domingo, 26 de dezembro de 2021

21.12.25

 

Ainda o dia de Natal está vivo e já começam as mensagens para a passagem de ano.

Outra data festiva a que não atribuo qualquer significado para além de mais um dia de vida em que mudamos de mês e de um ou dois algarismos no ano, durante muitos e muitos anos.

A verdadeira mudança de ano ocorre no dia em que festejamos o nosso próprio nascimento. É nesse dia abençoado que mudamos de ano.

Contudo o consumismo é fértil em ilusões que lhe garantam a sobrevivência e fez da mudança de calendário um momento que nem é religioso, nem pagão mas tão só de ilusão celebrada e alimentada pelos muitos poderes que nos governam e nos controlam como se tratasse da chegada da eterna esperança da felicidade…

Milhões de seres humanos vivem a ilusão desse momento em êxtase para depois quando acordarem verificarem que afinal nada mudou na sua vida individual e coletiva. O Rei Sol continua a reaparecer sempre de leste, assim como as rotinas diárias se verifiquem sem grandes alterações, que os senhores representantes do poder consumista que nos governam e controlam, com mais ou menos liberdade, não gostam de alterações bruscas na nossa vida coletiva.


21.12.24

O Natal chegou com o vírus a andar por perto impedindo por precaução e educação cívica que fosse passar a noite da consoada com as filhas, netas, neto e genros.

Foi de novo um Natal diferente de tantos outros que já vivi.

Respeito as tradições criadas para o Natal mas não sou um seguidor das mesmas. Não é por me dizerem que na noite da consoada se come bacalhau com couves e batatas que me sinto no dever de comer o mesmo.

É o bacalhau, é o polvo, o peru, o galo capado, o cabrito ou borrego consoante a região e o poder económico dos que se sentavam à mesa para em família celebrarem a noite de Natal criando as famosas tradições de Natal, escondendo-se hoje, as origens dos porquês dessas tradições que hoje o sistema nos apresentam como uma festa ilusória ao alcance de todos, esquecendo ou fazendo crer que o poder económico das famílias é todo ele igual e suficiente nesta noite em que se celebra o presumível nascimento de Jesus.

Como pequeno burguês que sou, o meu jantar foram uns camarões que fiz logo de manhã, depois uns pastéis de bacalhau ainda quentinhos e como sobremesa uma delícia de fatia dourada feita no forno. Para bebida de acompanhamento abri uma garrafa de espumante não muito fresco. Como vejo pouca televisão, andei cuscando as ditas redes sociais até que as pálpebras começaram a pesar e embarquei na noite dos sonhos. 


quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

21.12.22

Diz-me a cédula do registo de nascimento e disseram-me os meus pais que neste dia do calendário gregoriano nasci um pouco antes das oito da manhã. Vim ao mundo no mesmo quarto alugado onde no início do ano o meu irmão tinha chegado também.

Um pouco antes porque o meu pai entrava ao serviço às oito da manhã e quando lá chegou antes da hora, depois de ter saído de casa por volta das sete e meia, já tinham telefonado a anunciarem-lhe o nascimento de mais um rapaz. Ele que já tinha um rapaz e desejava uma menina apanhou com esta nova peça.

Desde aquele dia do mês de Dezembro do ano de mil novecentos e cinquenta até hoje já passou tanto tempo que a matemática mais simples regista como setenta e um anos de vida.

Nasci para viver num tempo certo. Um tempo onde pude aprender a conhecer a vida não em todas mas nas muitas facetas que os humanos criaram e vão criando nas sociedades. Um tempo de mudanças incríveis onde a paz que têm existido entre as nações depois da segunda grande guerra em muito contribuiu para a evolução positiva das mesmas sociedades. Nem tudo foi e é positivo mas o saldo é incomensuravelmente superior às coisas más e menos boas que ainda perduram e se continuam a desenvolver entre nós.

Um tempo que com tantos ensinamentos, que com tantas emoções vividas nos faz ter alguma apreensão quanto ao futuro das gerações mais novas pelo desaparecimento das emoções afetivas que hoje já vamos conhecendo.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

21.12.20

Já perdi o conto aos Natais. Perdi o Natal quando saí de casa de meus pais. O nosso Natal a quatro ou a três (quando o meu pai estava de serviço) era diferente numa paz e numa união que nunca mais conheci. Não tínhamos televisão, nem tão pouco íamos à missa do galo que não existia nas aldeias onde vivemos. 

Com o casamento novos hábitos chegaram. É certo que durante vários anos os meus pais ainda estavam presentes, ainda fomos passar alguns com eles à Zebreira, mas já não havia o presépio feito de erva e musgo que nas férias da escola no Natal ia buscar ao campo e onde colocava as figuras que com muito custo ia comprando ano a ano. 

O presépio montado por mim foi substituído pela árvore de Natal e por um presépio comprado. Na noite de Natal já não fazíamos as filhoses (coscorões) e como tal não cantávamos ao Menino Jesus, até ao jantar lá estava a televisão acesa para distração dos mais novos. O descobrir na manhã seguinte que prendas havia no sapato colocado religiosamente na chaminé, acabou. As prendas trocam-se e abrem-se na noite de Natal.

É certo que não sou hoje seguidor de nenhuma religião. Não sentindo disso necessidade vejo com alguma tristeza o Natal destes tempos modernos onde o consumismo e o individualismo se sobrepõem a tudo. Às vezes penso em não celebrar o Natal mas depois penso nas netas e no neto e acabo por entrar na engrenagem que nos tritura sem disso darmos conta.

