terça-feira, 21 de março de 2023

12.03.23

Felizes os que conseguem saborear a velhice, para a qual um dia nascemos, crescemos e vivemos correndo em alta velocidade para a abraçar, ignorando o tempo na sua constante inalterável.

É um velho, sem vontade de ser mais novo. Sem vontade, porque não gostava de ser mais novo, sentindo-se bem na sua jovem velhice.

Viveu num ciclo de vida de grandes transformações positivas para a humanidade. Transformações que nos permitiram deixar a vida dura e difícil que nossos antepassados sofreram para que pudéssemos ter uma vida melhor que a miséria reinante do Portugal do Minho até Timor como difundiam os senhores do poder aos sete ventos.

Inebriando-nos com a Liberdade, snifando a Democracia passámos a viver num estado ilusório de vida mais fácil concedida por uma CEE do Estado Social Europeu; criamos e demos aos filhos facilidades, só facilidades, quantas vezes por nos lembrarmos das dificuldades porque passámos ou porque queríamos esquecer o passado onde fomos moldados, sem dar conta de que estávamos de novo a ser formatados para um modo de vida sem ética nem moral que lentamente a pouco e pouco nos vai transformando, roubando até os sonhos, os desejos, as utopias com que nos inebriámos quando jovens na flor da idade dançávamos com a Liberdade, onde o limite era a felicidade desconhecida de um outro modo de vida.

Agora com a sabedoria que a vida nos deu olhamos para o futuro mais carregado de rugas e papos do que os que vemos em nós quando nos olhamos ao espelho, tais os medos e a incertezas medonhas com que constantemente somos metralhados.

Felizes os que conseguem saborear a velhice, para a qual um dia nascemos, crescemos e vivemos correndo em alta velocidade para a abraçar e com ela podermos saborear a vida que nos resta. 

 

segunda-feira, 20 de março de 2023

09.03.23

 

E quando pensava que com os seus setenta e dois anos já tinha visto e ouvido de tudo, eis que nos últimos tempos é surpreendido com declarações de personalidades que pouco ou nada lhe dizem, porque pertencem às lideranças do universo da multidão da qual se tresmalhou por vontade própria, andando na outra margem na procura de entender os "porquês" e os "se".

Há uns dias ou talvez semanas, já não tem a certeza porque nenhum valor lhe atribui, ouviu e leu que o "rei da fruta podre" no futebol cá do burgo, clamava pela "verdade desportiva". Interrogou-se, como tal era possível? Com tantos vídeos demonstrativos das trafulhices que ao longo dos anos patrocionou.

Hoje pela manhã, leu as primeiras páginas dos jornais e depois da volta matinal, ao tomar o pequeno almoço ligou a televisão e confirmou, que o presidente deste país em entrevista a dois amigos e servos, aconselhou o ministro das finanças deste governo (sem outro azimute que não sejam os objetivos dos neoliberais em Bruxelas), a refletir no seu passado. De imediato mudando de canal pensou interrogando-se, como era possível o presidente fazer aquela declaração? Sorriu e disse para a sua sombra: - "olha quem fala", porque é que o senhor presidente não faz o mesmo, não olha para o seu passado, terá vergonha? Um converso com muita lábia populista a dar conselhos a um ministro que infelizmente para o regime democrático andou e anda sempre metido em situações opacas mal cheirosas para a governação da coisa pública.

Das três personalidades em causa, não gosta de nenhuma, pois olhando da outra margem vê-os populistas sem pingo de vergonha não fazendo falta à Democracia e ao Estado Social no seu insignificante pensar.

Há gente sem memória e sem pingo de vergonha, que é aclamada pela multidão embriagada pela ação psicológica dos órgãos de comunicação social, incapazes de pensar tão anestesiadas vão vivendo na ilusão do que lhe contam, uma multidão que é incapaz de ler ou pensar no que dizem e contam os outros que pensam diferente, procurando mais as razões do "ser" do que a ânsia de possuir o "ter".

08.03.23

Corria o ano de 1962 quando no final desse ano o casal com os seus dois rapazes chegou à aldeia, indo de uma outra aldeia pouco religiosa do concelho.

Duas razões justificaram a mudança: o pai em busca de amenizar os ataques de asma com a mudança de ares, e o facilitar a vida aos dois filhos pois o caminho a fazerem de bicicleta para a Escola seria mais curto e plano.

Assim, viveram enquanto os filhos estudavam na Escola Industrial e Comercial, os dois no Curso Geral de Comércio.

Era a aldeia um núcleo populacional pequeno e religioso, onde aos domingos iam à missa, e durante o mês de Maio quando o horário da escola permitia o mais novo participava no terço à Senhora de Fátima pela conversão da Rússia comunista.

Tinham os dois irmãos a vantagem sobre os outros rapazes da aldeia o facto de o seu pai ser Guarda Fiscal não tendo por isso que ajudar nos trabalhos do campo, restando a obrigação de terem dias para regarem a pequena horta e apanhar as ervas do campo para os coelhos que os pais criavam para o sustento da família. Tirando essas pequenas obrigações, terminando os exames que todos os anos o curso geral do comércio tinha, os dois rapazes viviam a liberdade dos três meses de férias na praia, só interrompidos quando nalgum ano iam visitar os avós que moravam quase na fronteira. Aprenderam os irmãos a conhecer o mar, na praia concessionada ou na praia da aldeia, uma pequena enseada na costa rochosa sem vigilância marítima.

O mais velho dos irmãos nunca tinha frio e a nadar mar adentro perdia-se de vista. O mais novo, mais friorento naquelas águas era mais comedido, nunca se aventurando como o irmão.

As pessoas da aldeia eram bastante religiosas e crentes. Os seminários católicos serviram para alguns dos jovens da aldeia poderem estudar, o que de outro modo lhes seria muito difícil ou mesmo impossível pelas condições económicas dos seus pais. A comunidade dos mais antigos viu desse modo a ordenação de três padres naturais da aldeia, de diferentes idades, exercendo o sacerdócio em paróquias diferentes. Pela aldeia e pelo concelho andava um padre Franciscano.

Dos sacerdotes, o que celebrava em Lisboa, tinha lá a sua casa, costumando passar o mês das férias por lá, acompanhado quase sempre por um outro padre e pela sua secretária, a qual deixava os homens mais velhos com olhares de inveja.

Num dia de verão, teriam os irmãos os seus catorze e quinze anos, como a nortada era forte em vez de irem à tarde para a praia foram para a pequena enseada na fronteira com o designado Corri-Água que era o local onde havia alguma areia. Não havia muitas outras pessoas por lá, apenas um ou dois amigos estavam com eles. Nessa tarde também os padres acompanhados da secretária foram até lá, ficando afastados logo no início da pequena enseada, já eles e os amigos se preparavam para irem ao banho. Como acontecia, o mais velho dos irmãos calmamente foi mar adentro, perdendo-se de vista. Ele e os amigos tomaram banho, secaram-se ao sol e vieram embora ainda o irmão andava no mar. Os padres e a secretária, julgando-se sozinhos, estavam à vontade naquele pequeno paraíso.

Só que o mais velho dos irmãos chegou do banho pelo Corri-Água fora da vista dos padres, e, quando chega e olha vê o padre e a secretária aos beijos, escondendo-se atrás das rochas ficou a observá-los, vestindo-se quando eles saíram subindo a rampa veio atrás deles sempre à distância para não ser detetado. Pelo caminho o padre e a secretária continuaram nas carícias abençoadas, que na má língua se diz "marmelada", até que o outro padre que seguia atrás virou-se para trás e viu o mais velho dos irmãos, tossindo de imediato alertou os "amantes" que de imediato se comportaram como cidadãos tementes cumpridores dos mandamentos da santa madre Igreja, já que nem de outro modo poderia ser.

