segunda-feira, 31 de maio de 2021

21.05.05 India

 



Índia. Não há muito tempo todas as noites de domingo num dos canais televisivos um antigo Ministro com negócios sinistros no seu curriculum, presentemente mascarado de falso analista independente, enaltecia que a Índia era a farmácia do Mundo.

Muitos fazedores de opinião que pululam pelos órgãos de comunicação falam-nos de uma Índia como uma velha democracia.

Outros enaltecem o lugar que a Índia ocupa no G20, ou seja, um país que integra as 20 economias mais ricas do planeta.

Eu não gosto da Índia. Não gosto nem acho que um país onde existem milhões de seres humanos que vivem sem direitos iguais, não pode ser uma democracia. Um país onde há castas superiores e inferiores não respeita direitos humanos, sendo uma sociedade racista para com os seus próprios concidadãos.

Eu não gosto da Índia pela sua organização política, mas nada tenho contra todos os cidadãos indianos. Não gosto da existência de castas e tenho dívidas se a casta dos Brahmins, naquele inferno de contágios e mortes, conheça a falta de oxigénio ou de medicamentos.

Mais um caso exemplar em como um país dito rico segundo o capitalismo liberal trata e cuida dos seus concidadãos face a uma pandemia viral. Viva a medicina privada dos ricos e poderosos!


domingo, 30 de maio de 2021

21.05.05

 

Não sei se o sr. Cabrita, Ministro da Administração Interna, gosta de futebol. Se gosta deve saber que há treinadores profissionais que face aos resultados negativos que alcançam apresentam de modo próprio o pedido de demissão a fim de darem lugar a outra personalidade que introduza na equipa sangue novo, ideias diferentes.

O sr. Cabrita, Ministro da Administração Interna, não é a primeira nem a terceira vez que causa problemas ao Governo a que pertence.

Sr. Cabrita, Ministro da Administração Interna, não basta ser amigo do PM nem ser apenas um bom político para exercer o cargo de Ministro, é necessário saber comandar, é preciso ter o dom de comandar e comunicar, qualidades que não lhe reconheço pela sua conduta no cargo que ocupa nestes últimos anos.

O sr. Cabrita não é o único neste Governo mas vai na frente dos mais negativos.

Odemira com a sua declaração incompleta ou errada na forma como comunicou, tomou proporções bem maiores do que as tristes condições de vida de muitos emigrantes que existem há vários anos com os diversos organismos públicos a fecharem olhos e ouvidos por conivência ou por que quem manda não sabe mandar, o que se vê pelo peso improdutivo que o Estado tem nas contas públicas.

A única coisa positiva da sua triste decisão foi mostrar o egoísmo, o racismo como uma parte significativa da sociedade reagiu aos possíveis seres humanos infectados, mas pior a reação política verificada à requisição civil a mostrar que é preciso educar civicamente a sociedade, caso contrário o futuro será bem negro para os amantes das liberdades democráticas.

21.05.03

 

Não sendo um eleitor recenseado no concelho de Idanha a Nova, sigo há vários anos com atenção toda a informação que consigo sobre a vida das populações do concelho e em particular as da União das Freguesias de Zebreira e Segura, terras de meus antepassados.

É com sentimento de tristeza que vejo e sinto algum abandono a que esta União das Freguesias tem sido votada pelo próprio Município. Outras aldeias estarão ou poderão estar na mesma situação, mas é da Zebreira e de Segura que me preocupo.

E, porque à pouco tempo sobre as celebrações da Ciclo Pascal, um amigo de Idanha me chamou a atenção para a injustiça das minhas afirmações, pois que, as mesmas celebrações por mim abordadas constavam publicitadas na revista autárquica Adufe, fiquei ainda mais atento a tudo o que envolve a vida do concelho.

Não é minha intenção entrar em discussões negativas do "bota abaixo" ou de criticar por criticar dizendo mal só por dizer mal, sobre qualquer tema, limitando-me ao que observo de longe, embora praticamente todos os meses vá à Zebreira, continuando com a minha convicção de que os órgãos autárquicos de Idanha a Nova só tem olhos para Termas de Monfortinho, Penha Garcia, Monsanto, Idanha a Velha. Nada, mesmo nada, sinto ou me move contra as gentes dessas aldeias que são tão portugueses e idanhanenses como são os de todas as outras aldeias que constituem o vasto concelho de Idanha a Nova.