Talvez por sentir a falta dos nossos Natais e a exemplo do que acontecia nos últimos anos em que eras viva mas incapaz depois do malvado avc, este ano mãe, pus mãos à obra e fiz as nossas filhoses, não ficaram tão boas como as tuas porque me cortei na aguardente mas na próxima ficarão melhores.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

21.12.17

 

Recebi carta com fatura da água e o habitual cartão de Natal que o senhor Presidente do Município nos envia ano após ano.

Ano após ano os mesmos votos de "Feliz Natal e Próspero Ano Novo". Inicialmente gostei, achei simpático. Depois com o passar dos anos fui deixando de o ler à medida que a minha insatisfação aumentava pela forma como o Município é gerido numa desigualdade de tratamento gritante entre as várias povoações, havendo populações de primeira classe e outras de terceira abandonadas à sorte do tempo.

Porém, este ano li mais do que várias vezes a frente e o verso do cartão que recebi.

Li, porque um Presidente que se apresenta como figura principal do Partido Socialista no Município, que no período pré-eleitoral subscreveu pelo Município um seguro de saúde privado promovendo-o junto dos munícipes recenseados como "complementar" ao SNS na ânsia de poder manter a maioria absoluta que há muitos anos o partido desfruta no Município, podia neste Natal, neste início de novo mandato ter um discurso um pouco diferente. Enganei-me.

As frases são as habituais do marketing político natalício.

A mensagem natalícia ignora os problemas maiores dos cidadãos que residem e resistem no Município, impedindo que muitos outros possam voltar às suas origens, para não falarmos dos que desejam sair das cidades grandes em busca de melhores condições ambientais de vida e que efetivamente a gestão autárquica do Município não oferece por incapacidade política dos seus órgãos na região.

Diz o sr. Presidente no início da sua mensagem que: - "O Natal deve ser vivido com espírito de alegria, esperança e amor" desejando no final: - "... Um ano de 2022 com muita paz e saúde!". Que Esperança podem ter os munícipes de um Município envelhecido onde até o Centro de Saúde da sede de concelho fecha por falta de médicos?

Que Esperança podem ter os aldeões resistentes se nas Extensões de Saúde existentes nas diversas aldeias e freguesias há muito que aguardam a visita de um médico.

Que Esperança… ? Que Saúde sr. Presidente em meios humanos oferece o Município aos que lá residem?

Um Seguro de Saúde Privado em carrinhas utilizando meios públicos e privados locais? Não obrigado, sr. Presidente.

É este modelo de Saúde que o seu Partido defende para os cidadãos do interior raiano? Não acredito, nem quero acreditar, sr. Presidente.

Este ano vou guardar o cartão com a sua mensagem natalícia. Guardo-o não por lhe estar grato, mas sim para memória futura, porque não há mal que sempre dure.

Os meus pais, enquanto funcionário público, sempre viveram o Natal longe da terra onde nasceram e cresceram. Conheço a tradição ancestral do madeiro no largo da Igreja. Mas os nossos Natais familiares, éramos quatro e muitas vezes só três porque o meu pai estava de serviço, a noite da consoada era passado a fazer as filhoses tradicionais que na cidade chamam de coscorões. Enquanto se fritavam no azeite a minha mãe ia cantando as cantigas tradicionais da sua juventude (Zebreira, Salvaterra do Extremo e Segura) ao nascimento do Menino Jesus. Depois, terminada a tarefa de colocar o açúcar com canela nas filhoses, íamos para a cama colocando os sapatos na chaminé para na manhã seguinte recebermos as peças de roupa nova que o dinheiro era curto.

Hoje, já não sou deste Natal consumista de palavras feitas, de árvores e pais natal da Coca-Cola americana. Passo ao lado respeitando o Natal dos outros.

Se no ano passado aqui lembrei palavras do Padre Felicidade Alves, este ano recordo palavras do Bispo Dom Hélder Câmara, - "Se, para o capitalismo, o lucro é o motor essencial do progresso económico, que é que os países subdesenvolvidos podem esperar dos países capitalistas, para além das migalhas que caem das mesas dos banquetes?" in Poemas de Natal, livro que comprei à 24.12.1971 na Livrelco em Lisboa.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

21.12.16

Sou português. Como português sou europeu.

Serei porventura um rebento da abençoada lei ou imposição legal do Grande Marquês de Pombal ao acabar não só com três séculos de ditadura religiosa impiedosa, como com o término da proibição de casamentos entre os cristãos com os designados e segregados cristãos-novos.

Hoje quanto mais leio sobre os tempos negros que durante três séculos a Inquisição impôs ao Reino; os males profundos sem piedade, muitos deles irreversíveis, que o designado Santo Ofício infligiu ao Reino.

Quanto mais leio do que foi a história do povo judeu sefardita na Península Ibérica, mais longe de toda e qualquer religião ou seita religiosa me sinto, caminhando consciente na outra margem que escolhi para a travessia do deserto em que a vida das sociedades se vai transformando com a apologia sagrada do consumismo-individualista.

Nesse caminho de leituras pelo passado das civilizações, religiões e povos, quando entramos no presumível conhecimento dos primeiros anos do advento, da criação do cristianismo como religião de um só Deus transformando brutalmente a época clássica num tempo das trevas… olhamos de outro modo o mundo de agora que nos rodeia e onde estamos inseridos. A Fé religiosa que conhecíamos em nós se transforma na cruel realidade de que a mesma não passa da nossa própria imaginação, dos nossos medos e dos próprios desejos, que desde pequenos o sistema de sociedade vigente procurou formatar em cada uma das nossas cabeças racionais e pensantes.

