quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

O silencio e a calma



Aqui reina o silencio, que se mistura com a calma numa união feliz. Apenas interrompidos pelo barulho de um ou outro carro que passa na estrada ali ao lado, no regresso de mais um dia de trabalho.
Silêncio onde a respiração ofegante da Sacha se ouve feliz com a liberdade de poder correr livre de amarras. Na barragem ali mesmo ao lado, os peixes saltam fora de água contentes por mais um dia de vida sem caírem no anzol de algum pescador.
Assim, nesta outra margem da vida, vou fazendo caminho, aprendendo mais com os chamados de iletrados, do que com muitos ditos sabichões.
Nesta outra margem por onde caminho, neste silencio dialogante, ouço rumores do que se passa lá pela capital do reino, mas fixo-me mais na realidade que aqui se vive. Da chuva que não chega, ou que tarda em chegar. Da qualidade do azeite desta colheita face à qualidade do ano passado, da muita azeitona que nestes dois anos houve, sendo que não estando bichosa como no ano anterior, a qualidade não é tão boa. Do problema do escoamento do azeite do ano anterior.
Falam-me da violência que a partir de um bairro social nos arredores da capital vai acontecendo por lá. Como não tenho televisão vejo apenas o que ouço.
A vida não é nem pode ser aquilo que as televisões nos vendem, é muito mais do que isso, muito mais que os problemas criados à volta da cor da pele, das intrigas partidárias, das discussões de lavar roupa com detergentes populistas de quinze em quinze dias no Parlamento. Como alguém um dia disse «não foi para isto que eu nasci».
Eles, os ocultos invisíveis que mandam nas nossas vidas sem darmos contam, vão controlando tudo. Servem-nos os produtos normalizados como eles querem, a pouco e pouco mataram o comércio local e vão matando o pequeno agricultor, o pequeno empresário das pescas, o pequeno industrial. Tudo isso na barba de políticos impotentes e submissos.
Olhando e não querendo aceitar enquanto tiver forças e for capaz de criar a minha própria realidade, irei andando na outra margem. Até quando não sei, que o futuro foi, é e será sempre incerto, mas avizinham-se tempos de tempestades diferentes.

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