quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

22.09.10

 

Se cá estivesses iríamos às Termas de Monfortinho comer um bacalhau à Brás que tanto gostavas. Assim, sozinho na companhia da tua memória, irei cozinhar um bacalhau à Gomes de Sá e uma baba de camelo que adoravas, para na tua nossa casa, nos sentarmos à mesa os dois, e, sem bolos nem velhinhas celebrarmos o dia do teu nascimento há noventa e nove anos em Segura, segundo a tua mãe te disse e que tu nos transmitiste. Dia que não é o dia em que um burocrata do sistema "quero posso e mando" de então, achou por bem registar nos documentos oficiais.

Datas, memórias que perduram no tempo, que em silêncio se recordam com amor, já que saudades só tenho do futuro, cada dia mais incerto de um horizonte carregado de nuvens negras ameaçadoras da Paz, mas nem por isso o meu desejo de conhecer o futuro diminui a vontade de viver.

Enquanto puder e a memória mostrar sinais de saúde cá estarei para com a tua memória partilharmos este teu dia, Pai.

Esta manhã à secretária olhava pela janela do sótão ao mesmo tempo que procurava organizar as fotos que por cá encontrei mais as que por cá fui deixando, e perdi-me em memórias. Tenho que organizá-las escrevendo o que ainda for capaz de fazer.

Sabes, a tua bisneta de treze anos, quando lhe enviei o que escrevi inicialmente por mensagem sobre este teu dia, respondeu-me assim:

"-Todos sentimos muito a falta dele, parabéns Avô, para o ano ele completará um século neste mundo, uma data que devemos guardar com carinho"

É muito linda a tua bisneta. Um orgulho que me leva a sorrir sempre que releio a sua resposta.

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