O rapaz, mais velho dos irmãos, ao chegar a casa zangado, talvez mesmo revoltado, logo disse à mãe que não ia mais à missa, que não o podiam obrigar a ir, contando à mãe toda a cena vergonhosa que tinha visto. A mãe acreditando no que o seu filho lhe contou ainda falou com duas outras mães com quem tinha mais confiança, e as duas aconselharam-na a ficar calada, pois ninguém ia acreditar que o senhor padre fizesse uma pouca vergonha daquelas. Quando um dia numa conversa com outros fez referência ao que tinha observado, logo um homem mais velho o ameaçou de porrada.

A mãe seguiu o conselho das amigas, calou-se. O filho deixou não só de ir à missa como de acreditar na religião.

Ele, sempre que passa na aldeia e vê o busto do padre no largo da Igreja, lembra imediatamente da história do padre com a secretária e de como ninguém da aldeia iria acreditar ou acredita no que o seu irmão presenciou de verdade.

Há verdades que são proibidas pela própria comunidade que se recusa a ver, acreditando até à morte naquilo que não veem mas que padres e bispos lhe dizem, sejam eles de qualquer um dos ritos religiosos existentes nas sociedades atuais.

É, assim com verdades que foi presenciando, mas sempre recusadas pela maioria, que se tresmalhou, recusando-se a integrar qualquer rebanho que siga o chefe.

Ao exemplo verdadeiro anterior pode-se juntar as moças que ficam grávidas do padre da paróquia com os fiéis praticantes ou não a de imediato apontarem o dedo à futura mãe solteira, como se fosse ela a única e única culpada de ter tentado o senhor padre a pecar.

Foram séculos de domínio eclesiástico apostólico romano numa exclusividade ditatorial durante 285 anos de Inquisição e Santo Ofício, a que há que somar os 48 anos da santa aliança ditatorial Salazar-Cerejeira, a formatar e a parametrizar cabeças e modos de vida.

Ainda há burgueses intelectuais que se auto proclamam de democratas a viverem com medo que o Partido Comunista possa alguma vez ser governo numa paróquia destas. 

 

07.03.23

A ICAR Igreja católica apostólica romana, criada à volta da vida e imagem de Jesus a quem acrescentou o nome de Cristo, tem o seu centro físico em Roma onde Jesus, o judeu, nunca lá foi, nunca lá esteve, não falava latim, vivendo ao que se sabe entre a Judeia e a Galileia ao lado dos mais desprotegidos da sorte em oposição não só ao poder romano ocupante daquelas terras, como também em oposição à vida faustosa dos religiosos fariseus em sintonia com o poder romano.

Com a criação da imagem de Jesus Cristo os primeiros cristãos implementaram e consolidaram um Império de poder enorme, destruindo tudo o que vinha da designada época clássica, obras literárias, monumentos, estátuas esfinge de antigos deuses, tudo o que se pudesse opor ao novo poder de um Deus único à sua medida era destruído, incendiado ou de imediato julgado e condenado. Um poder nascido com enorme violência e imposição a que alguns investigadores chamam "O Início das Trevas" centrado na imagem poderosa de um Papa como representante do Deus único e chefe máximo da Igreja cristã.

 Implementado pela força esse poder eclesiástico centralizado em Roma, tornou-se determinante na evolução da vida dos povos. Tão grande era o poder da Igreja que Reis e Nobres governavam prestando-lhe vassalagem, criando-se desde logo a imagem que o mundo civilizado era o dos cristãos, todos os outros eram hereges dominados não pelo Deus dos cristãos mas por deuses do mal que era preciso dominar, convertê-los ao cristianismo pela força das armas se necessário, sem esquecer as famosas fogueiras da Inquisição. Tudo em nome de Deus e da riqueza da poderosa igreja.

Na luta interna pelo controle das riquezas e populações tementes ao Deus cristão deram-se ao longo da história várias cisões, ficando o Papa em Roma como o representante máximo apenas dos cristãos católicos.

Até a data da nossa independência esteve condicionada ao reconhecimento papal, tendo o rei D. Afonso Henriques se comprometido a pagar em ouro a independência que o seu primo de Leão e Castela já tinha reconhecido.

É a história de Portugal uma viagem ligada ao poder papal em Roma, com o mesmo a perder influência após o mandato de Sebastião José de Carvalho, Marquês de Pombal. Igreja que durante o reinado de D. Manuel I, como que assume também o poder da justiça, não só com o estabelecimento da Inquisição como com o Tribunal do Santo Ofício. É esta aliança entre reis e clero ortodoxo que molda o futuro do povo português durante 285 anos, passando Portugal de um pequeno país florescente e grandioso com os descobrimentos de outras terras, outros mares e gentios, a implementar não só uma perseguição religiosa a judeus sefarditas e mesmo aos que pela força ou voluntariamente se tinham convertido em cristãos-novos, como também aos homens da ciência que pensavam diferente, mais além.

Com o estabelecimento da ditadura religiosa anacrónica foi o Portugal definhando economicamente vendo seus antigos territórios do Oriente ocupados por povos de outras nações.

A Igreja perde poder com o Marquês de Pombal, que não só pôs fim à Inquisição, como acabou com a proibição dos cristãos-velhos não poderem casar com cristãos-novos, perde influência com a vitória dos liberais comandados por D. Pedro IV sobre o irmão absolutista D. Miguel I, continuando a perder influência na primeira República. Recupera de novo o seu estatuto de principal força moralizadora de hábitos e costumes com a ditadura que o 28 de Maio proporcionou ao escolherem o beato Salazar para governar o país numa posterior santa aliança com o cardeal Cerejeira.

Se aos 285 anos da Inquisição (ditadura religiosa extrema) somarmos os 48 anos da ditadura salazarista (onde a Igreja católica comandada pelo cardeal Cerejeira de mão dada com a política salazarista controlou cidades, vilas e aldeias na mentalidade parametrizada pelos "bons costumes e públicas virtudes" instituídas a Bem da Nação), poderemos compreender muitos dos acontecimentos que ocorrem na moderna sociedade portuguesa que o 25 de Abril de 1974 proporcionou a todos, incluindo as alianças ocultas entre o poder político e a Igreja após o estabelecimento da "Nova Ordem Democrática" em Novembro de 1975.

 

02.03.23

 

Novo mês. Um tempo em que irá procurar mudar um pouco o seu modo de sentir o tempo a passar por si.

Solitário irá seguir, pois não se muda de um dia para o outro; pensa contudo conviver mais com alguns amigos e conhecidos, sem que esse convívio represente o corte com a ausência, porque sabe que não se vai livrar da sua imagem, do seu sorriso.

Irá voltar a observar os canais televisivos, quer os públicos dominados por uma seita, cujos antepassados (pais e avós) regressaram das colónias aquando do glorioso movimento do 25 de Abril e graças à boa vontade do Primeiro Ministro Vasco Gonçalves foram integrados na função pública e nas empresas públicas de então (à boa vontade dos homens do 25 de Abril responderam os antigos colonos regressados com pouca ou nenhuma vontade em colaborar com o Portugal Democrático, as exceções serão reduzidas), assim como irá também ver e ouvir os canais privados, detidos uns de famílias conversos e outros ligados a interesses americanos através de um franchising.

