Não
sendo um eleitor recenseado no concelho de Idanha a Nova, sigo há
vários anos com atenção toda a informação que consigo sobre a
vida das populações do concelho e em particular as da União das
Freguesias de Zebreira e Segura, terras de meus antepassados.
É
com sentimento de tristeza que vejo e sinto algum abandono a que esta
União das Freguesias tem sido votada pelo próprio Município.
Outras aldeias estarão ou poderão estar na mesma situação, mas é
da Zebreira e de Segura que me preocupo.
E,
porque à pouco tempo sobre as celebrações da Ciclo Pascal, um
amigo de Idanha me chamou a atenção para a injustiça das minhas
afirmações, pois que, as mesmas celebrações por mim abordadas
constavam publicitadas na revista autárquica Adufe, fiquei ainda
mais atento a tudo o que envolve a vida do concelho.
Não
é minha intenção entrar em discussões negativas do "bota
abaixo" ou de criticar por criticar dizendo mal só por dizer
mal, sobre qualquer tema, limitando-me ao que observo de longe,
embora praticamente todos os meses vá à Zebreira, continuando com a
minha convicção de que os órgãos autárquicos de Idanha a Nova só
tem olhos para Termas de Monfortinho, Penha Garcia, Monsanto, Idanha
a Velha. Nada, mesmo nada, sinto ou me move contra as gentes dessas
aldeias que são tão portugueses e idanhanenses como são os de
todas as outras aldeias que constituem o vasto concelho de Idanha a
Nova.
O
meu pai chegou a ser presidente da Junta da Zebreira mas eu não
tenho nem vou ter qualquer actividade partidária, embora seja um
cidadão que goste de política, já que a política condiciona e
está em todos os actos da nossa vida quer se goste ou não dela.
Deste modo e face ao que venho sentindo do que tem sido a gestão
autárquica dos últimos anos vejo com bons olhos o aparecimento do
“Movimento Para Todos” que pelo que vou seguindo as suas
publicações via Internet que me parecem poder ser a "pedrada"
na monotonia reinante, merecendo da minha parte atenção redobrada.
Assim
como a Junta da União das Freguesias de Zebreira e Segura não é
nem pode ser uma ilha, já que depende quase totalmente das verbas
que a gestão da câmara de Idanha a Nova lhes faculta anualmente
para a sua actuação futura (independentemente da organização
política que seja votada pelos eleitores recenseados e votantes), há
um árduo trabalho de diálogo a negociar directamente com os órgãos
autárquicos e com as outras Juntas de Freguesias para através do
diálogo e trabalho contínuo conseguirem realizar muitas das ideias
que têm para as suas populações. Dizia que se a Junta da União
das Freguesias Zebreira e Segura não é nem pode ser uma ilha,
também o Município de Idanha-a-Nova não é nem pode ser uma ilha,
já que depende em muito ou quase totalmente do Orçamento de Estado
que o Poder Central em Lisboa lhe faculta. Contudo, pode e deve em
diálogo com as outras Autarquias do distrito construir pontes,
criarem fundações(caboucos, não as outras) para serem uma força
dialogante que permita alcançar os tão há muito anunciados
projectos de investimento que se arrastam sempre em prejuízo da
vasta região que é a Beira Baixa nas várias vertentes económicas
e sociais.
Sabemos
que entre o que deve ser feito e o que pode ser feito há uma
diferença muito grande, já que tudo depende do dinheiro disponível
para se poder realizar obras, e, todos sabemos que o dinheiro é um
bem escasso e curto, pelo que as medidas a apontar como objectivo
para o futuro imediato devem ser ponderadas e realistas para não se
cair no populismo fácil, barato mas irrealizável.
A
economia do concelho é essencialmente agrícola com potencialidades
quer para o turismo de natureza e cultural, quer para a industria
agro-alimentar, onde a continuidade da manutenção da Escola
Superior de Gestão é um polo muito importante para a formação da
juventude e possível interligação à vida económica das micro e
médias empresas assim como dos grandes investimentos agrícolas em
curso no concelho para o seu desenvolvimento futuro. Esta necessidade
imperiosa de se manter em Idanha-a-Nova a ESG requer dos órgãos
autárquicos uma atenção especial, um trabalho dialogante com quer
os órgãos do IPCB quer com o próprio Ministério, na defesa da
importância que a mesma tem para a economia e para o futuro do
concelho.
