quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

22.08.02

 

Cinquenta anos não são cinquenta meses e muito menos cinquenta dias. Foi assim que ao olhar o céu cinzento, beneficiando da aragem fresca da manhã, começou o dia lembrando-se que há cinquenta anos andava pelas terras quentes do norte transmontano em Chaves, formando jovens, tão ou mais jovens que ele, para irem de G3 nos braços defenderem aquilo que não lhes pertencia mas que os senhores da guerra pelos palácios da capital lhes diziam ser um dever patriótico.

A fronteira com a província galega de Ourense ficava a poucos quilómetros. Muitos outros militares à força, a tinham passado para não mais voltarem ao país enquanto durasse a noite negra do fascismo na versão salazarenta. O Rio Tâmega na fronteira passava-se com água pelo peito, mas passava-se seguro naquele verão de setenta e dois. Contudo, na sua fornada de oficiais e sargentos milicianos nenhum decidiu passar a fronteira e não voltar ao quartel. Todos aceitaram as mobilizações que lhe foram impostas.

Cinquenta anos passaram e olhando para trás, recordando peripécias, medos, lutas, vitórias e derrotas sente um peso cada dia mais pesado sobre os seus ombros. Peso que não é proporcional à idade. Peso que tem vindo a progredir numa razão superior à unidade que os anos vão acumulando. É o peso da revolta que nunca o abandonou. Uma revolta surda contra o estado de coisas que vem sentindo, que paulatinamente nos trazem muitos dos "brandos costumes e públicas virtudes" da noite escura, agora numa versão soft atualizada por novos chavões. Dão-nos um modelo de vida artificial à custa do endividamento exterior do país, alimentando de novo meia dúzia de famílias algumas diferentes das famílias da noite escura, mas cujos métodos e princípios se assemelham.

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