O viver consciente das presumíveis mentiras que ouvimos e lemos como verdades indiscutíveis, ensinou-me a transformar muitas das minhas revoltas num sentir de estado de paz comigo mesmo, porque nesta existência de vida como a conhecemos, há sempre um outro lado das coisas, que o sentirmo-nos felizes ou infelizes apenas depende de como escolhermos olhar as coisas, que para podermos ganhar alguma coisa teremos de perder outra coisa, nada nos é dado sem contrapartida até porque somos seres duais 

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

21.12.15

15.12.1972

São quase seis da manhã. Lá fora ainda domina o escuro da noite. Sentado na cama penso no que estaria a fazer naquele dia a esta hora. Talvez tivesse a tomar banho ou a fazer a barba. Talvez já tivesse em cima da cama a farda preparada para a vestir e as botas engraxadas ao fundo da cama no quarto do anexo da Pensão Laranjeiro. O meu camarada de quarto já tinha partido na semana anterior quando os da 1ª Companhia embarcaram. Só eu restava naquele anexo da Pensão.

Tinha chegado o dia que os mandantes da guerra tinham destinado para a partida da 2ª Companhia.

Dirigi-me depois sozinho a pé pelas ruas da cidade até ao Forte de Santiago da Barra carregando comigo todos os medos que a dúvida da incerteza produzia numa mistura de um ódio que desconhecia existir em mim. De velho Forte junto à Foz do Lima partiríamos perfilados até ao cimo da Av. dos Combatentes da Grande Guerra onde o comboio nos esperava para nos trazer diretamente até Santa Apolónia. Chegámos a Lisboa no final da tarde, partindo de imediato em viaturas militares para o Regimento de Engenharia ao Campo Grande onde seria servida a refeição do jantar.

Por duas vezes nesta viagem olhei a casa nos Olivais onde ela estaria nas suas lides do dia a dia caseiro sem imaginar a viagem que o seu menino mais novo estava a fazer. Por duas vezes guardei as lágrimas lacrimais para que os outros não as vissem. Por duas vezes senti as lágrimas da revolta dentro do peito, não já do medo mas da revolta contra o poder anacrónico dos que em grandes palácios nos mandavam para uma guerra sem futuro, onde o ideal se resumia à crueldade do, "tenho de matar antes que me matem a mim".

Jantei nesse dia na Churrasqueira do Campo Grande com o meu irmão acompanhado do Dias e do Aguiar furriéis do meu grupo de combate.

À hora certa saltamos para as viaturas militares em direção ao aeroporto do Figo Maduro para o embarque.

Lá longe, muito longe nas desconhecidas terras angolanas jovens um pouco mais velhos que nós esperavam que chegássemos para eles poderem regressar às suas terras, às suas famílias.

Triste vida a do Zé Soldado, triste futuro das várias gerações dos jovens portugueses durante a cruel ditadura Salazarista apadrinhada por uma igreja católica apostólica romana saudosa de velhos hábitos.

 

terça-feira, 14 de dezembro de 2021

21.12.14

 

No tempo em que andei na apanha da azeitona resolvi que quando me chamassem de novo, iria comparecer para apanhar não uma mas as duas vacinas, a da gripe e a do covid-19. Mesmo não gostando de apanhar vacinas pelo respeito que os outros me merecem iria aceitar. Assim aconteceu. Ontem minutos antes da hora marcada compareci no local indicado e deixei que me injetassem os dois braços. No esquerdo a do covid-19 e no direito a da gripe. Quando a senhora enfermeira ao consultar os meus dados clínicos quis confirmar se 2018 tinha sido o ano da última vacina contra a gripe, disse-lhe que sim porque não gosto de vacinas e que tomo-a agora porque já estamos em Dezembro senão não a tomava pelo período normal de imunidade que a mesma nos dá.

De resto contrariamente ao que vejo por vezes anunciado nos telejornais tudo ali estava organizado e eficiente quer para os que tinham hora marcada quer para os que se apresentavam sem marcação prévia. Talvez menos gente do que nas anteriores tomas.

No regresso a casa relembrava esse ano de 2018 quando no mês de Abril na consulta hospitalar de controle ativo disse ao jovem médico urologista que tinha decidido ser operado, alertando-me de novo o jovem médico das consequências que poderiam advir da prostatectomia radical da próstata mesmo por laparoscopia. Estava decidido. Tinha consultado o que dizia o sitio do Instituto da Próstata e o melhor era ser operado do que continuar sem saber como estava a teia que a aranha peçonhente desenvolvia a cada momento. Começamos a tratar da papelada e dos exames para preparar a dita intervenção e no mês de Outubro fui na designação popular «à faca» por meio de três buracos no ventre. Foi no tirar dos pontos no Centro de Saúde que uma senhora enfermeira me conheceu e aproveitou dando-me a injeção da vacina da gripe e a ultima dose da do tétano.

Agora ao ver toda a organização daquele centro de vacinação penso nos custo que esta operação acarreta, sem contar com as vacinas, só nos custos da montagem logística. Depois lembro-me do quantos milhares de euros pagaram amigos que foram operados à próstata em clínicas privadas e eu calo-me pois o SNS nunca me cobrou um cêntimo quer da estadia quer das quatro horas que estive no bloco operatório a ser cuidado.

