava mais evoluída e decente.

O dinheiro perverteu, anulou, como que arrasou os sonhos dos que sonharam com uma sociedades mais culta no saber, mais tolerante nas diferenças, mais respeitadora dos seus idosos, mais amiga do seu amigo, mais amante do seu país.

Tudo não passou de um sonho lindo que durou muito pouco tempo. Arautos da liberdade, amigos do capital e de outras culturas estranhas às nossas, ditas mais modernas e evoluídas, impuseram e implementaram novos hábitos em nome do progresso copiado das tais ditas culturas estranhas e pretensamente evoluídas.

Paulatinamente o poder do dinheiro impôs-se terminado que foi o tempo de todos os sonhos. Terminado o tempo dos sonhos os grandes homens do capital financeiro juntaram seus interesses aos homens do betão com a conivência e anuência de políticos mansos amigos. Nova classe de jornalistas foi formada. Outros jornalistas e não só, amantes do «orgulhosamente sós» foram recuperados e promovidos a fazedores de opinião em horários nobres e editoriais jornalísticos. Tudo democrático e «a bem da nação».

A pouco e pouco martelando as consciências, instituíram nos cidadãos a ideia, o sonho, o desejo de que todos podiam pertencer a uma nova designação de classes neste tempo moderno - “a classe média”. O sonho de vida das famílias deveria ser e passou a ser esse. Esse grande objectivo de pertencer à classe média. Estar também na mesma classe onde os ricos endinheirados pelo novo Portugal Democrático são apresentados como cidadãos modelos, gente que conhece o êxito.

Nesse modelo a caminho do anunciado mas desconhecido paraíso tudo se facilitou. Criaram-se os instrumentos económicos e políticos para que os campos fossem trocados pelas cidades. Cidades que ofereciam melhores condições de poderem encontrar um emprego, um trabalho que lhe proporcionasse dois dias de descanso semanal, que com um pouco de sorte e oportunidade poderiam ter subsídio de férias e até subsídio de Natal. Coisas que o trabalho duro do campo nãos lhes garantia. Lá a garantia de trabalho resumia-se ao trabalho de sol a sol com o descanso dominical para os mais crentes poderem ouvir as palavras de promessas que o santo padre lhe dizia na missa dominical. Encheram-se as cidades de populações carregadas de novas esperanças.

Encontrado o trabalho o sonho foi o de poder ter uma casinha sua. O dinheiro não chegava mas os amigos do governo fizeram umas leis para que os bancos pudessem emprestar o dinheirinho para a compra da casa. Sempre era melhor pagar ao banco durante 20, 30 ou mais anos do que andar a pagar a renda ao senhorio que desde sempre foi visto como o mau da fita. A casa estava hipotecada ao banco mas podia-se dizer «a minha, a nossa casa». Hipotecada a vida futura ao banco havia que comprar um carrito, mesmo que em segunda mão, para nas férias ou nas épocas festivas poder ir à santa terrinha e mostrar o seu sucesso na cidade grande. Mais uma hipoteca a pagar suavemente que o pessoal do banco era amigo. Era tão amigo que até facultava um daqueles cartões que os ricos usavam para comprar a crédito. Assim os filhos já poderiam também ir de férias para o Algarve, comprar um computador e um telemóvel dos mais modernos etc etc. Filhos que agora podiam estudar nas escolas publicas se assim o quisessem e se não quisessem estudar para além do obrigatório não fazia mal pois eles, pais, também não estudaram e fizeram-se à vida. Para mais, muitos dos que estudam e tiram cursos superiores de muito "marranço" depois não encontram trabalho… por isso é melhor deixa-los viver a vida à vontade.

Os jovens que estudam e muitos outros que não quiseram habituam-se a uma vida de facilidades, onde os pais se endividam para que os seus meninos não sejam menos que os filhos do senhor engenheiro, do senhor doutor. Habituam-se a viver a vida sem grandes sacrifícios. Tudo lhes é facilitado. Os maus hábitos crescem como os cogumelos nos subúrbios e alastram-se aos centros das cidades. O regime e os que de tempos a tempos são eleitos para governarem deixaram-se enredar numa teia social onde todos só têm direitos cívicos, onde a própria lei foi aprisionada por conceitos de psicologia barata de que todos parecem ter medo.

A teia da aranha venenosa estava montada. Com ela os lucros usurários do capital financeiro garantidos. Tudo sempre «a bem da nação».

E assim aos altos e baixos vivia-se sempre na ilusão de que o prometido paraíso estaria mais próximo do que poderíamos imaginar. A ilusão é uma felicidade.

