segunda-feira, 16 de outubro de 2023

13.06.23

 

Fez ontem anos, cinquenta e quatro, que fui "às sortes" ou seja à inspeção para o serviço militar obrigatório, que de sorte nada tinha. Nesse ano o Estado lembrou-se de mim, convocando-me para comparecer no Regimento de Artilharia Ligeira 1, mais tarde RALIS, tendo sido apurado para todo o serviço, como era esperado já que não apresentava nenhuma deficiência visível aos "lateiros do júri" que ao olharem para a nossa nudez nos apuravam de imediato, pois a guerra que os governantes alimentavam nas três frentes africanas assim determinava.

Nesse mesmo ano, sendo feriado como ainda o é, dia do Santo António padroeiro de Lisboa, continuei em casa dando continuidade ao estudo da disciplina História Geral e Económica já que no dia seguinte tinha prova de frequência da cadeira no velho "Cortiço", ICL à Rua das Chagas.

Agora, já de barbas brancas, gostava de continuar a estudar, mas quando pego em livros do ensino oficial atual, sinto-me incapaz. Às vezes penso se aquilo que penso saber não está tudo errado. Há muitos anos, dei explicações. Hoje não sei se seria capaz de ajudar os atuais jovens que frequentam o ensino oficial.

Esta vida já não é o que foi e muito menos o que alguns, não muitos, chegaram a sonhar quando os jovens militares mudaram a agulha dos carris da antiga vida para dar esperança ao país de uma nova forma de vida.

Vivemos alegremente um modo de vida ilusório, pois já nada depende exclusivamente de nós, entregues que fomos aos credores da finança especulativa e gananciosa sem limites e aos liberais que em Bruxelas dirigem esta salada de países como União Europeia. A riqueza que se criamos não chega para alimentar a máquina do Estado que diminuindo em número de funcionários públicos efetivos, aumentou e continua a aumentar em massa salarial com tantos ministros, tantos secretários de estado, tantos diretores gerais, com todos eles a precisarem de um exército de gente assessores, secretários e ajudantes, recrutados por confiança política nas organizações dos próprios partido políticos governantes, em que alguns ainda de fraldas, sem experiência nem calo da vida, auferem remunerações criminosas quando as comparamos com pessoal médico do SNS por exemplo.

Podem vir as festas dos Santos Populares, pode chegar a nova peregrinação dos católicos para a “jmj” para com esse evento comercial que nos dizem ser de fé virem depois tapar os olhos com os números do turismo e as exportações que o mesmo evento gera a mando dos servos liberais em Bruxelas, o país como há cinquenta e quatro anos não enxerga um futuro radioso para as suas gentes que estudam e trabalham, porque para os reformados e aposentados há muito que o seu país não é para eles fazendo jus à frase «este país não é para velhos».

Não há muitos anos um governo à direita "roubou" nas remunerações dos velhos, para agora este mesmo governo em ação que se diz socialista alterando a lei que atualizava o valor das reformas voltar a "roubar" desse modo no valor das pensões futuras dos reformados e pensionistas.

Se os de Bruxelas ameaçam com um espirro, logo os governantes cumprem zelosamente essas ordens sem olharem às condições em que os cidadãos vivem objetivamente. Foi assim com o aumento o IVA na eletricidade e comunicações para depois quando a economia justificava a baixas da taxa do mesmo IVA, argumentarem os políticos governantes que tinham de obter autorização dos burocratas liberais bruxelianos. Já nem autonomia fiscal aparentamos possuir ter. Triste fado o deste nosso torrão à beira mar que é Portugal.

Não é fácil encarar a triste realidade da ilusão, sem sentirmos a revolta a tomar conta de nós numa tristeza que aparenta não ter retrocesso. Por onde andará a esperança?

Fácil é viver cantando e rindo em viagens submissas sempre de mão estendia às esmolas de Bruxelas, apontando a culpa aos outros quando em crescendo os salazaristas conversos democratas na Nova Ordem Democrática face aos erros cometidos por sucessivos governantes afinam as gargantas cantando o velho hino da mocidade portuguesa, faltando-lhes perder alguma vergonha escondida para ao cantarem estenderem o braço direito a exemplo dos falangistas da vizinha Espanha.


11.06.23

 

Cansado deste tempo de guerras do diz que diz entre politiqueiros. Sou republicano, defendo a Republica, mas estou cansado das lutas do diz que diz ou disse mas não disse. Um país com quase novecentos anos de história merecia ter outra qualidade de governantes, de políticos, e não estes discursos de populismo barato e mentiroso entre uns e outros, por vezes ao nível mais baixo que o das varinas na ribeira.

Cansado por não perceber como pode um país depois de ter vivido quarenta e oito anos de uma ditadura feroz de tanta miséria, terem os seus cidadãos ao fim de uma dezena de anos após a instauração de Nova Ordem Democrática escolhido para governar um ressabiado converso democrata, salazarista convicto, e não contentes com esses anos de governação perdidos em que se "marcou passo", se fez à "direita volver" e "marcha atrás" em questões sociais do Estado Social, ainda o elegeram anos mais tarde para presidente. 

Tresmalhado do rebanho, sente alguma acalmia no seu espírito quando desliga das mentiras que os órgãos de comunicação difundem a mando dos patrões sem rosto nem alma humanista.

Não contentes com o ressabiado converso democrata, salazarista convicto, escolhem de novo para o substituir como presidente um outro converso democrata, antigo salazarista, que nos últimos anos do Estado Novo foi educado pelos padrinhos do regime para ser o futuro dirigente do partido único, a Ação Nacional Popular de Marcelo Caetano, como tal futuro Primeiro Ministro todo poderoso que dominava o pais em ditadura miserável há mais de quatro décadas, para desse modo continuar a zelar pela manutenção da ordem segundo os bons costumes e publicas virtudes da trilogia Deus, Pátria e Família.

Como pode este país progredir se até muitos dos ditos nobres republicanos da Nova Ordem Democrática, que se fazem passar por esquerda ao centro ou esquerda democrática apoiaram a eleição para um segundo e triste mandato do converso democrata “enfant terrible” do Estado Novo?

quinta-feira, 6 de julho de 2023

10.06.23

 

Ontem foi dia de ir até à Central Rodoviária de Sete Rios esperar a sua neta Maria que veio de Peniche para com ele ir andarem pela Feira do Livro de Lisboa. Pediu-lhe a neta que fossem comer no mesmo restaurante em que no passado mês de Setembro tinham almoçado, aquando da sua primeira visita com o avô à Feira do Livro, é que gostou de comer lá e já há uns tempos que não come sushi de que tanto gosta. Meteram-se no Metro e lá foram à Av. de Berna comer, a neta as variedades de sushi que gosta e ele que não é fã daqueles sabores ficou-se pela comida tipo chinesa. Voltaram depois para iniciarem o sobe e desce entre pavilhões de editores e alfarrabista, com a neta a saber que livros desejava e ele buscando alguma oportunidade nos livros do dia, assim como procurando encontrar os livros que os netos mais novos, com 8 anitos, gostam de ler. Sente-se feliz por os netos gostarem de ler livros, sendo a sua neta Maria uma leitora quase compulsiva, descobrindo que os dois mais novos gostam de ler banda desenhada. Até a sua neta Maria se admirou de a irmã Luísa gostar de ler banda desenhada, já que ela nunca gostou desse tipo de livros.