Todos, uns e outros povoados por gente fiel aos donos e antigos jovens da união nacional, ex-bombistas do ELP, que hoje nos canais televisivos são em horários nobres apresentados como nobres democratas de sucesso. Quando alguma vez os ouvir vai procurar conter-se, não os pode cheirar mas pode vê-los e ouvi-los como inimigos que são da promoção do Bem Estar Social garantido por um Estado Social forte e solidário com todos os seus cidadãos, onde os ricos possam ser ricos e os pobres cada vez menos pobres, onde o trabalho possa ir substituindo a errada política de subsídios que hoje vigora como nutriente dos desígnios neoliberais para a divisão e contestação ao pobre Estado Social.

Só no futebol irá continuar a abster-se de ver jogos onde participem as equipas que na sombra instituíram o sistema que domina as competições internas. Só se vai interessar pelos jogos do Sporting desejando que ganhem mas se perderem que joguem bem e produzam um bom espetáculo, já que o sistema do polvo em vigor tem agentes-tentáculos que condicionam jogos e espetáculo.



28.02.23

À hora do almoço ouviu num dos canais detidos pelo converso DDT, conde de Bilderberg, o senhor presidente a comentar a vinda do presidente brasileiro às comemorações do 25 de Abril.

Aquilo que ouviu do senhor presidente não gostou de ouvir sobre a natureza do 25 de Abril. (*)

Senhor presidente, o 25 de Abril de 1974, não foi uma ação insípida, inofensiva, isenta de partidos mas não de política, antes um ato político heroico de jovens militares contra a ditadura fascista-salazarista, logo um ato político carregado de enorme simbologia e heroísmo.

O senhor presidente que nunca cumpriu o serviço militar obrigatório, como os outros jovens da sua geração, é natural que queira branquear a história gloriosa do derrube do regime ditatorial onde foi educado com todas as mordomias que o Estado Novo concedia às famílias protegidas do mesmo, e, onde o senhor era olhado pelos seus padrinhos do regime como um jovem com largo futuro.

Goste ou não o senhor presidente, o 25 de Abril de 1974 derrubou o regime fascista que vigorou em Portugal durante 48 anos. Ao derrubar o regime fascista-salazarista, a ação heroica dos jovens militares, carrega em si uma simbologia política que nem o senhor, nem os líderes políticos, nem os conversos que dominam a comunicação social deste país podem branquear.

Depois, com a chegada da «Nova Ordem Democrática» em Novembro de 1975 a classe política que nos tem governado logo tratou de “matar” a festa popular da conquista da Liberdade e da Democracia, tratando de a restringir às cadeiras do palácio de S. Bento para em anuais discursos de ocasião, cada ano sempre mais longe do sonho que em Abril de 1974 nasceu para o Portugal Livre e Independente.

É na desvirtuação da simbologia que a data representa que um fraco ministro do atual governo, concretiza o convite que o senhor presidente já tinha feito ao então ainda candidato Lula da Silva, para como presidente brasileiro vir às comemorações dos 49 anos da data que permitiu o Portugal Democrático. Nada tenho contra o presidente Lula e a sua vinda. Ele é o líder democrata do maior pais de língua portuguesa, mas o Brasil nunca andou em guerra com Portugal, lutando pela sua independência. Os que lutaram e foram uma das causas que estiveram na origem do 25 de Abril de 1974, foram os vários movimentos africanos em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique que durante treze anos guerrearam o regime português do Estado Novo. Mas o senhor fraco ministro, embora já tenha passado como governante pelo Ministério da Defesa não deverá ter conhecimento das causas que estiveram na origem do 25 de Abril de 1974, ou então já as deitou no lixo por não serem agradáveis para os seus amigos neoliberais de Bruxelas.

Tudo a Bem da Nação, que para lá das tricas internas, Bruxelas aplaude os esforços dos que procuram namorar para o “Ocidente” os presumíveis integrantes impulsionadores mal comportados do designado movimento BRIC’s como embrião de uma nova ordem mundial alternativa ou complementar à atual cujo epicentro em Washington está em crise que se agudiza com a guerra que ocorre na Ucrânia entre o chamado Ocidente liderado pelos interesses americanos e os interesses russos.


(*)Falas ouvidas que o levaram até Silva Porto (1974), quando já depois da data gloriosa do 25 de Abril ter ocorrido em Portugal, passados uns meses integrou uma comissão ad doc de militares do Batalhão que se recusavam a obedecer querendo negociar a ordem que tinham recebido de rodarem para a fronteira norte de Maquela do Zombo; perante as altas patentes militares que comandavam o setor militar e que lhes tinham dado ordem de prisão, o forte argumento dos militares-milicianos para quererem desobedecer à rotação ordenada por Luanda, era a de que também o 25 de Abril tinha sido efetuado contra os preceitos das normas e regras militares estabelecidas pelo Estado Novo no RDM – Regulamento de Disciplina Militar, pois se o mesmo RDM fosse cumprido nunca se teria verificado a data gloriosa do 25 de Abril de 1974.

(foto da net)

26.02.23

Olha o pequeno ecrã do seu telemóvel sem saber o que irá escrever das suas memórias recentes e passadas. Não tem visto nada sobre o que dizem as falsas verdades ou as meias mentiras do pensamento único ocidental na versão atlantista, como se o mundo do Planeta se resumisse apenas a esta região.


Limita-se a olhar as primeiras páginas dos jornais, fazendo-o mais por curiosidade do que por acreditar no que escrevem os servos dos patrões conversos. Toma nota dos artigos miniatura que aparecem sobre a maldita guerra que ocorre em terras do leste europeu. Lê opiniões de quem sabe mais do que ele, defendendo posições dos dois lados em contenda. Cala-se e aguarda o futuro porque o sofrimento gerado pela guerra está para durar.

A guerra é também uma necessidade que os mandatados políticos dos países imperialistas desencadeiam sobre outros povos como forma de garantir o funcionamento da economia do seu território.

Alguém é capaz de imaginar o mundo do Planeta Terra sem a grande indústria do armamento militar?

Alguém é capaz de imaginar o que seria a depressão económica que o fecho de todas as fábricas geradoras de material militar bélico iria gerar?

O chamado desenvolvimento da economia atual, precisa da indústria militar bélica assassina que o marketing comunicacional nos vende como a forma de garantir a defesa dos próprios países, precisa dos crânios investigadores para o desenvolvimento de novas armas mais poderosas e assassinas de vidas humanas de destruição implacável do meio ambiente, porque elas tudo destroem ao detonar.

A espécie Homo Sapiens impôs-se no Planeta pela força que a sua inteligência mostrou sobre os outros seres vivos existentes, nunca parando na sua evolução no seu espírito de guerra consigo e com os outros seres.

Hoje estamos aqui, também como fruto das guerras que os nossos antepassados desenvolveram defensiva e ofensivamente. Estamos sem que felizmente pensemos todos de igual modo. Faz parte da existência a luta dos contrários, a dialética do cara ou coroa. Santos e milagres só existem no mundo da fé dos crentes religiosos e nada mais, pelo que não há bons nem maus, somos todos mais maus que bons, uns piores que os outros, mas como um dia escreveu o então Padre Felicidade Alves, "Deus em sua transcendência a todos quer bem". 

(foto da net)

23.02.23

Nos últimos dias, fora do mundo, tem escrito com esferográficas num caderno, as notas soltas da sua loucura com a ausência, que começou no telemóvel, terminando depois no computador onde as guarda, quer no disco quer numa pen, o que vai escrevendo desde 2015.

