domingo, 12 de dezembro de 2021

21.12.06

 

Na escola primária da nossa aprendizagem lemos e aprendemos que "verde foi meu nascimento e de luto me vesti. Para dar luz ao mundo, mil tormentos padeci".

Com quase setenta e um anos de idade temporal, pela primeira vez e há sempre uma primeira vez, colhi azeitonas para levar ao lagar. Uma aventura que se transformou em mais uma batalha interna contra os inimigos sem rosto que populam no nosso sistema político de sociedade consumista em que o importante é consumir toda a merda, para que desse modo insustentável a economia possa crescer, que quem vier depois irá fechar a porta.

Nas longas horas de espera às portas do lagar já no concelho de Castelo Branco e não de Idanha-a-Nova, ouvi histórias, aprendi várias coisas e conheci alguém, um Carlos como eu de nome, nascido em Cascais engenheiro de profissão que ao receber a sua indemnização de trabalho se transformou em empreendedor agrícola em terras do Rosmaninhal. Um jovem de quase sessenta anos com muitos conhecimentos, mesmo no exterior, que gere e pensa a sua atividade fazendo e comparando contas de rentabilidade olhando o futuro da sua atividade agrícola como fonte criadora de riqueza. Um empreendedor que adapta a tradição ao futuro investindo em conhecimento para evoluir num mercado concorrencial onde há partida não somos ganhadores face a espanhóis e a italianos, que com a sua organização económica nos levam montanhas de avanço difíceis de ultrapassar mas não impossíveis.

Pelo muito que me custa aceitar o olival extensivo como hoje existe não tem futuro. Não está em causa a excelente qualidade que o seu fruto nos dá como produto final. Não tem futuro porque dá trabalho. Um trabalho duro que exige sacrifícios e mãos para a apanha. Mãos que com o tempo vão envelhecendo e escasseando para a atividade agrícola. Nem vou entrar na história dos subsídios. Em todos os países a atividade agrícola é subsidiada há muitos e muitos anos. O mal não estará no subsídio mas na forma errada como o mesmo é distribuído no nosso pobre e triste país por imposição dos senhores de Bruxelas. O subsídio é dado em função da posse da propriedade e não em função do binómio propriedade-produção. Como atalho de foice deixando a azeitona ser transformada no lagar, este ano os do Governo da Agricultura deram subsídio de 900€ por hectare para a produção de feijão frade. Será que alguma vez vamos saber a rentabilidade do mesmo? Isto é, quantos milhares ou milhões de euros foram concedidos e quantas toneladas foram produzidas? É que ninguém inspeciona o ciclo depois da análise e concessão do susidio com o cultivo e posterior apanha (produção). É o crescimento económico empobrecedor da nossa agricultura.

Voltando ao produto final da apanha da azeitona, o azeite. Azeite produzido com diversas qualidades de azeitona (cordovil, galega, bical, verdeal e alguma carrasquenha) que no seu ciclo de nascimento e amadurecimento nem elas nem a oliveira viram ser utilizado qualquer substância química, obtendo-se desse modo um produto natural mas não biológico porque para obter essa designação teria de obedecer a normas burocráticas estabelecidas em gabinetes de ar condicionado.

Um produto que foi condenado por um aldrabão cardiologista de renome há muitos anos, que usando já a televisão como arma de ação psicológica levou as famílias ao consumo de óleos e produtos hidrogenados em substituição do bom e saudável óleo que é o azeite.

Num ano de super produção de azeite vou olhar a evolução do preço do azeite que os supermercados oferecem ao consumidor como azeite, já que vender como azeite a 3€ o litro não pode ser só azeite.

Um Emigrante português a viver também na Alemanha comentava nas conversas que o tempo de espera no lagar dava, que levava para a Alemanha e vendia os garrafões de 5l do azeite ali produzido a 59€ e se mais tivesse mais vendia aos seus amigos e conhecidos alemães. Já o Emigrante em França vende o seu azeite à 9€ o litro e não lhe faltam amigos franceses interessados.

Nós por cá continuamos à espera que alemães, holandeses e brasileiros venham para lhes oferecer as vantagens económicas que recusamos sub-repticiamente aos portugueses interessados, com burocracias que não têm os que chegam como investimento estrangeiro. Depois a riqueza (valor acrescentado) gerada nos nossos solos com a nossa água voa para off shores e paraísos fiscais, enquanto continuamos a marcar passo discutindo décimas no tal crescimento económico.


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