segunda-feira, 13 de março de 2023

05.01.23

 

Ontem foi dia do seu irmão o deixar para trás na unidade do número de anos que ambos levam nesta caminhada. Durante treze dias tiveram a mesma idade.

Não saiu como no dia anterior em que depois de almoço foi apanhar o comboio urbano e andou pelo Parque das Nações a olhar, montras, saldos e pessoas. Gosta de olhar a multidão nos seus movimentos andantes. Foi assim que ao passar pela Livraria Bertrand entrou porque tinha um saldo no seu cartão a caducar. Entrou para ver se encontrava algum livro que lhe chamasse a atenção. Passou e não olhou os livros promovidos no chamado "top ten". Quando olhava tais promoções nunca lá viu um que lhe interessasse ou lhe chamasse a curiosidade. Para si ali não há nada de útil. Mas não demorou muito na livraria. Não tinha dado uma dúzia de passos quando seus olhos bateram em dois exemplares na parte baixa da estante de exposição. Olhou, viu, leu e pegou no livro indo direto ao balcão para pagá-lo descontando o tal saldo. O simpático empregado perguntou-lhe se era para oferecer, ao que respondeu que era para oferecer depois de o ler primeiro. O empregado lamentou que assim não o poderia embrulhar. Não faz mal, disse-lhe, porque assim poupamos papel e ajudámos o ambiente. Sorrindo, despediu-se e tomou o rumo da Estação do Oriente para apanhar o comboio urbano e regressar a casa. No comboio começou a ler. Comprou o livro sem pestanejar porque gosta de ler os autores japoneses que o cativam com a forma como descrevem os assuntos abordados, depois tem gostado dos livros que tem como figura principal o gato. Não é o primeiro livro de autores japoneses que lê, sendo o gato a figura central do livro.

Já em casa sentado na sua secretária continuou a lê-lo um pouco mais. Estava contente com a sua compra instintiva. Gosta de ser assim.

Fechou marcando-o. Ia a mais de meio de um outro livro que tinha encomendado à Livraria Lápis de Papel de Coimbra, sem que na altura tivesse reparado que o autor do livro encomendado era o mesmo de um outro que tinha gostado de ler "O Elogio da Dureza", mas quando iniciou a leitura de "O Longo Braço do Passado" e o nome da figura principal, Paulo de Trava Lobo, instantaneamente lhe veio à memória a figura do Alferes Comando do O Elogio da Dureza, só então viu que o autor era o mesmo, Rui de Azevedo Teixeira. Antes de começar a ler O Longo Braço do Passado, tinha já andando por Angola ao ler o também excelente livro de Carlos Matos Gomes sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz "O Gémeo de Ompanda". Obra que ao referenciar a foz do Rio Cuvelai o levou de novo não para a foz mas para a nascente do mesmo rio onde em 1973 e 1974 por lá andou perseguindo os naturais daquelas terras que sonhavam ser independentes para poderem ser eles próprios e não o que os senhores brancos dos palácios europeus desejavam que eles fossem. Infelizmente ainda à poucos dias um amigo natural e residente que internet proporcionou lhe escrevia que as populações da agora Comuna do Mumbué viviam melhor no tempo da tropa. O amigo era um miúdo quando ele esteve como Alferes no Mumbué e nunca se conheceram entre os muitos miúdos que iam às sobras da comida do rancho. Um miúdo que o pai tirou de lá e o colocou numa instituição longe daquelas terras de quiocos e guenguelas. Há uns anos começou a receber na sua conta e-mail de endereço desconhecido de alguém que insistia em enviar-lhe e-mail, que só ao terceiro abriu para ver o porquê da insistência. Foi então que leu o pedido do desconhecido miúdo que já era um homem pai de família. Respondeu e trocaram vários e-mails enviando-lhe as fotos que guarda desse tempo de militar, até que o Facebook apareceu e acabaram os e-mails. O pedido inicial era simples, o João Pundo Pundo era natural do quimbo Cauéué que pertencia ao Mumbué de onde tinha saído muito novo e agora procurava obter fotos antigas para poder ensinar aos seus filhos como era a sua terra natal. Hoje, continuam a comunicar via Facebook e é assim que vai obtendo informações sobre como estão as populações, do Mumbué, do agora Kuito antiga Silva Porto e do Menongue antiga Serpa Pinto.

No final da tarde acabou de ler a excelente obra O Longo Braço do Passado. Ao andar com a Sacha pelas ruas desta urbe arrabalde da cidade grande, foi fechando as gavetas que ao sair de casa ainda estavam abertas na sua unidade de processamento de dados. Fechou algumas e outras ficaram entreabertas interagindo com o seu ser tresmalhado.

Depois de jantar, recomeçou a leitura de "Memórias de Um Gato Viajante" de Hiro Arikawa. Recomeçou e não deu pelas horas passarem. Já passava da meia noite quando com os olhos inundados de lágrimas que corriam pela face numa disputa com o nariz fungando, chegou ao último ponto final do livro. Antes de se deitar lavou a cara com água fria, procurando que o sono chegasse depressa, já que, não compreende porque aos setenta e dois anos continua a comover-se tanto com histórias reais e outras que existem em livros podendo ser ou não verdadeiras. Resumindo é ou será um coração piegas.

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