O meu pai chegou a ser presidente da Junta da Zebreira mas eu não tenho nem vou ter qualquer actividade partidária, embora seja um cidadão que goste de política, já que a política condiciona e está em todos os actos da nossa vida quer se goste ou não dela. Deste modo e face ao que venho sentindo do que tem sido a gestão autárquica dos últimos anos vejo com bons olhos o aparecimento do “Movimento Para Todos” que pelo que vou seguindo as suas publicações via Internet que me parecem poder ser a "pedrada" na monotonia reinante, merecendo da minha parte atenção redobrada.

Assim como a Junta da União das Freguesias de Zebreira e Segura não é nem pode ser uma ilha, já que depende quase totalmente das verbas que a gestão da câmara de Idanha a Nova lhes faculta anualmente para a sua actuação futura (independentemente da organização política que seja votada pelos eleitores recenseados e votantes), há um árduo trabalho de diálogo a negociar directamente com os órgãos autárquicos e com as outras Juntas de Freguesias para através do diálogo e trabalho contínuo conseguirem realizar muitas das ideias que têm para as suas populações. Dizia que se a Junta da União das Freguesias Zebreira e Segura não é nem pode ser uma ilha, também o Município de Idanha-a-Nova não é nem pode ser uma ilha, já que depende em muito ou quase totalmente do Orçamento de Estado que o Poder Central em Lisboa lhe faculta. Contudo, pode e deve em diálogo com as outras Autarquias do distrito construir pontes, criarem fundações(caboucos, não as outras) para serem uma força dialogante que permita alcançar os tão há muito anunciados projectos de investimento que se arrastam sempre em prejuízo da vasta região que é a Beira Baixa nas várias vertentes económicas e sociais.

Sabemos que entre o que deve ser feito e o que pode ser feito há uma diferença muito grande, já que tudo depende do dinheiro disponível para se poder realizar obras, e, todos sabemos que o dinheiro é um bem escasso e curto, pelo que as medidas a apontar como objectivo para o futuro imediato devem ser ponderadas e realistas para não se cair no populismo fácil, barato mas irrealizável.

A economia do concelho é essencialmente agrícola com potencialidades quer para o turismo de natureza e cultural, quer para a industria agro-alimentar, onde a continuidade da manutenção da Escola Superior de Gestão é um polo muito importante para a formação da juventude e possível interligação à vida económica das micro e médias empresas assim como dos grandes investimentos agrícolas em curso no concelho para o seu desenvolvimento futuro. Esta necessidade imperiosa de se manter em Idanha-a-Nova a ESG requer dos órgãos autárquicos uma atenção especial, um trabalho dialogante com quer os órgãos do IPCB quer com o próprio Ministério, na defesa da importância que a mesma tem para a economia e para o futuro do concelho.

Embora muitos não gostem, é a economia a mola central da nossa vida, porque da evolução da economia depende directamente o nosso nível de vida, o nosso bem estar social. Todas as medidas públicas dos governos e das autarquias que se tomem tem sempre um cunho económico-político, um resultado na comunidade que pode ser mais social ou menos social consoante o objectivo das medidas tomadas.

Ao longo dos anos têm o Município desenvolvido e bem, um trabalho meritório na promoção turística e cultural centrada no passado histórico de Idanha a Velha, assim como, na “rota dos fosseis” de Penha Garcia e beleza histórica da “Aldeia mais Portuguesa” dada a Monsanto. Não esta em causa esse trabalho meritório que deve continuar a ser divulgado, mas a história e a beleza que a Natureza, uma e outra, proporcionam em outras aldeias em outros locais não pode ficar na gaveta ou apenas publicitado numa ou em duas páginas da revista camarária “Adufe”.

A União das Freguesias de Zebreira e Segura tem a particularidade de ser constituída actualmente por duas povoações com histórias diferentes. Se a Zebreira é um povoado de história recente por apenas se ter formado ou a sua existência não ser referenciada em documentos oficiais antes do século XVI já Segura admite-se que possa existir mesmo antes da formação do Reino.

