terça-feira, 10 de janeiro de 2023

22.10.03

O calendário diz-lhe que hoje é segunda-feira dia três de Outubro. Um dia em que os da meteorologia anunciam um dia quente.

Depois de se levantar ao sair para a volta matinal viu o céu cinzento de um cinzento que não era bem cinzento. Foi caminhando aguardando que a leste o rei Sol aparecesse, não faltava muito tempo para a hora anunciada do chamado "nascer do sol". Quando o Sol já brilhava acima da linha do horizonte os seus raios solares eram filtrados pelo céu de um tal cinzento que não era bem cinzento. Seria uma conjugação de nevoeiro? com as tais faladas poeiras que vem do sul? Esquisito o tempo.

Tomado o pequeno almoço, olhou o e-mail, fazendo o controle da encomenda da ração para a Sacha. Não havia novidades. Meteu o livro debaixo do braço e saiu sem destino. Pensou em ir pela passadeira que ainda está na praia e chegar ao largo da igreja para observar como estavam as rochas a sul do Forte. Chegando à praia em vez de seguir pela passadeira caminhou na areia até à beira mar e sentou-se de tronco nu na areia. Na ausência de vento sentiu-se confortável e ali ficou as normais duas horas apanhando o pouco mas confortável sol nas costas, lendo mais uns capítulos do livro "Pátria" de que está a gostar. Este e o anterior livro "O Homem que Gostava de Cães" embora diferentes de tudo o que já leu, fazem-lhe ver a história de um outro ângulo. Não são livros de História, são romances baseados em factos históricos. Factos históricos que conhecia sobre outros ângulos. Sente-se bem com as novas leituras que muito bem escritas o ajudam a ser o que é. Gosta de política. Para si a política é o motor de qualquer sociedade e como não reconhece a existência de apolíticos, quando alguém lhe diz que não gosta ou não se interessa por política, chama educadamente a atenção que essa decisão sendo legítima não deixa de ser uma posição política, uma vez que a política não se resume ao universo limitado da luta partidária, sendo muito mais abrangente que os interesses partidários.

Ali sentado no areal frente ao mar que mansamente desfazia as pequenas ondas na areia, numa comunhão de muitos séculos, via alguns poucos casais que como ele aproveitavam a praia outonal agora que a marabunta voltou para as cidades deixando a praia só para eles. Nos pequenos intervalos da leitura ao olhar o mar que mais parecia um lago, logo lhe aparecia a imagem da ausência e os "ses" que a memória dela o vão fustigando num castigo que se prolonga sem que saiba quando e como esta loucura silenciosa o vai deixar em paz.

Almoçou o resto da caldeirada que ontem cozinhou e depois mesmo bebendo um café duplo ao sentar-se no sofá as pálpebras fecharam-se para uma sesta.

Quando acabou a sesta ficou por casa, adiando as compras para o dia seguinte. A televisão continua muda. Não lhe apetece ouvir os difusores do pensamento único. Não gosta do Governo mas mesmo não gostando, prefere-o aos que se posicionam como alternativa e tão acarinhados com tempo de antena são pelos patrões dos poucos órgãos de comunicação social que existem no mercado. Tem a consciência que caminha na outra margem da vida numa travessia do deserto que embora lhe custe suportar a ausência da leitura de um jornal digno e independente, é o seu caminho encontrando nos livros a alternativa para se manter lúcido e consciente do seu lugar entre o rebanho da multidão. 

 

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