segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

22.10.18

 



Adquiridos os respetivos bilhetes de ida e volta em vez de ir apanhar o comboio suburbano de regresso a casa meteu-se no metro para descer no Marquês de Pombal e fazer a pé o caminho que fazia na sua juventude. Ainda se enganou na saída desejada mas lá consegui sair para a Avenida da Liberdade com a Alexandre Herculano. Desceu pelo passeio onde se situam as lojas dos mais ricos e pedantes. Passou por elas sem perder um segundo a olhá-las. Quando chegou ao edifício do banco BBVA recordou a inauguração do mesmo pelo Lloyds Bank Suc. Foi convidado para a inauguração juntamente com o diretor geral do laboratório farmacêutico onde desempenhava as funções de diretor administrativo e financeiro. Foi nessa inauguração que cumprimentou pessoalmente o agora rei Carlos III e a sua esposa, a infeliz Diana, que era ao vivo e a cores bem bonita.

Desceu para a Rua de Santa Marta. Olhou o edifício onde funcionou a antiga Associação Portuguesa de Contabilidade, tendo ali assistido enquanto estudante a algumas palestras dadas por antigos mestres da contabilidade. Caminhando e observando como a cidade mudou e se vai transformando, já na Rua de S. José subiu a Rua do Carrião até um terço da mesma, observando todas as portas, janelas e varandas. Contudo a rua já não é a mesma, tudo muda tudo cambia. Pela Rua das Pretas chegou de novo à Avenida da Liberdade e tirou mais uma foto com o seu aparelho de comunicação. A Avenida apresentava os seus passeios e esplanadas com bastante movimento de turistas. Ao chegar aos Restauradores, olhou o edifício do antigo cinema Condes. Foi lá que pela primeira vez foi ao cinema com o seu irmão ver um filme para maiores de 18 anos. Se lhe pedissem o BI não o teriam deixado entrar. Do outro lado da praça olhou outras recordações desde o Café Palladium agora bem fechado a betão, o sempre turístico elevador da Glória e a Calçada por onde tantas vezes subiram e desceram, o Palácio Foz do antigo sinistro SNI do Estado Novo onde agora funciona pelo menos assim diz a placa indicativa a Secretária de Estado e Cultura e outros organismos. Procurou junto à entrada do metro abaixo do edifício Éden lembrar-se em qual das novas portas funcionava o antigo bar que servia o famoso "pirata". Não conseguiu. As portas agora são todas iguais. Em frente a esse bar encontrou-se numa manhã de sábado do ano de mil novecentos e setenta e dois com um tenente miliciano que apenas conhecia de vista na Escola Prática de Infantaria em Mafra. Sem trocarem uma palavra, estendeu a mão para o cumprimentar e quando as mãos se apertaram o tenente deixou-lhe na mão um papelinho continuando a andar em direção ao Rossio. Ele meteu a mão no bolso das calças e sem olhar para os lados dirigiu-se para a paragem do autocarro 39. Subiu para o primeiro andar e sentou-se num lugar que lhe permitia ver quem entrava no autocarro. A mão sempre fechada no bolso das calças. O coração a bater apressado. Ao descer na paragem junto à Fábrica Corticeira Portuguesa na Avenida Infante D. Henrique aos Olivais olhou se alguém o seguia e em passo apressado chegou a casa, meteu-se no elevador e só quando se fechou no quarto leu o papelinho.

Recordações que lhe deixam alguma nostalgia pelo que viveu e sonhou. Hoje tudo é diferente. A vida melhorou muito nestes cinquenta anos passados, mas a besta moribunda dá sinais de estar viva e querer voltar a impor-se com os seus brandos costumes e pública virtudes. Nos corredores do poder a besta já uiva, tendo na atual comunicação social existente aliados para a promoção da sua imagem como salvadora dos bons costumes e públicas virtudes tão do agrado dos inimigos da Democracia.

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