Poucas são as notícias televisivas que vê, pois que por vezes ao ver a hipocrisia das mesmas reage e o caldo em casa entorna-se. Desistiu, nada há a fazer quando se emprenha pelos ouvidos e se rejeita liminarmente ouvir o outro lado, ou pensar que talvez as coisas não sejam como nos contam e dizem. Numa guerra há sempre pelo menos dois lados antagónicos, sendo a verdade a primeira a desertar ainda antes de se ouvir o primeiro tiro.

No mundo já não há bons e maus, somos todos mais maus que bons, uns menos e outros mais. Só ouve e lê quem andou em alguma guerra presenciando os crimes que a mesma potência; o ser humano transformado em instrumento de guerra esquece a racionalidade, transforma-se no animal que tudo fará para se salvar vivo daquele inferno. Comentar a tática e a estratégia de uma guerra sem conhecer “a ansiedade do pré-combate”, “os pentelhos do cu a bater palmas” quando as balas ou as bombas sobrevoam a cabeça, é como servir o chá das cinco em serviço da Companhia das Índias num grupo restrito de senhoras acompanhadas dos seus esposos numa reunião com vista a angariar fundos para os inválidos da guerra, inutilidades de gente oca sem medula que se curva e vende ao sistema gerador da própria guerra.

Putin é o que é, de todos conhecido o seu nacionalismo sem olhar aos meios, tudo lhe serve para garantir a sua ambição, mas os outros líderes políticos que em oposição financiam a guerra sem olharem às mortes e desgraças humanas, não são nem melhores nem piores, são quase iguais na ambição de poder, sendo certo que o diabo há muito desertou do convívio com estas lideranças sejam elas mais a leste ou mais a oeste.

Assim, refugia-se no seu casulo, procurando exercitar a escrita à mão para fugir da dependência informática que silenciosamente o dominava.

Com os textos que vai encontrando e selecionando criou um outro capítulo no computador onde os guarda paralelamente. Enquanto o caderno irá para uma gaveta no sótão do seu canto, no computador será impresso, para depois encadernar  a fim de procurar por um ponto na loucura arquivando-a no fundo do subconsciente, em busca da paz e do sossego que procura encontrar para o resto da sua caminhada. 

No final ninguém leva nada desta vida, até as recordações cá ficam esquecidas, quantas vezes perdidas numa lixeira qualquer à espera de serem recicladas. A dúvida existencial prende-se com o que acontece com as boas e as más ações praticadas pelo espírito encarnado quando se dá o fim dessa dualidade. 

 

Por regras que desconhece por desinteresse próprio, hoje é domingo gordo, também designado domingo de Carnaval. Como nunca foi de Carnavais, nunca percebeu porque tanta gente se desmascara nestes dias, não sendo agora que se vai interessar por entender o significado do Carnaval, respeita os que vivem a designada folia carnavalesca.

Quando era jovem em casa de seus pais neste dia de domingo havia na mesa do almoço a tradicional bexiga de porco que seus avós lhes enviavam a tempo para o almoço deste domingo. Só se seu pai estivesse de serviço é que a tradicional bexiga se comia na terça-feira de Carnaval, porque depois o mundo da fé católica apostólica romana entrava na quaresma. Um tempo que para os pobres crentes da fé católica era um tempo de abstinência onde só alguns mais endinheirados podiam de acordo com os preceitos religiosos continuar a alimentar a gula porque ao pagarem a bula trocavam a ação pecaminosa por umas moedas e os agentes da fé tudo lhes permitiam sem o tenebroso pecado da gula a pesar-lhes na consciência.

Era para ele um tempo difícil. Ao não entender o carnaval juntava-se o sacrifício de à mesa ter de comer o que não gostava de comer e quantas vezes ficava sozinho com o prato à frente a fim de ter de comer o que lhe punham no prato como almoço e ai dele se se levantava da mesa sem ter comido tudo. Tempos difíceis em que não era uma boa boca.

Com o tempo e o conhecimento da crua realidade que se vivia, foi-se habituando a comer de tudo. Já maduro a entrar para a velhice um dos prazeres da vida é degustar uma boa bexiga de porco no dia de hoje. Comprou no talho em Idanha a Nova e no mini-mercado da Zebreira. No talho a designação é bexiga, já no mini-mercado trazia a etiqueta de "bucho de ossos", coisas do pessoal do marketing, como se bexiga não fosse apelativo. O que importa é o conteúdo com que se enchia antigamente a própria bexiga do animal depois de bem lavada, hoje como antigamente, fazem-se usando o mesmo material com que se fazem os chouriços, paios etc.

Tradições da Beira Baixa raiana onde o porco era o animal que garantia o sustento da família por largos meses, já que tudo se aproveitava para o fumeiro, nada de grandes festas no dia da matança, que os tempos eram difíceis e havia que salvaguardar o futuro próximo.

 

15.02.23

 

Nunca fez greve. Defende a existência da Lei da Greve, é um direito dos trabalhadores, que tão atacados tem sido indiretamente pelas sucessivas alterações à Lei do Trabalho em obediência às sempre novas exigências dos pragmáticos liberais acérrimos defensores do capitalismo puro e duro à vontade do dono.

Pouco tem a favor das greves que os sindicatos dos professores estão desenvolvendo. Pouco tem a favor da política economicista que os sucessivos Governos têm levado a cabo na Educação, na Escola Publica.

Não sendo professor, não tendo filhas na escola, apenas as suas netas frequentam e bem a escola pública, compreende os inconvenientes que as greves sempre provocam nas vidas familiares. Compreende e aceita.

A educação cívica dos jovens começa e acaba em casa com seus pais. A escola pode e deve ajudar, sendo na sua função educativa a implementação dos saberes que permitam aos jovens a sua emancipação humana e intelectual, com base nos conhecimentos científicos e filosóficos, que os professores lhes transmitem.

De volta à cidade arrabalde da cidade grande um dos seus percursos matinais leva-os a passar junto de duas escolas de ensina público. Escolas que estão separadas por um grande parque de estacionamento que serve de apoio à estação dos comboios suburbanos e regional, assim como aos vários autocarros da agora designada Carris Metropolitana, antiga Rodoviária de Lisboa (muda-se o nome para que tudo continue na mesma com novas cores).

Das várias passadeiras que na sua caminhada atravessa há uma que dando acesso ao parque de estacionamento, tem logo uns dois a três metros à frente um cruzamento onde os que se apresentam pela direita perdem a prioridade pela sinalética implementada por quem de direito.

Ontem ao chegarem à passadeira como é seu hábito e da sua amiga Sacha pararam. Nisto vem uma viatura conduzida por uma senhora que nem fez intenção de parar para que pudessem atravessar, mas logo logo soube buzinar de forma pouco agradável a um outro condutor que não respeitando a perca de prioridade se atravessou apressado para estacionar no parque. Seguiu com o olhar atento o percurso da senhora e viu o carro entrar para as instalações da escola secundária.

Hoje, no mesmo local de novo pararam ao chegarem à mesma da passadeira com a Sacha a sentar-se aguardando o sinal de poderem atravessar. Ele na beira do passeio olhou e viu vir um carro que passou por ele sem fazer a menor intenção de parar. A senhora que o conduzia nem para eles olhou. Seguiu com o seu olhar atento o rumo do carro, se iria estacionar ou se também iria entrar na escola secundária, o que na verdade aconteceu.