Sou por tudo o que conheci até hoje um defensor agradecido do SNS publico que deveria ter sido apadrinhado ao longo do tempo por aqueles que nos têm governado, o que infelizmente não aconteceu antes pelo contrário; governos do centro direita e do centro esquerda sempre o foram esvaziando de meios humanos e tecnológicos.

Mesmo assim enfraquecido se não fosse o SNS que ainda temos quantos portugueses, quantos cidadãos teriam morrido sem assistência alguma neste tempo de pandemia tão prolongado? Quantos beneficiários de apólices de seguro de doença teriam ficado sem assistência hospitalar quer pelos seguros não cobrirem a doença provocada pelo coronavírus, quer por não poderem pagar os altos preços que a medicina privada cobra nos cuidados intensivos prolongados?

Nunca me ouviram uma queixa, um criticar ou dizer mal do SNS, a maior conquista que Abril nos deu, maior até que a democracia que hoje ainda temos.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

21.12.13

Caminho de olhos semicerrados e ouvidos protegidos para só ver o que me interessa e ouvir o que quero nesta minha surdez principiante e congénita.

No final de semana andou muito barulho à solta nas avenidas da outra margem. Não compreendi se era festa já que não ouvi foguetes mas sim muitos tiros de pólvora seca. Não estamos no tempo das festas dos santos populares, mas pareceu-me ver muitas fogueiras na outra margem.

O que é que se terá passado para haver tanto barulho, tanto ruído de pólvora seca no meio de tantas fogueiras? Questionava a minha sombra que calada se limitava a encolher os ombros.

Diz-me então uma gaivota voando livre na beira rio, que prenderam alguém importante outrora. Curioso liguei a TV pública que estava na hora do telejornal. Passei depois pelos outros canais a correr. Fiquei a saber que prenderam um dos vaidosos vigaristas da nossa praça. A justiça que durante anos o tratou com pezinhos de lã não fosse o senhor banqueiro ficar ofendido, evitando por vários meios colocá-lo na choldra; a mesma justiça que a muito custo o tinha condenado a prisão efetiva numa das prisões construídas para vigaristas de bem; a justiça que sabendo que o veredicto da prisão efetiva tinha transitado em julgado lhe facilitou mais uma viagem ao estrangeiro para a fuga com destino incerto. Essa mesma justiça anunciou que o antigo banqueiro condenado por várias vigarices transitadas em julgado, tinha sido localizado e estava preso sob as ordens da justiça num país distante.

Anunciando o feito em conferência de imprensa a justiça juntou-se aos amigos inquisitoriais que tomaram conta da comunicação social celebrando todos o fato, com muitos tiros de pólvora seca à volta de muitas fogueiras alimentadas pelos modernos especialistas nos julgamentos populares, que alimentam as chamas da moderna Inquisição agora em versão democrática.

O tipo em causa, preso num lugar para gente rica como vaidoso vigarista sempre foi esperto apenas para se apropriar do que não lhe pertencia mas que aforradores ansiosos de altos juros financeiros lhe entregavam somas avultadas de dinheiro à ordem e a prazo para a atividade de especulação financeira que o sistema económico potência. Ninguém como ele garantia tão altos rendimentos passeando-se e promovendo-se entre as classes abastadas da média e alta burguesia perante ministros, secretários de estado e governadores do banco central. Ele era o maior e mais bem sucedido banqueiro cá do burgo procurando fazer sombra aos outros ilustres banqueiros da pobre praça financeira.

Os avençados jornalistas dos mesmos órgãos de comunicação que agora o condenam com tiros de pólvora seca em várias fogueiras, são alguns deles os mesmos que nesse tempo do sucesso de altos rendimentos financeiros o bajulavam levando-o aos ombros num andor cheio de promessas em ouro como grande empreendedor financeiro de sucesso da democracia portuguesa.

Que puta de vida esta, em que se gastam horas e dias a falar de miudezas à volta de vigaristas banqueiros sem se procurar explicar porque é que o sistema facilita e potencia estas vigarices ou roubos de colarinho branco e gravata de seda fina.

Será que todo o barulho dos tiros de pólvora seca, todas as horas de comunicação alimentadas por especialistas bem falantes à volta das fogueiras também contribui para o crescimento económico sustentável? Fará todo este tempo gasto a falar de personalidades nada recomendáveis parte da transição energética ou da economia digital?

Que puta de vida levamos nesta nova versão do democrático 25 Invernoso numa nova versão digital do lá vamos cantando e rindo.

Tenho saudades, tenho nostalgia do 25 Primaveril.

 

domingo, 12 de dezembro de 2021

21.12.12

 

Há datas que vivem connosco. Quando o tempo do calendário se aproxima elas tornam-se memórias vivas, presentes. Nem todas correspondem a dias onde a felicidade esteve presente. São datas que são marcos na vivência percorrida.

Dezembro é um mês de algumas dessas datas que se sobrepõem ao acontecimento em si.

Se lá chegar no dia do aniversário completarei setenta e um anos de vida. De tantos dias aniversariantes, há um que invariavelmente vive na minha lembrança viva sobrepondo-se a todos os outros. O dia em que cheguei os vinte e dois anos de vida. Um dia que de todos os muitos dias já vividos permanece como recordação do que não deveria ter existido.