Enquanto a neta escolhia ou ficava apreensiva a ler alguns livros de autores que ela conhece com receio de estar a fazer o avô gastar muito com os livros que ela gostava de comprar, já o avô a incentivava a decidir-se, dizendo-lhe também que mesmo não comprasse de imediato a coleção, que se ela gostasse do primeiro que ele poderia depois encomendá-los à “Livraria Lápis de Memórias” em Coimbra onde compra seus livros.

Caminhava atrás da neta e dava conta como ele tinha mudado. Quando foi pai, se as filhas lhe tivessem pedido para comprar aquele tipo de leitura, talvez se intrometesse nos gostas das filhas e não lhos comprasse, para agora aceitar e incentivar as escolhas da sua neta. O mundo muda a cada instante e ele também vai mudando, aceitando os outros como são, com a consciência plena que mesmo sendo “tresmalhado do rebanho” não ganha nada em opor-se à corrente, apenas pode serenamente ir procurando remar a favor da mesma com a esperança de que mais à frente possam deixar a corrente e começar a andar por outros caminhos em busca de um modo de vida mais decente no agora inexistente futuro.

Quando já iam na segunda volta, ele ia olhando para as pessoas que por eles passavam e se cruzavam na esperança de nelas poder encontrar a ausência como um dia lá atrás no tempo andava ele na feira que se realizava na Avenida da Liberdade quando ela toda sorridente foi ao seu encontro indo graciosa e sorridente para a festa da sua paróquia. No meio da multidão que à medida que a tarde avançava ia aumentando só ele via o sorriso que procurava, numa teimosia que sabe não ter lógica nem sentido.

Quando a camioneta do Expresso partiu rumo a Peniche levando de volta a sua neta, também ele foi apanhar o comboio suburbano para voltar com o saco dos livros, pois este ano comprou mais livros do que na feira do ano passado.


08.06.23

É o tempo uma constante imutável há milhões de anos, não passa a correr como vulgarmente o dizemos. Nós é que inseridos numa sociedade criada pelo sistema que julgamos ser o melhor é que quase sem darmos pela existência do tempo corremos desenfreadamente a caminho do fim. Damos conta dessa correria quando chegamos à idade, somatório do tempo de vida, em que a nossa mente pensa e deseja mas o corpo ou já não responde ou se queixa de dores pela incapacidade de continuar a executar tais desejos processados pelos nossos neurónios, como anteriormente acontecia. Quando tal acontece, já entramos na terceira fase da vida, a velhice, onde alguns formatados arranjam palavras e conceitos como "idoso", ou "mais velho", para iludidos continuarem a iludirem-se alegremente.

Ser velho, ter alguma saúde que permita ter qualidade de vida proporcional ao tempo que se leva de vida é uma felicidade, não é nenhuma desgraça ou contrariedade, é o ciclo natural do tempo de vida que nem todos infelizmente conseguem alcançar.

Muitos dos nossos antepassados, pelo modo como viveram as dificuldades que o sistema então apresentava no seu e já no nosso ciclo de vida, puderam com todas as dificuldades ultrapassadas conhecer em vida netos e bisnetos.

Um dia a agulha da vida mudou, o sistema tremeu mas logo encontrou amigos para trazerem de novo o sistema aos seus carris não fosse o exemplo proliferar. De novo instalado, o sistema impôs a nova ordem democrática, com ajuda externa o modo de vida deu saltos, alguns deles descontínuos de qualidade duvidosa, numa ilusão frenética criando-se, implementando-se o conceito "qualidade de vida" ilusório e real ao mesmo tempo. A "central do sistema" investiu milhões e milhões de notas de valor fiduciário, na difusão e implementação da enganosa democrática "ditadura da felicidade" como o melhor caminho para se chegar a essa tal felicidade que inodora e insípida é desprovida de essência humanista. A vida é para ser vivida individualmente, os outros que façam o mesmo, é o conceito errado mas de tão difundido pelos servos do sistema a troco de notas com valor fiduciário se tornou global no dito ocidente civilizado por normas impostas pela "central" do pensamento único. A mesma "central" que faz gerar todos os males da sociedade atual, mas o importante mesmo é o indivíduo ser o centro de tudo, cada um que trate de si, os outros que façam o mesmo. Embalados, formatados, parametrizados pelo sistema num modelo que não respeita a Natureza, deram-nos mais anos de vida sem que muitos de nós possamos ter esperança com esse aumento de tempo de vida ver os vindouros bisnetos nascerem e crescerem uns anitos, como aconteceu com os nossos antepassados.

A educação ética e moral das crianças compete aos pais, à família, mas nas escolas da nova ordem democrática, abolido o livro único da ditadura, passaram as crianças a serem formatadas pelos novos métodos com vários livros na essência iguais, ditos de ensino criados e desenvolvidos pela "central" do sistema, para que o individualismo seja a matriz das suas vidas, não vá o diabo tecê-las.

Há quarenta e seis anos vivi um momento de felicidade que desconhecida até então. Na Maternidade Alfredo da Costa do SNS (que servos liberais ao serviço da "central" procuram destruir) nasceu-me nesse dia quarta-feira 8 de Junho (com a lua em quarto minguante) a primeira filha, tinha eu a bonita idade de 26 anos e a mãe um ano mais nova, 25 anos, os avós paternos 54 anos. Quando fiz os 46 anos, a minha filha já tinha 19 anos frequentando o ensino universitário. Hoje ela faz 46 anos mas o filho, meu neto, irá fazer 8 anos no próximo mês e eu já sou um velho rabugento, teimoso e tresmalhado embora por vezes bom rapaz com os meus 72 anos, sem esperança de poder ver um dia um ou uma vindoura bisneta, eu que só tenho saudade do inexistente futuro, estou perdendo a esperança até de poder ainda viver numa sociedade mais decente, mais transparente e humanista onde o coletivo volte a ser o motor da da vida e não está ilusória "ditadura da felicidade individualista" em que sonâmbulos se corre desenfreadamente para o fim. 

Um político manhoso disse um dia "É a vida! " Não, não é a vida, mas as mentiras que os políticos atuais produzem para que a vida não volte a descarrilar, como um dia encheu e uniu o país de alegria. Já Mia Couto no seu livro "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" escreveu na fala de um velho africano moçambicano que, "A política é a arte de mentir tão mal que só pode ser desmentida por outros políticos".

Todos os dias são dias, mas há dias que não morrem nem se esquecem porque vivem presentes nas nossas memórias vivas, 8 de Junho é um desses dias. Felizmente no saldo em movimento desta existência outros dias há que continuam presentes na memória viva, deste pai velho, rabugento, teimoso e tresmalhado embora por vezes ainda bom rapaz.