Embora
muitos não gostem, é a economia a mola central da nossa vida,
porque da evolução da economia depende directamente o nosso nível
de vida, o nosso bem estar social. Todas as medidas públicas dos
governos e das autarquias que se tomem tem sempre um cunho
económico-político, um resultado na comunidade que pode ser mais
social ou menos social consoante o objectivo das medidas tomadas.
Ao
longo dos anos têm o Município desenvolvido e bem, um trabalho
meritório na promoção turística e cultural centrada no passado
histórico de Idanha a Velha, assim como, na “rota dos fosseis”
de Penha Garcia e beleza histórica da “Aldeia mais Portuguesa”
dada a Monsanto. Não esta em causa esse trabalho meritório que deve
continuar a ser divulgado, mas a história e a beleza que a Natureza,
uma e outra, proporcionam em outras aldeias em outros locais não
pode ficar na gaveta ou apenas publicitado numa ou em duas páginas
da revista camarária “Adufe”.
A União
das Freguesias de Zebreira e Segura tem a particularidade de ser
constituída actualmente por duas povoações com histórias
diferentes. Se a Zebreira é um povoado de história recente por
apenas se ter formado ou a sua existência não ser referenciada em
documentos oficiais antes do século XVI já Segura admite-se que
possa existir mesmo antes da formação do Reino.
Mas
sendo a Zebreira uma povoação com poucos séculos de existência
não quer dizer que não possua histórias mais antigas que a sua
própria formação. Podemos ler na obra “Apontamentos para a
Monografia de Zebreira” de António Malcata Julião que, «foi
encontrado no termo da Zebreira um monumento epigráfico, evocativo
da passagem dos celtas por estas terras. A ara intacta, em granito,
foi encontrada em 1954 a cerca de 2km para nascente, numa propriedade
chamada “Nave Aldeã” a 12km de Idanha-a-Velha».
Na
mesma obra podemos ler que o General João de Almeida em Roteiro dos
Monumentos Militares Portugueses descreve «encontrar-se indícios da
estrada militar que cruzava o Tejo em Acantara, passava por Segura
onde cruzava o Erges na antiga ponte romana e subia a Lancia
Oppidana». Relíquias do período em que os romanos ocuparam a
Península Ibérica deparam-se restos de fortalezas em
Idanha-a-Velha, Monsanto, Idanha-a-Nova, Penha Garcia, Salvaterra do
Extremo e Segura, dos castelos de Medelim, Proença-a-Velha e
Zebreira assim como de modestos castros em Monfortinho e no Picoto. A
toponímia de alguns locais da Zebreira como a Fonte das Casas, em
tempos chamada de Mourarias, na Herdade do Soudo, são sinais de
possível presença dos mouros, árabes ou muçulmanos, na região.
Factos históricos a requererem estudo e divulgação séria não
faltam há União das Freguesias de Zebreira e Segura. Factos que
olhando às características orográficas são potencializadores de
um turismo de natureza com conjução de factos históricos ou
turismo cultural.
Se
olharmos as enormes potencialidades que toda a margem direita do Rio
Erges tem na sua extensão, em particular na nossa União de
Freguesia perguntamos o que é que foi feito até hoje para dar
condições aos turistas amantes da natureza e da fotografia? Ainda
agora circula na net uma fotografia de uma cegonha preta captada em
Segura, uma outra foto de um abrute do Egipto. Será que existe algum
ou alguns abrigos observatórios das aves para se poderem ver as
águias, grifos e também a quase extinta cegonha preta? O que é que
se fez para além da sinalética sabendo que toda a zona do Rio Erges
do nosso concelho está classificada como pertencente ao chamado
Parque Natural do Tejo Internacional?
