terça-feira, 31 de julho de 2018

Politiquices


Nada tenho a ver com RR, nem tão pouco votaria nele ou no seu partido se vivesse em Lisboa, por isso nada tenho contra nem a favor.
O que eu estranho é a campanha assertiva de vários órgãos de comunicação social contra o político do BE e paralelamente contra a C M Lisboa, por o mesmo ter feito um negócio com um prédio em Alfama, ter negociado a saída dos inquilinos e depois ter efectuado obras valorizando o mesmo a preços de mercado imobiliário, que como sabemos os valores andam e estão bastante inflacionados.
Será que uma pessoa por ter ideias ditas de esquerda e defender medidas contra a especulação imobiliária que graça na cidade de Lisboa, não poderá ela ser empreendedor e valorizar o edifício que adquiriu à Segurança Social? Será que existiu alguma ilegalidade ou «favor» nessa mesma aquisição? Não sei se tudo foi claro e limpo, mas deve ter sido senão já o Carmo e a Trindade tinham caído.
Acho piada à grande maioria dos que hoje pedem a crucificação de RR por ter cometido o pecado de ter sido empreendedor aproveitando a onda inflacionista do mercado capitalista imobiliário, sendo que esses mesmos órgãos de comunicação, jornalistas avençados e oficiosos, se mantiveram calados ou vieram a terreiro defender o Sr. S do Poço Boliqueime pela valorização das acções que detinha no “roubo de lesa pátria” que era e foi sempre o BPN. A valorização anómala das acções do banco falido BPN que o Sr. S do Poço de Boliqueime usufruiu foi um jogo limpinho limpinho, obedecendo às regras do mercado financeiro num banco a caminho da falência por gestão danosa, e que ainda hoje os portugueses estão a pagar, mas o lucro que o político dito radical RR pode obter numa acção de empreendedorismo é crime que requer a sua crucificação.

É por estas e por outras que prefiro seguir o meu caminho pela outra margem, longe dos canais televisivos, caminhando em paz comigo e longe destas discussões aldrabadas de princípios e valores, e cada vez mais longe dos jogos políticos que se realizam na corte de Lisboa onde o fantasma de SCD permanece vivo na algibeira de muitos saudosistas.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Trilhos e caminhos


Estou velho, mais o corpo que a mente, e à medida que caminho pelos meus trilhos de vida em direcção ao incerto amanhã, sinto a mente a não acompanhar felizmente os passos mecânicos do corpo.
Tenho tempo para pensar em quase tudo o que a vida me deu e naquilo que ainda quero que ela me possa permitir. Ontem e hoje, leio e ouço coisas que nos dizem respeito a todos e não só aos interessados directos.
Caminhando no meu passo certo, cada vez entendo menos qual a justiça das progressões por antiguidade de tempo. Não, não entendo os méritos de tal método, sabendo contudo que quase sempre paga o justo pelo pecador e no fim todos se queixam, sendo que alguns de barriga cheia.

Cativações e outras


Não me considero um ser de muito saber, mas posso afirmar que sei que se o Ministro das Finanças tivesse um familiar a precisar do Serviço de Pediatria do Hospital de S. João a obra já estaria concluída, e não só, pois os vistos necessários para o Ministro da Saúde poder levar a sua água ao moinho, já teriam sido concedidos e as verbas disponibilizadas no tempo certo para não existirem os problemas com que algumas instituições do SNS se confrontam. Mas tal figura MF é mais solicito a pedir bilhetes para o futebol e a sorrir aos seus pares em Bruxelas (lá no tal primeiro mundo onde se senta à cabeça do pelotão enquanto o país pedala a custo com o carro vassoura sempre à vista), do que a fazer contas às cativações imprescindíveis e às de levantamento imediato.