 

07.06.23

 

Relembro quem não conheço. Olho as capas dos jornais e ausento-me para parte incerta. Consulto o que dizem alguns na rede social. Aguardo o inexistente amanhã para nesse designado futuro, observar onde estará a tão almejada verdade que há muito desertou da comunicação social de pensamento único. Vivemos tempos de informação na designada comunicação social piores do que os piores tempos do fascismo salazarista. Nesse tempo tinha-se oportunidade de escolha, existindo contraditório censurado é certo mas onde trabalhavam jornalistas inteligentes, enquanto que hoje não há escolha não há inteligência jornalística. Os agora jornalistas na sua maioria resumem-se a servos dos senhores seus chefes e patrões. O contraditório não existe, todos alinham no mesmo comprimento de onda formatados e parametrizados pela visão ocidental que esconde de nós não só a sua natureza imperialista como quer que ignoremos, esqueçamos que o mundo do Planeta está em mudança lenta mas caminhando para deixar a unipolaridade económica existente nas relações entre países e povos do planeta Terra.

06.06.23

Chegaram à casa da Consolação. A manhã sem vento com o sol semi encoberto por nuvens altas recebe-os. Depois de arrumadas as coisas, varreu a pequena varanda antes de tirar o espelho da casa de banho por o sistema de lâmpadas ledes ter deixado de funcionar e a casa onde o compraram por estar ainda dentro da validade lhes ter proposto trocá-lo por outro igual que têm em armazém. Antes, tinha desligado a luz por um minuto a fim de se certificar que o antigo comando da televisão funcionava. Não foi a primeira vez que comando e aparelho não sintonizavam mesmo após terem mudado as pilhas do comando, comprando um novo para chegarem cá e após cortarem a corrente ao aparelho o mesmo voltar a estar em sintonia como o velho comando, devolvendo eles o que tinham entretanto adquirido. No dia anterior, como vem sendo normal, ouviu críticas por não se ter interessado em saber onde arranjar um novo comando. Ouviu e calou-se, não reage por assim ter decidido, pois se é coisa que pouco lhe interessa é a televisão. Quem é dependente é que deveria ter procurado encontrar um novo. Contudo, lembrou-se do desligar a corrente do aparelho quando voltavam para casa com o novo comando adquirido.

Realizado esses pequenos trabalhos meteu o livro debaixo do braço e foi em busca de um lugar onde o pudesse acabar de ler, já não faltava muito para o terminar. Pensou em ir sentar-se num dos bancos que existem defronte para o areal. Ao chegar lá os mesmos estavam ocupados, deu a volta ao Largo, olhou as rochas mas não sentiu vontade de descer e procurar um sítio para se sentar e ler. Voltou a olhar a praia, os bancos continuavam ocupados. O bar da Esplanada Mar Azul estava fechado, admitindo que seria o dia de descanso. Foi andando pela passadeira até à outra concessão de praia. No bar Clube da Praia sentou-se numa mesa a olhar defronte para o mar que mais uma vez está tão calmo que nem ondas na rebentação quase tem. Pediu um café cheio e uma garrafa de água e depois de algum minutos de contemplação, pegou no livro na página onde na noite anterior tinha ficado, colocou os óculos de ver ao perto e entrou nas palavras, no mundo do autor Rafael Gallo (prémio literário José Saramago 2022) vivendo o drama social de todo o enredo daquela "Dor Fantasma".

Terminou mais um livro, sentindo-se um pouco mais rico. Foi mais uma compra por impulso, que vai enriquecer a sua pequena biblioteca.




03.06.23


 

Ontem à tarde telefonou ao RdC a convidá-lo para almoçarem com o FV. Estão todos velhos, uns mais outros menos mas todos em casa superior aos setenta.

Foram jovens que se conheceram no serviço militar obrigatório, ele e o RdC em Chaves para onde os mandaram após o término em Mafra do curso de oficiais milicianos. Em Chaves no então BC10, o RdC substituiu-o na instrução aos recrutas quando oficiosamente ele foi escolhido para adjunto do capitão de operações da unidade BC10.

Passadas as onze semanas habituais de instrução aos recrutas, chegou então o FV e outros milicianos (eram todos milicianos, desde o capitão ao soldado).

O FV chegou para comandar uma companhia de caçadores com destino à guerra que ainda ocorria em Angola. Ele desceu do gabinete do capitão de operações (militar do quadro permanente, também ele mobilizado para formar Batalhão numa outra unidade militar) e foi integrado na companhia do FV para dar instrução de especialidade aos soldados. O RdC foi integrado numa outra companhia do mesmo Batalhão de Caçadores, a designada Primeira Companhia, enquanto eles faziam parte da Segunda Companhia.

Depois, nas terras do Leste de Angola as companhias ficaram em localidades diferentes do então concelho de Chitembo, onde se encontrava a Companhia de comando e serviços. Por motivos que nunca entendeu o RdC veio passar uns tempos à sua Companhia, comandada pelo FV.

Terminada a comissão no regresso cada um seguiu o seu caminho, profissional e político para passados uns largos anos voltarem a encontrar-se.

Agora, só ele é FV vão almoçar, pois o RdC está com uns problemas de saúde que o impedem de se deslocar até à Rocha de Conde d'Obidos, mas já ficou acordado que o próximo almoço ele e se o FV puder irão até à Parede para almoçarem os três, que um dia na juventude se conheceram e agora já velhos gostam de se reunir para falarem de tudo, respeitando o passado assim como presente de cada um, falando igualmente do país que um dia serviram, para depois mais do que esquecidos serem ignorados pela “nova ordem democrática”, como se pertencesse a uma geração de indigentes, quando na verdade verdadeira as gerações que veem pertencendo aos governos da “nova ordem democrática”, lhes devem a eles e a todos os antigos combatentes o terem à sua maneira de forma simples e disciplinada ajudado à revolta gloriosa do Movimento dos Capitães, que depois entregam o poder sem exigências de valorização profissional como era típico e norma dos militares revoltosos do 25 de Abril, aos políticos da “nova ordem democrática”, que sem humildade e disciplina na governação se transformaram numa nova «nobreza» sem o sangue dos antigos nobres da fundação do reino. Uma pseudo «nobreza» incapaz de desenvolver o país e defender os interesses portugueses, vivem hoje como pedintes de mão estendida perante os burocratas liberais e neoliberais sem alma de Bruxelas.

quinta-feira, 8 de junho de 2023

29.05.23

Muito se fala, pouco se ouve.

Muito se vê, pouco se observa

Assim corre a constância do tempo

Dia a dia o tempo de vida vai passando.

O tempo é um implacável movimento, que na sua constância nos envelhece o corpo mais do que reduz os milhões de interligações cerebrais que a cada momento se produzem no nosso cérebro, gerando uma perturbação no nosso funcionamento, passando a haver saltos na função do nosso comportamento, já que o cérebro processa ideias, processa desejos, mas o corpo ou já não responde ou logo as dores se apresentam ativas como sinal vermelho que impede a realização da ideia, do desejo, gerando em muitos humanos estados depressivos, de revolta pessoal ou de tristeza, podendo este ser o menos mau de todos os estados da designada velhice.

Sente-se velho, cansado, desiludido com o caminho, a revolta anda sempre rondando, a tristeza é companhia frequente, mas a vontade de viver continua a criar energia para seguir em frente na sua caminhada até ao encontro com o momento final.

Se desistir é palavra proibida, abandonar é palavra que o castiga pelo que já abandonou, não querendo de modo algum que essa palavra volte a entrar de novo no seu léxico, os outros podem e muitos já o abandonaram, mas ele não pode, não quer de novo fazer uso dessa tão azeda e dorida palavra.