Mas
para o desenvolvimento do turismo de natureza e do turismo cultural
têm-se de criar infraestruturas que potenciam não só o mesmo como
o desenvolvimento das suas gentes. As condições da natureza são
bastante favoráveis, a história cultural da nossa região existe,
mas onde estão as infraestruturas mínimas para o desenvolvimento do
desejado turismo? Onde existe em Zebreira ou Segura um restaurante,
uma pensão ou mesmo uma pousada tipo as pousadas do Caminho de
Santiago que existem no norte do país? Como potenciar esse
empreendedorismo tão necessário ao desenvolvimento do turismo para
a União de Freguesias? A Junta de Freguesia não tem por si hipótese
de criar as fundações desse desenvolvimento turístico mas pode,
com muito trabalho, chatices e preocupações em diálogo com o
Município de Idanha-a-Nova e com os responsáveis do Parque Natural
do Tejo Internacional procurar soluções que permitam um outro
futuro para as suas gentes, não deixando que o vírus da
desertificação continue a sua marcha lenta mas sempre progressiva.
Ao
pensarmos no turismo de natureza há um longo caminho só na
recuperação das fontes históricas existentes nas duas aldeias, dos
seus caminhos de acesso, e da história que cada uma delas tem para
contar do que foi a sua existência ao longo dos século XIX e XX
quando eram elas próprias a salvaguarda da vida humana e animal pois
sem água como sabemos não há vida. Na recuperação da Rota das
Minas existente em Segura, assim como das azenhas do Rio Erges e
porque não procurar em dialogo junto da Câmara emendar o erro, para
não dizer crime, da descarga que a mini-etar de Segura produz no Rio
Erges de forma a poder-se naquele vale criar condições para um
pequeno parque fluvial com condições excepcionais dadas a montante
pela beleza das Fragas e a jusante pela velha Ponte de alicerces
romanos também ela a necessitar que a IP Infraestruturas de Portugal
e o Património olhem por ela.
Integrando
o Município de Idanha-a-Nova a Rede de Judiarias de Portugal desde
2014 há que olhar com olhos postos no futuro para a importância
crescente que o turismo cultural e em particular o turismo judaico
têm nos Concelhos quer da Beira Baixa em Belmonte, quer da Beira
Alta em Trancoso ou no Alto Alentejo em Castelo de Vide para podermos
ver quão importante será o desenvolver-se esta vertente de turismo.
No
que se refere à presença dos judeus sefarditas na região do nosso
concelho pertencem a D. Dinis as mais antigas referências. Embora
até ao século XV a
informação sobre a população de judeus sefarditas na região seja
escassa, conhecem-se menções ao pagamento de impostos para judeus
sefarditas às rendas das judiarias de Monsanto, Proença-a-Velha e
Salvaterra. No
tempo
da Inquisição em 1631 foram arrolados para pagamento do juro do
Perdão Geral mais de 75 cristãos-novos moradores em Idanha-a-Nova,
Monsanto, Proença-a-Velha, Medelim, Salvaterra e Segura. Podemos ler
no próprio sítio do Município de Idanha-a-Nova que em Segura «A
Rua das Portas de Cima, topónimo da fortaleza, apresenta um conjunto
de casas bem preservadas onde se destacam ferros forjados e marcas
mágico-religiosas nas cantarias, detalhe revelador de uma matriz
judaica.»
Conta-nos
a história que dos que fugiram à fogueira, ao cárcere e à miséria
destaca-se
a família de Diogo Nunes Ribeiro,
cristão-novo, nascido em Idanha-a-Nova em 1668, médico no Mosteiro
dos Dominicanos em Lisboa, que ao ser
acusado de judaísmo o
confessou sob tortura, conseguindo depois
fugir para Londres onde passou a
chamar-se Samuel, seguindo posteriormente para a América
constituindo-se como um dos fundadores da cidade de Savannah no
Estado da Geórgia. Diogo Nunes Ribeiro foi tio de uma outra grande
figura do século XVIII como médico e intelectual de seu nome
Ribeiro Sanches que embora tenha nascido em Penamacor numa família
de abastados comerciantes a sua mãe, Ana Nunes Ribeiro, era natural
de Idanha-a-Nova. Porque não
estabelecer laços com a cidade de Savannah nos Estados Unidos?