Também neste mês correm datas onde os momentos de felicidade atingiram momentos altos de paz numa alegria que só o nascimento, no caso, de uma filha nos pode dar. Corria o ano de mil novecentos e oitenta. Os meios tecnológicos da saúde não permitiam ainda saber como decorria o desenvolvimento do feto. Noites passadas no hospital Central de Lisboa Norte ouvindo especialistas sobre o problema que a futura mãe poderia transmitir ao feto para na incerteza do conhecimento se cair nos cinquenta por cento de probabilidade quer do sim quer do não. Foram dias, foram meses de medos surdos de angústias partilhadas. Depois chegou o dia em que a desejada paz com alegria chegou para iniciar uma outra e nova vida.

Um outro dos dias que salta para a memória consciente é outro dia que também nunca deveria ter ocorrido. Situa-se esse dia a meio do mês. Um dia em que ordeiramente olhámos em despedida as águas do Lima que se entregavam ao mar incertas do seu destino. Sobre aqueles jovens fardados, alinhados que marchavam em o silêncio pairava nas suas cabeças a certeza que ao embarcarem naquele comboio as suas vidas como que deixavam de lhes pertencer passando todos eles a serem instrumentos de guerra de uma política opressora, assassina de muitas vidas humanas, que iriam partir para longe da sua família na defesa de um Império que só na mente dos opressores senhores do poder e dos seus muitos apoiantes existia.

Dias que marcam a existência de quem os viveu consciente do seu papel na sociedade.

21.12.11

 

Tantas vezes dizemos e ouvimos dizer que os dias passam a correr.

Dizemos e ouvimos mas não é verdade.

O tempo dos dias passa a uma velocidade constante fixa à milhões de anos, desde que o Planeta se formou rodando à volta do Sol. Para ele, tempo, não há autoestradas nem limites de velocidade já que foi, é e será sempre uma constante igual a si próprio que um dia há muitos anos os Sumérios sem computadores nem outras máquinas tecnológicas dividiram como hoje o conhecemos.

Nós, humanos, é que nos deixamos levar por forças ocultas bem falantes de objetivos gananciosos ditos concorrenciais levando-nos a vivermos a vida numa correria louca, quantas vezes sem norte, olhando de soslaios para os outros que como nós correm procurando ir na frente. Vivemos sem sabermos parar e olharmos para nós próprios, sem tempo nem vontade de dialogarmos com a nossa própria sombra sobre este modo de vida que nos cansa e explora até ao tutano, que nos desgasta o pensamento e nos revolta contra o outro que vai na mesma correria desenfreada, tão culpado como nós, ignorantes que somos.

Tanta correria para no final, quer na cova do cemitério quer no forno crematório entrar o nosso corpo já só matéria fria de pés para a frente. Quando tal se dá chegou o momento em que a correria neste tempo de vida deixou de existir, já nada havendo a fazer. Contudo o tempo na sua constante continuará a passar indiferente ao que nos aconteceu.

21.12.10

Tenho que começar a anotar num caderninho todas as passwords para quando chegar ao fim desta reta onde a minha vida já entrou, os que cá ficarem e caso se interessem, possam não só entrar no computador como no telemóvel, podendo desse modo até por curiosidade conhecer o pai e o avô que nestes tempos corridos a velocidades anormais não conhecem de todo.

A vida vai a reboque do consumismo que a sociedade impõe aos filhos, aos casais, aos jovens e a uma parte crescente dos mais velhos. Um consumismo estéril onde os antigos valores familiares de respeito para com os mais idosos, da afetividade e do amor aos pais e avós estão fora de moda, desatualizados face aos objetivos que sub-repticiamente o sistema lhes impôs e impõe numa exigência sempre crescente de egocentrismo galopante. O "eu" sobrepõe-se a tudo, num individualismo doentio contagioso para o qual não há, nem sequer existem fundos públicos para se investigar e encontrar um remédio, uma vacina eficaz contra esta doença social que é o individualismo com o "eu" a assumir o papel fundamental da sociedade. Uma sociedade coletiva onde o importante, o fundamental é o "eu" individual, solitário.

Quando olho lá para trás, quando me recordo que por incapacidade minha nunca fui capaz de me despedir de quem mais amava… aqui deitado na minha cama de ferro adivinhando o frio que faz lá fora não compreendo o sentido da vida que corre nas diversas avenidas destes tempos modernos onde o consumismo estéril se transformou na maior das santas religiões do atual capitalismo dito civilizado.

Eu sei que caminho na outra margem na travessia do deserto mas mesmo sendo, não só um número tresmalhado, como também uma "ovelha ranhosa" lutando comigo mesmo para me manter lúcido, não deixo de ser mais um número do sistema asfixiante que nos controla os movimentos e tantas vezes o próprio pensamento.

Eu, cidadão criado no ameno litoral, vou para o frio da rua agasalhado olhando perplexo os aldeões habituados a este frio gélido do interior raiano todos atulhados de roupa por causa do frio. O que faz essa máquina infernal de ação psicológica que é a televisão atual. O Consumo tornou-se numa ditadura de tentáculos invisuais que nos aliena fazendo-nos crer que no consumismo estéril encontraremos o modo de sermos felizes até um dia terminarmos esta viagem ou nos despistarmos da vida por culpa do próprio "eu".

(foto da net)

 

21.12.08

O dia começou frio quanto baste. Um frio que o vento tornava mais agreste. Depois de almoço o Sol ficou encoberto e o corpo a pedir mais agasalhos. Fui visitar um amigo e quando regressei a casa já era noite. Não acendi a salamandra.

Nesta noite fria escrevo com uma manta sobre as pernas. Escrevo, onde me habituei a começar as minhas conversas com a minha sombra, no meu telemóvel.

