quinta-feira, 16 de março de 2023

02.02.23

Hoje chegaria aos 123 anos. Nasceu segundo os registos, aqui na Zebreira em 1900, o segundo de oito irmãos, sete rapazes e uma rapariga. Foi o seu avô materno. Um ser complicado e complicativo. Regedor no Estado Novo, escrivão da Junta de Freguesia e também legionário. Porém não se recorda de alguma vez lhe ouvir uma opinião a favor ou contra o regime do velho ditador. Foi Guarda Fiscal em Salvaterra do Extremo quando do outro lado da fronteira andavam em guerra civil (1936-1939). Recorda ouvir-lhe comentários sobre os fugitivos espanhóis que atravessavam a fronteira a fugirem da guerra e das tropas do general Franco; os primeiros que foram apanhados deste lado, cumprindo ordem do velho tirano, Salazar, foram entregues aos Carabineros franquistas para logo estes os fuzilarem; ao tomar conhecimento da barbárie que as forças franquista executavam, alguns outros fugitivos deixaram passar ou ficar escondidos como se não os tivessem visto. Nunca foi homem de muitas missas mas morreu na sacristia quando se preparava para mandar rezar uma missa pela alma da sua mulher, falecida no ano anterior. Viveu viúvo um ano, menos um mês menos um dia. Morreu o seu avô Chico Capelo a 24 de Outubro de 1971. A sua avó Maria Isabel morreu a 25 de Novembro de 1970.

Guarda dele a imagem de um homem complicativo, um "chiça azedo" sempre a fumar o seu Kentucky (mata ratos) que tinha uma caligrafia muito bonita, que ao segundo copito de vinho branco ficava entornado com a ruindade à solta, um homem que quando iam ver televisão à Casa do Povo ficava sempre cá atrás perto da porta da rua porque lhe dizia que se o soalho fosse abaixo não queria morrer de morte macaca. Viveu 71 anos, foi o Chico Capelo. 

 

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