A prima com os pais, seus primos, deixaram-no na estação de Alcântara Terra a seu pedido. Não lhe apetecia ir andar por Lisboa entre estaleiros de obras e manadas de turistas.

Sentado no velho banco da estação de Alcântara Terra esperando o comboio que o haveria de levar de volta, olhava a Rua Maria Pia com os olhos quase a deixarem rolar pelas faces as lágrimas que os inundavam. Um turbilhão de emoções preenchia os seus pensamentos que nem se lembrou que não tinha colocado o bilhete na máquina para o validar e já estava sentado com o comboio prestes a partir.

Seu pai tinha dúvidas que a pequena casa e as oliveiras não ficassem ao abandono. Dúvidas ou medo que ele não conseguisse pagar ao irmão a parte a que o mesmo tinha direito.

Hoje, passados quase sete anos do término da vida de seu pai, os seus primos António e Irene fizeram-lhe a doação do terreno de oliveiras designado por Horta da Corona, com o seu primo a dizer-lhe que a doação era feita sem qualquer encargo para ele pelo que tudo o que viesse a pagar nas Finanças lho dissesse para ele pagar.

É certo que o chão das oliveiras dificilmente seria vendido por um valor justo, mas mesmo assim ficou com os olhos a humedecerem sem palavras para lhes agradecer. Mais do que o valor material há para ele um outro valor que há medida que vai permanecendo naquela terra o vai ligando às suas raízes que estavam adormecidas como que desconhecidas ainda há poucos anos. Aquele chão foi dos seus bisavós maternos, ao passar para si a seiva que corre nas velhas oliveiras é o sangue que eles procriaram podendo eles continuar por lá sempre que o queiram.

Mais do que o valor material, o valor sentimental é para si é maior do que qualquer outro.

Ainda há quem goste dele, ainda acredite que ele irá cuidar com zelo do velho chão, que nos últimos anos andava meio abandonado, explorado até ao limite.

Os seus primos sempre os ajudaram e em especial a ele, mesmo quando ele fez que não entendeu a oferta de trabalho no banco onde o primo era administrador, nunca deixou de ser seu amigo, seu padrinho de o ajudar, ouvindo-o.

Tem consciência da sua idade, 72 não são 27, nem tão pouco 57, mas mesmo com consciência da idade não deixa de sentir uma emoção de felicidade, pois ainda há quem goste dele e acredite nele. Não é o valor do bem que está em causa, já que o mesmo a preços atualizados pelo IMT tem uma valorização pouco mais que seiscentos euros, não é pois o valor material mas o significado, de um bem que pertenceu aos seus antepassados ser agora seu, invertendo o medo e as dúvidas que seu pai tinha de tudo ficar ao deus dará.

Irá agora tratar de saber como pode adquirir os imóveis rústicos do seu tio avô João Capelo, por forma a que não fiquem ao abandono, a não ser que algum dos herdeiros ausentes apareça por lá e reclame o direito de ficar com eles. As pessoas da aldeia já o veem como dono dos dois chões que aquando do falecimento de sua tia Isabel sobraram.

Passo a passo caminha sentindo-se gente, sentindo-se útil e capaz, não se esquecendo que já tem 72 anos de idade e de vida, nem sempre fácil.

Chegou a casa ao mostrar os papéis, caderneta predial e certidão de doação, levou com mais um murro frio de incompreensão, do porque estas coisas com esta idade. Não respondeu ciente de que tudo o que dissesse seria incompreendido. Se não entende os laços que o ligam aquelas pequenas paredes da casa, como irá entender a sua felicidade ao ficar com um chão de oliveiras que era da sua família, dos seus bisavós, como irá entender o porque da doação que o primo e padrinho lhe fez. Calou-se porque não alimenta discussões sem sentido. Procura a Paz porque ele mesmo se julga a si próprio de paz.

 

27.05.23

 

Saiu quando novo aguaceiro se anunciava com um pingo de chuva aqui e outro ali. Como é normal e usual aguaceiros de chuva forte só depois do Ladoeiro. Pelo caminho deslizando pelo A23 nos intervalos dos aguaceiros que as trovoadas faziam cair, ia pensando na desgraça que governo atrás de governo têm sido as escolhas políticas de políticos para os ministérios da agricultura e do ambiente, só nos saem moedas furadas sem valor e peso ministerial, simples "chefes de secção" em uma qualquer grande multinacional. Falam bem diversas línguas e pouco mais. Gente sem ideias políticas que defendam o país nas suas reuniões por Bruxelas. Simples amigos e conhecidos dos líderes partidários para executarem as políticas que os burocratas liberais de Bruxelas nos ordenam, distribuindo uns milhões como adoçante de boca em programas e ajudas financeiras que beneficiam mais os agentes intermediários do que a produção agrícola ou a Natureza.

Desde que o engenheiro agrónomo Fernando Gomes da Silva foi ministro da agricultura no primeiro governo de António Guterres, nunca mais o ministério teve a dirigi-lo gente capaz e conhecedora dos problemas da lavoura nacional. Só moedas furadas nos têm saído na rifa. Gomes da Silva ainda Ministro, em 1996, juntou-se a uma manifestação de agricultores, em frente ao Ministério da Agricultura, em Lisboa, contra a aprovação de uma medida da Política Agrícola Comum da União Europeia, que, enquanto ministro, não havia conseguido impedir em reunião do Conselho da União Europeia. No Luxemburgo irritou de que maneira os poderes instalados em plena crise das vacas loucas (crise, ainda não conhecíamos a palavra pandemia) comeu num restaurante mioleira de vaca e aconselhava os portugueses a comerem alheira ao almoço. Bateu com a porta e foi tratar da sua vida de agricultor. A atual senhora que ocupa a cadeira ministerial da agricultura mais não é que uma “chefe de secção” da multinacional a União Europeia, que já leva tempo ministerial para saber que a seca nos campos não chegou agora num qualquer “TVDE”, ano após ano chove menos, mas ano após anos fecham os olhos às plantações novas de cultivo intensivo e super intensivo sejam de frutos vermelhos, abacate, amendoal ou olival que mesmo que com as novas tecnologias utilizem muito menos agua que os anteriores métodos de rega, serão utilizados milhões de gotinhas instantâneas que todas juntas terão impacto nos solos que daqui a uns anos serão conhecidos torcendo a orelha mas já não irá deitar sangue, pois já não existirá o tal de sangue apenas químicos e mais químicos pouco amigos da saúde ambiental e como tal publica. Perante as notícias alarmistas dos órgãos de comunicação de meterem medo à população com a seca, vai a senhora de mão estendida pedir ajuda aos burocratas bruxelianos que tanto gostam de verem os governantes do sul de mão estendida a pedirem ajuda, para depois anunciar ao país cheia de glamour que o governo francês se dispôs a venderem palha aos portugueses aos quais junta mais uns subsídios de apoio ao agricultor em dinheiro. Esqueceu-se a senhora de exigir aos seus amigos franceses e europeus que a palha francesa nos sejam vendida ao preço de mercado antes da sua enorme escassez e não ao preço asfixiante que o agricultor português seja grande, médio ou pequeno não tem o poder de compra dos seus parceiros congéneres franceses; quanto ao tal dinheiro a dar de ajuda aos agricultores os que neste momento vivem sem saberem onde irão encontrar palha para os seus animais, vão pegar nas notas do subsídio e vão da-las a comer aos seus animais… Somos um país pobre que tem quase novecentos anos de história, há que ter gente que em Bruxelas, Estrasburgo ou Frankfurt que dê um murro na mesa honrando o nosso passado histórico. Pobres mas não pedintes. Somo gente de um país de corpo inteiro, Porra!