Uso o telemóvel para falar ao telefone, tirar fotos, escrever e jogar por vezes o velho solitaire. Ah, também é nele que vejo as primeiras páginas dos jornais quando me levanto e vou para a casa de banho.

Nestes dias tenho pensado em vocês mais que o habitual. A razão prende-se com o fazer do azeite. Bem procuro na memória dados sobre a quantidade da azeitona que vocês apanhavam entre os chões da Horta, da Vinha e de Segura. Na minha cabeça bailam os trezentos quilos, mas duvido desse número embora não me recordo de quantos quilos apanhavam. Penso que num ano fizeram 30 litros. Vejo a mãe a experimentar logo a qualidade do azeite que o pai trazia do lagar, reclamando quase sempre pelo mesmo não ser das nossas azeitonas mas era a forma de trabalhar do lagar, tantos quilos de azeitona entregue após o desconto normal da "maquia" fundindo a mesma a um valor estabelecido pelo lagareiro, recolhendo quase de imediato a quantidade de azeite que estava a sair na bica. Vem-me à memória as nossas conversas pai quando te visitava no lar e tu muitas vezes demonstravas o teu receio de que a casa e o chão da Horta ficassem ao abandono. Sabias da minha situação económica, sabias que o mano tinha a sua vida bem organizada por Coimbra e não me vias capaz de ficar com estes bens porque tinha de dar tornas ao meu irmão. Tu que sempre soubeste ler os meus silêncios tinhas dúvidas e medos. Pelos teus medos de que os teus filhos pudessem deixar os bens ao abandono, depois da mãe falecer vendeste o chão da Vinha, já que o da Malhada dos Poços o vendeste ainda a mãe era viva. Nessas nossas conversas lá ia dizendo que eu não iria deixar isto ao abandono e tu tinhas as tuas dúvidas legítimas pois sempre me conheceste melhor do que eu me conheço a mim mesmo. Quando terminaste esta tua viagem o mano confiou e disse-me para eu tratar de todas as burocracias. Assim fiz. Nas finanças e na conservatória fiz-me até herdeiro dos quartos correspondentes aos teus sobrinhos sobre o chão de Segura. Fi-lo com conhecimento desinteressado dos mesmos, excepto da Olga. Depois acordei com o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Segura e fizemos a doação do terreno como era teu desejo. Mandei-lhes cópia da escritura de doação mas nenhum me perguntou quanto gastei, pois até a escritura de doação fui eu que paguei pois o Provedor dizia que a mesma não tinha fundo para pagar tal valor. Acordei com o meu irmão o pagamento mensal de uma verba até perfazer a metade do valor da casa que a avaliação bancária fez quando lhe pedi um empréstimo para fazer as obras mais urgentes. Andava eu cá e lá quando um dia me procuram por saberem que a mãe era sobrinha do tio João Capelo. O casal em causa levava os dois terrenos restantes da herança após o falecimento da tia Isabel, ou seja o Chão da Eira e o da Balasca. O da Eira sabia onde era com as paredes do palheiro a caírem por desmazelo. Balasca era um nome familiar mas não fazia ideia nenhuma onde e como era. Falando com o meu amigo Zé logo este me disse que se ficasse com aquele chão que faria todos os anos azeite para mim e para as filhas, indo logo mostrar-me onde o mesmo se encontra. Há muito que nem o terreno nem as oliveiras eram cuidadas. Dei autorização ao António de alcunha "caga cornos" de poder usar o terreno para as suas ovelhas como já fazia no Chão da Horta com a contrapartida de lavrar o mesmo e cuidar dos muros eliminando a praga das silvas. Paguei no inverno seguinte a limpeza das oliveiras e se no ano passado não houve azeitona este ano já lá colhi azeitonas para o azeite. Foi um ano de tanta azeitona que ao colher também as oliveiras da Horta da Corona do primo António Moreira nem fui ao Chão da Horta apanhar as nossas oliveiras já que no total da Horta da Corona e Balasca fiz 1.019 quilos e nem todas as oliveiras foram colhidas. Como o lagar da Zebreira não abriu ao público, o meu amigo Zé que me ajudou e ensinou na apanha, fomos fazer o azeite para Monforte da Beira onde o azeite recolhido é o produto final da azeitona que cada cliente entrega, trabalhando com duas alternativas à escolha do cliente que ou entrega a azeitona da "maquia" estipulada ou paga um valor fixo de euros por cada quilo de azeitona entregue. Optei por esta última. Os 1.019 quilos renderam 187 litros de azeite com uma acidez de 0,4 graus. Por onde vocês, pai e mãe, andarem devem estar contentes por nos terem criado e educado demonstrando que os sacrifícios que os pais fazem pelos filhos sempre podem dar frutos. Se a saúde não me faltar para o ano cá estarei para nova colheita e ir de novo a Monforte da Beira onde o azeite que trazemos é das azeitonas que colhemos, como a mãe sempre desejou reclamando. Ao chegar a casa provei-o no pão como aprendi com os espanhóis e se a cor é de ouro o sabor é divino com as azeitonas bical e cordovil a sobreporem-se às restantes.


21.12.06

 

Na escola primária da nossa aprendizagem lemos e aprendemos que "verde foi meu nascimento e de luto me vesti. Para dar luz ao mundo, mil tormentos padeci".

Com quase setenta e um anos de idade temporal, pela primeira vez e há sempre uma primeira vez, colhi azeitonas para levar ao lagar. Uma aventura que se transformou em mais uma batalha interna contra os inimigos sem rosto que populam no nosso sistema político de sociedade consumista em que o importante é consumir toda a merda, para que desse modo insustentável a economia possa crescer, que quem vier depois irá fechar a porta.