De repente, do nada surgiu um bichinho tão pequenino que não se vê à vista desarmada. Veio de algures na Natureza e espalhando-se entre as nossas células humanas, mudou a vida no Planeta. Do oriente ao ocidente, do Ártico à Antártida a todos mete medo, pelo sofrimento que causa quando se instala nas nossas células. A economia do mundo capitalista parou, confinou e como só existe essa forma de economia no Planeta a vida como que esta suspensa na quase totalidade dos países.

E agora que iremos, que poderemos fazer?

Como mudar o paradigma da vida fácil para os mais jovens?

Como instruí-los de que o amanhã não será igual ao ontem?

Sem trabalho à vista como sobreviver?

Como pagar as hipotecas que não nos deixam sequer dormir?

Que futuro para os mais jovens?

Uma coisa é certa, a frase de que «Vai Tudo Ficar Bem» é uma falácia, uma porra, nesta vida de tantas e tamanhas incertezas, de choros doridos pelos que vão partindo mais cedo desta viagem.

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

20.07.07

 

O sistema que domina grande parte da sociedade é implacável, não adormece. Os seus fiéis, quaisquer que sejam os domínios, cuidam da sua segurança, não vá o diabo tecê-las. E porque todo o cuidado é pouco na defesa do sistema, os seus fiéis não se importam de errarem sem pingo de vergonha.

Este país não é para velhos, tão pouco para idosos, nem mesmo para os jovens que pugnem pela verdade na sua versão de honestidade.

O sistema domina e funciona de forma transversal, de alto a baixo, seja na Administração Pública dependente dos Governos que vão passando, seja nas estruturas da Justiça independente dos Governos, seja nas Administrações Privadas dos monopólios e oligopólios é um correpio de casos onde a suspeição e as dúvidas são rainhas.

Casos, onde alguns «justiceiros» (de saias ou aventais) fazem chegar excertos específicos dos processos em curso nas suas mãos, aos agentes do sistema colocados estrategicamente em órgãos de comunicação para que a "populaça" estabeleça o seu «auto de fé» e queime as suas vítimas no novo "Rossio-virtual".

Eles auto-proclamados «justiceiros» pouco se importam com o cumprimento das regras e das leis. Eles, «justiceiros» estão acima das leis, eles são as normas que regem as leis.

A "populaça" embriagada pelo paleio dos agentes do sistema, perde a noção do bom senso e julga em delírio na praça publica transformada em «autos de fé sec. XXI», qualquer que seja a vítima ou vítimas dos arrotos e vómitos azedos dos «justiceiros» em especial se são políticos, ex-políticos de partidos específicos, ou empresários arrogantes e outros angolanos pretensamente ricos; salvam-se deste circo os empresários ligados ao mundo do desporto, onde os tentáculos existem numa outra versão mais complexa ainda.

Os «justiceiros» pouco se importam que a Justiça seja lenta, de baixa produtividade. Eles fazem o seu trabalho, para que o objectivo de descrédito da Democracia funcione, obedientes que são às estruturas ocultas dos mandantes do sistema.

Sonhar com uma “Sociedade Mais Decente” ainda é possível… mas os mandantes do sistema são poderosos, estão em alerta constante com os seus agentes e eunucos em todos os domínios da nossa sociedade, nem precisam que as paredes voltem a ter ouvidos, modernizaram-se, adaptaram-se às novas tendências da sociedade de consumo que gerem. A defesa da privacidade para eles não existe. Eles sabem e têm acesso a tudo.

Sonhar ou continuar a sonhar exige dos sonhadores outras formas de inteligência, de expressão na linguagem simples e clara para com todos mas, em especial para os mais jovens, para os que vivem a precariedade das novas formas de trabalhar, porque são eles o garante de que o futuro é possível. 

É preciso mais do que nunca ser pragmático sem perder a ilusão do sonho.

20.06.21

 

A noite está chegando. Com ela o silêncio é interrompido pelo ladrar de um ou outro cão, por uma mãe que gritando chama pelo filho que indiferente continua a andar de bicicleta pelas ruas da aldeia. Passa um camião vindo de Espanha. A mãe é uma cigana que não deixa de ser mãe e mulher portuguesa. Sentado no quintal recorda outros tempos em que ainda cá estavam todos. A vida é feita de vários ciclos. Uns mais prolongados, outros mais curtos. E o dele como será? Semelhante ao do pai ou semelhante ao da mãe? Só no fim saberá embora não o possa depois comentar aos que por cá vão continuar a viagem, só eles poderão saber se é que se irão lembrar desse pormenor.