Não sei para que existe um tal ministério designado como Ambiente. Quando se encheu o país de betão e alcatrão nunca o Ambiente foi respeitado quando seus técnicos ministeriais davam parecer negativo à proposta da promotor da ideia. Em 2017 nesse verão de triste memória em que o assassino fogo andou queimando parte do país, foi a A23 cortada diversas vezes pela ação do fogo que deixou as margens da autoestrada negras com pinheiros e eucaliptos queimados, o que era verde ficou negro de tristeza. Opinou o ministro ambientalista do alto da sua cadeira, opinou baixinho o ministro da agricultura com medo de ser ouvido, opinaram alto e com ruído várias organizações que se intitulam ambientalista pela recuperação da área ardida com as antigas árvores autóctones. Ano a ano, quase mês a mês lá circulo pela A23 olhando as margens em busca de novos pinhais, porque autóctones é coisa de quem não vive do rendimento daquelas terras de montes e vales. Novos pinhais não se observam nas margens da A23, mas o que se vê são novas plantações de eucaliptos. Nada tenho contra o eucalipto, nunca ví nenhum imolar-se pelo fogo por sua própria auto recriação, só ardem porque a mão humana assassina dos interesses ligados aos incêndios florestais lhe deitam fogo. Até pensava que o assunto da floresta era da agricultura mas em 2017 quem opinava dando a cara foi o ambiente.

Ano a ano a chuva que cai no território nacional vai diminuindo, contudo não se vislumbra um político que apresente um projeto novo para fazer face à previsível seca que irá continuar a castigar o país. Precisa o país de gente política com ideias próprias e não apenas de bons executantes, quais “chefes de secção” das políticas que os liberais de Bruxelas nos dizem para cumprimos.


24.05.23


 

O amanhã é só um desejo expresso no momento presente em que aflora, em que nasce. O amanhã de verdade não existe, tal como o futuro é um desejo de se poder vir a vivenciar na vida que ocorrerá quando esse tempo chegar se chegar. Este, o tempo, existe desde que o Planeta se formou rodando à volta do Sol sobre si mesmo, criando a noite, o dia e os anos, que povos muito antigos, os sumérios, com os seus saberes simples que a própria Natureza lhes mostrava, sem as tecnologias que hoje o homem criou e domina, souberam dividir o tempo em horas, dias, meses e anos que ao longo do tempo histórico até hoje se mantiveram imutáveis.


Como não lhe apetece fazer nada, vai varrer o quintal que a ventania que ontem ao final da tarde ocorreu e depressa levou os pingos da chuva para outras paragens, deixando tudo sujo de folhas e terra. Vai olhar as árvores com receio de ver se a pouca azeitona não caiu com aqueles ventos de rajadas tão fortes. A vida no campo é ingrata, sempre incerta dependente dos humores da Natureza.

Contudo, é desta forma de vida que gosta, pois a vida de reformado na cidade é aborrecida para si, nada ter que fazer não é a sua praia. Há que ter obrigações coisas para fazer e assim ter sempre o corpo em movimento. Na cidade, depois da volta matinal com a sua amiga e de tomado o pequeno almoço pouco há para fazer. Pode apanhar o comboio ou o autocarro de carreira e ir até uma vila próxima ou mesmo até à cidade grande, andar junto ao Rio Tejo ou pelas ruas onde há sempre coisas que se podem ver, rever ou descobrir. Tudo isso é verdade, mas a maioria dos dias fica por casa, lendo e escrevendo depois de tratar as plantas que teima em possuir numa pequena varanda virada quase a norte. Essa vida sedentária é ajudada pela preocupação com o pagar as responsabilidades que assumiu com o irmão para ficar com a casa dos pais e com o empréstimo bancário que fez para pagar algumas obras estritamente necessárias. O seu pai viveu os últimos anos sozinho e convencido que nenhum dos dois filhos iria se interessar pela casa, pela meia dúzia de oliveiras que deixou num chão, onde ele tinha a sua horta; não vendeu o chão porque dizia que a casa com o chão sempre podia valer um pouco mais, como seu pai estava errado, os terrenos com ou sem oliveiras não valem nada, pois ninguém quer comprar trabalho, dizendo-lhe um amigo que «mesmo dados são caros», é mais fácil ir ao supermercado e comprar os legumes,os tubérculos etc. porque não pensam nos químicos que foram usados para os produzir. Químicos que pela absorção podem estar ainda ativos nos produtos que estão expostos nos supermercados. Cavar a terra mesmo com a moto enxada dá trabalho, puxa pelo físico, depois há sempre as ervas daninhas que por mais que se cortem, que se arranquem voltam sempre a crescer; na horta há que ter água para regar os produtos e com isso começa de certa forma uma prisão, pois tudo numa horta requer trabalho, requer ser tratado e regado quando a seca aperta, sem se falar no verão em que há que regar de manhã e ao final da tarde.

Como não sente o espírito de viajar para outros destinos não se importa de estar ora na cidade dormitório ora no seu canto raiano. Mesmo sem esse espírito de viajante turista, não deixou de ter sonhos como gostar de conhecer outros lugares, entre os quais ir a Israel andar nas ruas a observar como aquela gente vive, ir à Índia de novo andar a observar a vida como eles a vivem, num e no outro país ver e sentir a vida mais do que visitar grandes monumentos ou lugares sagrados, gostava de voltar a Angola de visitar o Mumbué, fazer a viagem depois até à fronteira com o Congo onde já não existe o quartel estratégico de então designado por "Ponte de Zadi", passando uns dias Nova Lisboa para sentir a nova Angola e, por fim um dia sonhou poder fazer a viagem costa a costa por terras do Canadá. Não realizou nenhum desses sonhos, desses projetos mas não se sente infeliz por não os ter realizado, nem sequer isso o entristece. A vida ensinou-lhe, ele aprendeu que sonhar é preciso mas viver a vida tem muitas nuances, muitos «ses», e como tem dificuldade em falar outras línguas, sente-se bem considerando-se um português de lés a lés. Mesmo no velhinho Portugal nem o Algarve, nem as Ilhas Insulares o atraem. Até a sua praia da Consolação já não interage consigo como no passado, tudo tem o seu tempo e agora o seu tempo de vida é um viver simples com gosto onde tudo parece faltar segundo os parâmetros de vida que o sistema de sociedade impõem silenciosamente numa ilusão que ele vê, sente e não gosta, daí o não se importar de estar entre gente simples, resistentes à desertificação. É lá naquelas terrenas que estão e sente as raízes dos seus antepassados, é lá que gosta de estar.


Com as nuances vividas ao longo do seu caminhar aprendeu que as casas grandes dão muito mais trabalho que as casas pequenas, para no final, as casas serem do tamanho das almas que as habitam.


