segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

21.12.13

Caminho de olhos semicerrados e ouvidos protegidos para só ver o que me interessa e ouvir o que quero nesta minha surdez principiante e congénita.

No final de semana andou muito barulho à solta nas avenidas da outra margem. Não compreendi se era festa já que não ouvi foguetes mas sim muitos tiros de pólvora seca. Não estamos no tempo das festas dos santos populares, mas pareceu-me ver muitas fogueiras na outra margem.

O que é que se terá passado para haver tanto barulho, tanto ruído de pólvora seca no meio de tantas fogueiras? Questionava a minha sombra que calada se limitava a encolher os ombros.

Diz-me então uma gaivota voando livre na beira rio, que prenderam alguém importante outrora. Curioso liguei a TV pública que estava na hora do telejornal. Passei depois pelos outros canais a correr. Fiquei a saber que prenderam um dos vaidosos vigaristas da nossa praça. A justiça que durante anos o tratou com pezinhos de lã não fosse o senhor banqueiro ficar ofendido, evitando por vários meios colocá-lo na choldra; a mesma justiça que a muito custo o tinha condenado a prisão efetiva numa das prisões construídas para vigaristas de bem; a justiça que sabendo que o veredicto da prisão efetiva tinha transitado em julgado lhe facilitou mais uma viagem ao estrangeiro para a fuga com destino incerto. Essa mesma justiça anunciou que o antigo banqueiro condenado por várias vigarices transitadas em julgado, tinha sido localizado e estava preso sob as ordens da justiça num país distante.

Anunciando o feito em conferência de imprensa a justiça juntou-se aos amigos inquisitoriais que tomaram conta da comunicação social celebrando todos o fato, com muitos tiros de pólvora seca à volta de muitas fogueiras alimentadas pelos modernos especialistas nos julgamentos populares, que alimentam as chamas da moderna Inquisição agora em versão democrática.

O tipo em causa, preso num lugar para gente rica como vaidoso vigarista sempre foi esperto apenas para se apropriar do que não lhe pertencia mas que aforradores ansiosos de altos juros financeiros lhe entregavam somas avultadas de dinheiro à ordem e a prazo para a atividade de especulação financeira que o sistema económico potência. Ninguém como ele garantia tão altos rendimentos passeando-se e promovendo-se entre as classes abastadas da média e alta burguesia perante ministros, secretários de estado e governadores do banco central. Ele era o maior e mais bem sucedido banqueiro cá do burgo procurando fazer sombra aos outros ilustres banqueiros da pobre praça financeira.

Os avençados jornalistas dos mesmos órgãos de comunicação que agora o condenam com tiros de pólvora seca em várias fogueiras, são alguns deles os mesmos que nesse tempo do sucesso de altos rendimentos financeiros o bajulavam levando-o aos ombros num andor cheio de promessas em ouro como grande empreendedor financeiro de sucesso da democracia portuguesa.

Que puta de vida esta, em que se gastam horas e dias a falar de miudezas à volta de vigaristas banqueiros sem se procurar explicar porque é que o sistema facilita e potencia estas vigarices ou roubos de colarinho branco e gravata de seda fina.

Será que todo o barulho dos tiros de pólvora seca, todas as horas de comunicação alimentadas por especialistas bem falantes à volta das fogueiras também contribui para o crescimento económico sustentável? Fará todo este tempo gasto a falar de personalidades nada recomendáveis parte da transição energética ou da economia digital?

Que puta de vida levamos nesta nova versão do democrático 25 Invernoso numa nova versão digital do lá vamos cantando e rindo.

Tenho saudades, tenho nostalgia do 25 Primaveril.

 

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