Nas longas horas de espera às portas do lagar já no concelho de Castelo Branco e não de Idanha-a-Nova, ouvi histórias, aprendi várias coisas e conheci alguém, um Carlos como eu de nome, nascido em Cascais engenheiro de profissão que ao receber a sua indemnização de trabalho se transformou em empreendedor agrícola em terras do Rosmaninhal. Um jovem de quase sessenta anos com muitos conhecimentos, mesmo no exterior, que gere e pensa a sua atividade fazendo e comparando contas de rentabilidade olhando o futuro da sua atividade agrícola como fonte criadora de riqueza. Um empreendedor que adapta a tradição ao futuro investindo em conhecimento para evoluir num mercado concorrencial onde há partida não somos ganhadores face a espanhóis e a italianos, que com a sua organização económica nos levam montanhas de avanço difíceis de ultrapassar mas não impossíveis.

Pelo muito que me custa aceitar o olival extensivo como hoje existe não tem futuro. Não está em causa a excelente qualidade que o seu fruto nos dá como produto final. Não tem futuro porque dá trabalho. Um trabalho duro que exige sacrifícios e mãos para a apanha. Mãos que com o tempo vão envelhecendo e escasseando para a atividade agrícola. Nem vou entrar na história dos subsídios. Em todos os países a atividade agrícola é subsidiada há muitos e muitos anos. O mal não estará no subsídio mas na forma errada como o mesmo é distribuído no nosso pobre e triste país por imposição dos senhores de Bruxelas. O subsídio é dado em função da posse da propriedade e não em função do binómio propriedade-produção. Como atalho de foice deixando a azeitona ser transformada no lagar, este ano os do Governo da Agricultura deram subsídio de 900€ por hectare para a produção de feijão frade. Será que alguma vez vamos saber a rentabilidade do mesmo? Isto é, quantos milhares ou milhões de euros foram concedidos e quantas toneladas foram produzidas? É que ninguém inspeciona o ciclo depois da análise e concessão do susidio com o cultivo e posterior apanha (produção). É o crescimento económico empobrecedor da nossa agricultura.

Voltando ao produto final da apanha da azeitona, o azeite. Azeite produzido com diversas qualidades de azeitona (cordovil, galega, bical, verdeal e alguma carrasquenha) que no seu ciclo de nascimento e amadurecimento nem elas nem a oliveira viram ser utilizado qualquer substância química, obtendo-se desse modo um produto natural mas não biológico porque para obter essa designação teria de obedecer a normas burocráticas estabelecidas em gabinetes de ar condicionado.

Um produto que foi condenado por um aldrabão cardiologista de renome há muitos anos, que usando já a televisão como arma de ação psicológica levou as famílias ao consumo de óleos e produtos hidrogenados em substituição do bom e saudável óleo que é o azeite.

Num ano de super produção de azeite vou olhar a evolução do preço do azeite que os supermercados oferecem ao consumidor como azeite, já que vender como azeite a 3€ o litro não pode ser só azeite.

Um Emigrante português a viver também na Alemanha comentava nas conversas que o tempo de espera no lagar dava, que levava para a Alemanha e vendia os garrafões de 5l do azeite ali produzido a 59€ e se mais tivesse mais vendia aos seus amigos e conhecidos alemães. Já o Emigrante em França vende o seu azeite à 9€ o litro e não lhe faltam amigos franceses interessados.

Nós por cá continuamos à espera que alemães, holandeses e brasileiros venham para lhes oferecer as vantagens económicas que recusamos sub-repticiamente aos portugueses interessados, com burocracias que não têm os que chegam como investimento estrangeiro. Depois a riqueza (valor acrescentado) gerada nos nossos solos com a nossa água voa para off shores e paraísos fiscais, enquanto continuamos a marcar passo discutindo décimas no tal crescimento económico.


21.12.05

 

Mais um dia que representa mais um ano. Um dia que é e será sempre relembrado não pelas mortes ocorridas na noite anterior desse ano mas, porque o casal tinha assumido a eterna responsabilidade de serem de novo pais de um novo ser humano nascendo neste dia 5 de Dezembro uma nova filha, que como a irmã nasceu na grande e enorme Maternidade Alfredo da Costa do nosso SNS.

Um dia em que uma nova vida começou a crescer e que neste ano de tantas e tantas coisas mal explicadas e entendidas que nos rodeiam a todos, completa as suas quarenta e uma primaveras como dizia a sua avó paterna, porque mesmo estando o calendário quase à porta do Inverno neste dia por momentos fez-se Primavera pelo nascimento de mais uma Flor de sua graça Joana.

Nasceu para viver momentos felizes e outros que servem de ensinamentos para podermos ser Gratos à vida, vivenciando-a no saber que a desejada felicidade é o caminho do amor, da gratidão e do respeito pelos outros. Depois, um dia ganhou asas e partiu caminhando na sua aventura de dar novas vidas à vida… e por cá andamos comigo sempre à frente no tempo de vinte e nove anos desejando-lhe sempre o melhor já que não foi ouvida no ato de amor que a gerou.


21.11.28


Amanhã faz anos que regressamos. Viemos como fomos, pelo ar, num avião da FA. O Figo Maduro nos viu partir a 15 de Dezembro e nos viu chegar a 29 de Novembro. Para trás ficou um tempo perdido onde recordamos nostalgias que a terra e as gentes angolanas nos deixaram.

