sábado, 1 de maio de 2021

21.04.30


 

Quis a vida de meus pais que eu nascesse na cidade grande depois de meu irmão também ter nascido nesse mesmo ano de cinquenta. Nasci mas nunca fui nem sou um citadino. Contudo, também não sou um homem do campo e ainda menos do mar. Talvez mesmo eu não seja de lado nenhum e ao mesmo tempo de todos eles.

Com o passar do tempo e a idade sempre crescente numericamente vou-me tornando mais ausente de tudo e de todos. Um ausente que ama viver, que se sente ainda na escola primária da vida, numa ausência onde o aprender a olhar factos e acontecimentos é constante num aprender contínuo, pois o universo da vida é infinito nos seus múltiplos limites. Como um dia escrevi, do bem que tenho feito nesta viagem só fiz o que tinha a fazer, não esperando quaisquer agradecimentos. Mas como sou um pequeno-grande mundo de imperfeições também cometi erros dos quais me arrependo sem ter meios de os emendar. Nesta recta final da minha caminhada alguns desses erros têm-me atormentado a mente. Não são muitos, mas sendo muito poucos estão presentes num arrependimento dorido de uma força invisível que parece querer levar-me à loucura em determinados momentos; foram erros ou no caso mais presente, erro em que causei sofrimento a quem amava. Uma dor que sendo sofrimento é invisível, vive comigo numa união solitária que me arrasta para o mundo da solidão no meio da multidão. Ao recusar seguir para esse mundo, o arrependimento intensifica a dor procurando-me vergar numa loucura da qual tento fugir. Assim, é na outra margem da vida que encontro o húmus que me aduba organicamente este viver caminhando na recta final sem conhecer a sua dimensão, caminhando no meu passo quantas vezes alheio ao que me rodeia, procurando apenas ir caminhando buscando a paz de que tanto necessito. Uma paz que se apresenta cada vez mais difícil de alcançar já que a luz que brilhava no fim do túnel vai perdendo a sua fraca intensidade como que me avisando dos dias difíceis que me esperam para o caminho que me falta caminhar.

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