Há
pois muito trabalho a fazer nesta área do turismo cultural. É o
professor António Catana que nos diz que “o cenário do Encontro
em Segura, no ciclo Pascal, é único no mundo cristão”. E
nesta área de fusão do turismo cultural e de natureza há que olhar
para o interesse crescente do turismo religioso percorrendo os
designados “Caminhos de Santiago” que também percorrem as nossas
povoações no itinerário de Mérida a Santiago de Compostela.
Resumindo, trabalho não falta para o
desenvolvimento do turismo mas onde
estão as infraestruturas necessárias
para benefício do Município e em particular
da União
das Freguesias de Zebreira e Segura,
inexistentes nos
dias que correm, a exigirem soluções que possam ser um
futuro foco
de desenvolvimento para a vida das suas
gentes, dos seus jovens,
exterior e
complementar da vida agrária
mas interligando-se.
Para
terminar estas questões ligadas às potencialidades culturais tinha
a Zebreira não há muitos anos uma excelente Tuna que pela idade dos
seus músicos deixou de ser falada. Deverá
pois a
Junta de Freguesia acarinhar todas as formas de cultura popular e
em particular os grupos “Zamburras Saca Som” e “Grupo de
Cantares de Segura” por exemplo.
Como
nada sei do que à gestão Herdade do Soudo diz respeito nada
comento, embora pense que é uma riqueza que precisa de ser olhada
com olhos no futuro para a sua sustentabilidade e progresso dos
agricultores que dela possam beneficiar, sem
as modernas culturas intensivas para lá das que já possam existir,
sendo que qualquer medida que possa
alterar os seus estatutos deverá ser sujeita pelos órgãos da Junta
a um referendo local e não apenas a votação na Assembleia de
Junta, de modo a calar os sempre
existentes «velhos do Restelo», mas
como digo pouco ou nada sei sobre o assunto. Uma
outra ideia prende-se com as ligações históricas que estas duas
povoações, Zebreira e Segura, têm com a França. Se foi por Segura
que se deu a primeira Invasão Francesa sob o comendo do General
Junot quando Napoleão nos tentou retalhar, é depois a França que
nas décadas de cinquenta e sessenta recebe de braços abertos os
nossos conterrâneos que nesse país procuraram melhores condições
de vida para as suas famílias. Porque não procurar assinalar essa
data com um pequeno evento de paz e amizade junto à velha ponte de
Segura?
Outro
dos trabalhos que à Junta deverá competir é o diálogo e acção
com a Paróquia no sentido de preservar o bom aspecto das suas várias
capelas religiosas, parte integrante da
história das suas gentes.
É
preciso insistir com quem de direito
para que se possa proceder
à pintura do depósito da água, devendo ser encontrada uma solução
para as andorinhas poderem continuar a visitar e procriar na
Zebreira.
Vi
com algum entusiasmo a notícia de que uma das zonas ricas no
importante mineral do futuro chamado“lítio” era em
Idanha-a-Nova, algures entre Segura e Salvaterra do Extremo. Depois
ao ter conhecimento dos problemas ambientais que a exploração do
valioso metal pode trazer às populações, o entusiasmo arrefeceu e
face ao segredo que as autoridades governativas mantêm dos estudos
que dizem mandaram fazer, é um assunto não só que preocupa como a
ter em conta, pois muito do futuro passa pela forma como quem irá
processar a exploração desse metal na região, em condições é
que o irá fazer e as obrigações ambientais a salvaguardar após a
exploração terminar, por forma a que o ambiente e a rica
biodiversidade existente sejam salvaguardadas para o futuro.
E,
como é sempre muito mais fácil pensar
e dizer do que realizar encontra-se no muito badalado PRR Plano de
Recuperação e Resiliência a ausência da realização da prometida
obra IC31 que ligará a A23 à fronteira nas Termas de Monfortinho e
como “gato escaldado de água fria tem medo” veremos quando irá
ser essa obra realizada. Uma obra com mais interesse para o Município
do que propriamente para a Zebreira e
para Segura. Deverá o Município de
Idanha-a-Nova juntar-se aos outros Municípios e Organizações
Regionais e Empresariais na defesa da tão estudada Barragem do
Alvito no Rio Ocreza.
Falar
e dizer é fácil, o difícil é realizar, mas em política não há
impossíveis no tempo, sabendo que Roma e Pavia não se fizeram num
dia.