Mas sendo a Zebreira uma povoação com poucos séculos de existência não quer dizer que não possua histórias mais antigas que a sua própria formação. Podemos ler na obra “Apontamentos para a Monografia de Zebreira” de António Malcata Julião que, «foi encontrado no termo da Zebreira um monumento epigráfico, evocativo da passagem dos celtas por estas terras. A ara intacta, em granito, foi encontrada em 1954 a cerca de 2km para nascente, numa propriedade chamada “Nave Aldeã” a 12km de Idanha-a-Velha».

Na mesma obra podemos ler que o General João de Almeida em Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses descreve «encontrar-se indícios da estrada militar que cruzava o Tejo em Acantara, passava por Segura onde cruzava o Erges na antiga ponte romana e subia a Lancia Oppidana». Relíquias do período em que os romanos ocuparam a Península Ibérica deparam-se restos de fortalezas em Idanha-a-Velha, Monsanto, Idanha-a-Nova, Penha Garcia, Salvaterra do Extremo e Segura, dos castelos de Medelim, Proença-a-Velha e Zebreira assim como de modestos castros em Monfortinho e no Picoto. A toponímia de alguns locais da Zebreira como a Fonte das Casas, em tempos chamada de Mourarias, na Herdade do Soudo, são sinais de possível presença dos mouros, árabes ou muçulmanos, na região. Factos históricos a requererem estudo e divulgação séria não faltam há União das Freguesias de Zebreira e Segura. Factos que olhando às características orográficas são potencializadores de um turismo de natureza com conjução de factos históricos ou turismo cultural.

Se olharmos as enormes potencialidades que toda a margem direita do Rio Erges tem na sua extensão, em particular na nossa União de Freguesia perguntamos o que é que foi feito até hoje para dar condições aos turistas amantes da natureza e da fotografia? Ainda agora circula na net uma fotografia de uma cegonha preta captada em Segura, uma outra foto de um abrute do Egipto. Será que existe algum ou alguns abrigos observatórios das aves para se poderem ver as águias, grifos e também a quase extinta cegonha preta? O que é que se fez para além da sinalética sabendo que toda a zona do Rio Erges do nosso concelho está classificada como pertencente ao chamado Parque Natural do Tejo Internacional?

Mas para o desenvolvimento do turismo de natureza e do turismo cultural têm-se de criar infraestruturas que potenciam não só o mesmo como o desenvolvimento das suas gentes. As condições da natureza são bastante favoráveis, a história cultural da nossa região existe, mas onde estão as infraestruturas mínimas para o desenvolvimento do desejado turismo? Onde existe em Zebreira ou Segura um restaurante, uma pensão ou mesmo uma pousada tipo as pousadas do Caminho de Santiago que existem no norte do país? Como potenciar esse empreendedorismo tão necessário ao desenvolvimento do turismo para a União de Freguesias? A Junta de Freguesia não tem por si hipótese de criar as fundações desse desenvolvimento turístico mas pode, com muito trabalho, chatices e preocupações em diálogo com o Município de Idanha-a-Nova e com os responsáveis do Parque Natural do Tejo Internacional procurar soluções que permitam um outro futuro para as suas gentes, não deixando que o vírus da desertificação continue a sua marcha lenta mas sempre progressiva.

Ao pensarmos no turismo de natureza há um longo caminho só na recuperação das fontes históricas existentes nas duas aldeias, dos seus caminhos de acesso, e da história que cada uma delas tem para contar do que foi a sua existência ao longo dos século XIX e XX quando eram elas próprias a salvaguarda da vida humana e animal pois sem água como sabemos não há vida. Na recuperação da Rota das Minas existente em Segura, assim como das azenhas do Rio Erges e porque não procurar em dialogo junto da Câmara emendar o erro, para não dizer crime, da descarga que a mini-etar de Segura produz no Rio Erges de forma a poder-se naquele vale criar condições para um pequeno parque fluvial com condições excepcionais dadas a montante pela beleza das Fragas e a jusante pela velha Ponte de alicerces romanos também ela a necessitar que a IP Infraestruturas de Portugal e o Património olhem por ela.

