domingo, 30 de maio de 2021

21.05.03

 

Não sendo um eleitor recenseado no concelho de Idanha a Nova, sigo há vários anos com atenção toda a informação que consigo sobre a vida das populações do concelho e em particular as da União das Freguesias de Zebreira e Segura, terras de meus antepassados.

É com sentimento de tristeza que vejo e sinto algum abandono a que esta União das Freguesias tem sido votada pelo próprio Município. Outras aldeias estarão ou poderão estar na mesma situação, mas é da Zebreira e de Segura que me preocupo.

E, porque à pouco tempo sobre as celebrações da Ciclo Pascal, um amigo de Idanha me chamou a atenção para a injustiça das minhas afirmações, pois que, as mesmas celebrações por mim abordadas constavam publicitadas na revista autárquica Adufe, fiquei ainda mais atento a tudo o que envolve a vida do concelho.

Não é minha intenção entrar em discussões negativas do "bota abaixo" ou de criticar por criticar dizendo mal só por dizer mal, sobre qualquer tema, limitando-me ao que observo de longe, embora praticamente todos os meses vá à Zebreira, continuando com a minha convicção de que os órgãos autárquicos de Idanha a Nova só tem olhos para Termas de Monfortinho, Penha Garcia, Monsanto, Idanha a Velha. Nada, mesmo nada, sinto ou me move contra as gentes dessas aldeias que são tão portugueses e idanhanenses como são os de todas as outras aldeias que constituem o vasto concelho de Idanha a Nova.

O meu pai chegou a ser presidente da Junta da Zebreira mas eu não tenho nem vou ter qualquer actividade partidária, embora seja um cidadão que goste de política, já que a política condiciona e está em todos os actos da nossa vida quer se goste ou não dela. Deste modo e face ao que venho sentindo do que tem sido a gestão autárquica dos últimos anos vejo com bons olhos o aparecimento do “Movimento Para Todos” que pelo que vou seguindo as suas publicações via Internet que me parecem poder ser a "pedrada" na monotonia reinante, merecendo da minha parte atenção redobrada.

Assim como a Junta da União das Freguesias de Zebreira e Segura não é nem pode ser uma ilha, já que depende quase totalmente das verbas que a gestão da câmara de Idanha a Nova lhes faculta anualmente para a sua actuação futura (independentemente da organização política que seja votada pelos eleitores recenseados e votantes), há um árduo trabalho de diálogo a negociar directamente com os órgãos autárquicos e com as outras Juntas de Freguesias para através do diálogo e trabalho contínuo conseguirem realizar muitas das ideias que têm para as suas populações. Dizia que se a Junta da União das Freguesias Zebreira e Segura não é nem pode ser uma ilha, também o Município de Idanha-a-Nova não é nem pode ser uma ilha, já que depende em muito ou quase totalmente do Orçamento de Estado que o Poder Central em Lisboa lhe faculta. Contudo, pode e deve em diálogo com as outras Autarquias do distrito construir pontes, criarem fundações(caboucos, não as outras) para serem uma força dialogante que permita alcançar os tão há muito anunciados projectos de investimento que se arrastam sempre em prejuízo da vasta região que é a Beira Baixa nas várias vertentes económicas e sociais.

Sabemos que entre o que deve ser feito e o que pode ser feito há uma diferença muito grande, já que tudo depende do dinheiro disponível para se poder realizar obras, e, todos sabemos que o dinheiro é um bem escasso e curto, pelo que as medidas a apontar como objectivo para o futuro imediato devem ser ponderadas e realistas para não se cair no populismo fácil, barato mas irrealizável.

A economia do concelho é essencialmente agrícola com potencialidades quer para o turismo de natureza e cultural, quer para a industria agro-alimentar, onde a continuidade da manutenção da Escola Superior de Gestão é um polo muito importante para a formação da juventude e possível interligação à vida económica das micro e médias empresas assim como dos grandes investimentos agrícolas em curso no concelho para o seu desenvolvimento futuro. Esta necessidade imperiosa de se manter em Idanha-a-Nova a ESG requer dos órgãos autárquicos uma atenção especial, um trabalho dialogante com quer os órgãos do IPCB quer com o próprio Ministério, na defesa da importância que a mesma tem para a economia e para o futuro do concelho.