Amanhã faz anos que regressamos. Ao partir deixamos a família e os amigos num país triste e pobre vergado ao sabor dos tiranos que nos governavam. Regressamos semanas antes de fazermos os dois anos, encontrando o país em festa não por ter acabado com a pobreza crónica de muitos séculos mas porque os tiranos do fascismo envergonhado e salazarento foram depostos dando lugar à festa da Liberdade.

Amanhã faz anos que regressamos. Viemos quase todos não como um dia partimos mas viemos. Quarenta e sete anos já passaram e a Amizade criada e formada naquele tempo de guerra nas terras do fim do mundo do Leste Angolano perdura até hoje entre os que vamos sobrevivendo ao fim desta viagem terrena. Uma Amizade que resiste às diferentes opções clubísticas e políticas de cada um dos antigos combatentes da 2 C Caç do Bat. Caç 5010 que em 1972 se começou a formar na terra quente transmontana de Chaves, para ainda hoje ser recordado sem saudade mas com nostalgia, relembrando os que já partiram assim como os nossos amigos e camaradas do recrutamento angolano que pertencentes ao então RI20 de Luanda por lá ficaram na altura. 

 

21.11.25


Não há vento a correr pelas ruas. Só o silêncio incomoda. Tudo parece sublimar-se à sua volta. Ouve o silêncio de gritos desconhecidos. Um buraco negro parece chamá-lo. Ele, indiferente ao que o rodeia, continua a sonhar. A utopia de uma vida decente continua viva alimentando a Esperança. 


quarta-feira, 24 de novembro de 2021

21.11.22

Era uma vez um município de baixa densidade populacional no esquecido e semi-abandonado interior raiano da Beira Baixa, onde a maioria da população é constituída por velhos e idosos que resistem ao passar do tempo na triste vida de ir vendo e sabendo que familiares, amigos e conhecidos vão eles terminando a sua viagem terrena.

Não é pois de estranhar as dificuldades que o SNS através dos seus organismos regionais e locais tinha e têm em contratar médicos e enfermeiros para dar assistência às populações resistentes das dezassete populações dispersas e constituintes do Município raiano que é salvo erro o segundo maior em extensão.

Sendo estas dificuldades conhecidas de todos, responsáveis políticos, profissionais de saúde e utentes ia a Unidade Local de Saúde com o seu Centro de Saúde funcionando com o profissionalismo e a dedicação de quem não tem meios mas faz das tripas coração para que os utentes tenham algum apoio, sendo uma das profissionais de saúde médica que voluntariamente e graciosamente continuava a trabalhar dando assistência embora estando já aposentada.

Aquando do período eleitoral autárquico a médica em causa deu o seu apoio explicito a outro movimento político em oposição ao Presidente Municipal de novo candidato a um último mandato.

No tempo de campanha pré-eleitoral o Presidente do Município promoveu através da adesão a um cartão especifico um seguro de doença privado básico com a Lusitania – Companhia de Seguros SA, afirmando na promoção e durante a campanha pré-eleitoral e eleitoral que o dito seguro de saúde escondido no tal cartão, acessível a todos os cidadãos residentes e recenseados no Município que o solicitassem, era diziam complementar do SNS. Face talvez às criticas geradas lá conseguiu quase em véspera do acto eleitoral que as estruturas do Partido funcionassem em seu apoio para noticiarem a assinatura de um tal protocolo em que a ULSCB dava o consentimento ao tal cartão sem que o responsável pela ULSCB se tivesse comprometido explicitamente segundo a leitura que fiz da noticia então divulgada.

Quando em Lisboa o candidato C. Moedas do PSD fez publicitar em campanha pré-eleitoral cartazes onde afirmava que se ganhasse as eleições os cidadãos com mais de 65 anos teriam direito a um seguro de saúde gratuito não estava a inovar. Já no esquecido e semi-abandonado interior raiano o Presidente do Município de Idanha-a-Nova tinha estabelecido um contrato de seguro anual que custa aos contribuintes quinhentos e quinze mil escudos à partida, segundo os dados do concurso publico realizado e rubricado pelas partes.

Com estas medida que os mais liberais aplaudem de pé e, outras muitas velhas promessas o candidato Presidente foi de novo escolhido pelos cidadãos do Município para o novo e último mandato.

Depois da tomada de posse nos novos órgãos autárquicos (município, freguesias e uniões de freguesia) vão-se conhecendo medidas que já se esperavam, como o que se passa com a prometida compra de um lagar de azeite já que os valores envolvidos teriam de ter o visto do Tribunal de Conta (ou estarei errado?) e o tempo foge que a azeitona está pronta; outras medidas denotam o índice de democraticidade e solidariedade existente nas pessoas que gerem a política regional e municipal à sombra da bandeira do Partido Socialista. Com a enorme dificuldade em conseguir médicos para dar assistência aos

utentes das várias populações, utilizam o argumento da idade para dispensar do serviço a médica que graciosamente trabalhava na ULS, pois que, já antes desta campanha eleitoral autárquica a senhora médica tinha os setenta anos e continuava a prestar serviço graciosamente durante todo este tempo difícil de pandemia que estamos ainda a viver. Pois não parece haver dúvidas que por detrás do argumento legal da idade, a dispensa dos serviços graciosos que a senhora médica vinham prestando se deve ao facto da sua opção política livremente tomada aquando da campanha eleitoral autárquica.

É por estas e por outras medidas revanchistas que vamos conhecendo nesta envergonhada democracia que é preciso estar atentos, dizendo sem medo “Viva o 25 de Abril!!!”