Dois dias, dois casos de funcionários de uma escola pública cujos professores sabem e bem pedir "Respeito". Dois casos que de certo não representarão o corpo docente da escola, mas como podem aquelas previsíveis professoras, mais do que “contínuas” agora na nova designação de Auxiliares de Ação Educativa, pedir "Respeito" se elas não respeitam o pacato cidadão numa passadeira de transito bem sinalizada, quando estão fora da sua atividade profissional?

Um exemplo que felizmente não será regra geral, mas que o ajudam nas duvidas que tem sobre as greves que os sindicatos dos professores estão desenvolvendo assim como da ação dos representantes do Governo nas negociações em curso, pois que os dois lados com as razões que possam ter, não estão a dignificar a Escola Publica como está consagrada na Constituição da Republica..



10.02.23

São 20H0. Já jantou, já foi para dentro de casa. A Sacha já está na cama dela. Impera o silêncio do tic tac do relógio. A salamandra já aqueceu a casa e aqui na divisão onde a tem está calor. Dizem que a lenha de eucalipto ainda dá mais calor mas só usa lenha de azinho. No passado inverno comprou uma tonelada ao António. Começou a utilizar essa lenha ontem. Antes, ainda queimava a lenha de há dois anos. No próximo mês quando voltar talvez ligue de novo ao António para lhe fornecer mais uma tonelada, é que está tudo a aumentar de uma forma preocupante. 

Os vizinhos espanhóis queixam-se dos aumentos que estão a suportar no gás canalizado e na eletricidade, sendo que esta teve um incremento de 76%. Até o combustível agora em Espanha está mais caro do que em alguns postos de abastecimento em Portugal. Assim, como só tem uma bilha de gás vazia não foi nem irá à Zarza La Mayor, aguarda que outra esteja vazia para compensar lá ir buscar duas botijas de gás butano.

Os olhos começam a pesar. O tic tac do relógio como que o embala. Está cansado. Andou todo o dia a trabalhar no quintal podando a figueira para os ramos não subirem tanto dificultando depois a apanha dos figos, varrendo o quintal, preparando os dois talhões de terreno para depois de almoço lavra-los com a moto-enxada elétrica, endireitando-a com o ancinho, para no final da tarde preparar a salamandra para esta noite aquecer a casa. Os olhos pesam, as artroses dos dedos das mãos doem-lhe por não estarem habituados a estes trabalhos, e, já nem teve força para ir varrer de novo o quintal que ao lavrar se sujou com a terra que sempre salpica para fora dos limites.

Não tem mãos para continuar a escrever à mão no caderno, fá-lo no telemóvel para amanhã de manhã continuar e quando se encaminha para o quarto pergunta-se a si próprio, porque aos 72 anos andar nestes trabalhos? Porque não é ele como muitos outros citadinos reformados? Que necessidade tem de castigar o corpo desta forma? Sem respostas deita-se na esperança que amanhã será outro dia, satisfeito por o malvado pingo não ter dado sinal nestes dias de intenso trabalho corporal para a sua idade.

Já passam das 6H00 do dia 11.02.23.

Ao acordar pensa que não podia recordar o seu pai se não tivesse feito o que fez às oliveiras do Chão da Horta. Nem todas sofreram o corte profundo, lembrando o que o amigo Zé lhe disse. Gosta de saber as coisas deste campo assim como tem de aprender a conhecer as qualidades das oliveiras quando elas não têm o fruto, a azeitona, porque essas já as conhece. Se tiver saúde no final do ano, irá plantar lá no Chão umas oliveiras para substituir as que morreram ou estão sem saúde quase mortas.

No quintal não arrancou a romãzeira, deixou-a ficar dando-lhe também uma poda grande, a ver se o ditado dos antigos funciona como funcionou no limoeiro e laranjeira que afinal tem o tronco mãe de limoeiro enxertado em três qualidades de laranja.

Amanhã irá voltar para Alverca. Como hábito dos últimos anos, já sente vontade de voltar ao seu canto e ainda não partiu, só amanhã de manhã o irá fazer. A vida das cidades já pouco ou nada lhe diz. As cidades tornaram-se impessoais, uma selva irracional onde o egoísmo foi deitado à terra e floresceu em betão e em Homo Sapiens correndo em busca de posição social agredindo-se uns aos outros, tudo bem orquestrado por agentes televisivos propagandistas encapotados vestidos como gente de bem, servis de falso humanismo. Por isso mesmo no seu pequeno canto os dois aparelhos de televisão pouco uso lhes dá, sentindo-se melhor ao não tomar conhecimento da ação psicológica que os servos dos patrões conversos difundem.

Não foi este mundo que sonhou quando em erupção a abandonou sem lhe dar uma explicação das razões dos porque de tal atitude. Ainda hoje está convencido que ela não o iria acompanhar na revolta contra a sociedade que brotou nele naquele tempo amordaçado pela ditadura salazarista em união com o clero retrógrado de um cardeal saudoso dos tempos proibidos pelo grande Marquês de Pombal. Os dois velhos tiranos amordaçaram o país numa miséria temente sem respeito pelo ser que pensasse e sonhasse diferente. Ele integrou esse exército de revoltados sonhadores, continuando após tantas desilusões a sonhar com um modo de vida diferente e muito mais decente do que o desta pobre e ultrajada democracia. 

Prepara-se que são quase 7H00. Vai buscar pão fresco à padaria para amanhã levar. Vai mas não vai sozinho, com ele seguem lembranças que cultiva na sua vida simples de solitário no meio dos outros.


08.02.23

 


Depois de reler o que tinha escrito publicou-o na sua página do facebook, onde ainda se mantém.

A Sacha entrou no quarto como que a questioná-lo sobre a hora de se prepararem para a volta matinal. Levantou-se e abriu-lhe a porta para ela ir para o telheiro ver o fraco movimento na Estrada Nacional R240 a esta hora da manhã. A salamandra já não estava quente mas a casa mantém uma temperatura agradável face ao frio que o vento e a chuva de nordeste trouxeram. O IPMA num dos e-mail que lhe envia noticiava que a tempestade anunciada para o país vizinho não iria afetar o Continente português, mas estamos na zona de fronteira, um pouco mais longe de Madrid do que de Lisboa. A volta matinal terá de ser mais curta debaixo de chuva gelada.

Depois da molha matinal a chuva resolveu calar-se, mas o frio ficou num dia cinzentão.

Olhou as fotos no computador e publicou algumas, das que vai tirando quando passeia com a sua amiga ou anda pelas ruas da freguesia. Foi depois tratar de preparar o almoço. Tinha tirado da arca congeladora duas pescadinhas de rabo na boca, duas postas de pescada para fritar. Gosta do peixe frito mesmo frio. Já tinha cozido na panela de pressão as ervilhas que apanhou no ano passado praticamente secas e rijas. Cozeu-as para fazer uma sopa, que com este tempo sabe sempre bem uma sopinha quente. Utilizou os últimos tomates que tinha congelados. Gosta mais do arroz de tomate utilizando os tomates do que cozinhando com os enlatados ou pacotes de tetra-pack que se compram nos supermercados cheios de conservantes. Gosta de cozinhar a sua comida, andando numa fase de utilizar apenas alho, louro, alecrim, cebola e salsa, nada de pimentas e ou outros condimentos. Fritou o peixe no azeite e ao envolvê-lo em farinha utilizou em partes iguais farinha de trigo e de milho, deixando assim o peixe mais crocante. Almoçou no telheiro a ver a passarada no quintal. Pequenas coisas que lhe alimentam o espírito, sentindo uma liberdade que para si é difícil encontrar em noutro local.

