segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

22.11.25

 

Dia em que o sonho lindo acabou lá atrás no tempo. Dia em que a "Nova Ordem Democrática" se impôs. O sonho foi só um sonho mais prolongado. Um sonho, uma festa popular de contradições, onde a utopia andava à solta sem vistos de autorização, nem passaporte oficial. O sonho nunca antes imaginado pelos poderosos do mundo, pleno de contradições internas, o sonho era o limite do povo em festa popular.

Com a chegada imposta pela "Nova Ordem Democrática" outros equívocos chegaram, mas a festa já tinha terminado. Agora, os senhores do passado, em cozinhados sem tempero com os senhores estrangeirados chegados aquando da Liberdade em festa, mais a fação militar que não via com bons olhos os limites dos sonhos da festança popular, impuseram-se neste invernoso dia lá atrás no tempo, acabaram com a festança popular nas ruas, avenidas e cidades do país colorido. O poder dos gabinetes da "Nova Ordem Democrática" estabeleceu-se, recuperando para si o poder que os jovens militares tinham dado ao país, quando num glorioso dia sem divisões entre eles, resolveram em incumprimento do RDM a que estavam sujeitos, gritar aos seus superiores; - Alto e para o baile que isto é uma revolução!!.

Jornalistas na rádio ouviram com atenção e entusiasmo o presumível fim da censura ditatorial e de imediato os microfones da rádio transmitiram a notícia há muito sonhada e desejada, o fim dos ditadores estava a chegar. O povo amordaçado, triste, cansado de tanta miséria mal ouviu a notícia na rádio dos movimentos militares em curso, desconhecendo os seus propósitos de imediato saltou da cama invadindo ruas, largos, avenidas e ruelas dando vivas e saudando os valorosos jovens militares, garantindo com a sua enorme adesão a vitória do glorioso 25 de Abril. Só os esbirros assassinos da PIDE fascista ainda deram uns tiros matando um cidadão jovem. Os assassinos fascistas tinham de deixar a sua marca no último estrebuchar.

Mas o 25 Invernoso da "Nova Ordem Democrática" sempre esteve à espreita, mãozinhas invisíveis internas e externas logo começaram a trabalhar fomentando divisões e intrigas entre os militares, acabando por se impor pouco mais de uma ano após a data gloriosa do 25 Primaveril de tamanhas esperanças; a festança popular arrecadou os foguetes e a malta regressou às suas casas, aos seus sofás. Alguém cantou "foi um sonho lindo que acabou".

As casas enchem-se de televisores que se importavam quer nos canais oficiais de comércio, quer na facilidades do contrabando, onde ainda a preto e branco se podia assistir aos calorosos debates ideológicos, que iam ocorrendo quer na Assembleia Constituinte para a aprovação da nova Constituição da República Portuguesa, quer nas primeiras Assembleia Legislativas onde oradores de palavras fortes e fáceis se impunham. De quatro em quatro anos o Zé passou a ter a Liberdade de se levantar do sofá para ir colocar na urna de votos do seu bairro, da sua residência oficial, uns papéis oficiais de voto para colocar neles uma cruz na força política da sua escolha.

A "Nova Ordem Democrática" ia ganhando estatuto com a maioria dos Zés a optarem por partidos políticos híbridos do chamado centrão, fazendo jus ao antigo dito popular que "no centro é que está a virtude". A formatação do antigo, caduco e opressivo Estado Novo passava do seio familiar para a política do país. País que ora se inclina para a esquerda, ora para a direita, mas sempre ao centro porque dizem que é lá que está a virtude. Uma virtude que há muito não existia, mas que em Abril voltou ao imaginário do Zé, rapidamente perdeu brilho e força. Os híbridos do centrão, com as novas oportunidades que o desenvolvimento do sistema financeiro internacional lhes foi facultando meterem os princípios ideológicos das antigas sebentas de filosofia política no fundo das gavetas, alinhando no pragmatismo de uma tal modernidade onde "as novas antenas continuam a difundir velhas asneiras" numa roupagem mais soft adaptada aos novos tempos de um capitalismo designado pelos seus defensores de civilizado, não humanista mas apenas civilizado na sua forma de exploração; os partidos do centro inebriados pelo poder do voto popular continuaram a usar os antigos símbolos como chavões, com o Zé sentado no sofá frente aos televisores de muitos canais, anestesiado por tanta informação, acreditando mais naquilo que ouve do que naquilo que possa pensar por si próprio, tão confusa anda a sua mente que lhe causa dor quando procura pensar por si próprio, quando busca o outro lado das coisas, desistindo e deixando-se ir de ombros caídos junto do rebanho da multidão vivendo de forma fictícia uma vida mais virtual que real. . Na prática a diferença entre eles, mais à direita ou mais à esquerda tende sempre para o cumprimento das ordens vindas do exterior. A forma como impõem as ordem recebidas do exterior é que varia entre eles. Enquanto os da direita-ao-centro enrabam o Zé a frio, os da esquerda-ao-centro enrabam o mesmo Zé utilizando cremes para que estes se iludam com as suas palavras. Contentam-se uns e outros, em repartir a pouca riqueza que o país vai gerando pelos amigos que no partido ou nas suas margens lhes são mais fiéis no beija-mão, no financiamento oculto das suas campanhas eleitorais. Não se diz, porque lhes parece feio, mas apenas mudou a tinta permanente com que se escrevia caída em desuso, é tudo "A Bem da Nação". De um orgulhosamente sós o Zé passou a ser "Um Bom Aluno" dos interesses dum grupo de gente duvidosa que o Zé não conhece, nem se lembra de ter votado para que essa gente duvidosa mandasse assim na sua vida, cada dia mais triste e mais pobre, questionando-se, "será que o tempo voltou para trás" como dizia a canção que o António Mourão cantava?

22.11.22


1923-1999 o tempo da viagem que fizeste nesta Terra. Um tempo em que com amor geraste dois filhos. Geraste para depois criares com zelo, numa vida de sacrifícios para que nada nos faltasse nos estudos. Só depois de nos teres dado asas para construirmos os nossos ninhos, é que tu e o pai passaram a ir ao cinema, ao teatro e às revista do Parque Mayer. Vejo-te a ir às manifestações de apoio ao 25 de Abril junto ao Ralis com a vizinha Graça. Uma vida, um exemplo de mãe e avó que durou o tempo necessário para não seres esquecida.

Olho o dia e penso neste número 22 e vem-me à memória o outro número 12.

22, foi o dia em que nasci, segundo mais que os registos oficiais a tua palavra. O dia em que ao fazer 22 anos cheguei ao Mumbué lá no longínquo Leste Angolano para fazer uma guerra sem sentido nem solução militar. Uma guerra que tanto te fez sofrer com o medo que só as mães sentem quando lhe tiram os filhos para os mandar para a guerra e elas ficam vivendo a angústia sangrenta do medo de que o seu menino volte um dia para os seus braços, beijos e o seu colinho. 22 foi o dia em que as autoridades militares me passaram a disponibilidade.

22, foi o dia em que terminada a tua viagem terrena, no Hospital de Castelo Branco eu com a ajuda do primo António da Olga te meti na caixa de madeira, o caixão.

12, o outro número, foi o mês do meu nascimento.

12, foi a nota final do curso de contabilista, do curso de oficial miliciano, a nota final da licenciatura em gestão de empresas.

12, foi igualmente a terminação das três vezes em que fui apanhado a conduzir em excesso de velocidade, 112km/hora quando o limite era 90.

Não sei, nem entendo o significado, a possível simbologia destes dois números, por isso sentado na minha cama de ferro, que me deram dos meus antepassados quando me casei, olho o céu pela janela do nosso quarto e vejo o teu sorriso no cimo dos ramos da velha oliveira. Hoje também é o teu dia, mãe.


22.11.20

 

Domingo que recomeça cinzento com algum nevoeiro à mistura. Sente-se o frio com este tempo. A salamandra não acende, o fumo não sai pelo tubo e o lume apaga-se deixando um cheiro a lenha queimada incomodativo. Já procurou ajuda, tem medo de subir ao telhado para tapar a chaminé com rede de modo a que a passarada não faça ninho na tubagem. Já tem dois contactos de limpa-chaminés para lhes ligar, mas hoje é domingo e só lhes irá ligar amanhã a fim de resolver o problema. Até lá recorrerá aos agasalhos a que se habituou, evitando grandes aquecimentos elétricos.

A ausência acompanha-o. É assim e irá ser assim enquanto por cá andar, não conhece nem vislumbra outra alternativa. Vivendo consciente desse modo sente-se dia a dia mais afastado do mundo mundano e da política, preferindo continuar a ser um homem de esquerda desenquadrado sem partido, mas sempre à esquerda. A isso não pode renegar.


