segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

22.11.20

 

Domingo que recomeça cinzento com algum nevoeiro à mistura. Sente-se o frio com este tempo. A salamandra não acende, o fumo não sai pelo tubo e o lume apaga-se deixando um cheiro a lenha queimada incomodativo. Já procurou ajuda, tem medo de subir ao telhado para tapar a chaminé com rede de modo a que a passarada não faça ninho na tubagem. Já tem dois contactos de limpa-chaminés para lhes ligar, mas hoje é domingo e só lhes irá ligar amanhã a fim de resolver o problema. Até lá recorrerá aos agasalhos a que se habituou, evitando grandes aquecimentos elétricos.

A ausência acompanha-o. É assim e irá ser assim enquanto por cá andar, não conhece nem vislumbra outra alternativa. Vivendo consciente desse modo sente-se dia a dia mais afastado do mundo mundano e da política, preferindo continuar a ser um homem de esquerda desenquadrado sem partido, mas sempre à esquerda. A isso não pode renegar.


Melancólico como o tempo e cansado, resolveu preparar um almoço de "lés a lés" . Tinha duas postas de raia congeladas de uma raia que comprou no mês de Outubro na praça de Peniche, tem batata doce que comprou no mercado exterior à praça em Peniche, mais uns brócolos e umas cenouras compradas ao João que à sexta-feira por cá passa e fez-se ao trabalho, preparando o almoço de domingo e o de amanhã é só aquecer no micro-ondas. Ainda não atinou com o fazer uma só refeição. Gosta de cozinhar e não se importa de comer a mesma comida várias vezes. Aliás, há comidas que no dia seguinte são mais saborosas, peixe frito por exemplo sem esquecer algumas sopas de feijão. No mundo de dificuldades que se avizinha tem de estar preparado para tudo, não tivesse já comido carne podre com massa, ou bebido água de um pântano estagnada sem esperar que os comprimidos usados para a desinfetar fizessem efeito, a sede era tanta… . Um dia, ouviu de um tenente na instrução da especialidade na EPI dizer - "nossos cadetes, o homem não conhece o limite das suas capacidades". Na altura duvidou, para depois nas terras do Leste Angolano comprovar a veracidade das mesmas. Da pouca televisão que vê, quando vê reportagens em que as pessoas se queixam de comer a mesma sopa ao almoço e ao jantar, desliga de imediato, não dando para essas encenações televisivas, de gente que não sabe ou é mal agradecida. Agora o tempo como que pede uma pequena sesta, para depois se agarrar ao aparelho de comunicação e falar com os amigos, companheiros, camaradas da antiga Companhia de Caçadores 5010.

Gosta de futebol. Gosta de ver jogos de futebol. Gosta porque independente das teias que tomaram conta do espetáculo, há nos relvados jogadores que são gente e que com a sua capacidade técnica produzem cenas de arte única. Gosta de futebol, como gosta de rugby ou de ciclismo. O futebol era o desporto popular dos miúdos que brincavam na rua, fazendo bolas de pano com as meias de vidro das senhoras, que fugiam à polícia quando jogavam e eles apareciam ao fundo da rua. Ainda treinou rugby com a equipa de Económicas, mas nunca se federou, pois já estava a cumprir o serviço militar obrigatório; aguarda com expectativa a presença da seleção no próximo mundial 2023 em França. Ainda à semanas viu na televisão a vitória histórica da Argentina sobre a Inglaterra naquele que é um dos emblemáticos estádios da modalidade, o Twickenham Stadium;

Ciclismo, foi o seu desporto diário desde os nove anos a caminho da escola industrial comercial em Peniche; ainda hoje gosta de ver na televisão as provas de estrada com especial incidência para as etapas de alta montanha, seja em França, Itália, Espanha ou na volta a Portugal.

O desporto em si não é alienação. É antes uma forma salutar de vida. A alienação existe quando o sistema que controla a comunicação social faz do desporto o meio e a forma de nos quererem parametrizar as ideias, com slogans populistas fazendo da competição caso de vida ou de morte, promovendo claques que facilmente se transformam em organizações de arruaceiros quais polícias pretorianas privadas de dirigentes clubistas. Para comprovar basta ir a um jogo de futebol entre as chamadas equipes grandes do desporto nacional.

Falar do Catar e do mundial que hoje começa é chover no molhado. Para nós de educação judaico-cristã de hábitos liberais defendendo e bem, a igualdade de sexos como normalidade, a cultura islâmica com os hábitos das oligarquias que dominam aquela região do Planeta é uma aberração um atraso civilizacional aos nossos olhos. Daí às histórias dos chamados "direitos humanos" é uma treta para agradar a uma parte considerável da população que se insurge com o que se passa, passou e passará lá e não vê o que está ao alcance dos nossos olhos cá no tal mundo ocidental e democrático. Que diferença faz o Presidente ir ao Catar se ele já foi ao beija-mão de Trump ou de Biden e nunca foi questionado sobre Guantánamo, foi visitar oficialmente Bolsonaro e não foi questionado sobre as populações índios da Amazônia. Ou quando visitou a China em 2019, ou a Rússia em 2018 e não foi questionado sobre a liberdade super controlada nesses países. Isto para não falarmos do que por cá se passa com os imigrantes nas grandes explorações agrícolas super intensivas ou nas obras ao serviço de subempreiteiros de outros empreiteiros fornecedores das empresas que ganham os concursos das obras ou as recebem por adjudicação direta de um amigo político.

Há muita coisa, um longo caminho a percorrer. Caminho esse que é indiferente aos tais senhores e senhoras dos direitos humanos à moda do mundo ocidental.

Em 1980, aquando do nascimento da sua segunda filha, os médicos por considerarem a gravidez de risco aconselharam a que a mãe ao fazer nova cesariana fizesse também a laqueação das trompas. Então para o médico na Maternidade Alfredo da Costa fazer a laqueação das trompas, ele, pai e companheiro, foi a um notário com duas testemunhas para se responsabilizar pela laqueação das trompas à sua companheira e mãe das suas filhas. Laqueação essa feita na Maternidade do SNS. Isto em 1980. Hoje não sabe como estará a situação anómala de ser o homem a responsabilizar-se pela laqueação das trompas que são pertença da sua companheira ou esposa. Caminho longo sempre com novas variantes o da Igualdade.

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