Depois de almoçar bebeu o seu café um um golinho de aguardente bagaceira num copo pequenino que encontrou nas coisas das heranças que seus pais guardavam a pedido de alguns primos, que nunca se interessaram posteriormente em ver se alguma dessas pequenas lembranças dos antepassados lhes agradava. Gosta de beber quer a água, quer o vinho ou o digestivo aguardente vínica ou bagaceira pelos copos antigos que encontrou de seus avós e tios avós. As coisas até lhe sabem melhor sabendo que são simples manias suas, mas gosta e decerto não irá mudar. Quando saiu para o quintal viu uma pequena ameixa no chão, apanhou-a e ao olhar a árvore viu que a passarada já tinha andado a bicar algumas delas, pelo que começou a apanhar aquelas que já estão maduras. Afinal, este ano irá comer as suas ameixas de que gosta, são pequenas mas saborosas e doces. Não irá arrancar a árvore como tinha falado com o seu amigo Zé. Irá poda-la por forma a que novos ramos de formem em pequenos troncos para substituir os que parecem estar velhos com sinais de podre. Árvore que terá nascido de um simples caroço deitado à terra, como tal os frutos que dá são eles próprios o sangue da natureza.

Depois, sentou-se no sofá e cochilou uma sesta rápida. Ao acordar ligou o aparelho televisivo procurando se algum canal espanhol estaria a transmitir a Volta à Itália em bicicleta. Não encontrou e predispôs-se a ouvir o debate parlamentar ao Governo na Assembleia da Republica. Ouviu as perguntas e respostas entre os deputados da oposição Sarmento do PSD e Ventura do Chega, assim como as respostas do PM. Quando iniciou o tempo do deputado da oposição da Iniciativa Liberal e o tema continuava o mesmo, desligou o aparelho. Não se sentiu nem triste nem desiludido, sorriu satisfeito por se ter tresmalhado do rebanho que segue aqueles debates acreditando no que um lado e o outro dizem, convictos de a verdade esta do lado dos que uns e outros gostam. Como ele já não acredita nem em uns nem em outros, viu como a Democracia não se fortalece, estando dia a dia mais anémica a necessitar urgentemente de nova transfusão de sangue sem que se vislumbre no horizonte quem poderá ser o dador que permita à Democracia tirar as gentes anónimas da hibernação a que o sistema da nova ordem democrática as conduziu, para que as mesmas possam voltar a sorrir, voltar a acreditar, deixando os populistas baratos a falarem sozinhos nas suas cantilenas.


Estava a reler o que tinha escrito no seu computador quando sentiu a musica da chuva no telhado do seu telheiro. Foi à janela do quarto e confirmou. No céu viam-se os relâmpagos da trovoada que chegou de novo com o vento a soprar em rajadas não tão fortes como na tarde anterior. O vento trouxe a chuva que ficou caindo um pouco mais sem ser com vento, uma água que deu alguma humidade aos terrenos secos ávidos de sede. Olhou as oliveiras e confirmou as suas folhas voltadas para cima a fim de receberem a abençoada chuva, que chegou tarde mas vale mais tarde que nunca. Com ela alguma pouca erva irá nascer e renascer para os animais de pastagem possam saciar a sua fome de alguma verdura.


Nestes finais de tarde a chuva, mesmo que seja pouca, trás o arrefecimento do ar e tudo fica mais silencioso anunciando a previsível chegada da solidão, sentindo que este tempo é agradável para partilhar uma simples conversa com quem esteja presente. Ele só tem a ausência como companhia, sentindo que o seu estado de solitário fica mais nostálgico mais fraco e carente com estes finais de tarde em que a chuva caiu por momentos.

Nestas alturas recorda as palavras de seu pai quando os dois conversavam, dizendo-lhe o pai «que para viver cá, teria que encontrar outra mulher». O pai sabia do que falava pois viveu dezasseis anos sozinho após a morte de sua mulher tendo os dois vivido mais de cinquenta anos de vida em comum. Viveu seu pai por sua decisão alguns anos no lar gerido pelo Centro Social de Bem Estar e Cultural a cujos corpos gerentes pertenceu alguns anos, mas mesmo nesse tempo estando rodeado de pessoas continuou a viver sozinho, porque o estar só é um estado de alma que se interioriza independente de quem possa estar ao nosso lado.

Essa experiência de estar acompanhado estando só, já a tem sendo um doutorado pela universidade da vida; ainda pensou que com o relacionamento com a nova companheira depois de estar separado e divorciado iria ser diferente mas não, dia a dia está mais só do que alguma vez imaginou. Mais só porque pensam e defendem valores diferentes, alguns mesmo antagónicos, vivendo junto porque existe gratidão da sua parte, uma gratidão que se sobrepõe ao amor anémico que os une. Gratidão por quem lhe deu a mão, quando andava perdido pensando em muitos fins de tarde como o de hoje em que solitário pensava em desaparecer tornando-se em mais um desconhecido sem obrigo, longe de tudo e de todos. Ela deu-lhe a mão e fê-lo sonhar com uma vida de companheiros, que hoje sabe que foi um sonho de ilusão com o passado de cada um a intrometer-se constantemente entre eles.

Ao jantar liga o aparelho de televisão, olha-o sem se inteirar do que estão a falar. A televisão não o satisfaz minimamente. As notícias de como corre o mundo pouco lhe interessam. Liga o computador para escrever e ao mesmo tempo ligar-se ao YouTube e ouvir as suas musicas que continuam a ser as mesmas de quando jovem acreditava num mundo novo e diferente daquele em que vive e ajudou a construir.

O telefone não toca, ninguém lhe liga e também não sente vontade de ligar. O silêncio é a companhia dos seus pensamentos das suas recordações.

Antes de desligar o computador lembrou-se de ir ver a sua ficha de cadastro na Autoridade Tributária. Continuava tudo na mesma, sem resposta à sua solicitação. Em tempo enviou por correio registado a documentação, incluindo fotocópia notarial do pedido de reavaliação do estado multiusos que fez na Delegação Regional de Saúde da Região de Lisboa e Vale do Tejo. Agora por via eletrónica pediram-lhe o envio de tal documento. Tirou um foto com o telemóvel, enviando-a para o e-mail e daí para os documentos de modo a anexar na resposta à Autoridade Tributária. Vai aguardar mas o que tudo isto significa é a falta de profissionalismo do funcionário que rececionou a carta com os documentos que enviou no início do ano. É em parte por isto que desligou da política atual, tanto lhe faz que seja o PS como o PSD a governar. A diferença entre eles é apenas na forma como nos “violam” nos “sodomizam” cumprindo ambos as decisões dos liberais e neoliberais que sem serem eleitos pelo voto direto dos cidadãos nos governam a partir de Bruxelas. Os que se designam do “centro-esquerda usam palavras redondas qual creme ou vaselina, enquanto que os outros da «direita-ao centro» é logo a frio, querendo ambos ficar bem na fotografia perante os liberais sem alma humanista de Bruxelas. O «centrão» político criou uma máquina estatal de funcionários que a exemplo dos superiores políticos-nomeados não respeitam os direitos dos cidadãos anónimos. Estão lá para ganharem o deles no fim do mês. Que merda de vida esta da nova ordem democrática. Desiludido despede-se das letras que vai escrevendo e vai colocar o corpo na horizontal já que no YouTube o Zé Mário cantava «faz o que tens a fazer».



segunda-feira, 5 de junho de 2023

22.05.23

 

Ao contrário do que tem sido habitual enquanto preparava o almoço ligou o aparelho de televisão ouvindo dizer que o PM iria prestar declarações. Ficou atento, ele que anda a leste das notícias e “trincas” políticas que ocorrem na capital. Já não tem paciência para os ouvir, mas ficou curioso e ouviu o que o PM disse aos jornalistas antes do almoço comemorativo dos 25 anos da Expo98.