Integrando o Município de Idanha-a-Nova a Rede de Judiarias de Portugal desde 2014 há que olhar com olhos postos no futuro para a importância crescente que o turismo cultural e em particular o turismo judaico têm nos Concelhos quer da Beira Baixa em Belmonte, quer da Beira Alta em Trancoso ou no Alto Alentejo em Castelo de Vide para podermos ver quão importante será o desenvolver-se esta vertente de turismo.

No que se refere à presença dos judeus sefarditas na região do nosso concelho pertencem a D. Dinis as mais antigas referências. Embora até ao século XV a informação sobre a população de judeus sefarditas na região seja escassa, conhecem-se menções ao pagamento de impostos para judeus sefarditas às rendas das judiarias de Monsanto, Proença-a-Velha e Salvaterra. No tempo da Inquisição em 1631 foram arrolados para pagamento do juro do Perdão Geral mais de 75 cristãos-novos moradores em Idanha-a-Nova, Monsanto, Proença-a-Velha, Medelim, Salvaterra e Segura. Podemos ler no próprio sítio do Município de Idanha-a-Nova que em Segura «A Rua das Portas de Cima, topónimo da fortaleza, apresenta um conjunto de casas bem preservadas onde se destacam ferros forjados e marcas mágico-religiosas nas cantarias, detalhe revelador de uma matriz judaica.»

Conta-nos a história que dos que fugiram à fogueira, ao cárcere e à miséria destaca-se a família de Diogo Nunes Ribeiro, cristão-novo, nascido em Idanha-a-Nova em 1668, médico no Mosteiro dos Dominicanos em Lisboa, que ao ser acusado de judaísmo o confessou sob tortura, conseguindo depois fugir para Londres onde passou a chamar-se Samuel, seguindo posteriormente para a América constituindo-se como um dos fundadores da cidade de Savannah no Estado da Geórgia. Diogo Nunes Ribeiro foi tio de uma outra grande figura do século XVIII como médico e intelectual de seu nome Ribeiro Sanches que embora tenha nascido em Penamacor numa família de abastados comerciantes a sua mãe, Ana Nunes Ribeiro, era natural de Idanha-a-Nova. Porque não estabelecer laços com a cidade de Savannah nos Estados Unidos?

Há pois muito trabalho a fazer nesta área do turismo cultural. É o professor António Catana que nos diz que “o cenário do Encontro em Segura, no ciclo Pascal, é único no mundo cristão”. E nesta área de fusão do turismo cultural e de natureza há que olhar para o interesse crescente do turismo religioso percorrendo os designados “Caminhos de Santiago” que também percorrem as nossas povoações no itinerário de Mérida a Santiago de Compostela. Resumindo, trabalho não falta para o desenvolvimento do turismo mas onde estão as infraestruturas necessárias para benefício do Município e em particular da União das Freguesias de Zebreira e Segura, inexistentes nos dias que correm, a exigirem soluções que possam ser um futuro foco de desenvolvimento para a vida das suas gentes, dos seus jovens, exterior e complementar da vida agrária mas interligando-se.

Para terminar estas questões ligadas às potencialidades culturais tinha a Zebreira não há muitos anos uma excelente Tuna que pela idade dos seus músicos deixou de ser falada. Deverá pois a Junta de Freguesia acarinhar todas as formas de cultura popular e em particular os grupos “Zamburras Saca Som” e “Grupo de Cantares de Segura” por exemplo.

Como nada sei do que à gestão Herdade do Soudo diz respeito nada comento, embora pense que é uma riqueza que precisa de ser olhada com olhos no futuro para a sua sustentabilidade e progresso dos agricultores que dela possam beneficiar, sem as modernas culturas intensivas para lá das que já possam existir, sendo que qualquer medida que possa alterar os seus estatutos deverá ser sujeita pelos órgãos da Junta a um referendo local e não apenas a votação na Assembleia de Junta, de modo a calar os sempre existentes «velhos do Restelo», mas como digo pouco ou nada sei sobre o assunto. Uma outra ideia prende-se com as ligações históricas que estas duas povoações, Zebreira e Segura, têm com a França. Se foi por Segura que se deu a primeira Invasão Francesa sob o comendo do General Junot quando Napoleão nos tentou retalhar, é depois a França que nas décadas de cinquenta e sessenta recebe de braços abertos os nossos conterrâneos que nesse país procuraram melhores condições de vida para as suas famílias. Porque não procurar assinalar essa data com um pequeno evento de paz e amizade junto à velha ponte de Segura?