Melancólico como o tempo e cansado, resolveu preparar um almoço de "lés a lés" . Tinha duas postas de raia congeladas de uma raia que comprou no mês de Outubro na praça de Peniche, tem batata doce que comprou no mercado exterior à praça em Peniche, mais uns brócolos e umas cenouras compradas ao João que à sexta-feira por cá passa e fez-se ao trabalho, preparando o almoço de domingo e o de amanhã é só aquecer no micro-ondas. Ainda não atinou com o fazer uma só refeição. Gosta de cozinhar e não se importa de comer a mesma comida várias vezes. Aliás, há comidas que no dia seguinte são mais saborosas, peixe frito por exemplo sem esquecer algumas sopas de feijão. No mundo de dificuldades que se avizinha tem de estar preparado para tudo, não tivesse já comido carne podre com massa, ou bebido água de um pântano estagnada sem esperar que os comprimidos usados para a desinfetar fizessem efeito, a sede era tanta… . Um dia, ouviu de um tenente na instrução da especialidade na EPI dizer - "nossos cadetes, o homem não conhece o limite das suas capacidades". Na altura duvidou, para depois nas terras do Leste Angolano comprovar a veracidade das mesmas. Da pouca televisão que vê, quando vê reportagens em que as pessoas se queixam de comer a mesma sopa ao almoço e ao jantar, desliga de imediato, não dando para essas encenações televisivas, de gente que não sabe ou é mal agradecida. Agora o tempo como que pede uma pequena sesta, para depois se agarrar ao aparelho de comunicação e falar com os amigos, companheiros, camaradas da antiga Companhia de Caçadores 5010.

Gosta de futebol. Gosta de ver jogos de futebol. Gosta porque independente das teias que tomaram conta do espetáculo, há nos relvados jogadores que são gente e que com a sua capacidade técnica produzem cenas de arte única. Gosta de futebol, como gosta de rugby ou de ciclismo. O futebol era o desporto popular dos miúdos que brincavam na rua, fazendo bolas de pano com as meias de vidro das senhoras, que fugiam à polícia quando jogavam e eles apareciam ao fundo da rua. Ainda treinou rugby com a equipa de Económicas, mas nunca se federou, pois já estava a cumprir o serviço militar obrigatório; aguarda com expectativa a presença da seleção no próximo mundial 2023 em França. Ainda à semanas viu na televisão a vitória histórica da Argentina sobre a Inglaterra naquele que é um dos emblemáticos estádios da modalidade, o Twickenham Stadium;

Ciclismo, foi o seu desporto diário desde os nove anos a caminho da escola industrial comercial em Peniche; ainda hoje gosta de ver na televisão as provas de estrada com especial incidência para as etapas de alta montanha, seja em França, Itália, Espanha ou na volta a Portugal.

O desporto em si não é alienação. É antes uma forma salutar de vida. A alienação existe quando o sistema que controla a comunicação social faz do desporto o meio e a forma de nos quererem parametrizar as ideias, com slogans populistas fazendo da competição caso de vida ou de morte, promovendo claques que facilmente se transformam em organizações de arruaceiros quais polícias pretorianas privadas de dirigentes clubistas. Para comprovar basta ir a um jogo de futebol entre as chamadas equipes grandes do desporto nacional.

Falar do Catar e do mundial que hoje começa é chover no molhado. Para nós de educação judaico-cristã de hábitos liberais defendendo e bem, a igualdade de sexos como normalidade, a cultura islâmica com os hábitos das oligarquias que dominam aquela região do Planeta é uma aberração um atraso civilizacional aos nossos olhos. Daí às histórias dos chamados "direitos humanos" é uma treta para agradar a uma parte considerável da população que se insurge com o que se passa, passou e passará lá e não vê o que está ao alcance dos nossos olhos cá no tal mundo ocidental e democrático. Que diferença faz o Presidente ir ao Catar se ele já foi ao beija-mão de Trump ou de Biden e nunca foi questionado sobre Guantánamo, foi visitar oficialmente Bolsonaro e não foi questionado sobre as populações índios da Amazônia. Ou quando visitou a China em 2019, ou a Rússia em 2018 e não foi questionado sobre a liberdade super controlada nesses países. Isto para não falarmos do que por cá se passa com os imigrantes nas grandes explorações agrícolas super intensivas ou nas obras ao serviço de subempreiteiros de outros empreiteiros fornecedores das empresas que ganham os concursos das obras ou as recebem por adjudicação direta de um amigo político.

Há muita coisa, um longo caminho a percorrer. Caminho esse que é indiferente aos tais senhores e senhoras dos direitos humanos à moda do mundo ocidental.

Em 1980, aquando do nascimento da sua segunda filha, os médicos por considerarem a gravidez de risco aconselharam a que a mãe ao fazer nova cesariana fizesse também a laqueação das trompas. Então para o médico na Maternidade Alfredo da Costa fazer a laqueação das trompas, ele, pai e companheiro, foi a um notário com duas testemunhas para se responsabilizar pela laqueação das trompas à sua companheira e mãe das suas filhas. Laqueação essa feita na Maternidade do SNS. Isto em 1980. Hoje não sabe como estará a situação anómala de ser o homem a responsabilizar-se pela laqueação das trompas que são pertença da sua companheira ou esposa. Caminho longo sempre com novas variantes o da Igualdade.

22.11.18

 

Cumprindo-se o ritual de há vários anos, levantou-se ainda a noite reinava no exterior. Depois do ritual da higiene, sentou-se na sua velha cama de ferro, olhando pela janela tentou decifrar como estaria o tempo, só viu dúvidas e escutou silêncios. Sente-se bem no seu canto, longe do mundo mundano, que dia a dia vão ficando mais longe nos seus gostos de homem solitário. Sente uma ligação especial com a sua velha cama de ferro que o acompanha desde que se casou, recusando-se a substituí-la ou a adaptá-la aos novos standards. Nunca foi de modas, nunca ligou a essas coisas das tendências do Outono-Inverno ou da Primavera-Verão, não entendendo porque se tem de comprar tanta roupa nova quando roupeiros e gavetas estão cheias de roupa. Dir-nos-ão que é preciso para que o PIB e a economia cresçam. A nova e velha história do sistema que nos dá qualidade de vida tapando o Sol com uma peneira cheia de buracos. Nunca o Planeta esteve tão globalizado em versão de altíssima velocidade, nunca foi tão fácil comunicar e nunca existiu tanta solidão. Segundo dados de entidades credíveis a população chegou aos 8 mil milhões de habitantes Homo Sapiens, nunca houve tanta riqueza nas mãos de tão poucos nem tanta pobreza em milhões de seres Homo Sapiens. E, o meu país que nunca foi grande com tantos novos nascimentos por esse mundo fora segue em contra ciclo envelhecendo e empobrecendo, querendo manter um nível de vida aos seus cidadãos acima das suas possibilidades, recorrendo constantemente ao acréscimo da dívida pública, colocando nas mãos de uma tal minoria usuária sem rosto, o futuro dos vindouros.

22.11.17

Segundo consta nos registros particulares do mundo veterinário, hoje 17 de Novembro, fazes mais um ano no mundo dos humanos. Dizem que um ano humanoide corresponde a não sei quantos caninos, mas como és tu que vives comigo e não o contrário, para mim, hoje, fazes cinco anos.

Dizia-me o meu pai que os cães eram quatro anos cachorros, quatro anos cães para no fim terem mais quatro anos a descansarem. Contigo começo a duvidar que alinhes naquela média, pois continuas tão maluca como nos teus primeiros anos. Maluca e autoritária. Tens a mania que és tu que mandas e decides, quando já levas tempo suficiente nesta união de facto que não é bem assim. És de estirpe alemã no reino dos latinos, formatado o teu companheiro pela educação judaico-cristã, e, assim vamos partilhando a vida em que somos dois teimosos com tiques autoritários, esperando eu que um dia compreendas que és tu que vives comigo e não o contrário.


Faltam 30 minutos para o reaparecer do Sol na linha do horizonte. Ao olhar pela janela a escuridão ainda domina, sinal de que vamos ter mais um dia cinzentão de chuva dispersa a cair calmamente para que a terra a possa recolher no seu interior dando continuidade ao ciclo de vida no Planeta, onde o alimentar com a água da chuva os lençóis freáticos subterrâneos é muito mais importante para a nossa vida humana, do que encher barragens e deixar os campos secos de água subterrânea.

As barragens são uma necessidade importante pelo modelo de exploração que o sistema de desenvolvimento económico e social impôs, quantas vezes em contra ciclo com a própria Natureza de onde um dia os Homo Sapiens brotaram quais ervas daninhas destruidoras da própria mãe Natureza. 

22.11.16

Ao andar pelas primeiras páginas dos jornais, ao passar pela rede social, tomou notas. As manifestações jovens sobre o clima, a guerra na Ucrânia e a guerra entre Costas e a novela Ronaldo.