Embora muitos não gostem, é a economia a mola central da nossa vida, porque da evolução da economia depende directamente o nosso nível de vida, o nosso bem estar social. Todas as medidas públicas dos governos e das autarquias que se tomem tem sempre um cunho económico-político, um resultado na comunidade que pode ser mais social ou menos social consoante o objectivo das medidas tomadas.

Ao longo dos anos têm o Município desenvolvido e bem, um trabalho meritório na promoção turística e cultural centrada no passado histórico de Idanha a Velha, assim como, na “rota dos fosseis” de Penha Garcia e beleza histórica da “Aldeia mais Portuguesa” dada a Monsanto. Não esta em causa esse trabalho meritório que deve continuar a ser divulgado, mas a história e a beleza que a Natureza, uma e outra, proporcionam em outras aldeias em outros locais não pode ficar na gaveta ou apenas publicitado numa ou em duas páginas da revista camarária “Adufe”.

A União das Freguesias de Zebreira e Segura tem a particularidade de ser constituída actualmente por duas povoações com histórias diferentes. Se a Zebreira é um povoado de história recente por apenas se ter formado ou a sua existência não ser referenciada em documentos oficiais antes do século XVI já Segura admite-se que possa existir mesmo antes da formação do Reino.

Mas sendo a Zebreira uma povoação com poucos séculos de existência não quer dizer que não possua histórias mais antigas que a sua própria formação. Podemos ler na obra “Apontamentos para a Monografia de Zebreira” de António Malcata Julião que, «foi encontrado no termo da Zebreira um monumento epigráfico, evocativo da passagem dos celtas por estas terras. A ara intacta, em granito, foi encontrada em 1954 a cerca de 2km para nascente, numa propriedade chamada “Nave Aldeã” a 12km de Idanha-a-Velha».

Na mesma obra podemos ler que o General João de Almeida em Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses descreve «encontrar-se indícios da estrada militar que cruzava o Tejo em Acantara, passava por Segura onde cruzava o Erges na antiga ponte romana e subia a Lancia Oppidana». Relíquias do período em que os romanos ocuparam a Península Ibérica deparam-se restos de fortalezas em Idanha-a-Velha, Monsanto, Idanha-a-Nova, Penha Garcia, Salvaterra do Extremo e Segura, dos castelos de Medelim, Proença-a-Velha e Zebreira assim como de modestos castros em Monfortinho e no Picoto. A toponímia de alguns locais da Zebreira como a Fonte das Casas, em tempos chamada de Mourarias, na Herdade do Soudo, são sinais de possível presença dos mouros, árabes ou muçulmanos, na região. Factos históricos a requererem estudo e divulgação séria não faltam há União das Freguesias de Zebreira e Segura. Factos que olhando às características orográficas são potencializadores de um turismo de natureza com conjução de factos históricos ou turismo cultural.

Se olharmos as enormes potencialidades que toda a margem direita do Rio Erges tem na sua extensão, em particular na nossa União de Freguesia perguntamos o que é que foi feito até hoje para dar condições aos turistas amantes da natureza e da fotografia? Ainda agora circula na net uma fotografia de uma cegonha preta captada em Segura, uma outra foto de um abrute do Egipto. Será que existe algum ou alguns abrigos observatórios das aves para se poderem ver as águias, grifos e também a quase extinta cegonha preta? O que é que se fez para além da sinalética sabendo que toda a zona do Rio Erges do nosso concelho está classificada como pertencente ao chamado Parque Natural do Tejo Internacional?