08.02.23

 


Passou os olhos pelas capas dos jornais, duvidou e voltou a relê-las com mais atenção. Como não conseguiu ver nenhuma notícia, nenhuma chamada de atenção sobre a inglória guerra que ocorre no leste europeu e sabendo ele que a mesma continua a matar muitos infelizes inocentes, sorriu de tristeza pela forma como hoje a comunicação social publica escritos, publica fotos chamariz de misérias classificadas de sensacionalistas num "copy and paste" do que lhe mandam ou ordenam as centrais de informação e os seus donos conversos.

Chamou-lhe a atenção, não se admirando, os prejuízos anunciados para a rádio e televisão pública. A tutela que superintende os destinos da empresa há muito que dá mostras de a assassinar já que privatiza-la apresenta-se complicado mas não tão difícil assim, seguindo a política que levou à privatização de outras empresas públicas onde paulatinamente os governos do "centrão" nomearam altos gestores de bons fatos e gravata para as irem destruindo patrimonialmente, sempre sobre a supervisão superior dos interesses liberais e neoliberais dos amigos que vivem nos corredores de Bruxelas, exemplos não nos faltam infelizmente. Na verdade a televisão pública está uma miséria de qualidade informativa e não só, não se apresentando como alternativa aos cidadãos que não veem os canais privados dos patrões conversos.

Vivemos rodeados de histórias de milhões. Milhões para tudo, indemnizações, lucros, prejuízos, obras faraónicas inúteis, bónus dados e previsíveis, compensações ao Novo Banco, e até para a guerra nos mandam "os senhores da guerra" dar milhões, sendo que no bolso da maioria dos pacatos cidadãos trabalhadores, reformados e pensionistas cada dia o dinheiro no bolso é menor, cada dia as contas do orçamento familiar são mais e mais complicadas, às vezes sem solução positiva. Lentamente vamos empobrecendo coletivamente, numa alegre democrática versão atualizada do "Tudo A Bem Da Nação" e porque estamos em tempo de Carnaval há que foliar porque misérias não pagam dívidas, amanhã será outro dia e logo se verá como regularizar a vida mais do que as dívidas.

domingo, 19 de março de 2023

07.02.23

 Dormiu de um sono só as suas cinco a seis horas. Sentado na sua velha cama de ferro, tomando as suas notas, fecha os olhos e deixa-se entrar no mundo dos "ses" sabendo que não há volta a dar.

E já passaram 12 horas desde que se levantou. Depois de mais um dia no campo de volta das oliveiras, andou à tarde de volta no quintal dando volta ao abrigo onde guardou a lenha de azinho que comprou à dois anos e que hoje acabou. Acendeu a salamandra, ouve a Antena 2 e escreve. Hoje o dia com algum vento de leste acabou por ser mais frio que os anteriores, quando a temperatura mínima até foi superior. Logo de manhã ao iniciar o trabalho com o serrote ao cortar um tronco quase seco que dava para a quelha o serrote manual apanhou-lhe o dedo anelar da mão esquerda, conseguindo estancar o sangue com um lenço de papel para poder continuar o trabalho. Teve sorte por o corte ser leve. Espera que mesmo não vá infetar, embora o incomode de dor.

É assim a sua vida de solitário aqui na aldeia, sentindo a paz quando está no campo e parando por momentos para ouvir e sentir essa mesma paz longe da confusão citadina, longe das peripécias políticas nacionais e internacionais, embora elas também existam aqui ao nível local. Está a sentir-se cansado, desiludido com o caminho com que a política conduz a vida. 

06.02.23

 


Mais um dia em que acordou ainda a noite dominava o novo dia. Pela informação obtida no seu aparelho de comunicação o frio continua à solta lá fora. A pequena salamandra aquece a casa que também é pequena só de dimensões.

Casas grandes foram mais uma invenção do sistema. Quando se é jovem gosta-se de casa ampla espaçosa para de ilusão em ilusão o sistema de vida que levamos as encher de móveis atulhando o espaço inicial espaçoso. Depois com a idade a avançar o trabalho de tê-la limpa aumenta sempre mais do que as próprias forças, e, nem todos podem recorrer aos serviços externos de limpeza.

Estava ele com as suas divagações quando caiu em si. Herdou dos pais um pequeno chão de oliveiras. Nas partilhas com o irmão o chão da Horta como o designam nem entrou tão residual é o seu valor. Diz-lhe um amigo que o campo hoje não tem valor porque ninguém compra trabalho e incertezas. Verdade. Contudo, ele que nada entende das coisas do campo, aceitou tomar conta dos dois terrenos que os herdeiros do tio avô Capelo não conseguiram vender, sendo o terreno maior de oliveiras. E não contente acabou por acordar a compra de mais um chão de oliveiras com o seu primo António. A casa, que é o seu canto, foi construída num terreno que pertencia aos seus avós maternos que a herdaram dos pais da sua avó Maria. Quando falava com o seu primo das dificuldades dele vender a casa e o terreno que cá têm, e, como o dito terreno deve ter sido herdado pela irmã da sua avó, logo pertença dos seus bisavós maternos instintivamente acordou ficar com o mesmo, sem se lembrar quer da idade, quer do trabalho para a manutenção das oliveiras. É certo que o amigo Zé o orientava mas com o falecimento da sua mulher não aguentou a solidão dos porquês indo embora para junto da filha mais nova que é diferente. Mas, muito antes o amigo aconselhou-o a deixar o seu vizinho António a colocar as suas ovelhas e cavalos, primeiro no Chão da Horta, depois na Balasca e no chão da Eira do seu tio avô (onde têm semeado e colhido bom feno para os animais), e, agora também no Chão da Horta da Corona. Em troca o António e o genro mantêm os muros de pedra que com a idade por vezes se desmoronam, assim como os limpam das malditas silvas invasoras. No fundo olham pela sua manutenção e não abandono. 

Quando anda pelas quelhas e vê uma velha oliveira coberta de silvas sente tristeza ao olhar a desgraçada.

Ontem o primo António telefonou-lhe para o convidar a participar no almoço familiar anual do arroz de lampreia, na próxima quinta - feira, mas ele ainda por cá andará pelo que não irá comparecer ao pitéu que tanto gosta. Quando voltar irá visitá-lo para acertarem as contas da compra do chão da Horta da Corona, nem sabe como irá fazer pois que acordou pagar o valor que o amigo Zé lhe tinha dado como valor de mercado quando andavam a apanhar a azeitona em dezembro de 2021. O primo propôs-se pagar o material para cercar com rede o terreno, só que tendo ido comprar a rede, os paus e mais arame o valor que pagou é superior ao valor de compra acordado. E, no valor não está a mão-de-obra do genro do António. Mete-se em cada alhada.

Ontem também a sua prima Olga o convidou para ir almoçar com eles a Castelo Branco. Não foi, mas combinaram que durante esta semana ele telefonaria para acordar o dia.

Tem 72 anos, nunca o seu forte foi a força de braços. Os relatórios dos 3 tac's que fez à coluna com todos aqueles nomes não fáceis de entender indicam-lhe que a pobre coluna apresenta os sinais do tempo de vida com algumas preocupações. Coisas de velho, que sem tac's ou ressonâncias vai sentindo as dores por erros que cometeu quando jovem.