Nos seus apontamentos já registou com tristeza a ausência de manifestações por parte dos jovens em defesa da paz contra a guerra, como ocorria no seu tempo de juventude embora de forma clandestina, já que a ditadura asfixiante do sistema não tolerava simples ajuntamentos quanto mais manifestações. Agora vai sabendo que há jovens estudantes que se manifestam nas escolas e na rua pelo salvação do ambiente. Jovens que ocupam instalações escolares, invadem edifícios e pedem a demissão do Ministro da Economia. Procurou ouvir o que dizem presumíveis líderes desta onda contestatária pela salvação do ambiente. Ouviu vários jovens. Sentiu-se desiludido, pela ignorância filosófica daqueles jovens, já que manifestam-se para salvar o ambiente, mas nem sequer sabem o que é o Ambiente. Pedem a demissão do Ministro da Economia mas não sabem que economia querem. Sabem que está na moda ser contra os combustíveis fósseis e vai daí querem a proibição desse tipo de energia. Ambiente e Energia são variáveis de uma matriz maior que é a Política Económica. Então que modelo propõem os jovens contestatários para a Economia?. Não sabemos. No meio dos jovens lá vi a líder populista bloquista a debitar banalidades. A uma triste juventude juntou-se outra tristeza maior com aceitação televisiva.

A guerra, a incapacidade dos políticos de braço dado com a ambição desmedida dos senhores que mandam os outros matarem-se para que eles possam ficar na história. Morrem os inocentes, sofrem as populações da Ucrânia, da Rússia e da restante Europa, cujos políticos nunca referendaram as populações sobre se devíamos ou não participar naquela guerra entre blocos imperialistas, antes nos impõem a censura democrática do pensamento único criado e difundido por agências ao serviço do imperialismo ocidental, os bons, contra o ressurgir do imperialismo da Russo, os maus. Se é verdade que o míssil bomba que atingiu a Polónia, um país da NATO, foi disparado pelas forças da Ucrânia, país que não pertence à NATO, porque que é que os falcões da NATO não acionaram o famoso artigo 5° do tratado para castigarem o agressor, Ucrânia, em defesa do país aliado, Polónia, que foi agredido por um míssil bomba mandado pelos ucranianos? Naquela como nas outras guerras passadas nunca nos contam a verdade nua e crua porque faz parte da "Psico" da própria guerra.

A outra guerra. A guerra dos Costas. O António e o Carlos. Começando pelo Carlos. Mais importante que a sua capacidade de liderança, do seu medo de decidir de forma justa, mais importante que tudo isso o senhor parece ter nascido com o dito virado para a Lua. Soube ao estudar integrar-se num grupo de amigos de curso e faculdade que com pezinhos de lã e algum saber, foram-se adaptando e singrando na política por detrás dos reposteiros, cultivando as suas reuniões periódicas lá no Alto Minho. Dividiram-se pelos dois maiores partidos políticos, os do chamado centrão, nunca deixando de se protegerem com nomeações para altos cargos quando um deles ocupava uma cadeira no governo. É assim que o amigo das tais reuniões sabendo da amizade que o senhor Costa tinha com o «Homem do Poço» inquilino em Belém, o indica para governador do Banco de Portugal. Indicação aceite sem pestanejar. Depois de ter andado no eldorado de Bruxelas é - lhe oferecido de novo um outro eldorado, o Banco de Portugal. Há pessoas que nascem sob o signo da sorte com os amigos e com os tachos-bancários bem remunerados. Este não esqueceu os amigos que o colocaram no pedestal dourado, vai daí um amigo publica um livro sobre o senhor para ressuscitar múmias políticas moribundas com alguns submarinos ainda no ativo bem encostados.

Já o Costa que é António, chegou a primeiro-ministro depois de ter dado os parabéns aos ganhadores "pafiosos" de uma tal Aliança Portugal. Depois de reconhecer a derrota caiu-lhe dos céus a possibilidade dada pelo velho comunista de poder governar com acordo parlamentar com os dois partidos que a voz corrente do sistema apelida de extremistas e antidemocráticos. O perdedor A Costa não tem outra alternativa e aceita assinar um acordo escrito com os dois partidos apelidados de extremistas antidemocráticos. Rubricado o acordo leva-o a Belém onde um novo-velho ou velho-novo professor de finanças públicas saído de um poço para um palácio se vergou a aceitá-lo como primeiro-ministro indigitado e aprovado pela Assembleia da República, depois de muito espernear. O A. Costa governou então e embora não cumprindo todos os pontos do acordo, deu ao país a esperança de se poder viver um outro ciclo de medidas um pouco mais humanas do que até esse tempo conhecíamos. Foi o melhor Governo da era constitucional pós 25 de Novembro. Quando se vai de novo a votos o A Costa ganha mas perde, isto foi, ganhou sem maioria parlamentar. Fiando-se na virgem ou na sorte, recusou-se a rubricar novo acordo de cariz parlamentar. Quis governar com terra à vista, agradando a gregos e a troianos na busca de novas eleições. Tinha o A. Costa um amigo político em Belém. Um presidente que tendo sido professor de direito, gosta muito mais de estar na crista da onda populista barata, do que cumprir preceitos e normas constitucionais; um político presidente que gosta de se imiscuir não só nos assuntos governativos como promove e patrocina guerras internas no seu partido político do pós 25 de Abril. Antes, pertencia à nova geração da ANP do Estado Novo. Na discussão do segundo orçamento da legislatura A. Costa e o amigo-político em Belém conseguem os seus intentos, novas eleições. O amigo-político em Belém esperançoso que o ciclo político possa voltar para os barões do seu partido político no pós 25 de Abril. Com as intrigas presidenciais no maior partido da oposição, com o medo que cresce em largos setores da população que normalmente votava nos partidos ditos extremistas e com a erosão dos votos tradicionais nos partidos do centro direita para novas organizações políticas muito mais à direita do que estávamos acostumados, o perdedor A. Costa alcança uma maioria parlamentar estável e segura para o seu partido, levando a partir desse momento a vida do Zé, entre cantigas e casos de vergonha política, a caminho do empobrecimento coletivo. Também nesta guerra dos Costas se sente triste com o caminho que o país leva.

Já na telenovela Ronaldo, ele que gosta do CR7, leu críticas de opositores ao jogador, mas não comentou. Aguardou para ouvir a entrevista dele, não foi na onda de ouvir frases soltas do que ele terá dito e não disse. Concorda absolutamente com o jogador quando ele diz que a imprensa é lixo. Felizmente ainda há na comunicação social bons profissionais. São uma minoria mas existem. Ouviu as razões do Ronaldo, não ouviu nem leu o que dirá o outro lado de tais afirmações. Está solidário com o homem jogador e não o critica por mandar o barro à parede como que a dar ao empregador razões para um despedimento com causa justa. A ver vamos o desenrolar desta novela após o mundial de futebol.


22.11.13

 

O Sol já brilha no céu. Vê-o aparecer por detrás do telhado da vizinha no outro lado da estrada nacional. Já deveria estar na rua com a Sacha mas esteve a acabar de escrever o que ontem à tarde começou num momento em que a solidão bateu à porta. Foi a segunda vez que sentiu a sua presença à porta, como que lhe anunciando o que o espera se decidir viver por cá.

Antes de sair abriu as portadas das janelas para o Sol entrar e aquecer o quarto da frente e a sala.

Depois de deixar a Sacha correr à vontade na quelha onde tem o chão da Horta que o seu pai lhes deixou, olhou as oliveiras todas elas espigadas em direção ao céu sem que se vislumbre alguma azeitona. Nunca as viu assim. Pensa, com os seus botões, que o adubo que lhes deitou talvez tenha sido em excesso e daí todos aqueles ramos a crescerem em direção ao céu. Quando voltar em Janeiro vai ter muito trabalho a limpá-las, sendo que será mais um ano em que aquelas oliveiras não irão ter bastantes azeitonas.

Depois do pequeno almoço pegou no sacho, arrancou os tomateiros secos dos vasos e revolveu a terra dos canteiros. Onde teve os tomates cereja, tirou os vasos e plantou bolbos de flores. Limpou algumas ervas arrancando-as à mão pois a terra está húmida e assim é fácil arrancar aquelas espécies daninhas que cheiram mal quando nelas se toca. Tomou banho, vestiu-se para depois ir até ao magusto que ocorre na aldeia como forma de patrocínio aos festeiros do Santo Isidro. Na sexta-feira foi até Segura e hoje é na Zebreira. Estranhou ao ver tão pouca adesão. Um amigo tentou-lhe explicar possíveis razões. Não quer entrar nessas questões pois não conhece os problemas existentes com o pessoal da etnia cigana que já são mais do que os naturais. Tem ideias mas cala-se porque as suas ideias podem ser teorias impraticáveis, como tal o melhor é não dizer nada para não errar.