Outro dos trabalhos que à Junta deverá competir é o diálogo e acção com a Paróquia no sentido de preservar o bom aspecto das suas várias capelas religiosas, parte integrante da história das suas gentes.

É preciso insistir com quem de direito para que se possa proceder à pintura do depósito da água, devendo ser encontrada uma solução para as andorinhas poderem continuar a visitar e procriar na Zebreira.

Vi com algum entusiasmo a notícia de que uma das zonas ricas no importante mineral do futuro chamado“lítio” era em Idanha-a-Nova, algures entre Segura e Salvaterra do Extremo. Depois ao ter conhecimento dos problemas ambientais que a exploração do valioso metal pode trazer às populações, o entusiasmo arrefeceu e face ao segredo que as autoridades governativas mantêm dos estudos que dizem mandaram fazer, é um assunto não só que preocupa como a ter em conta, pois muito do futuro passa pela forma como quem irá processar a exploração desse metal na região, em condições é que o irá fazer e as obrigações ambientais a salvaguardar após a exploração terminar, por forma a que o ambiente e a rica biodiversidade existente sejam salvaguardadas para o futuro.

E, como é sempre muito mais fácil pensar e dizer do que realizar encontra-se no muito badalado PRR Plano de Recuperação e Resiliência a ausência da realização da prometida obra IC31 que ligará a A23 à fronteira nas Termas de Monfortinho e como “gato escaldado de água fria tem medo” veremos quando irá ser essa obra realizada. Uma obra com mais interesse para o Município do que propriamente para a Zebreira e para Segura. Deverá o Município de Idanha-a-Nova juntar-se aos outros Municípios e Organizações Regionais e Empresariais na defesa da tão estudada Barragem do Alvito no Rio Ocreza.

Falar e dizer é fácil, o difícil é realizar, mas em política não há impossíveis no tempo, sabendo que Roma e Pavia não se fizeram num dia.

sábado, 1 de maio de 2021

21.05.01

 

Chegamos ao mês de Maio. Um Maio diferente de muitos outros onde as lutas se estendem ao direito que todos têm em ser vacinados contra o vírus invisível que nos tem atormentado. Os mais velhos recordar-se-ão do verdadeiro 1 de Maio que se celebrou em Liberdade. Quantos porém se lembrarão do 1 de Maio de 1973 e 1972? E, que saberão os mais novos desses 1 de Maio?

Onde estariam nesses anos obscuros da ditadura salazarista-caetanista sob o controle ferreo dos ultra ortodoxos à volta do "corta fitas", muitos dos políticos mais velhos que ocupam lugares na Assembleia da Republica? Lembrar-se-ão desses 1 de Maio antes de Abril e das lutas travadas para homenagear a luta dos trabalhadores?


No 1 de Maio de 1974 estava longe, no quartel do Mumbué, sem conhecermos qual seria o desfecho do nosso futuro imediato. Foram tempos de grande indefinição, onde foi difícil mas necessário manter a atenção e a disciplina porque a guerrilha continuava.

