terça-feira, 10 de janeiro de 2023

22.10.06



 

Tem consciência que o país não é rico, que a manta das receitas é curta para as necessidades, que os governantes mantêm um nível de vida artificial à população, à custa do crescente endividamento exterior. Não sendo o país rico, podia ser remediado caso não houvesse tanto desperdício e ostentação pública com as receitas que a economia gera e o Zé contribuinte suporta.

Quando olha os jornais, sendo mais crítico do que apoiante do atual governo, ao ler as parangonas promocionais do líder da oposição não pode deixar de se rir, não tanto pela falta de vergonha, mas pela figura de "anjinho salvador assumido" quem não há muitos anos, apoiou sem qualquer dúvida como líder parlamentar, um governo que tinha em campanha eleitoral prometido baixar os impostos e depois de tomar posse nos impôs a maior carga fiscal de sempre, a qual não foi mais longe porque indo a votos para novo mandato não conseguiram obter uma maioria parlamentar; será que o senhor se esqueceu do seu passado, da vontade que tinham em castigar ainda mais as famílias dos reformados e pensionistas retirando às suas pensões mais 600 milhões, para equilibrar contas que não souberam fazer e ainda menos gerir?

Um dia leu uma entrevista a Robert Manase quando o Público era um jornal que se podia ler da primeira à última página, em que ele afirmava que "político é todo aquele que está para além da vergonha", guardou a frase na memória e a vida tem-lhe mostrado a veracidade da afirmação do escritor austríaco de origem judaica.

Chegou aqui ainda a fazer os doze anos e por cá viveu até aos vinte, embora nos últimos anos não de forma permanente, já que estudava em Lisboa no velho Cortiço do ICL ao Camões. Depois de nem meia dúzia de anos a ir passar férias ao Algarve, voltou com a família em férias para a Consolação e já lá vão tantos anos como de idade têm a filha mais nova, quarenta e dois anos.

Não é pois um desconhecedor da região, ou um veraneante que chegou aqui há meia dúzia de anos. Usufruiu, nas férias dos três meses de Verão que a escola proporcionava, deste mar que por vezes mete respeito, desta costa de arribas que por força da sua constituição argilosa se têm tornado nos últimos anos mais instáveis , nalguns locais até perigosa.

Se nos anos sessenta a região e a praia eram quase desconhecidas da pouca população que podia gozar férias, após a instauração da Democracia deu-se o boom do betão anárquico e a pressão humana cresceu geometricamente. Nos últimos anos pelo boom que a prática do surf alcançou, também aqui chegam amantes da modalidade e da natureza vindos de todo o lado.

Nas suas voltas matinais com a sua amiga, gosta de ir até ao Porto Batel outrora praia dos jovens do Lugar da Estrada, estando hoje como que abandonada face às derrocadas que ali a arriba argilosa tem sofrido. Quando desce lá abaixo, olha a sua volta as arribas não deixando de sentir uma mistura de tristeza num receio quase medo.

No caminho para o Porto Batel encontra várias caravanas e carrinhas adaptadas de surfistas estacionadas algumas delas à beira da arriba indiferentes ao perigo e à própria pressão que as mesmas exercem na frágil arriba. Já por lá encontrou uma caravana com matrícula da Nova Zelândia, mas a maioria são espanhóis, alemães, franceses e algum italiano e holandes.

Faz a roda do tempo andar para trás até à maioria absoluta do homem do Poço de Boliqueime, quando um seu ministro, advogado em Coimbra com conta no livro de acentos da farmácia antes de ser político, ministro e rico empresário, toma a decisão de acabar com a Guarda Fiscal que estando na jurisdição das Finanças controlava e vigiava a costa portuguesa das máfias do contrabando, acumulando também a função de Cabo de Mar vigiando a segurança da costa. Foi a GF integrada na GNR. Os que não aceitaram a integração puderam aposentar-se com pensão por inteiro. Criaram dentro da GNR uma divisão de Guarda Marítima, que sem meios eficazes nem elementos humanos suficientes, nada vigia por incapacidade ou por vontade de alguém.

É assim que as autoridades que têm poder conjunto ou cumulativo sobre a costa, lavam as mãos como Pilatos segundo conta a história, ao colocarem os avisos (fotos) na beira da arriba. Não sei a razão de nos avisos explicitar valores diferenciados de coimas se não há autoridade para exercer a vigilância e a educação dos infratores. Somos mesmo um país onde não falta legislação para a cobrança de impostos, taxas, taxinhas, coimas e custas apenas para gozo do legislador, porque depois não há meios humanos para fazer aplicar as leis, decretos, portarias e pareceres promulgados a granel, para que no caso de acontecer uma desgraça os processos se arrastem nos tribunais com os responsáveis no momento a lavarem as mãos com os avisos colocados e não respeitados.

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