22.11.05

 

Anda sem forças para fazer as coisas que pensa e tem de fazer. Quando chega o dia, outra coisa lhe aparece para fazer. De manhã deixa para a tarde depois de almoço. Mas à tarde deixa para o dia seguinte, para no final do dia se sentir revoltado consigo próprio por não ter feito o que tinha para fazer.

Nem mesmo a "ausência" tem dado sinais, já que a loucura que por vezes sentia tomar conta de si não o tem incomodado.

Os seus pensamentos têm sido muito mais focalizados para o seu canto raiano e o futuro cada dia mais incerto como nunca o sentiu durante esta sua caminhada terrena, ele que vivenciou a angústia de andar com uma G3 nos braços em busca do inimigo seu semelhante numa guerra sem sentido nem solução militar, vê hoje o futuro muito mais incerto do que naquele tempo de guerra da sua juventude.

A vida está cada dia mais cara, mais difícil. Tem consciência plena que os líderes políticos que governam não olham os preços dos produtos dia a dia nos supermercados, nem eles nem a corte de parasitas sanguessugas que fanaticamente os seguem. Para eles uma lata de feijão cozido passar de 0,69€ para 0,74€ não é nada de mais para quem trabalha recebendo o salário mínimo com os ditos recibos verdes. Para essa gente fanática iluminada de pensamento único ocidental e evangélico tudo é culpa do malvado e sanguinário ditador Putin que um dia invadiu a vizinha Ucrânia, país soberano. Um país, um exemplo de democracia onde os líderes políticos oposicionistas são calados e colocados em hotéis de cinco estrelas, desaparecendo alguns não pelos métodos democráticos da trilogia CIA-KGB-MOSSAD, mas por caírem nas escadas depois de se embebedarem com o melhor scotwhisk que amigos do Ocidente lhes enviaram; um país transparente nas suas relações internas e externas onde os off shores não fazem parte dos hábitos dos seus patriotas empresários e governantes multimilionários de tanta riqueza acumulada lícita e ilicitamente para glória e satisfação de um povo que mesmo antes de serem invadidos pelo exército do russo Putin eram o povo mais pobre deste designado continente europeu; um país que produz leis igualitárias para os seus habitantes, que de um dialeto do sul da Rússia fez a sua língua de raça pura ucraniana, proibindo a antiga língua russa de ser ensinada e utilizada pelos milhões de antigos russos, que de tão velhos só sabem falar russo já que mesmo antes dos dirigentes bolchevistas da antiga URSS terem transferindo aquelas terras e cidades para a Ucrânia já os seus antepassados russos lá nasceram, viveram e morreram, para agora eles não poderem continuar a ensinar e utilizar a sua própria língua na família e na vida da coletividade, proibidos que foram pela lei igualitária que os designa de pretos-eslavos, eles que têm olhos azuis e cabelos loiros como os outros que durante anos foram vizinhos e amigos, são agora para o poder ucraniano-democrático-e-igualitário, tão elogiado pelas elites políticas ocidentais, de pretos eslavos ao nível abaixo de judeus e ciganos um pouco acima dos pretos-africanos e gays; antigos russos que passaram a ser ucranianos com a implosão da URSS e que depois do golpe de estado de 2014 patrocinado pelo mais poderoso do ocidente colocando no poder os democráticos adeptos da raça pura ucraniana, passaram a ser russófonos. Russófonos que se organizaram procurando uma maior autonomia para as suas regiões, que por duas vezes assinaram acordos com os democráticos adeptos da raça pura ucraniana para o estabelecimento das condições dessa autonomia. Acordos assinados perante representantes da Alemanha, da França e da Rússia. Acordos que nunca os democráticos adeptos da raça pura ucraniana cumpriram antes passaram a fechar os olhos aos ataques e chacinas que os mais amantes da raça pura como os famosos democráticos do Azov, do Setor Direita e Sovobda iam cometendo ao longo tempo, desde 2014, perante a indiferença quer da Justiça democrática adepta da raça pura ucraniana, quer dos países democráticos do Ocidente que supervisionaram a assinatura dos acordos para o estabelecimento duma certa autonomia na região do Donbass. Os cerca de 14 mil russófonos que morreram desde o golpe de estado em 2014 não eram seres humanos para os líderes e elites do pensamento único ocidental que nunca se manifestaram preocupados com essas mortes e chacinas.

Agora, ao fim de oito meses de guerra fratricida na Ucrânia entre um ocidente dominado pelos interesses americanos, com uma União Europeia submissa sem "tomates" para impor uma estratégia europeia que salvaguardasse o bem estar dos cidadãos, face ao outro do lado, o chamado invasor, onde o líder Russo adepto do capitalismo liberal selvagem, adepto e financiador de milícias e partidos adeptos dos princípios arianos vai conquistando terreno numa guerra que de todo era evitável. Com o "general inverno" à porta e com a tradição russa de com ele derrotar e dizimar exércitos mais poderosos, o futuro também passa mais pelo dia 8 de Novembro ocidental do que dos drones, bombas e ataques aéreos de um lado e do outro.

E nós na ponta mais ponta a sudoeste do designado continente europeu, pedalando com esforço titânico para nos mantermos na cauda económica e social da união europeia, como iremos resistir, já que, os que mandam olham mais para o próprio umbigo sem olhar a meios, do que para o próprio país, para serem considerados nos corredores do poder bruxeliano "bons alunos" do liberalismo europeu súbdito do americano, fazendo lembrar tempos de 1640 quando o clero (igreja) e parte da nobreza estavam com os Filipes de Castela, contra os nobres e povo revolucionário que dizendo basta restaurou com sangue, suor e lágrimas a Independência Nacional.

22.11.02

Não segue o culto dos mortos, embora visite normalmente a campa onde estão os restos físicos dos seus pais. Há tanta coisa difícil de entender aos nossos sentidos, que não seguindo ele nenhum rito religioso, pensa convicto que a morte não é um simples fim de vida, mas o momento em que a dualidade espírito - corpo (matéria) termina, reduzindo-se o corpo a pó seguindo o espírito para o mundo desconhecido aos nossos sentidos.

Dando a dúvida lugar à superstição muitos agarram-se aos ritos religiosos na esperança e ou na fé que é esse o caminho para a salvação no pós morte. Salvação da alma que não é mais do que o espírito, renegando contudo toda e qualquer teoria sobre "espiritismo". Outros, em número crescente nos tempos de agora, percorrem casas e gabinetes onde muitos oportunistas de lábia fina se dizem possuidores de saberes e poderes mediúnicos que lhes permitem resolver os seus problemas e ambições. Essa gente não é normalmente por fé, mas por interesses e ambições.

Ele sabe por experiência própria que existe o mundo dos espíritos. Sabe também que as poucas e raras pessoas que têm mediunidade que lhes permite serem contactadas por esse mundo, são seres humanos de muito e enorme sofrimento vivendo na fronteira da loucura lúcida, para onde podem facilmente ser arrastadas. Sabe e acredita que a vida é só mais uma etapa encarnada num percurso desconhecido, qual buraco negro.


22.11.01

Desde que se lembra, os que dizem governar o país que o dia de hoje é feriado porque é dia de Todos os Santos. Um feriado católico numa constituição que é laica respeitando as tradições religiosas.

Contudo é o sistema que domina com mãos invisíveis a sociedade que ao longo do tempo vem paulatinamente subvertendo as tradições, levando muitos dos fiéis praticantes ou não, assim como muitos outros cidadãos a irem neste dia depositar flores nas campas de familiares enchendo de vida o espaço dos mortos que são os cemitérios. Lembra-se da sua mãe com a irmã, sua tia, e umas primas (Sofia e Isaura) irem, não no dia de hoje mas amanhã 2 de Novembro, o tradicional dia de "Finados". Encontravam-se para visitarem as campas dos familiares falecidos.

Ele apenas foi um ou dois anos com a sua companheira, filhas e sogra visitar a campa do seu sogro. E, fizeram-no no dia 1 o tal de "Todos os Santos" e não no dia 2 de "Finados", pois eles tinham de trabalhar e as filhas andavam a estudar e tinham aulas.

As mãos invisíveis que comandam as nossas vidas vão estabelecendo normas que alteram hábitos de vivência na família e na comunidade.


22.10.30

 

Mudou a hora dos relógios, a hora da organização do trabalho. Com o novo horário procura-se uma poupança nos custos energéticos do país. Não se opõe à mudança, nem tal mexe com a sua vida. À noite deitou-se à meia-noite que hoje serão onze, a sua hora habitual mais quarto menos quarto. Hoje acordou à sua hora ou seja seis horas após ter entrado no mundo do sono e dos sonhos.