Nasceu e cresceu os primeiros anos naquele território que agora por interesses partidários do centrão resolveram tirar à sua freguesia de nascimento criando uma nova e pomposa freguesia designada como Parque das Nações. Para si a sua freguesia continuará a ser Santa Maria dos Olivais, mesmo que nos documentos oficiais lhe coloquem apenas Olivais.

Não se julga superior a ninguém nem a nada, antes pelo contrário, é hoje um quase nada que desiludido com a política do país se tresmalhou do rebanho por sua opção, vivendo como que ausente na outra margem da vida.

Leva uns anos bons de política ativa e passiva (mesmo tresmalhado não deixou de ser um político passivo) e, ao ouvir o PM responder a várias perguntas dando sempre a mesma resposta, lembrou-se do tempo em que os comunistas eram acusados de terem sempre a mesma cassete, embora por vezes quem responde tenha que repetir a mesma resposta, pois na essência as perguntas que os jornalistas fazem são quase sempre iguais, elaboradas com palavras em moldes diferentes.

Uma coisa sabe, se fosse PM não mandava recados, nem dava troco ao que o “homem do Poço de Boliqueime” terá dito ou arrotado, pois os políticos que vivem as suas douradas reformas gostam muito de arrotar os seus arrotes como se fossem donos da verdade. O “homem do Poço” quando governou o país até da terra natal teve vergonha mudando-lhe o nome; um político que nunca o entusiasmou nem convenceu antes pelo contrário, sempre se interrogou como é que depois de tantos anos de miséria salazarista os portugueses passado pouco mais de meia dúzia de anos da nova ordem democrática escolheram para governar e mais tarde para presidir um salazarista convicto de vistas curtas, um funcionário publico que tinha às costas na altura em quer foi nomeado primeiro ministro um processo disciplinar por faltar às aulas na universidade onde era professor, indo nesse tempo dar aulas numa universidade privada e católica, recebendo dos dois lados. Os portugueses têm o que merecem.

Depois de ouvir o PM teve de desligar o aparelho quando o canal televisivo onde estava sintonizado lhe deu como notícia algo que um político de que não gosta terá dito ou comentado. Os seus fracos tímpanos não suportam os dizeres que o senhor que ocupa o lugar de presidente da Assembleia da Republica diz do alto do seu convencimento, daí o desligar de imediato o aparelho televisivo.

Não gosta de praticar estes atos de censura, mas não encontra outra alternativa melhor para proteger a sua sanidade mental.

Vive bem no seu canto longe das “trincas” e notícias que nascem e correm na capital, já não tem paciência para tanta discussão, tanto diz que não diz, fez que não fez, mandou mas não mandou, ordenou mas não ordenou, tanto comentador encomendado.

Desde que pela primeira vez ouviu a notícia sobre uma faustosa indemnização dada a uma senhora administradora da TAP, logo lhe cheirou que aquilo deveria meter “luta de saias”. Assim parece que tudo começou por causa da incompatibilidade de saias na empresa publica TAP e, já os deputados vão interrogando o ministro que nem era responsável pelo pelouro da empresa publica na altura em que a disputa de saias deu lugar há tal afrontosa indemnização à senhora que na luta de saias era o elo mais fraco. Das saias passaram pela privatização, pela renacionalização e agora andam às voltas com um computador que mete os serviços de informação e segurança, o ministério publico tudo numa confusão sempre mais confusa para que no relatório final a montanha irá de novo parir um rato, com os da oposição e os seus fieis órgãos de comunicação a tecerem críticas à forma e ao modo como a maioria irá redigir o relatório final. Sempre foi assim quando se formam aquelas comissões parlamentares que não levam a lado nenhum a não ser à lavagem de roupa suja entre os diversos partidos políticos nelas representados para gáudio dos órgãos de comunicação social, que passam horas e mais horas com os seus comentadores encomendados a comentar o que se disse, o que presumivelmente deveriam ter dito e não disseram, ou seja a ideia de verdade que agrade ao patrão mesmo que a verdade nada tenha a ver com a mentira por eles difundida.


Nos intervalos que as tardes lhe dão, pensa na vida e nas voltas que esta lhe deu ou fez dar para estar aqui sozinho no seu canto.

Nos vários caminhos do pensamento das causas de estar e ser um solitário, ela volta a estar presente mesmo sem saber quem ela é hoje. Mesmo sem hoje a conhecer vive com a sua imagem de juventude. Uma lembrança que já o atormentou mais do que nestas últimas semanas. Recorda-a ultimamente sem sofrimento, aceitando o silêncio dela ao seu pedido de desculpas pelo que lhe fez quando jovens. Deixou-a sem lhe dar uma explicação para o facto. Já tocou à porta onde presume que vive, já lhe escreveu mas só silêncio vazio obteve como resposta. Errou na altura. Reconhece o erro. Como vale mais tarde que nunca, agora passados mais de 50 anos pediu-lhe desculpa e ela responde-lhe com o mesmo silêncio com que ele respondeu aos seus telefonemas de então. Nunca lhe desejou mal, antes pelo contrário, sempre ao longo da vida desejou que ela tivesse sido mais feliz do que teria sido com ele, ser inquieto revoltado de muitas duvidas.

Quando a deixou sem explicação alguma já não era um religioso católico, como ela era, já vivia na outra margem da vida sem religião, abraçando muitas duvidas, mas sem pensar em voltar atrás. A revolta contra o sistema político em que viviam era um vulcão dentro de si. A imagem dela a ir a uma aula furando a greve que os estudantes levavam enfrentando a ditadura, fá-lo ver então que os dois tinham de sofrer e não teve coragem de a ver chorar de novo. Eram jovens que se gostavam, e, hoje já de barbas brancas aqui neste seu canto raiano, ainda a vê a ir à aula, ainda a sente agarrada ao seu braço chorando e pedindo desculpa pela bofetada que lhe deu, quando ao fundas das escadas de sua casa ele procurou dar-lhe um beijo. Tem saudades desse beijo que nunca lhe deu. Quando a deixou não a trocou por nenhuma outra moça, era dela que ele gostava e por ela ainda hoje sofre. Ainda hoje nas suas conversas com além sagrado pede aos bons espíritos que por ele zelam que igualmente possam zelar pela sua saúde, pelo seu bem estar, esteja ela onde estiver, esteja ela com quem estiver.


Sabe que o futuro não existe. O que lhes ensinaram sobre esse tal futuro foi e é uma forma de iludirem as pessoas. A vida só tem presente que de tão fugaz logo é passado que nos vai moldar nos nossos posteriores comportamentos ao longo da nossa caminhada por esta existência terrena.