Naquela quarta feira, pela primeira vez Feriado Nacional, depois de almoço saí do quartel e fui andando pela picada que nos levava quer a igreja quer à missão católica levando comigo o rádio portátil crown na mão, ouvindo em ondas curtas o que a Emissora Nacional transmitia da alegria que emanava das manifestações que ocorriam no "Puto" (Portugal). Andava eu sózinho pela pista de aviação de rádio colado ao ouvido de olhos chorosos de alegria quando reparei numa nuvem enorme de abelhas que voavam na minha direcção. Desatei a correr ouvindo o barulho do enorme enxame cada vez mais perto. Não ia conseguir chegar ao rio que estava longe. O medo foi o combustível que alimentou a velocidade da corrida mas o barulho do voo delas cada vez mais perto, se me apanhassem estava feito. Na correria louca quando estavam a alcançar-me mergulhei no pequeno capim que ladeava a pista e a nuvem passou por mim continuando o seu voo na direcção do rio. Deitado com o corpo colado à terra, respiração ofegante, o coração a bater desordenadamente, sem saber se chorava pela alegria que as ondas de rádio transmitiam ou se chorava por me ter safado na hora certa daquele enxame de abelhas, ali fiquei deitado colado ao chão aguardando que o bater do coração acalmasse. De rádio desligado voltei ao quartel para beber uma Nocal e fumar um cigarro Português Suave sem filtro que dias antes tinha recebido mandado pela minha querida mãe. No quartel tudo corria normalmente naquela vida fingida que éramos obrigados a levar, onde apenas a Esperança de voltarmos para a nossa terra estava mais presente, que aquilo não era vida para ninguém.

Depois vivi todos os outros 1 de Maio até 1979, ano em que me afastei da política activa sem contudo deixar de gostar da arte que a política encerra em si mesmo; os políticos é que podem não ter a arte do pensar, da palavra e da honestidade que a política lhes deveria merecer.

Celebrar o 1 de Maio é dever e obrigação de todos os amantes da Democracia e da Liberdade, embora na minha modesta opinião celebrar o 1 de Maio não deverá ser nenhuma festa ou arraial, mas antes, o recordar e o honrar do que a sociedade em geral e os trabalhadores em particular tiveram de andar para podermos estar aqui, porque a luta por melhores condições de vida e não só de trabalho é uma constante histórica tal como a luta entre o bem e o mal.




21.04.30


 

Quis a vida de meus pais que eu nascesse na cidade grande depois de meu irmão também ter nascido nesse mesmo ano de cinquenta. Nasci mas nunca fui nem sou um citadino. Contudo, também não sou um homem do campo e ainda menos do mar. Talvez mesmo eu não seja de lado nenhum e ao mesmo tempo de todos eles.

Com o passar do tempo e a idade sempre crescente numericamente vou-me tornando mais ausente de tudo e de todos. Um ausente que ama viver, que se sente ainda na escola primária da vida, numa ausência onde o aprender a olhar factos e acontecimentos é constante num aprender contínuo, pois o universo da vida é infinito nos seus múltiplos limites. Como um dia escrevi, do bem que tenho feito nesta viagem só fiz o que tinha a fazer, não esperando quaisquer agradecimentos. Mas como sou um pequeno-grande mundo de imperfeições também cometi erros dos quais me arrependo sem ter meios de os emendar. Nesta recta final da minha caminhada alguns desses erros têm-me atormentado a mente. Não são muitos, mas sendo muito poucos estão presentes num arrependimento dorido de uma força invisível que parece querer levar-me à loucura em determinados momentos; foram erros ou no caso mais presente, erro em que causei sofrimento a quem amava. Uma dor que sendo sofrimento é invisível, vive comigo numa união solitária que me arrasta para o mundo da solidão no meio da multidão. Ao recusar seguir para esse mundo, o arrependimento intensifica a dor procurando-me vergar numa loucura da qual tento fugir. Assim, é na outra margem da vida que encontro o húmus que me aduba organicamente este viver caminhando na recta final sem conhecer a sua dimensão, caminhando no meu passo quantas vezes alheio ao que me rodeia, procurando apenas ir caminhando buscando a paz de que tanto necessito. Uma paz que se apresenta cada vez mais difícil de alcançar já que a luz que brilhava no fim do túnel vai perdendo a sua fraca intensidade como que me avisando dos dias difíceis que me esperam para o caminho que me falta caminhar.

21.04.29

 

Já o velho e sabido ratão do futebol fala como se estivéssemos politicamente no antes de Abril quando os ratões é que decidiam o quem e o como é que um repórter de imagem podia e devia trabalhar. Mas, talvez lhe falte memória, talvez já não tenha capacidade de memória, o que não acredito, para não se lembrar da hipocrisia do tanto mal que fez ao futebol nos anos finais do século passado onde a fruta podre que cultivava era regra com a sua matilha a dominar em todos os campos.