Lá atrás no tempo houve um governo já então súbdito e vassalo dos liberais de Bruxelas que não mudou a hora para o horário de verão. Nas férias de Verão estavam na praia mesmo depois das dez da noite com o sol ainda no horizonte. Não gostou da experiência, uma vez que alterou hábitos de vida e goste-se ou não a maioria das pessoas com o avançar da idade sempre vai ficando um pouco mais conservadora nos seus hábitos e rotinas do dia a dia. Até a vida de reformado por vezes cansa por nada ter de fazer entre paredes com responsabilidade.

O tempo continua de céu cinzento compacto ao olhar pela sua janela. Não se importa e até gosta da cor destes dias que lhe fazem recordar outros tempos em que nas casas não havia esse instrumento que veio mudar a vida das comunidades, das famílias, dos vizinhos, aldeias e cidades. Foi e é a televisão um fator de progresso que nas mãos de gente ambiciosa e perigosa como aquela que domina atualmente os órgãos de comunicação social, se tornou numa arma prodigiosa que mudou tudo na forma de se viver, ao alterar hábitos de vivência, ao criar modas e necessidades, ao criar dependências e hábitos fúteis de consumismo. Não gosta e cada vez vê menos, principalmente telejornais e o exército de “paineleiros” que abundam nos canais noticiosos que tudo sabem como ventrículos da voz do patrão.

Logo após ter acabado o seu pequeno almoço o céu ficou limpo de nuvens. Temperou as asas de frango para irem ao forno, fez uma sobremesa das suas utilizando os velhos pudins "boca doce e" e por fim preparou um bolo de cenoura com chocolate preto. Aparou a barba, tomou banho e no fim do almoço voltou a olhar o céu decidindo sair. Não ia ficar sentado em frente do computador ou a ler um dos livros que já começou. Tinha de sair para fora de Alverca. Dirigiu-se à estação dos comboios para depois decidir onde iria descer. Aproveitou o guiché estar a funcionar e renovou o passe gratuitamente por ser "antigo combatente". Apanhou o regional. Admirou-se de haver tanta gente a viajar, não havia lugares sentados, pelo que se acomodou logo à entrada. Na Estação do Oriente o comboio quase ficou vazio, aí decidiu seguir até Santa Apolónia para apanhar o metro mudar de linha na Baixa-Chiado e no Cais do Sodré apanhar o comboio da Linha de Cascais. De novo muitas pessoas jovens num instante encheram as composições. A Linha de Cascais tem troços de viagem à beira Tejo e depois à beira-mar sendo por isso um passeio muito bonito.

Há quanto tempo não fazia aquele percurso de comboio. Não se lembra quando foi a última vez, talvez ainda vivesse na Moita quando trabalhava os anéis para o tratamento físico da água. Deve ter sido nesse tempo quando visitou alguns hotéis em Cascais.

Não gostou do pouco que andou pelas ruas, procurando a rua onde uma antiga colega vive ou terá vivido.

De regresso, vai tomando notas das emoções sentidas nesta tarde do último domingo do mês de Outubro.

Há medos e receios que não consegue vencer. Depois, já não é deste modo de vida, não o entende e como tal não se revê nele. Sentiu-se como se fosse um peixe fora de água. Por onde vai, por onde caminha vai imaginando como poderia ele andar por ali com a sua amiga Sacha. Não se imagina pelo que não se vê, como pode ele um dia ter procurado viver na Linha de Cascais.

O suburbano está quase a partir de Santa Apolónia. Ontem a está hora ainda havia luz solar, hoje já é de noite escura. Coisas da mudança da hora.

22.10.29

 

Continua o mesmo sentimento. Anda cansado. Faltam-lhe forças. Sabe o que tem a fazer mas fecha-se sobre si próprio impotente para fazer o que já deveria ter feito. Não gosta da vida sedentária que leva. Tem medo de deixar de gostar de si próprio. As palavras fogem-lhe e as forças abandonam-o. Perdido, não sabe que rumo dar à vida. Desiste de escrever. Tudo o que escreve não passam de lamentos piegas sem valor. Fecha o aparelho de comunicação e fica sentado na cama a olhar o vazio fazendo tempo. Só a Sacha o leva para a rua. Que forças invisíveis o prendem… Desistiu de olhar o vazio e voltou a abrir o aparelho de comunicação para enviar mensagens às filhas e à sua neta mais velha que já tem saber e idade para usufruir destes novos aparelhos de comunicação. Gosta muito dela. Claro que também gosta muito dos outros dois mais novos. Talvez daqui a dois anos possa começar a enviar-lhes mensagens, por agora terá de começar a escrever-lhes cartas simples porque ainda estão no segundo ano da escola; a neta na escola pública e o neto numa privada. Sendo um defensor do Estado Social e como tal da escola pública não se intrometeu nas escolhas dos pais como nunca se intromete nas escolhas das filhas. Foi assim que aprendeu com os seus pais.

Assim, olhando o vazio sentado na cama e escrevendo mensagens chegou a hora de se preparar para sair com a Sacha. Fecha de novo o aparelho de comunicação que já lhe deu sinal que necessita de carga.

A meio da manhã quando a sua neta em resposta à sua mensagem lhe diz: "Beijinhos avô, tenho saudades 💞" os seus olhos enchem-se de lágrimas que não consegue reter. A seu lado a gatita Isis descansa. Ele procura recompor-se da emoção feliz, gosta mesmo daquela neta sendo que o gosto e o amor aos outros dois é diferente apenas por serem mais novinhos.

22.10.25

 

Chove aquela chuva de molha mais os tolos do que alimenta os ribeiros secos de água há vários meses ou mesmo anos. Olhou pela janela optando por aguardar um tempo, já que no seu aparelho de comunicação as previsões do tempo lhe indicavam apenas céu encoberto. Por detrás das nuvens compactas o deus Sol ainda não estará na linha do horizonte. De qualquer modo já vestiu o seu impermeável para a chuva porque está na hora de saírem para a volta matinal. Olhou mais uma vez a rua, observando com cuidado as nuvens do lado do mar e depois do lado sul. Mandou a Sacha sentar-se, pôs a coleira e saíram os dois. Na rua viu as pessoas de todas as manhãs que vão para o trabalho. Nenhuma levava chapéu de chuva aberto. No céu uma enorme carga de água aproximava-se. Seguiram o caminho habitual das manhãs. Quando sentiu o vento correr depressa adivinhou a chuva que começou a cair logo de seguida. Não voltou para trás, a Sacha andava indiferente à chuva pois tinha-lhe colocado o seu oleado, mas com muita atenção ao atravessarem a estrada na passadeira, já que não faltam automobilistas desrespeitadores das mesmas. Se no início a chuva não era intensa à medida que caminhavam, ia sentindo a sua ação. Também a Sacha ia procurando limpar o focinho com as suas patas. As pernas não cobertas pelo oleado escorriam água assim como os pés todos encharcados. Quando o relâmpago incendiou o céu logo seguido do estrondo do trovão a Sacha manteve-se calma continuando a andar sem se preocupar com os odores que os postes, as árvores e as esquinas sempre tem. Quando chegaram à porta do prédio para entrarem os dois pingavam água da chuva.

26.10.22

Depois de limpar a Sacha que não se deixa secar totalmente, de ter mudado de roupa e tomado o pequeno almoço, sentou à secretária. Olhou se tinha alguma mensagem das filhas, mas só silêncio encontrou. Vieram-lhe à memória outras molhas num outro tempo tão longe mas que se mantém nas gavetinhas da sua memória. Se na mais antiga ainda andava de bicicleta do Lugar da Estrada para a escola em Peniche, teria ele os seus 14 anos, no inverno ao terminar as aulas decidiu pôr-se a caminho de casa contra o parecer do seu irmão e de outros colegas que preferiram aguardar pelo horário da camioneta, procurando desse modo evitar a chuva que se adivinhava nos céus de Peniche. Ele com um outro colega fizeram-se ao caminho e mal passaram os portões da cidade começou a chover. Não tinham ainda saído da cidade quando ficou sozinho, já que o amigo apanhou uma boleia de alguém que o conheceu. A chuva caía grossa. Ele sem oleado já estava todo molhado. Com tanta água na estrada o dínamo que lhe dava luz deixou de funcionar enquanto pedalava sozinho naquela estrada onde nem os carros passavam. Um princípio de noite tempestuoso mantinha a bicicleta sem sair da estrada que era iluminada pelos constantes relâmpagos. No cruzamento do Casal Franco estava lá a Polícia de Viação de mota, mas nada lhe disseram por pedalar às escuras. Noutra ocasião ter-lhe-iam passado a respetiva multa que tanto gostavam de caçar, mas também eles estavam abrigados daquela chuva que parecia nunca mais acabar. A sua mãe quando o viu chegar encharcado até aos ossos deitou as mãos à cabeça e levando-o para junto da braseira logo o despiu e o vestiu tentando aquecê-lo para que não ficasse doente, que no dia seguinte teria novamente de ir para a escola em Peniche na sua bicicleta. O irmão chegou na camioneta das sete e meia, seco e sorridente gozando com ele.

