Andando
pelos trilhos à beira Tejo neste acordar da manhã, vejo os patos na
ribeira, outras aves que desconheço o nome, a passarada chilreando
de um e do outro lado do caminho deixando a minha amiga tonta sem
saber para que lado se focar, só os patos a deixavam ficar olhando,
descobrindo coisas novas.
Por
cima de nós de forma cadenciada passam os aviões que levantam voo
na Portela, mas já vão bem altos para os seus destinos distantes.
Toda
a zona ribeirinho do rio é um paraíso para as muitas espécies de
aves que vivem felizes neste habitat sejam elas residentes ou de
arribação. Para elas não existe a disputa de mais lucros,
desconhecem o que é moeda, não precisam dela para apanhar um
inseto, uma minhoca que se descuidaram. Conhecem todavia os
malefícios que a poluição fabricada pelos estranhos bichos de duas
patas com duas asas penduradas que mexem sem conseguirem voar, lhes
causam, mas adaptando-se lá vão sobrevivendo livres e contentes
pelo canto com que nos presenteiam, sem impostos, taxas ou direitos
de autor. Vivem para serem felizes na natureza.
Nesta
comunhão de cores e sons, nesta margem do rio, olha-se para a outra
margem lá mais a jusante onde os perversos animais de duas patas com
duas asas que mexem mas não levantam voo, em vez de protegerem o
paraíso maior que por lá o rio proporciona a milhares de espécies,
de com esse mesmo paraíso que a natureza oferece graciosamente,
promoverem o turismo de natureza, a educação e o saber dos jovens
com visitas de estudo para observarem em locais estratégicos quão
bonita é a mãe Natureza, não senhor, olhando apenas é só aos
interesses obscuros da ganância do lucro, fazem planos pagos a peso
de ouro, com o dinheiro dos contribuintes ou da dívida pública,
para destruir esse mesmo paraíso de milhares de seres vivos. Com
falas ora mansas ora convincentes querem-nos convencer que não há
outra solução melhor do que substituírem os flamingos naturais por
outros motorizados de muita potência e muito maior poluição
ambiental.
Como
pode o Ministro do Ambiente ficar calado ao erro anunciado e
promovido pelo colega do Planeamento e Infraestruturas, que em três
anos de actividade, para além de aparecer nas televisões a anunciar
a abertura de concursos de obras públicas, anunciar o vamos fazer
acusando o anterior Governo de nada ter feito, vem agora querer impor
uma solução que técnicos altamente credenciados como seja o antigo
presidente do Laboratório de Engenharia Civil e ex-bastonário da
Ordem dos Engenheiros põem em causa. Tão fraca, quase maliciosa a
sua argumentação que chega ao ponto de dizer que a escolha por si
apontada também era a escolha do tal Governo que antes acusava.
O
tal aeroporto de Alcochete a minutos de voo, estava projectado para
quatro fases, tinha todos os estudos feitos, só não agradava a
alguns lobistas em São Bento e Belém e não havia dinheiro nem
crédito. Agora que o crédito existe, propõem-se gastar-se mais uns
milhões num apeadeiro aéreo sem futuro, contra os estudos
ambientais, porque? Que interesses escondidos existem para se
procurar remendar em vez de começar a construir o futuro?
Que
o Ministro do Ambiente não gosta do Rio Tejo já o sabemos desde
Almaraz, passando por Vila Velha de Ródão, mas que faz andar tão
nervoso o Primeiro Ministro, um político sagaz e esperto que soube
transformar uma derrota política numa vitória? Será que está a
sentir o opositor, corredor de fundo, a aproximar-se? … não quero
acreditar!