quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

22.09.02

 

Sou cidadão do Regime Geral da Segurança Social, como tal a minha médica de família, uma jovem, como gosto e prefiro, mandou-me fazer mais um exame ao coração. Quando realizei o ecocardiograma o médico que o realizou disse-me que havia uma pequena fuga nada de importante. A minha médica não ficou contente e prescreveu um holter. Ao procurar marcar nas clínicas onde fiz outros exames a resposta era sempre a mesma, "esse exame não é comparticipado" ou "de momento não fazemos". Lá encontrei onde o fazer pagando-o do meu bolso.

Hoje é um exame, amanhã é outro, em paralelo a comparticipação pública nos medicamentos a cada revisão diminui, assim passo a passo o cidadão que não tem seguro de doença, que pertence unicamente ao Regime Geral vai ficando mais pobre com muitos a ficarem depenados.

Não é só nos hospitais que o Grande SNS é lentamente desprezado pelos governantes, também os cidadãos utentes do Regime Geral o são, desprezados e ignorados, porque é no Regime Geral que se encontra a maioria da população que mais dependem da assistência da saúde pública. Não são os 50€ que paguei que me criam revolta, porque posso pagá-los, mas penso nos milhares e milhares de cidadãos do Regime Geral que têm pensões abaixo dos 600€ mês e não podem facilmente dispor de dinheiro para pagar um exame que a médica do SNS prescreveu. Que alternativa têm senão esperar meses a fio por uma vaga num instituto público que realize o mesmo comparticipado pela Segurança Social. Depois dizem-nos que as doenças do coração são as mais mortíferas no nosso país.

É o que temos, havendo sempre milhões de euros para salvar bancos dos erros e trafulhices de banqueiros e políticos, ao mesmo tempo que os milhões de acréscimo nas despesas da saúde, orçamentadas no O.E. são na grande maioria desviados para pagar serviços aos agentes privados da saúde, incluindo nestes as terríveis empresas de trabalho temporário que cedem médicos ao SNS.

Antes de ter médico de família, encontrei numa consulta no Centro de Saúde uma médica nos seus quarenta anos. Tinha trabalhado na ARSLVT num centro de saúde. Com o trabalho de horas normais, mais horas extras, fins de semana em urgências, via a sua conta bancária ser creditada em pouco mais de dois mil euros. Cansou-se e saiu da função pública, inscrevendo-se numa empresa de prestação de serviços de saúde (as tais de trabalho temporário). Passou a fazer o horário normal, passou a ter os fins de semana livre e uma vez ou outras faz umas horas extra. No fim a conta bancária é abona à volta dos quatro mil euros.

É esta a gestão que governantes submissos aos interesses liberais e neoliberais de Bruxelas, tem paulatinamente seguido na degradação lenta mas constante da Grande Conquista que Abril deu aos portugueses, contra a vontade das forças políticas que não defende um Estado Social como alavanca do bem estar social dos seus cidadãos. Infelizmente

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