Da outra molha que guarda memória já andava por Lisboa, no primeiro ano do Instituto Comercial. Nas férias do Natal foi à sessão das 15H00 no cinema Império ver o filme "A Louca de Chaillot". Terminada a projeção, quando saiu do cinema Império chovia uma chuva que não sendo de molha tolos não era chuva a sério. Ele tinha o seu chapéu de chuva, mas como até gostava de sentir a chuva, caminhava descendo a Avenida Almirante Reis de chapéu fechado apanhando chuva. Fez o caminho a pé até ao Cais do Sodré onde apanhou o comboio para Caxias. Quando chegou a casa de sua tia já lá estava a sua mãe e todos ralharam com ele.

Ao escrever essas memórias sente-se contente por o seu cérebro dar a ideia de que funciona em bom estado. Não tem vergonha em declarar que tem medo do Alzheimer. Quem não terá medo dessa porra degenerativa que torna os seres humanos vegetativos sem memórias. Que será a vida se se perder a capacidade de ter memórias?

22.10.23

No dia anterior juntou mais uma vez a vontade que alguns dos seus antigos companheiros camaradas e amigos, no infortúnio da guerra em Angola, gostam de realizar.

Andou muitos anos afastado daqueles companheiros camaradas e amigos. Não comungava do interesse dessas reuniões que ia sabendo que muitos antigos combatentes faziam. A guerra que veio colada nele ainda tinha o sabor amargo da revolta, dos tempo de vida que os senhores da guerra lhe roubaram.

Andando anos mais tarde quase perdido na vida, uma noite já pelas quatro da manhã agarrado ao computador apareceu-lhe no ecrã um blog que um antigo combatente mantinha desde o Luso no Moxico, em Angola. A curiosidade despertou-o do sono que pesava nas pálpebras. Leu muitas mensagens e no meio de muitas descobriu o nome de um amigo antigo furriel de transmissões.

Fechado o computador ao acordar o bichinho de encontrar o pessoal da sua Companhia estava vivo. Desde essa noite que um após outro foi estabelecendo contactos.

Depois chegou a primeira ida a uma reunião que um antigo combatente da CCS Companhia de Comando e Serviços realizava por Vila Nova de Gaia e onde compareciam alguns da sua Companhia. Feitos alguns contactos a primeira vez que compareceu alugaram um carro, ele e mais três. No ano seguinte já foi de comboio com o antigo capitão miliciano e mais alguns da sua companhia.

Quando o antigo combatente da CCS, Carlos Duarte, organizou um almoço de todas as companhias do Batalhão em Viana do Castelo, o pessoal da sua companhia falou com ele para procurarem fazer o seu próprio "toca a reunir", propondo um ponto intermédio entre o norte e o sul. Coimbra foi a cidade escolhida.

Por lá realizaram os seus convívios, até a pandemia do "sar cod2" os obrigar a suspenderem esses convívios de "toca a reunir" onde celebram a amizade.

Neste ano de 2022 ainda sonhou e estudou a logística de a reunião se poder realizar em Chaves por forma a pedirem autorização e visitarem as instalações. Mas, a logística iria obrigá-lo a colocar a sua amiga Sacha num hotel para caninos. Andou a marinar a ideia e desistiu de Chaves.

O tempo passava. Por vezes olhava a folha de calculo onde guarda os contactos dos seus companheiros, camaradas e amigos. Olhava e voltava a fechá-la. Estando uma manhã de Outubro sentado na areia a olhar as bonitas ondas da praia da Consolação beijarem aquela areia que está ficando menos grossa do que já foi, lembrou-se de telefonar ao Fernando que tinha sido mecânico, vivia perto da Figueira da Foz e num dos almoços de Coimbra lhe tinha dito que se ele quisesse podia ajudá-lo. Feito o telefonema e tendo a anuência do amigo Fernando, tratou de contactar todos os antigos companheiros camaradas e amigos que têm participado nas reuniões. Durante os contactos telefónicos foi-se lembrando de propor aos companheiros camaradas e amigos um novo "toque a reunir" no dia em que celebram os cinquenta anos que saíram de Viana do Castelo num comboio militar para na noite desse mesmo dia embarcarem num avião da Força Aérea rumo às terras desconhecidas de Angola. Contudo como o dia 15 de Dezembro é de novo a meio da semana (no ano de 1972 foi uma… e este de 2022 é uma quinta feira) pelo que o dia 17 de Dezembro sendo sábado logo após, se apresenta como o dia ideal para o "toque a reunir" da celebração do cinquentenário.

Já passaram cinquenta anos, uma vida corrida de muitos acontecimentos, sociais, tecnológicos …

24.10.22

uma vida corrida de muitos acontecimentos, sociais, tecnológicos e políticos que na sua opinião, modesta e humilde, foi um tempo de ricas experiências para aqueles que procuram entender as causas e sabem aguardar as consequências que tais acontecimentos geram. O passado constitui um livro grande de muitas recordações, umas boas outras nem tanto, mas todas são recordações. Não sente saudades desses tempos, recordando-os com a alegria comedida de os ter vivido, e, de alguns acontecimentos que protagonizou lhe deixarem na memória muito mais o eterno "se" do que o "porque". Passa ao lado das eternas discussões do "livre arbítrio" ou do "destino marcado". Passa ao lado delas assim das muitas teorias sobre a influência dos signos do zodíaco na vida das pessoas. Há tanto oportunista a vender esses ditos saberes que qualquer dia também os vão catalogar de ciência. Não segue cartilhas. Em tudo há coincidências e ele pouco saber tem. 

 

22.10.22(2)

 

Ao toque da alvorada em vários pontos do país alguns dos resistentes antigos combatentes da guerra em Angola (1972-1974) fizeram-se ao caminho para compareceram ao "toca a reunir" em Lavos - Figueira da Foz. Dos abraços às conversas atualizando o passado com o presente, ouviram a mensagem do antigo capitão miliciano que por um erro, do convocador da reunião, não pode estar presente fisicamente. Foram nomeados os responsáveis pelo novo "toque a reunir" para o dia 17 de Dezembro (sábado) em Viana do Castelo de onde há cinquenta anos a muy nobre 2ª Companhia de Caçadores do Batalhão 5010 saiu para a guerra no dia 15 de Dezembro 1972.

Cinquenta anos passados recordam-se sempre em amizade e respeito todos os antigos militares que juntamente com os companheiros militares de Angola (RI20) cumpriram os quase vinte e quatro meses do SMO entre o Leste e a fronteira norte de Angola.

Todos os presentes recordaram os que por motivos de saúde ou familiares não puderam estar presentes, assim como aqueles cujo contacto não tem sido possível, sem se esquecer os que já terminaram da sua viagem terrena.

Resistindo às adversidades próprias da vida, temos e iremos continuar, enquanto pudermos, a celebrar a amizade que construímos em cenários operacionais de guerra e soubemos cimentar em Paz, no pós guerra.

Bem hajam todos os presentes (incluindo as companheiras), todos os ausentes por motivos de força maior e todos aqueles companheiros camaradas e amigos que já partiram para o desconhecido.

22.10.22

 

Gosto da chuva. Com a chuva tudo renasce. Até a esperança renasce após se encontrar moribunda. Gosto dos mistérios da água, dos seus segredos e enigmas. É um gostar de muitos anos, tantos que lhe perdeu o conto.


22.10.18

 



Adquiridos os respetivos bilhetes de ida e volta em vez de ir apanhar o comboio suburbano de regresso a casa meteu-se no metro para descer no Marquês de Pombal e fazer a pé o caminho que fazia na sua juventude. Ainda se enganou na saída desejada mas lá consegui sair para a Avenida da Liberdade com a Alexandre Herculano. Desceu pelo passeio onde se situam as lojas dos mais ricos e pedantes. Passou por elas sem perder um segundo a olhá-las. Quando chegou ao edifício do banco BBVA recordou a inauguração do mesmo pelo Lloyds Bank Suc. Foi convidado para a inauguração juntamente com o diretor geral do laboratório farmacêutico onde desempenhava as funções de diretor administrativo e financeiro. Foi nessa inauguração que cumprimentou pessoalmente o agora rei Carlos III e a sua esposa, a infeliz Diana, que era ao vivo e a cores bem bonita.

