quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

22.09.11

 

Às 05H25 acordei. 0lhei pela janela mas estando em Setembro a noite já domina de novo a madrugada. A Sacha sentindo o meu acordar logo se colocou ao fundo da cama para me saudar lambendo-me as mãos, voltando para a sua cama quando entro na pequena casa de banho. Na casa todas as divisões são pequenas, no tamanho certo para o meu canto, o meu palácio onde vivem tantas e tantas memórias. No meu canto não há saudades. Só memórias habitam nestas quatro paredes. Também a ausência me acompanha, fazendo-se minha companhia a qualquer hora do dia ou da noite. Habituei-me à sua presença.


Uma foto. Um pequeno almoço que junta várias memórias. As memórias são só isso, memórias. Já nem as classifico de boas ou menos boas, pois memórias são o aprendizado que me fez chegar aqui. Para que classificá-las se só damos valor às coisas boas depois de experimentarmos o sabor das coisas menos boas. Entre boas e menos boas a vida é bela.

As uvas apanhei-as das videiras depois de ter chegado da volta matinal com a Sacha. Entre comê-las com pó ou lavá-las fiquei-me pelo natural. Os queijos, de ovelha o pedaço, de cabra o maior são da Malpiqueijo, do melhor que se pode encontrar. Ainda não os vi nas grandes cadeias de supermercado, mas encontro-os por cá no minimercado. Pão é caseirinho elaborado na padaria Tradições da Zebreira.

Pão, uvas e queijos são memórias dos tempos em que miúdo e jovem visitava os meus avós no Espírito Santo. Desse tempo também me lembro da coisa menos boa, que para mim era o leite de cabra que me obrigavam a beber. Leite de vaca havia pouco e caro para as posses dos meus avós.

Na foto a garrafinha de cerveja transporta-me aos tempos que, feito homem, vivi no início das terras do fim do mundo, quando a minha mãe me mandava pelo correio do Movimento Nacional Feminino um queijo e um maço de tabaco Português Suave sem filtro. Com a chegada do queijo cheiroso e do tabaco, os pequenos almoços e o lanche, levavam-me de volta à vida a que tinha sido retirado, por força dos senhores da guerra que viviam em grandes palácios na cidade grande. A cerveja era mais Nocal do que Eka já que a Cuca aparecia pouco por aquelas terras distantes no início das terras do fim do mundo.

A memória da minha mãe já invalida do lado direito, a pôr-me a mesa para o pequeno almoço com o pão, o queijo, a cerveja e figos ou uvas, com o riso dos seus olhos por me ter aqui com ela, foi a imagem que hoje me acompanhou ao pequeno almoço, com a Sacha deitada junto à cadeira em que sentado escrevo.

Por mim mantenho este hábito de tomar este pequeno almoço uma vez por época. Deixei de fumar no fim do século passado, mas hoje senti vontade de fumar um cigarro Português Suave sem filtro, felizmente não o tenho à mão. Bebi um café feito na cafeteira e não de máquina. O café mais natural seja arábica ou robusta não cria espuma. Espuma é dada pelos aditivos químicos.

Vamos aguardar que as previsões que o IPMA me manda para o e-mail se confirmem e venha a abençoada chuva, que nos campos a terra e as árvores choram esgotados de sede.

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