Mas para o desenvolvimento do turismo de natureza e do turismo cultural têm-se de criar infraestruturas que potenciam não só o mesmo como o desenvolvimento das suas gentes. As condições da natureza são bastante favoráveis, a história cultural da nossa região existe, mas onde estão as infraestruturas mínimas para o desenvolvimento do desejado turismo? Onde existe em Zebreira ou Segura um restaurante, uma pensão ou mesmo uma pousada tipo as pousadas do Caminho de Santiago que existem no norte do país? Como potenciar esse empreendedorismo tão necessário ao desenvolvimento do turismo para a União de Freguesias? A Junta de Freguesia não tem por si hipótese de criar as fundações desse desenvolvimento turístico mas pode, com muito trabalho, chatices e preocupações em diálogo com o Município de Idanha-a-Nova e com os responsáveis do Parque Natural do Tejo Internacional procurar soluções que permitam um outro futuro para as suas gentes, não deixando que o vírus da desertificação continue a sua marcha lenta mas sempre progressiva.

Ao pensarmos no turismo de natureza há um longo caminho só na recuperação das fontes históricas existentes nas duas aldeias, dos seus caminhos de acesso, e da história que cada uma delas tem para contar do que foi a sua existência ao longo dos século XIX e XX quando eram elas próprias a salvaguarda da vida humana e animal pois sem água como sabemos não há vida. Na recuperação da Rota das Minas existente em Segura, assim como das azenhas do Rio Erges e porque não procurar em dialogo junto da Câmara emendar o erro, para não dizer crime, da descarga que a mini-etar de Segura produz no Rio Erges de forma a poder-se naquele vale criar condições para um pequeno parque fluvial com condições excepcionais dadas a montante pela beleza das Fragas e a jusante pela velha Ponte de alicerces romanos também ela a necessitar que a IP Infraestruturas de Portugal e o Património olhem por ela.

Integrando o Município de Idanha-a-Nova a Rede de Judiarias de Portugal desde 2014 há que olhar com olhos postos no futuro para a importância crescente que o turismo cultural e em particular o turismo judaico têm nos Concelhos quer da Beira Baixa em Belmonte, quer da Beira Alta em Trancoso ou no Alto Alentejo em Castelo de Vide para podermos ver quão importante será o desenvolver-se esta vertente de turismo.

No que se refere à presença dos judeus sefarditas na região do nosso concelho pertencem a D. Dinis as mais antigas referências. Embora até ao século XV a informação sobre a população de judeus sefarditas na região seja escassa, conhecem-se menções ao pagamento de impostos para judeus sefarditas às rendas das judiarias de Monsanto, Proença-a-Velha e Salvaterra. No tempo da Inquisição em 1631 foram arrolados para pagamento do juro do Perdão Geral mais de 75 cristãos-novos moradores em Idanha-a-Nova, Monsanto, Proença-a-Velha, Medelim, Salvaterra e Segura. Podemos ler no próprio sítio do Município de Idanha-a-Nova que em Segura «A Rua das Portas de Cima, topónimo da fortaleza, apresenta um conjunto de casas bem preservadas onde se destacam ferros forjados e marcas mágico-religiosas nas cantarias, detalhe revelador de uma matriz judaica.»

Conta-nos a história que dos que fugiram à fogueira, ao cárcere e à miséria destaca-se a família de Diogo Nunes Ribeiro, cristão-novo, nascido em Idanha-a-Nova em 1668, médico no Mosteiro dos Dominicanos em Lisboa, que ao ser acusado de judaísmo o confessou sob tortura, conseguindo depois fugir para Londres onde passou a chamar-se Samuel, seguindo posteriormente para a América constituindo-se como um dos fundadores da cidade de Savannah no Estado da Geórgia. Diogo Nunes Ribeiro foi tio de uma outra grande figura do século XVIII como médico e intelectual de seu nome Ribeiro Sanches que embora tenha nascido em Penamacor numa família de abastados comerciantes a sua mãe, Ana Nunes Ribeiro, era natural de Idanha-a-Nova. Porque não estabelecer laços com a cidade de Savannah nos Estados Unidos?