Deitou-se cedo com o privilegio de dormir de janela sem os estores fechados. Está calor mas as noites ainda são frescas. Não havendo contágios do vírus pela terra é bom não se expor a uma possível constipação. O seguro providência morreu de velho. Todo o cuidado é pouco, sempre ouviu dizer aos de mais idade. Sem medo para não perder a noção do tempo espaço que está desfrutando segue nesta sua viagem sem pressas. Devagar se pode chegar mais longe. Entrou na recta final que a quer longa sem sofrimento nem dar trabalhos a terceiros. Como o futuro é incerto nada sabe como será o seu acordar amanhã quanto mais o depois de amanhã. Nunca foi homem de programar o que vestir e fazer na manhã seguinte. Quando acorda toma nota de como estão as suas actividades motoras, agradecendo ao além por mais uma oportunidade, põe depois em marcha a sua memória RAM a fim de decidir o que irá vestir e fazer nesse dia que mal acaba de começar.

Pensa ainda como nos tempos de juventude em que gostava das manifestações onde gritavam com toda a força da utopia as duas palavras "independência nacional". Hoje continua a ser uma palavra de ordem bonita, misteriosa, cada vez mais uma utopia, um sonho, a perder força mas para ele continua bonita sem se fazer velha embora apresente muitas rugas. Mas esta não independência nacional que se vive não é por mesmo logo ali, quase ao alcance da vista estarem os amigos espanhóis. Hoje amigos com respeito mútuo, depois de muitos anos e séculos passados a pelejarem entre si, sempre em defesa dos interesses de outras nobrezas que não só as suas vidas, ou as suas terras.

Esta não independência nacional é muito mais pelo caminho das políticas europeias que um dia ele e os outros aceitaram integrar acreditando que o bem estar económico e social dos povos do Norte da Europa iria chegar de forma graciosa. Esquecendo-se de algum do nosso passado recente e, esbanjando em luxos e em despesas públicas supérfluas, os dinheiros que nos deram, assim como, a capacidade de endividamento obtida ao integrar esse espaço económico e social europeu. Milhões se evaporaram-se entre negociatas nos corredores do poder, viagens de negócios, e almoços grátis.

De todo esse dinheiro com tantos zeros não sabe ele como tanto se pode ter evaporado sem que o país tenha dado o salto para o meio do pelotão europeu, continuando a pedalar com dificuldades na cauda com o carro vassoura à vista. Resta ao país o Serviço Nacional de Saúde, as infraestruturas na educação do Ensino Público (escolas, institutos politécnicos e polos universitários), algumas não todas, auto-estradas e a rede abastecimento de água assim como a rede de esgotos que cobrem a quase totalidade do país. O resto são histórias que nenhum cronista irá enaltecer ou glorificar em obra literária para desgosto de políticos-governantes que não tiveram a ousadia, a coragem, de fazer, impor, a transformação económica que tanto dinheiro exigia.

Contudo, mesmo com todos os nossos erros e desvios valeu a pena o caminho da integração na Europa. Sem ela estaríamos ainda mais pobres e em pior situação.

Hoje sente, os descendentes das mesmas famílias de sempre, isto é, do tal passado recente e dos novos ricos da democracia à custa dos muitos negócios com a máquina do Estado democrático, esfregarem as mãos em privado a contar com "os pintos" que a nova "galinha de ouro" prevê para ocorrer às economias do Sul que mais sofreram e sofrem com a pandemia. O pior é se os ovos da tal "galinha de ouro" saem chochos e não dão "os pintos" aguardados.

No silêncio da noite vai pensando.

Que nos irá acontecer com ou sem "os pintos" da União Europeia?

Que plano de fomento, de desenvolvimento, temos para o futuro colectivo deste rectângulo à beira mar que já foi jardim?

Seremos auto suficientes? Essa ideia não é ideia, porque ninguém o é ou será. Mas que futuro nos oferecem as forças políticas do arco da governação?

Que soluções de inovações terão em mente a germinar?

Contratar um especialista é um passo… mas então que fazem os muitos organismos, secretarias e serviços da máquina do Estado? Trabalham para aquecer?

Será que se vai apostar no poder criativo dos portugueses ou vamos continuar a pensar que o que importamos do estrangeiro é que é bom?

Mais sacrifícios é certo que teremos de suportar. Disso não tem dúvidas. A situação não é nada famosa para a saúde, para a economia, para o trabalho, para as contas públicas endividadas até à medula, para o bem estar de todos com especial atenção para as largas franjas da pobreza crónica e dos que com a pandemia chegaram vindos de uma classe média sem a cultura e o saber económico da formiga, escravos que eram do consumismo supérfluo.

20.06.16

Quatro anos passaram. Um tempo de muitas mudanças. Tempo onde a vida vai correndo. Num corre corre que não apaga a lembrança. Não abandonei a casa nem a horta, tão pouco as oliveiras. Espero que possas encontrar o caminho da Luz. Para subires ao teu patamar no universo desconhecido. Por cá basta-nos as lembranças do exemplo que foste.