Desceu para a Rua de Santa Marta. Olhou o edifício onde funcionou a antiga Associação Portuguesa de Contabilidade, tendo ali assistido enquanto estudante a algumas palestras dadas por antigos mestres da contabilidade. Caminhando e observando como a cidade mudou e se vai transformando, já na Rua de S. José subiu a Rua do Carrião até um terço da mesma, observando todas as portas, janelas e varandas. Contudo a rua já não é a mesma, tudo muda tudo cambia. Pela Rua das Pretas chegou de novo à Avenida da Liberdade e tirou mais uma foto com o seu aparelho de comunicação. A Avenida apresentava os seus passeios e esplanadas com bastante movimento de turistas. Ao chegar aos Restauradores, olhou o edifício do antigo cinema Condes. Foi lá que pela primeira vez foi ao cinema com o seu irmão ver um filme para maiores de 18 anos. Se lhe pedissem o BI não o teriam deixado entrar. Do outro lado da praça olhou outras recordações desde o Café Palladium agora bem fechado a betão, o sempre turístico elevador da Glória e a Calçada por onde tantas vezes subiram e desceram, o Palácio Foz do antigo sinistro SNI do Estado Novo onde agora funciona pelo menos assim diz a placa indicativa a Secretária de Estado e Cultura e outros organismos. Procurou junto à entrada do metro abaixo do edifício Éden lembrar-se em qual das novas portas funcionava o antigo bar que servia o famoso "pirata". Não conseguiu. As portas agora são todas iguais. Em frente a esse bar encontrou-se numa manhã de sábado do ano de mil novecentos e setenta e dois com um tenente miliciano que apenas conhecia de vista na Escola Prática de Infantaria em Mafra. Sem trocarem uma palavra, estendeu a mão para o cumprimentar e quando as mãos se apertaram o tenente deixou-lhe na mão um papelinho continuando a andar em direção ao Rossio. Ele meteu a mão no bolso das calças e sem olhar para os lados dirigiu-se para a paragem do autocarro 39. Subiu para o primeiro andar e sentou-se num lugar que lhe permitia ver quem entrava no autocarro. A mão sempre fechada no bolso das calças. O coração a bater apressado. Ao descer na paragem junto à Fábrica Corticeira Portuguesa na Avenida Infante D. Henrique aos Olivais olhou se alguém o seguia e em passo apressado chegou a casa, meteu-se no elevador e só quando se fechou no quarto leu o papelinho.

Recordações que lhe deixam alguma nostalgia pelo que viveu e sonhou. Hoje tudo é diferente. A vida melhorou muito nestes cinquenta anos passados, mas a besta moribunda dá sinais de estar viva e querer voltar a impor-se com os seus brandos costumes e pública virtudes. Nos corredores do poder a besta já uiva, tendo na atual comunicação social existente aliados para a promoção da sua imagem como salvadora dos bons costumes e públicas virtudes tão do agrado dos inimigos da Democracia.

22.10.14

 

O círculo tem o diâmetro cada dia mais pequeno. Os muitos defensores de um conceito próprio de Liberdade tentam em defesa do pensamento único fechar o círculo aos que ainda pensam de modo próprio. Tudo isso em nome de um tal conceito de Liberdade, próprio das classes sociais a que pertencem.

Para o grande exército destes especialistas a democracia só é livre se defendermos o atual conceito de pensamento único em versão ocidental transatlântica. Para essa multidão não há solução alternativa. Caso não se alinhe na defesa do “Zekinha ucraniano” é-se carimbado com o selo de “putinista”, como tal inimigo da pretença democracia que defendem cegamente.

A história do Planeta onde o Homo Sapiens se desenvolveu é feita de eras e ciclos. Estamos a voltar aos tempos do Estado Novo em quem não estava de alma e coração com o velho ditador era um período oposicionista talvez mesmo comunista

22.10.11

Passaram noventa e nove anos. Nasceste na Zebreira, fizeste a instrução primária, a antiga quarta classe, em Salvaterra do Extremo, onde meu pai te conheceu numa visita que os de Segura fizeram aos alunos de Salvaterra do Extremo. Nessa visita, segundo ele me contou, vocês olharam-se num olhar cúmplice que se prolongou quanto teu pai, meu avô, se mudou para Segura indo morar na casa em frente à dele, namoro que continuou aos fins de semana mesmo quando vocês voltaram para a Zebreira. Casaram em quarenta e sete, gerando dois rapazes que não sendo gémeos nasceram no mesmo ano de cinquenta do século passado. Passaste a tua existência a viver para quê nada nos faltasse de modo a que os filhos já rapazes pudessem continuar a estudar com a esperança que se estudassem iriam ter uma vida que lhes permitisse poderem voar para outros horizontes. A todos os sacrifícios da hipócrita sociedade moderna vocês se sujeitaram até que nós os dois, vossos amados filhos, alcançamos a nossa independência económica e voamos para a construção de novas famílias sem nunca vos esquecermos.

Lembro-me mais uma vez de não ter tido coragem de te ver chorar quando parti para a malvada e ignóbil guerra. Nunca tive coragem de me despedir de quem amava, e, eu amava-te e ainda te amo mãe.

Em todo este tempo de quase um século viveste a tua dualidade setenta e seis anos. No dia em que a morte física foi declarada voltei a tratar de todas as coisas, como já tinha feito aquando do fim de tua mãe. Tratei das coisas incluindo o ter metido o teu corpo físico naquela caixa de madeira; também nesse dia assim como nesta manhã de nevoeiro quase cerrado na nossa Consolação passados que são noventa e nove anos te lembro e saúdo sem me despedir de ti mãe Luísa. 

 

22.10.10

Passou a manhã a tratar de assuntos relacionados com o almoço dos antigos combatentes da sua Companhia de Caçadores a 2ª C. Caç. 5010.

Depois de almoçar olhou pela janela da cozinha o tempo cinzentão onde a chuva molha tolos faz a sua aparição a espaços. Pegou num livro, nos seus papeis e dando à ignição colocou a sua carrinha em marcha. Não ia ficar a tarde fechado em casa. Dirigiu-se calmamente para a Ilha do Baleal em busca de um lugar frente ao mar virado para Peniche. Olhou o mar, a natureza daquelas rochas e dedicou-se a revisar textos que vai escrevendo, procurando desse modo dar-lhe algum sentido. O tempo cinzentão não está frio. O mar calmo não bate com força nas rochas; no radio a Antena2 ligada baixinho e perdendo-se a olhar o mar lembrou-se dos da meteorologia, é tempo de sudoeste.

Dia de semana, cinzentão ameaçando chuva não há muitos carros nem muitas pessoas a transitarem pela ilha, embora a praia do lado norte estivesse repleta de surfistas.

Falava para ela com a certeza que ela não o ouve nem quererá saber do que ele lhe dizia, mas não pode deixar de pensar, se não a tivesse deixado será que estariam os dois ali a olhar o mar, a conversarem sobre todas as coisas da vida? Não tem sido fácil este ano para si. A sua loucura silenciosa tem-se agravado por falta de com quem conservar seja da política que nos está castigando e empobrecendo, seja do dia a dia. Desde o final de Fevereiro que desligou das televisões. Não vê notícias da guerra porque aprendeu à sua custa durante dois anos que numa guerra nenhum dos lados fala verdade. A mentira comunicacional faz parte das normas da própria guerra. Russos, ucranianos, americanos e “natistas” nenhum fala a verdade. Quem sofre são os que são forçados a participar na guerra contra sua vontade, as famílias que veem os familiares partirem para uma guerra de e contra antigos amigos. Não sente um pingo de solidariedade por nenhum dos países envolvidos naquele confronto militar. Naquela guerra não há bons nem maus, são todos maus. Foge da guerra e ao fugir acabou também por se desligar das trincas e discussões da política caseira. Ele que tanto gosta de política anda ausente, meio fora do mundo sem contudo ter vontade de se atualizar.

 

22.10.09


Ontem dia 8 passaram 123 anos desde a data com que te registaram. Segundo sei pela tia, foi um registo sem que a mesma data fosse alterada pelas autoridades. No teu ano de nascimento não era ainda obrigatório o registo civil, bastava o assento religioso efetuado na igreja. Coisas de uma monarquia decadente, subjugada aos interesses do retrógrado clero.

Não foste grande, foste enorme ser humano de amor à família. Sofreste muito nos teus anos de vida. Guardo como jóias escritos teus. A tua caligrafia foi e é a imagem do enorme ser humano que foste para nós.

Não me vou alongar, não tenho saber para escrever muito mais, guardo-te como lembrança viva no meu coração, porque acredito que a vida continua depois da água secar no nosso corpo. Não te digo Adeus porque vives comigo.

22.10.07


Acorda pega nos óculos e no aparelho de comunicação. Olha as primeiras páginas dos jornais. Nenhum lhe chama a atenção positivamente, a maioria das notícias são propaganda da oposição. Ele, como gato escaldado de água fria tem medo, não os lê de todo. Passa à rede social Facebook onde o ou os algoritmos que controlam a atividade na rede lhe apresentam quase continuamente publicidade e vídeos de merda. As publicações de gente que gosta de ler têm de as procurar na página dos próprios porque já não lhe aparecem de modo simples.

