sábado, 3 de outubro de 2020

Lares


 

Às seis da manhã do dia 25.08 estou levantado. Faço uma viagem virtual pelos jornais. Nos generalistas nada me prendeu a atenção, a cruzada deles continua; nos desportivos pior, muita imaginação pouca credibilidade no que publicam. Em resumo nuns e noutros, muitos palpites, alguns maldosos, de conhecidas origens.

Há quatro anos conhecia bem um Lar. Lar que é uma IPSS, instalações construídas pela Autarquia e cuja gestão foi entregue à uma comissão local eleita regularmente. Um Lar de idosos e velhos que integrou na sua acção social os utentes do Centro de Dia existente na terra há vários anos. Centro de Dia gerido na sua existência até então por um triunvirato de três amigos voluntários graciosamente, com instalações próprias condignas e acção meritória com mais de 25 anos. Falo por conhecimento já que o meu pai foi um dos integrantes do triunvirato do Centro de Dia, sabendo da luta que travaram para poderem acrescentar ao Centro as funções de um Lar.

Lar que acabou por ser construído pela Autarquia de raiz num outro local. As duas instalações e funções partilham os mesmos órgãos de gestão.

O Lar existe numa terra raiana do interior profundo deste país que já foi jardim e hoje caminha sem azimute, de nome Zebreira, a Autarquia é Idanha a Nova.

Meu pai, viúvo vivendo na sua casa, dono das suas ideias, sem informar os filhos (somos dois) mal o Lar começou a funcionar foi dos seus primeiros beneficiários. Digo beneficiários e não utentes.

Tirando um caso ou outro de velhos resmungões que sempre falam mal de tudo, ou uma outra situação que possa ter ocorrido de algum funcionário que não cumpriu com zelo as suas funções, não conheci casos de descuido e maus tratos aos beneficiários daquele lar. Depois de meu pai ter terminado a sua viagem terrena deixei de lá entrar regularmente.

Um Lar que já cresceu por necessidade da procura e que continua a ter mais interessados em poderem lá entrar do que vagas. Os beneficiários e ou suas famílias pagam em função do seu rendimento segundo a tabela estipulada pela Segurança Social (informação do meu pai).

Não digo que seja uma maravilha, mas ali alguns dos beneficiários encontraram condições de higiene, alimentação e cuidados que de outro modo não tinham nem talvez tenham conhecido.

Claro que nem tudo são facilidades e maravilhas. As dificuldades de contratarem pessoal de enfermagem que preste os serviços necessários aos beneficiários é grande e maior do que o contratarem médico pois na altura o Lar era visitado por dois médicos de especialidades distintas.

A Zebreira está a cerca de 42 quilómetros de Castelo Branco junto à fronteira com a Extremadura espanhola. A cidade aglutina na sua urbe os profissionais mais qualificados em quase todas as áreas, seja no litoral ou no interior. Foi e é este o modelo de desenvolvimento económico dito social das sociedades desde meados do século XX.

Lembro-me de ir visitar os meus avós e residirem na Zebreira dois médicos com consultório e actividade. Mudaram-se os tempos e o tal desenvolvimento capitalista concentra tudo nas cidades onde a vida se tornou impessoal, vaidosa, egoísta e individualista… passando os mais velhos a ser um empecilho, um encargo improdutivo e como tal descartáveis.

Os gestores do Lar, a sua jovem directora geral (assistente social), com os serviços da Autarquia de Idanha a Nova e ARS de Castelo Branco, todos os funcionários e colaboradores que nele trabalham têm usado com sabedoria e profissionalismo os meios disponíveis para que o malvado do vírus não tenha lá entrada…

Não sou de bater palmas ou de dar parabéns, até porque todos têm cumprido com zelo as acções e medidas que a profissão e o humanismo para com os beneficiários do Lar lhes impunha, mas gosto de dizer BEM HAJAM, porque com o vosso trabalho e dedicação quer o Lar quer o nome da Zebreira não faz parte das notícias, umas desgraçadas outras caluniosa que se ouvem e leem sobre os Lares neste tempo de pandemia viral e também já económica.

Bem hajam, pelo trabalho e cuidado com que ao longo da vossa existência tem tratado todos os vossos beneficiários, repito beneficiários e não utentes.

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