Ser Professor


Ser professor é uma arte para uns. Para outros ser professor é sua vocação de vida, mas para muitos outros ser professor foi a solução encontrada após terem terminado os seus estudos superiores, e face à dificuldade em encontrar trabalho na economia privada optaram por conseguir emprego no Estado.
Há professores que na sua arte de comunicação, na sua devoção à causa do ensinar, as suas aulas são uma festa de aprendizagem onde o tempo de aula passa demasiado rápido, ficando para sempre na memória de muitos dos seus alunos.
Mas há professores que passam a vida de docência a debitar anos após anos a mesma matéria, e ou aquilo que outros professores em salas de ar condicionado na Avenida 5 de Outubro lhes mandam dizer de forma acrítica, exercendo a sua função como um trabalhador numa linha de montagem semi-automática. Chegam, debitam o que tem a debitar de acordo com o programa e voltam para casa com a noção do dever cumprido, pouco se importando se os alunos entenderam o que lhes tinha debitado. Fez o que tinha a fazer e cada um que se desenrasque. Se o aluno não entendeu que procure um centro de explicações que agora há muitos ao redor da escola.
A escola não é o principal centro de educação das crianças e jovens, mas é o principal centro de formação dos Homens e Mulheres deste País.
Como olhar a luta que sindicatos e ministério têm travado neste último ano? 
Onde estão, onde ficam os interesses dos alunos e do País? 
Quantos professores efectivos estão alocados em secretárias do Mega Ministério de Educação pelo país fora, sem darem aulas há mais de dois anos? 
Quantos professores exercem a sua actividade sindical sem darem aulas, e já agora quantos sindicatos de classe existem?
Dúvidas que me assistem num problema onde a arte e a vocação de ensinar deveria estar acima dos interesses pecuniários de classe, com o devido respeito Governamental por quem exerce a mesma arte com vocação, entusiasmo e sacrifício. Em vez disso vamos assistindo à triste guerra prolongada de alecrim e manjerona.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Água da fonte


Nos tempos de juventude íamos de dois em dois ou mesmo três anos passar um mês com os meus avós maternos que moravam na Rua do Espírito Santo. Na verdade não sentíamos grande apetência em ir para a Zebreira pois não estávamos habituados ao calor e vivíamos na praia junto a Peniche.
Do que mais gostava era de ir ainda de madrugada com o meu avô buscar cântaros de água aos poços para se ter em casa, sendo parte dessa agua dada ao dono do poço. De madrugada para se fugir ao calor que logo de manhã apertava. Nesse tempo a água canalizada pingava de vez enquando na torneira, electricidade era um sonho que só chegou quase no final dos anos sessenta.
À noite as pessoas juntavam-se às portas e conversavam contando muitas histórias dos tempos de sua juventude, muita imaginação havia, algumas nem ler sabiam mas histórias tinham e muitas.
Quando o meu pai se reformou, resolveram voltar e fizeram a sua casita na estrada à entrada. Passei a ir mais vezes e com o passar do tempo as viagens foram sempre mais.
Ao andar ao logo da barragem, vi na outra margem uma das fontes onde fui com meus pais algumas vezes buscar água para colocar nos asados e se beber. Gostava da água daquela fonte. Deixou-se de lá ir porque na mesma os «desgraçados do vício» lá deixavam as pratas queimadas e por precaução... Não me lembro do nome, mas lembro-me de lá ir e até levar alguma coisa para comermos já que minha mãe sempre gostou de pic-nic e as netas gostavam também.
Hoje, vivemos num tempo em que domina o garrafão da água comprada. Eu, voltei a beber água das fontes, seja do Ladoeiro ou da Idanha.


terça-feira, 10 de julho de 2018

Espera que cansa

Mais um dia passou e a notícia aguardada não deu sinal. Na caixa do correio apenas e só publicidade, num vazio igual ao que existe no peito ou na cabeça, já nem sei, o cérebro processa as emoções mas a dor ocorre no peito, porque será… não sei...
De manhã, depois do passeio matinal com a minha amiga Sacha, ao sentar-me à mesa para tomar o pequeno almoço, vejo o que os canais televisivos têm para comunicarem de novo, para lá do drama das famílias tailandesas. E o novo não augura coisas boas para as nossas vidas.
Vejo um Ministro da Saúde de mãos atadas pelo colega ministerial das finanças, afirmar que a redução do horário não vai por em causa a qualidade prestada nas unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde. Eu julgo que ele próprio não acredita naquilo que afirmou, pois é um ministro competente e com saber na problemática da saúde. As razões que o levaram a dizer o que afirmou, essas imagino mas não sei de verdade.
Aos sindicalistas e partidos políticos apoiantes desta medida das 35 horas, digo-lhes que, aquilo que para eles é uma vitória, é para muitos de nós utentes do SNS uma medida populista, mais um tiro que sairá pela culatra aos portugueses que precisam do Serviço Nacional de Saúde.
Não é que as 35 horas não sejam justas, quando as condições económicas e sociais o permitirem, mas hoje, objectiva e subjectivamente não me parecem existir essas condições para a sua implementação sem que isso acarrete mais despesa publica a financiar pelo sacrifício de todos (impostos, taxas e juros de empréstimos), aumento das listas de espera em especialidades hospitalares em número e em dias… 
Para já, a medida satisfaz e beneficia os interesses privados que actuam na saúde, com todos aqueles que um dia votaram contra a implementação do Serviço Nacional de Saúde a esfregarem as mãos de contentes, com afirmações de falsas defesas do mesmo.