Estão todos a empurrar o pessoal que olha e pensa de modo próprio para um túnel sem saída nem respiradores, esquecendo-se os lacaios dos mandantes que mesmo na noite mais escura há sempre alguém que resiste, há sempre uma estrela que lhes indica o caminho da esperança de novos tempos num tempo novo. E, nesta ação psicológica contínua com que uns e outros nos fustigam, os que governando se declaram socialistas são por inércia tão cúmplices como os novos saudosistas e arautos dos bons costumes e públicas virtudes em versão moderna do decadente e corrupto Estado Novo que nos órgãos de comunicação social dominam a informação.

Saiu para a rua não tão cedo como nos dias anteriores mas mesmo assim ainda cedo, dos habitantes que estão por cá só encontrou um que fazia a sua caminhada, e muito poucos foram os carros dos jovens que por ele passaram deslocando-se para os seus locais de trabalho.

O nevoeiro acentuou-se com uma densidade que deixava a roupa húmida. Na praia a maré permitia poder caminhar pela areia molhada mas com o nevoeiro tão denso optou por fazer a volta pelas ruas e caminhos da aldeia que a sua amiga já conhece.

Arrumado o pequeno almoço abriu o computador para ver a sua conta de e-mail. O transportador que ontem não chegou tem novo horário para lhe entregar a encomenda de ração para os animais.

Fechado o computador pegou na pasta onde tem os contactos dos seus antigos companheiros e camaradas da 2ª Cia. Caçadores 5010. Há cinquenta anos eram uns jovens desconhecidos que se juntaram para formar a segunda companhia de caçadores, criando um corpo militar e humano disciplinado que mantém laços de amizade e reconhecimento pelo que souberam viver. Desde 2019 que não se encontram. Alguns dos companheiros, camaradas e amigos vão falecendo, outros por inerência de problemas de saúde próprios que a idade trás ou de familiares, mães, pais e esposas, não podem comparecer ao toque de reunir dos cinquenta anos. É a vida. O planeta não para no seu movimento de rotação e com ele todos vão envelhecendo. A convocatória foi feita em tipo teletrabalho. Em vez de se deslocar à cidade onde se costumavam encontrar, optou por telefonar ao amigo Fernando Leocádio, antigo mecânico da companhia, pedindo-lhe ajuda para encontrar na cidade da Figueira da Foz um local onde os antigos combatentes da 2ª C. Caç 5010 se irão reunir em saudável convívio comemorativo da sua amizade e respeito pelas diferenças.

50 anos não são 50 dias, nem semanas ou meses mas uma vida que depois de cumprida a comissão de guerra cada um seguiu o seu caminho, constituindo a sua família, para nestes almoços de confraternização recordarem tempos e peripécias passadas, nunca esquecendo aqueles companheiros camaradas e amigos da Companhia para quem a vida foi madrasta e tão curta.

Realizados os telefonemas de contacto no final da tarde foi até ao Porto Batel. Um dia tão tarde quanto lhe for possível, parte das suas cinzas serão ali clandestinamente entregues ao mar sereno na vazante para que possam ser embaladas mar adentro. Não parava de tirar fotos aos surfistas como seu telemóvel, até a Sacha se impacientava. Quando chegou ao Largo da Igreja voltou a tirar novas e mais fotos as surfistas que naquela hora do por-do-sol aproveitavam as boas ondas que a maré na vazante lhes proporcionava.

Aí, ele que se intitula não ser ciumento nem invejoso, ouviu a sombra segredar-lhe ao ouvido esquerdo: - estas com inveja daqueles surfistas! Ouviu a sua sombra e em silêncio reconheceu que sentia uma ponta de inveja daqueles jovens e da sua liberdade, por no seu tempo de menino e moço não se conhecer esta pratica do surf, nem ser possível a liberdade de convívio que todos eles vindos de vários lugares apresentam no seu dia a dia enquanto permanecem por cá. Os tais brandos costumes e publicas virtudes de então em união com as fracas condições económicas não permitiam viver como felizmente hoje acontece a uma franja da sociedade atual, chamada de classe média.

 

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

22.10.06



 

Tem consciência que o país não é rico, que a manta das receitas é curta para as necessidades, que os governantes mantêm um nível de vida artificial à população, à custa do crescente endividamento exterior. Não sendo o país rico, podia ser remediado caso não houvesse tanto desperdício e ostentação pública com as receitas que a economia gera e o Zé contribuinte suporta.

Quando olha os jornais, sendo mais crítico do que apoiante do atual governo, ao ler as parangonas promocionais do líder da oposição não pode deixar de se rir, não tanto pela falta de vergonha, mas pela figura de "anjinho salvador assumido" quem não há muitos anos, apoiou sem qualquer dúvida como líder parlamentar, um governo que tinha em campanha eleitoral prometido baixar os impostos e depois de tomar posse nos impôs a maior carga fiscal de sempre, a qual não foi mais longe porque indo a votos para novo mandato não conseguiram obter uma maioria parlamentar; será que o senhor se esqueceu do seu passado, da vontade que tinham em castigar ainda mais as famílias dos reformados e pensionistas retirando às suas pensões mais 600 milhões, para equilibrar contas que não souberam fazer e ainda menos gerir?

Um dia leu uma entrevista a Robert Manase quando o Público era um jornal que se podia ler da primeira à última página, em que ele afirmava que "político é todo aquele que está para além da vergonha", guardou a frase na memória e a vida tem-lhe mostrado a veracidade da afirmação do escritor austríaco de origem judaica.

Chegou aqui ainda a fazer os doze anos e por cá viveu até aos vinte, embora nos últimos anos não de forma permanente, já que estudava em Lisboa no velho Cortiço do ICL ao Camões. Depois de nem meia dúzia de anos a ir passar férias ao Algarve, voltou com a família em férias para a Consolação e já lá vão tantos anos como de idade têm a filha mais nova, quarenta e dois anos.

Não é pois um desconhecedor da região, ou um veraneante que chegou aqui há meia dúzia de anos. Usufruiu, nas férias dos três meses de Verão que a escola proporcionava, deste mar que por vezes mete respeito, desta costa de arribas que por força da sua constituição argilosa se têm tornado nos últimos anos mais instáveis , nalguns locais até perigosa.

Se nos anos sessenta a região e a praia eram quase desconhecidas da pouca população que podia gozar férias, após a instauração da Democracia deu-se o boom do betão anárquico e a pressão humana cresceu geometricamente. Nos últimos anos pelo boom que a prática do surf alcançou, também aqui chegam amantes da modalidade e da natureza vindos de todo o lado.

Nas suas voltas matinais com a sua amiga, gosta de ir até ao Porto Batel outrora praia dos jovens do Lugar da Estrada, estando hoje como que abandonada face às derrocadas que ali a arriba argilosa tem sofrido. Quando desce lá abaixo, olha a sua volta as arribas não deixando de sentir uma mistura de tristeza num receio quase medo.

No caminho para o Porto Batel encontra várias caravanas e carrinhas adaptadas de surfistas estacionadas algumas delas à beira da arriba indiferentes ao perigo e à própria pressão que as mesmas exercem na frágil arriba. Já por lá encontrou uma caravana com matrícula da Nova Zelândia, mas a maioria são espanhóis, alemães, franceses e algum italiano e holandes.

Faz a roda do tempo andar para trás até à maioria absoluta do homem do Poço de Boliqueime, quando um seu ministro, advogado em Coimbra com conta no livro de acentos da farmácia antes de ser político, ministro e rico empresário, toma a decisão de acabar com a Guarda Fiscal que estando na jurisdição das Finanças controlava e vigiava a costa portuguesa das máfias do contrabando, acumulando também a função de Cabo de Mar vigiando a segurança da costa. Foi a GF integrada na GNR. Os que não aceitaram a integração puderam aposentar-se com pensão por inteiro. Criaram dentro da GNR uma divisão de Guarda Marítima, que sem meios eficazes nem elementos humanos suficientes, nada vigia por incapacidade ou por vontade de alguém.

É assim que as autoridades que têm poder conjunto ou cumulativo sobre a costa, lavam as mãos como Pilatos segundo conta a história, ao colocarem os avisos (fotos) na beira da arriba. Não sei a razão de nos avisos explicitar valores diferenciados de coimas se não há autoridade para exercer a vigilância e a educação dos infratores. Somos mesmo um país onde não falta legislação para a cobrança de impostos, taxas, taxinhas, coimas e custas apenas para gozo do legislador, porque depois não há meios humanos para fazer aplicar as leis, decretos, portarias e pareceres promulgados a granel, para que no caso de acontecer uma desgraça os processos se arrastem nos tribunais com os responsáveis no momento a lavarem as mãos com os avisos colocados e não respeitados.