segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

22.08.01

 

Ao ler mais um livro, tomou nota no seu caderno de apontamentos «O Mundo não é a mesma coisa das pessoas que o habitam. O Mundo está entre as pessoas», (Hannah Arendt).

Ele, que caminha solitário entre a multidão de pessoas em busca de conhecer o esse Mundo que existe entre as pessoas, onde tudo o que é inato ali mesmo tem origem. Caminha solitário nesse Mundo que existe entre, caminha cansado, desgastado em revolta contra esse Mundo a que pertence. A cada dia vive essa luta surda que trava consigo e com o entre, de onde a loucura silenciosa chegou e nele se instalou, por causas que só ele é sua sombra conhecem, as forças como que o abandonam, o deixam mais sozinho. Não se importa, vale mais só que mal acompanhado, pensa e diz para si mesmo.

Ergue-se, olha-se ao espelho, retesa o tronco dá meia volta e segue caminhando na outra margem da vida em busca de uma paz necessária mas difícil de alcançar. Nada na vida lhe foi proporcionado de modo fácil. A primeira vez que o Estado o procurou foi para o embalar, preparar e enviar para a guerra numa terra distante. Embora depois de regressar dessa triste guerra já sem vínculos reais ao mesmo, ainda tivesse obrigações para com o Estado, tão ou mais absurdas do que a própria guerra. Nunca mais o Estado se importou com a sua existência exceto na recolha dos impostos, que foi gerando com a sua atividade profissional.

Quando depois da guerra buscava começar a trabalhar na então Inspeção de Finanças, o Primeiro Ministro Vasco Gonçalves na busca de soluções para os que regressavam e ou chegavam a Portugal vindo das antigas colónias africanas, resolveu suspender as admissões na função pública para dar prioridade aos que chegavam. Fechada essa porta virou-se para o setor privado da economia.

Era bom homem e patriota o P M Vasco Gonçalves, procurou fazer o melhor para o país, contudo poucos foram os que beneficiaram da sua boa e enorme vontade de encontrar soluções que lhe agradeceram as oportunidades e facilidades que lhes proporcionou no regresso à terra de onde um dia partiram familiares ou aqueles que nascidos e criados, filhos de África, pisaram pela primeira vez chão português. Saiu, Vasco Gonçalves, do poder quando os defensores da "ordem democrática" se preparavam para acabar com a festa popular que vigorava no país desde 25 de Abril de 1974.

02.08.22

Recorda os tempos da alegria que a Liberdade dada ao povo por jovens militares lhe proporcionou. Sempre que se achava sozinho agarrava-se ao rádio Crown, para naquelas do quase fim do mundo, sentir através das ondas curtas a festa da alegria que andava à solta nas ruas do seu país. Quantas vezes as lágrimas lhe caiam pela face ao ouvir as cantigas até então proibidas por censores salazaristas.

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