segunda-feira, 9 de julho de 2018


Não é preciso ser nem ministro, nem director, chefe de serviço ou dirigente sindical para se saber que dois mais dois ainda são quatro, que o dia tem apenas e só vinte e quatro horas, isto é, ao reduzir-se o numero de horas por trabalhador é preciso contratar mais profissionais para se fazer face às necessidades dos doentes versus capacidade hospitalar instalada, ou serei eu que já não sei fazer cálculos...

Estado de alma


E os dias passam sem que as notícias desejadas cheguem via correio ou por mensagem para o telemóvel.
Sem as notícias desejadas fica-se sem saber o que fazer no amanhã próximo. Vive-se dependente da notícia que não chega.
Estou cansado pela notícia que não chega, mas cuja ausência cansa pela incerteza do amanhã.
Estados de alma desconhecidos pela certa por muitos dos governantes deste país.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

Escrevendo


Hoje também eu sigo sentado de telemóvel na mão fora do mundo que me rodeia nesta mesma carruagem, enquanto uns jogam, outros se entretêm com as redes sociais, e outros como a moça à minha frente leem, eu escrevo palavras ao acaso, escrevo sem os óculos que seguem guardados na bolsa, assim sem ver todos os erros dados nesta transferência de pensamentos para a memoria desta poderosa maquina, que vai mudando silenciosamente os nossos hábitos de vida.

América


Quarenta e oito anos já passaram desde a última vez que te falei.
Deixei-te sem dizer o porque, sem dar uma explicação.
Nem quando fizemos o último exame do curso te falei, talvez nem te olhei.
Depois vi-te um dia, ias a descer a rua do Alecrim ao pé do Largo do Camões onde tantas vezes passamos os dois.
Voltei a ver-te anos mais tarde, estávamos no Café Roma, eu a estudar com os meus colegas de grupo e tu com um senhor talvez fosse o teu esposo, talvez.
Depois nunca mais nos vimos nem sei se existes ou não, ainda um dia ao encontrar a Fernanda falamos de ti, mas também ela não sabia nada. Com o Monteiro falei uma vez.
Agora no comboio pergunto-me o porquê de me lembrar de tudo isto e em especial de ti, América. Sim, porque?
Coisas estranhas da mente ou da consciência que sem entender o porque traz de volta a tua memória e o meu comportamento passado.
E neste mergulhar no passado, não sei se a última vez que falamos foi quando chorando me contraste do teu passado de menina, da tua vida de jovem, choravas como se estivesses a adivinhar que te iria deixar sem mais explicações, indiferente aos telefonemas que durante alguns dias foste fazendo para casa da minha vizinha, já que não tinha telefone em casa.
E, porque ao fim destes quarenta e oito anos, hoje dia vinte e sete de Junho, me lembro de tudo isto. Não sei nada de ti, se foste ou se és feliz, nem sei se estas lembranças são remorsos do que te fiz sofrer nesse tempo. Eu fui feliz a espaços, sentindo que carrego comigo a sina de fazer os outros sofrerem por minha causa quando estabelecemos laços mais afetivos.