Sozinho e mais velho, prepara-se mentalmente que tem de começar a limpar as oliveiras do chão da Horta, não imaginando como se irá desenrascar com tal tarefa.

Já são horas de se vestir e ir passear com a sua amiga.

Não sabe porque escreve estas coisas da sua vida de solitário. Sabe que escrevendo se mantém vivo, não deixando os "porquês" ou os "ses" dominarem o pensamento pois eles nada resolvem e nada ajudam, podendo mesmo abrir portas à solidão, que já por duas vezes andou rondando no quintal, não a deixando aproximar-se da porta quanto mais entrar no seu canto no seu palácio.

05.02.23

 

Tem duas televisões TDT em casa. O pouco que vê são os canais informativos dos vizinhos espanhóis, até ao momento em que entra a guerra, desligando de imediato, para voltar na manhã seguinte. Os canais portugueses só os sintonia se transmitirem algum jogo de futebol que lhe interesse, de resto não dá ouvidos a servos de conversos.

Há tanta coisa a fazer que ficar a ver televisão é perder dias, semanas, meses ou anos de vida a poluir o cérebro já de si cansado com as dificuldades da vida real. Vida de dificuldades que não passa nos ditos ecrãs televisivos.

Vive-se numa ilusão bem mais tóxica, do que as ilusões sonhadas nas décadas de 60 e 70 do século passado. Metralham-nos com siglas e rácios, que criaram para nos adormecerem os neurónios, nunca nos dizendo não só o valor exato da dívida pública, como quem são na verdade os nossos credores. Sabemos que grande parte da enorme dívida americana está nas mãos dos chineses, mas não sabemos quem detém a nossa grande dívida. Fazem dela tudo e mais alguma coisa, recusando-se na verdade a olharem ao país real e concreto, que envelhece pelas condições da vida de trabalho proporcionada aos jovens; obedecem copiosamente aos liberais e neoliberais que se instalaram em Bruxelas, sem se submeterem ao escrutínio do voto direto e popular, para sem rosto imporem a vontade, a filosofia de vida do sistema americano, degradando lenta mas de forma eficaz o velho conceito do Estado Social Europeu.

Em 1580 um clero ortodoxo do pior cristianismo, juntamente com uma nobreza atulhada em corrupção, entregaram os destinos do Reino a Castela.

Hoje, nomeiam-se ministros por darem provas de serem ou para serem bons executantes das ordens de Bruxelas. Vivemos iludidos de mão estendida ao dinheiro dos outros.

Os intelectuais de uma dita esquerda parlamentar e auto proclamados liberais-de-esquerda, procuram dar nas vistas promovendo a discussão de situações fraturantes para a sociedade portuguesa, como é o caso da eutanásia.

Com um SNS doente de uma fraqueza anémica quase crónica, sem que se veja vontade governativa de investimento sério, real e concreto em meios humanos mais do que técnicos; um SNS onde o cidadão comum do regime geral espera , espera e aguarda por um exame, uma consulta, uma cirurgia, para que perder-se tempo e dinheiro criando divisões profundas entre os portugueses, quando o mesmo SNS não oferece condições para o cidadão que venha a poder optar pela morte assistida, o possa fazer condignamente sem pôr em causa todo o restante funcionamento do SNS.

Um tresmalhado que gosta mais de ouvir as conversas e a música dos ventos nas copas das oliveiras, diferente das azinheiras, o grito de raiva das ondas do mar revolto na areia diferente do das rochas, do olhar o silêncio, ouvir a sinfonia das aves, do que ouvir servos de conversos, não se julgando detentor de nada, um insignificante que continua a sonhar e a ter vontade, mais no espírito do que no corpo, de ainda poder ver a utopia da sociedade mais decente do que esta sociedade-ilusória que contra sua vontade ajudou a criar.



quinta-feira, 16 de março de 2023

02.02.23

Hoje chegaria aos 123 anos. Nasceu segundo os registos, aqui na Zebreira em 1900, o segundo de oito irmãos, sete rapazes e uma rapariga. Foi o seu avô materno. Um ser complicado e complicativo. Regedor no Estado Novo, escrivão da Junta de Freguesia e também legionário. Porém não se recorda de alguma vez lhe ouvir uma opinião a favor ou contra o regime do velho ditador. Foi Guarda Fiscal em Salvaterra do Extremo quando do outro lado da fronteira andavam em guerra civil (1936-1939). Recorda ouvir-lhe comentários sobre os fugitivos espanhóis que atravessavam a fronteira a fugirem da guerra e das tropas do general Franco; os primeiros que foram apanhados deste lado, cumprindo ordem do velho tirano, Salazar, foram entregues aos Carabineros franquistas para logo estes os fuzilarem; ao tomar conhecimento da barbárie que as forças franquista executavam, alguns outros fugitivos deixaram passar ou ficar escondidos como se não os tivessem visto. Nunca foi homem de muitas missas mas morreu na sacristia quando se preparava para mandar rezar uma missa pela alma da sua mulher, falecida no ano anterior. Viveu viúvo um ano, menos um mês menos um dia. Morreu o seu avô Chico Capelo a 24 de Outubro de 1971. A sua avó Maria Isabel morreu a 25 de Novembro de 1970.

Guarda dele a imagem de um homem complicativo, um "chiça azedo" sempre a fumar o seu Kentucky (mata ratos) que tinha uma caligrafia muito bonita, que ao segundo copito de vinho branco ficava entornado com a ruindade à solta, um homem que quando iam ver televisão à Casa do Povo ficava sempre cá atrás perto da porta da rua porque lhe dizia que se o soalho fosse abaixo não queria morrer de morte macaca. Viveu 71 anos, foi o Chico Capelo. 

 

28.01.23

Frio. Esta noite fez frio. Diz-lhe o seu aparelho de comunicação que lá fora está 1 grau. Sente-o. Acordou cedo, foi à casa de banho, lavou-se e para fazer tempo sentou-se na cama, subiu o termostato do aquecedor a óleo, viu que ainda não tem visíveis as primeiras páginas dos jornais e escreve, vendo que a bateria já deu sinal de que precisa de ser carregada. A Sacha já está deitada ao fundo da cama. São seis e um quarto, lá fora ainda a noite domina a madrugada.

Como acontece quando volta a casa neste tempo de inverno a mesma está fria, falta-lhe o calor humano para se tornar mais aconchegante, já que os espíritos desencarnados que por cá possam andar não a aquecem. Pouco se importa, sabendo por experiência que a casa desabitada enche-se de solidão, o frio gelado das suas paredes são lágrimas frias do medo que tem em ficar abandonada, como tantas estão aqui na aldeia. Há ruas onde ao passar se sente o choro frio das mesmas. Casas que em outros tempos foram abrigo de famílias numerosas que a evolução da vida e não do tempo deixou vazias, abandonadas, algumas desmoronando-se de tanto sofrerem com a sua tristeza.