No antigamente, antes de Abril, os ratões usavam a força bruta da GNR para imporem os seus interesses, hoje modernizaram-se sob a capa de democratas e usam guarda-costas, não deixando de ser aquilo que sempre foram.

Vejo e ouço nos vários comentadeiros futeboleiros um dito jornalista desportivo que não passa de um "engraxador" infiltrado afirmar que durante o dia recebeu muitas mensagens lembrando que "quem diz a verdade não merece castigo". É pena que o mesmo "graxista" armado de jornalista ao comentar imagens de factos ocorridos em Moreira de Cónegos não se tenha lembrado que «tão ladrão é o que vai à horta como quem fica à porta» ou então uma outra frase, velha mas sempre actual: - «diz-me com quem andas dir-te-ei quem és».

Infelizmente a sociedade que o futebol gera é um retrato focado do que é a nossa sociedade nos dias que correm com ou sem pandemia. Uma sociedade doente, muito por culpa da cultura gananciosa sem olhar a meios, de alguns não muitos, os poderosos, e da inveja de milhões que a cultivam sem darem conta de que o egoísmo individualista a que fomos e somos conduzidos por este capitalismo civilizado e consumista que gera em nós próprios a inveja, o fanatismo, e o ciúme (doença publica não reconhecida pelo Estado e pelos familiares progenitores) numa arrogância crescente, têm de ser substituídos pelo culto educativo da compreensão, da solidariedade e da fraternidade para com todos os outros nossos semelhantes independentemente da cor, da religião, das opções políticas ou clubísticas para desse modo podermos criar e viver num mundo mais decente e fraterno, onde a Justiça não se note e muito menos seja notícia de todos os dias de todas as horas.

21.04.26

 

Ontem foi dia de comemorar a Libertação de Portugal. Um dia em que valentes e garbosos militares conquistaram uma nova independência para Portugal. Naquele dia de gloriosa façanha Portugal tornou-se livre das amarras assassinas que o prendiam a uma miséria de vida sem outros horizontes que não fosse o calar e obedecer para não ter problemas quer com os esbirros da polícia política, quer com os vampiros económicos, quer ainda com o senhor cura e suas beatas que mesmo nas aldeias mais profundas e esquecidas sempre havia uma ou outra família protegida pelo sistema que em abençoada hora, na sua visão celestial o senhor doutor tinha imposto ao país, de modo a que a boa ordem e os bons costumes fossem postos a salvo dos muitos desordeiros que andavam às escondidas instigando o ordeiro povo a revoltar-se contra a santa ordem do trabalho de sol a sol sem direitos que não fosse o direito de pedir, de esmolar trabalho ao senhor doutor, ao senhor engenheiro ou mesmo ao senhor conde ou marquês, portugueses de bem, muito agradecidos aos militares que no sagrado 28 de Maio souberam escolher para comandar os destinos do país tão grande e providencial figura, de molde a livrar-nos das garras do comunismo e de outras poucas vergonhas que se viam por esse mundo fora, ao mesmo tempo que mostrou ao mundo hostil como um pequeno país podia viver debaixo das saias de um clero retrógrado e sempre saudoso das antigas práticas inquisitoriais, levando numa santa aliança do senhor doutor com o senhor cardeal este país temente e ordeiro a viver uma vida sem outros horizontes que não fosse a salvação da sua alma pela via da miséria e pobreza onde o trabalhar de sol a sol sem direitos era a vida sacra da sua salvação.

Ontem foi dia de se celebrar a Democracia e a Liberdade que ela nos deu, mas andam nuvens negras no ar reflexo de um certo acordar político dos designados «homens de bem» que perdendo a vergonha, muito por culpa dos fracos políticos que nos tem governado, reclamam de cara descoberta e com lugar nas cadeias televisivas, as virtudes do antigamente onde a santa e tenebrosa aliança dos velhos doutores com os velhos cardeais conduziram o país amordaçado numa vida de miséria.