Nova viagem de visita ao hospital e de novo o relembrar-me de ti. Será que ainda te vou reencontrar e ter coragem de te ir falar para te pedir desculpa por todo o sofrimento que há quarenta e oito anos te causei?
Não sei, mas que são estranhas todas estas lembranças quando venho visitar um familiar ao hospital…

Visita a um primo


Nunca é agradável esta viagem de metro até Palhavã agora baptizada de Praça de Espanha. Desconheço o que levou a mudar o nome, talvez uma questão de marketing urbano, pois que Palhavã estava logo associada ao IPO, e este é um local onde apenas os que sofrem com a maldita degeneração das células depositam as suas esperanças de vitoria sobre o mal com a ajuda do saber dos profissionais de mão e alma cheia que lá trabalham e se dedicam a investigar as diversas formas de ajudar os doentes a saírem vitoriosos dessa luta contra o mal.
Hoje, o tempo cinzentão deste mês de Julho não ajuda o espírito das pessoas em geral e muito menos os doentes e acompanhantes que aqui se encontram, uns aguardando a consulta e o parecer técnico da equipa medica que os acompanha, outros como eu esperando que uma das visitas do meu primo saia para eu poder subir e visita-lo. Uma senhora voluntária vêm oferecer-me um rebuçado, mas eu rejeito educadamente.
Disse-me um dia o responsável de risco, quando na minha actividade com o anel “Wellan2000” o visitava no seguimento da acção dos anéis instalados na rede de agua quente sanitária, que este hospital é bem diferente de todos os outros, enquanto que nos outros o doente o que quer é voltar de imediato para casa, neste o doente deseja ir para casa depois de se sentir a vencer o mal que nele se instalou.
Viver com o cancro, perguntas e respostas, um programa anunciado no televisor à minha frente, sempre no anfiteatro do IPO na ultima quarta feira do mês das 17 às 18H30. Não é fácil partilhar a vida com o maldito, que sem avisar, se instala, se alimenta de nós para nos destruir silenciosamente. Não sendo fácil, há que acreditar na força da nossa consciência auto-curativa como mais uma ferramenta psíquica auxiliar das prescrições químicas ministradas pelos serviços médicos, respeitando e acreditando na capacidade do pessoal médico, e em especial dos cirurgiões na remoção do mesmo.

Sacha


Às vezes perco a paciência contigo. Eu sei que tu és uma cadela, logo não somos iguais, enquanto eu posso ter no macaco um antecedente genético longínquo, tu terás no lobo o teu antecedente genético mais próximo, mas quis o destino que eu te tenha escolhido a ti, quando tu e os teus irmãos estavam para adopção, pelo que teremos que nos entender no tempo de vida que iremos partilhar. Tu és e serás uma cadela pastora alemã, e eu sou um humano cruzamento de varias raças. Tu terás linhagem de pastor alemão e eu sem linhagem definida ou reconhecida, mas quem manda cá em casa , na rua, em todas as situações sou eu, tu terás de obedecer e colaborar, senão zangamos-nos.
Eu sei que o teu espaço natural não é o espaço de um apartamento, mas sempre é melhor do que estares presa e acorrentada numa quinta qualquer, ou andares na rua rapando fome e maus tratos, porque eu procuro tratar-te bem; saímos logo pela manhã quando o relógio da sala bate as sete e lá vamos nós fazer o nosso passeio matinal para andares, cheirares coisas que só tu consegues, fazeres as tuas necessidades fisiológicas sempre devidamente recolhidas no saco de plástico reciclável, e ficares maluca quando encontras outros cães e eles não mostram interesse na tua vontade de brincares. Eu já me habituei a andar no teu passo para que possamos andar os dois lado a lado, sem puxares a trela, pois já aprendeste que se puxas terás de parar e sentar para depois reiniciarmos a marcha sem direito ao biscoito da ordem. Ao final da tarde voltamos à rua, repetimos o mesmo circuito ou fazemos outro alternativo para não nos cansarmos de ser sempre o mesmo, procurando eu passar sempre pela estação do comboio para que vás perdendo o mau hábito de saltares para cumprimentares de boca as outras pessoas que passam apressadas a caminho de casa depois de um dia de trabalho. Por isso acho que não te podes queixar e como tal terás de ser tu a cumprir as minhas regras de convivência e não o contrário.
Pior mesmo é quando te dão os repentinos ataques e corres para a direita e corres para a esquerda tudo em alta velocidade com a trela quase a rebentar e a minha costela me avisa que ainda não está solidificada e lá vem o ardor que já nem o comprimido de “Adalgur” consegue evitar. És uma cadela e como tal és e serás tratada.