domingo, 12 de dezembro de 2021

21.12.12

 

Há datas que vivem connosco. Quando o tempo do calendário se aproxima elas tornam-se memórias vivas, presentes. Nem todas correspondem a dias onde a felicidade esteve presente. São datas que são marcos na vivência percorrida.

Dezembro é um mês de algumas dessas datas que se sobrepõem ao acontecimento em si.

Se lá chegar no dia do aniversário completarei setenta e um anos de vida. De tantos dias aniversariantes, há um que invariavelmente vive na minha lembrança viva sobrepondo-se a todos os outros. O dia em que cheguei os vinte e dois anos de vida. Um dia que de todos os muitos dias já vividos permanece como recordação do que não deveria ter existido.

Também neste mês correm datas onde os momentos de felicidade atingiram momentos altos de paz numa alegria que só o nascimento, no caso, de uma filha nos pode dar. Corria o ano de mil novecentos e oitenta. Os meios tecnológicos da saúde não permitiam ainda saber como decorria o desenvolvimento do feto. Noites passadas no hospital Central de Lisboa Norte ouvindo especialistas sobre o problema que a futura mãe poderia transmitir ao feto para na incerteza do conhecimento se cair nos cinquenta por cento de probabilidade quer do sim quer do não. Foram dias, foram meses de medos surdos de angústias partilhadas. Depois chegou o dia em que a desejada paz com alegria chegou para iniciar uma outra e nova vida.

Um outro dos dias que salta para a memória consciente é outro dia que também nunca deveria ter ocorrido. Situa-se esse dia a meio do mês. Um dia em que ordeiramente olhámos em despedida as águas do Lima que se entregavam ao mar incertas do seu destino. Sobre aqueles jovens fardados, alinhados que marchavam em o silêncio pairava nas suas cabeças a certeza que ao embarcarem naquele comboio as suas vidas como que deixavam de lhes pertencer passando todos eles a serem instrumentos de guerra de uma política opressora, assassina de muitas vidas humanas, que iriam partir para longe da sua família na defesa de um Império que só na mente dos opressores senhores do poder e dos seus muitos apoiantes existia.

Dias que marcam a existência de quem os viveu consciente do seu papel na sociedade.

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