A dureza incerta da vida nestes campos levou-lhes a alegria para outras terras da beira-mar, das cidades grandes onde encontraram melhores condições de trabalho. Muitos arrastam-se por lá indiferentes às suas origens, criaram novas raízes, novos amigos e familiares, outros porém até fizeram reabilitação das suas casas familiares para virem à terra uma ou outra vez nas alturas festivas. De novo a evolução, agora mais da sociedade que da vida, criou-lhes novos hábitos, novas ilusões para a felicidade, ficando a terra sempre mais distante, porque dizem depois, que não há condições para as pessoas e os jovens se divertirem, não há um restaurante, um cinema, uma discoteca etc, ou seja, na cidade grande já perderam o conto aos dias em que não vão a um cinema, porque a televisão lhes dá tudo, mas no desertificado interior era necessário. Restaurantes e discotecas existiriam se houvesse pessoas, gente que cá vivesse, mas para isso é preciso aquilo que ao longo da história não tem existido, ou seja, investimento público que impulsione o investimento privado que garantisse trabalho remunerado, não a doença crónica dos subsídios, mas trabalho remunerado que o campo dificilmente tem condições de remunerar, apenas a indústria o poderá fazer. Mas onde estão os apoios efetivos a essas indústrias criadoras da oferta de trabalho remunerado? Que fazem os governantes e autarcas municipais? As Juntas de Freguesia não tem condições para inverter a desertificação das suas povoações, só o poder central poderia lutar contra essa doença crónica do país, mas eles só se lembram de Santa Bárbara quando fazem trovões e precisam dos votos em urna.

Vêm os políticos governantes visitar o interior anunciando obras públicas já antes em anos e governos anteriores anunciadas, prometidas. Algumas dessas promessas agora ditas a realizar são falácias por nada contribuírem, antes pelo contrário, para a riqueza e desenvolvimento deste interior abandonado à sorte das suas gentes trabalhadoras. A barragem do Alvito no Rio Ocreza de novo prometida tem nova configuração, menor capacidade mas que se faça já ontem porque hoje já é tarde. O famigerado IC31 ou A… qualquer coisa, irá ter mais estudos de impacto ambiental em alguns troços, o que como se sabe é a maneira mais fácil de se empurrar para a frente a sua realização, que até é discutível como investimento a favor do desenvolvimento, pois o seu grande benefício será para o transito rodoviário entre Lisboa e Madrid, se não houver pagamento de portagens, caso contrário a R240 continuará a ser utilizada por muitos dos camiões que hoje fazem esse intercâmbio comercial entre os dois países ibéricos.

Para o desenvolvimento do interior, mais do que gastar milhares ou milhões em betão e alcatrão em estradas que só enriquecem os bancos e as grandes empresas construtoras, é necessário o governo central ter coragem política e saber fazer a implementação de uma política fiscal diferenciadora para a região que potencie a criação de riqueza pela fixação de empresas transformadoras, mais do que prometer apoios em subsídios com os dinheiros dos interesseiros da «PAC-UE», pois já levamos muitos anos na U.E. e os resultados dessas faladas ajudas estão à vista na continua desertificação das pessoas em idade de trabalho e consequente abandono dos campos de cultivo tradicional, agora à mercê das grandes plantações intensivas e super intensivas, presumivelmente inimigas do eco-sistema e da biodiversidade da região.

Que a abençoada chuva possa regressar depressa, não só para amenizar este frio de geadas, como também para regar os campos que já rezam por ela necessitando dela para a sua reabilitação produtora de bens.

 

25.01.23

 

Acorda nostálgico de um tempo que não viveu. A nostalgia tem sido sua companhia nos últimos dias. Às vezes a nostalgia convida a tristeza para lhe fazer companhia. Sabe a origem do seu estado, do seu viver solitário no mundo dos outros, dia a dia mais desenquadrado, tresmalhado até, vivendo numa concha que se vai fechando, guardando nela a esperança que ainda o acompanha, mas até esta vai perdendo brilho, ficando pouco a pouco mais baça.

Os ombros sentem o peso da silenciosa loucura que indiferente ao seu desejo se instala e o castiga. Não lhe chegava o silêncio das filhas para carregar aos ombros, que agora tem de carregar também o peso da silenciosa loucura.

Indiferente ao frio ou ao calor o seu organismo vai funcionando mesmo que por vezes sinta medo de dores novas não conhecidas. Quando o medo das dores o invade a sua preocupação é a Sacha, quem irá tomar conta dela, quem irá andar com ela?

Os olhos ainda sorriem quando se olha ao espelho, ainda se humedecem quando se recorda dos mimos da mãe, dos olhinhos de seu pai sorrindo quando iam os dois comer o bacalhau à brás nas Termas de Monfortinho, pais especiais os seus. Sabe que não pode viver do passado, pois este foi uma lição de um livro sem folhas, só tem o presente já que o futuro não existe, sendo apenas formado por sonhos e desejos não se sabendo nunca como é o vazio a que se chama futuro.

Em Alverca, na Consolação ou na Zebreira o seu organismo desperta depois das cinco ou seis horas de sono. Por vezes fica acordado até sentir que já chegou às seis. Sente sempre saudades do seu quarto na Zebreira onde acordado na sua cama de ferro dos seus antepassados, pode olhar os ramos da velha oliveira que lhe indicam como vai o vento, se a chuva caiu durante a noite, como está o céu. Na cidade dormitório ou na praia não conhece essa felicidade de poder dormir olhando o céu por entre os ramos da velha oliveira.

Hoje antes de sair voltou a olhar as previsões da temperatura no seu aparelho de comunicação. 4 graus em Alverca. Saiu com a sua roupa normal, apenas trocou a boina por um gorro que a companheira lhe fez. Na rua viu gente enroscada em roupa e muitos outros como normalmente os vê nas suas deambulações pelas ruas da urbe com a Sacha. O frio é o normal deste tempo de inverno, e, o mesmo tem sido ameno não se podendo queixar do frio segundo o seu entender de tresmalhado, só agora nos últimos dias foram visitados por esta frente fria polar. Frio, frio conheceu ele em Angola no interior a 1500 metros de altitude na época seca a que chamam cacimbo, aí sim conheceu o frio. Nos últimos anos com as suas estadias na Zebreira onde o frio também aperta, foi-se acostumando e é assim que estranha ver tanta gente enroscada em roupa. Na cidade em casa não usa aquecedor elétrico na divisão onde passa a maior parte do tempo, veste um casaco polar e coloca sobre as pernas uma manta passando assim os invernos. Voltou a não apanhar a vacina contra a gripe, nem mesmo a vacina que dizem ser reforço para a nova variante do virús “sars-cov-2” foi apanhar.

Passa os olhos pelas notícias da guerra. Notícias não televisivas, pois não acredita no que falam as televisões. Aliás, de verdade não acredita em nenhum dos vários lados da guerra. Não acredita porque não gosta dos políticos que promovem a presente guerra, nem dos outros sonsos que a apoiam. Como na maioria das guerras quem se lixa é o mexilhão, ou seja, os soldados que combatem na frente das batalhas. Horrorosa é a guerra porque numa guerra sempre se cometem horrores. O ser humano transformado em máquina de guerra é capaz de fazer o que nunca pensou, ou seja, o impossível sem olhar aos meios, nem se importar se é ou não justo porque as máquinas não pensam, sabendo ele que só matando o outro poderá sobreviver à própria guerra. É fervoroso defensor da paz entre todos os povos do Planeta. Nenhum povo tem direito de impor ao outro, vizinho ou não, o seu pensar, o seu modo até de controlar a vida dos seus cidadãos.

Só hoje a oficina lhe entrega o carro. Pensou ainda que poderia ir amanhã para o seu canto. Ao longo da manhã começou a sentir que o melhor seria ir só na sexta-feira. O senhor limpa-chaminés irá lá no sábado, a casa vazia há dois meses estará muito fria, assim só terá parte de sexta para sentir o frio da mesma, já que se tudo correr bem no sábado poderá por a funcionar a salamandra, tornando a casinha mais aconchegante. Na dúvida, consultou o pêndulo confirmando que será melhor ir na sexta-feira.