Há pois muito trabalho a fazer nesta área do turismo cultural. É o professor António Catana que nos diz que “o cenário do Encontro em Segura, no ciclo Pascal, é único no mundo cristão”. E nesta área de fusão do turismo cultural e de natureza há que olhar para o interesse crescente do turismo religioso percorrendo os designados “Caminhos de Santiago” que também percorrem as nossas povoações no itinerário de Mérida a Santiago de Compostela. Resumindo, trabalho não falta para o desenvolvimento do turismo mas onde estão as infraestruturas necessárias para benefício do Município e em particular da União das Freguesias de Zebreira e Segura, inexistentes nos dias que correm, a exigirem soluções que possam ser um futuro foco de desenvolvimento para a vida das suas gentes, dos seus jovens, exterior e complementar da vida agrária mas interligando-se.

Para terminar estas questões ligadas às potencialidades culturais tinha a Zebreira não há muitos anos uma excelente Tuna que pela idade dos seus músicos deixou de ser falada. Deverá pois a Junta de Freguesia acarinhar todas as formas de cultura popular e em particular os grupos “Zamburras Saca Som” e “Grupo de Cantares de Segura” por exemplo.

Como nada sei do que à gestão Herdade do Soudo diz respeito nada comento, embora pense que é uma riqueza que precisa de ser olhada com olhos no futuro para a sua sustentabilidade e progresso dos agricultores que dela possam beneficiar, sem as modernas culturas intensivas para lá das que já possam existir, sendo que qualquer medida que possa alterar os seus estatutos deverá ser sujeita pelos órgãos da Junta a um referendo local e não apenas a votação na Assembleia de Junta, de modo a calar os sempre existentes «velhos do Restelo», mas como digo pouco ou nada sei sobre o assunto. Uma outra ideia prende-se com as ligações históricas que estas duas povoações, Zebreira e Segura, têm com a França. Se foi por Segura que se deu a primeira Invasão Francesa sob o comendo do General Junot quando Napoleão nos tentou retalhar, é depois a França que nas décadas de cinquenta e sessenta recebe de braços abertos os nossos conterrâneos que nesse país procuraram melhores condições de vida para as suas famílias. Porque não procurar assinalar essa data com um pequeno evento de paz e amizade junto à velha ponte de Segura?

Outro dos trabalhos que à Junta deverá competir é o diálogo e acção com a Paróquia no sentido de preservar o bom aspecto das suas várias capelas religiosas, parte integrante da história das suas gentes.

É preciso insistir com quem de direito para que se possa proceder à pintura do depósito da água, devendo ser encontrada uma solução para as andorinhas poderem continuar a visitar e procriar na Zebreira.

Vi com algum entusiasmo a notícia de que uma das zonas ricas no importante mineral do futuro chamado“lítio” era em Idanha-a-Nova, algures entre Segura e Salvaterra do Extremo. Depois ao ter conhecimento dos problemas ambientais que a exploração do valioso metal pode trazer às populações, o entusiasmo arrefeceu e face ao segredo que as autoridades governativas mantêm dos estudos que dizem mandaram fazer, é um assunto não só que preocupa como a ter em conta, pois muito do futuro passa pela forma como quem irá processar a exploração desse metal na região, em condições é que o irá fazer e as obrigações ambientais a salvaguardar após a exploração terminar, por forma a que o ambiente e a rica biodiversidade existente sejam salvaguardadas para o futuro.

E, como é sempre muito mais fácil pensar e dizer do que realizar encontra-se no muito badalado PRR Plano de Recuperação e Resiliência a ausência da realização da prometida obra IC31 que ligará a A23 à fronteira nas Termas de Monfortinho e como “gato escaldado de água fria tem medo” veremos quando irá ser essa obra realizada. Uma obra com mais interesse para o Município do que propriamente para a Zebreira e para Segura. Deverá o Município de Idanha-a-Nova juntar-se aos outros Municípios e Organizações Regionais e Empresariais na defesa da tão estudada Barragem do Alvito no Rio Ocreza.

Falar e dizer é fácil, o difícil é realizar, mas em política não há impossíveis no tempo, sabendo que Roma e Pavia não se fizeram num dia.

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