Com consciência de que é um quase nada ou talvez mesmo já seja um nada, vive triste e feliz aqui no seu canto. Triste por estar aqui só. Quem o rodeia não sabe, não conhece não se interessa nem imagina a sua felicidade ao ver as coisas que tem no seu quintal florirem, frutificarem. A alegria que o inunda ao ver as flores dos tomateiros gerarem fruto, ao ver como as uvas vão crescendo, até de forma anormal pois com as alterações climatéricas tudo este ano parece estar adiantado no seu ciclo de vida. Todos os dias olha a ameixeira que de um caroço nasceu espontânea ainda no tempo do seu pai que tanto gostava dessa fruta, olha-a para ver as pequenas ameixas a ficarem dia a dia mais maduras, alimentando-lhe a esperança de as poder colher antes de voltar para a cidade dormitório da cidade grande; ainda esta manhã e pela primeira vez colheu duas ou três framboesas que lhe souberam a céus de felicidade, mas estes seus momentos ninguém que o rodeia imagina, lhe dá um pouco de atenção e muito menos valor.

Até parece que veio a esta caminhada só para servir os outros.


Ao jantar uma sopa de caldo verde que tinha feito com as couves que tem no quintal e uma banana, viu uma reportagem que estava a passar na RTP3 sobre o movimento religioso nos Estados Unidos, pensou no que tinha escrito antes de sair com a sua amiga para a volta higiénica do final de tarde.

Como é que diz não ser religioso, não seguir nenhum credo religioso e depois dizer que nas suas falas com o além sagrado pede aos bons espíritos?

Não tem, não segue nenhum credo religioso, não se sente católico, nem ortodoxo, nem judeu, nem muçulmano, nem budista, nem nenhuma das várias correntes que se podem designar por cristãos protestantes, sejam anglicanos, calvinistas ou outros. Nem tão pouco se sente ateu. Contudo, tudo isso não o impede de ter a sua religiosidade acreditando que o espírito que nos encarna não morre com a declaração material da morte, há mais vida para lá desta viagem terrena, vida que existe num universo desconhecido dos nossos sentidos, pelo que somos uma dualidade corpo-matéria, espírito-transcendência. Ao acreditar na espiritualidade, ao falar com esses seres seus desconhecidos, pede também por ela, porque como já escreveu, nunca lhe desejou outra coisa que não fosse o seu bem estar a sua felicidade. Já lá vão anos e anos que sem a conhecer nem saber nada da vida dela lhe deseja sempre o bem. Acreditem ou não nas suas palavras, pouco se importa já que os seus sentimentos são verdadeiros e não ganha nada em criar cenários que possam ser só delírios...

Ao não se considerar religioso não vê na religião um inimigo seu. A religião interfere consigo quando os religiosos entram com os seus conceitos na política, seja no caso da interrupção voluntária da gravidez, seja com a eutanásia ou questões com a sexualidade de género. Quantas vezes aos domingos de manhã ouve a missa na rádio para se inteirar ouvindo o que dizem os padres ou bispos aos seus fieis seguidores . A religião sempre foi conservadora de hábitos e costumes, que desde os tempos primórdios sempre viu na ciência um inimigo com o qual muito poucos lideres religiosos souberam interpretar aceitando os avanços técnicos da ciência. É assim que passa ao lado dos presumíveis crimes de pedofilia cometidos no seio da igreja, como também nada lhe diz o evento que irá ocorrer designado por jornada mundial de juventude. Como o Estado se rege por uma Constituição laica, passa ao lado das decisões com os gastos públicos com tal evento, porque não acredita que a religião alguma possa resolver os males que existem no Planeta. Não devemos por nas mãos de um ser desconhecido a quem chamamos Deus, os problemas que aos seres humanos compete resolver.


Quando em Outubro de 1975 decidiu casar com uma moça que conheceu quando veio da guerra passar um mês de férias junto com os seus pais, não casou pela igreja, apenas e só pelo civil para não dificultar ainda mais a vida dela com os seus futuros sogros, pois já nesse tempo pensava que casamento é um estado de espírito mais do que o «contrato de casamento» que a sociedade civil impunha. E, quando após o falecimento de sua mãe, as suas filhas lhe diziam para saírem os três de casa, sempre lhes disse que assim como não se deve abandonar uma pessoa que sofre de Alzheimer, também não se deve abandonar quem é doente de depressões quase continuas. Mas, como nasceu para servir, um dia a sua companheira mãe das suas filhas, decidiu deixa-lo com as filhas, ou seja, no final ficaram os três, ele e as suas duas filhas. Sina? Destino? Não sabe, gostando mais da palavra brasileira, Aprendizado.


São quase dez e meia da noite, levando umas horas a falar com o silêncio, com a sua ausência num mar de esperanças, contando-lhe coisas como se estivessem interessados em saber o que ele pensa e faz. Sorri, pois esta é a forma que tem de não deixar que a solidão entre na sua casa, basta-lhe o silêncio incomodativo de não ter diálogos sonoros.

Depois, mesmo quando namoravam ele nunca foi de grandes conversas telefónicas, ainda hoje assim continua, o aparelho de telemóvel serve-lhe tanto para falar como para tirar fotos mas mais até para escrever o que lhe vai na alma. Sabe que a sua vida será pouco mais que isto em termos afetivos, não alimenta ilusões, está só e irá continuar só, mesmo quando partilha o espaço de casa com outra pessoa.

Ainda ontem, no festival das “Cordinhas da Beira Baixa” em Idanha quando sentia os olhos húmidos de lágrimas ao ouvir as musicas que sua mãe gostava de ouvir e cantarolava, pensou nela mas de imediato a sua sombra o aconselhou a não pensar, pois não há nada a resolver nem a pensar. Há erros que não se resolvem apenas se carregam ao longo dos dias que a viagem posterior dá como oportunidade de vida.

A solução para viver passa por aceitar a sua tristeza da forma mais alegre e feliz possível, fazendo o que gosta de fazer já que os outros são os outros e ele vai continuar a andar na outra margem da vida no seu caminhar solitário levando consigo memórias do que não viveu.


Sente falta das filhas, sente falta das netas e do neto. Sente falta mas aceita sentindo que a revolta que em tempos sentiu por elas não lhe ligarem para saber se esta bem se precisa de alguma coisa, esse sentimento de revolta vai amadurecendo e ficando mais leve ou porque se habituou ou porque se fortaleceu interiormente nesse sentido. Deu o que soube dar e mais uma vez o presente que vive lhe ensina o aprendizado, nasceu para servir. Sabe que hoje as novas gerações encaram a vida e as relações afetivas com os mais velhos de forma diferente daquela que ele viveu em relação aos seus pais, independentemente da educação que tiveram e ele lhes deu, o meio em que vivem e se relacionam a isso conduz, os mais velhos que vivam a sua vida que na deles problemas não faltam, não sentindo ele direito de interferir nessa forma de hoje viverem. Encara essa realidade anexando-a à sua forma triste de ver o mundo e a vida presente. Preocupa-se com o tal futuro inexistente pensando nos netos. Preocupa-se mais provavelmente que os próprios pais.


A sua ignorância nos dias que correm é de tal ordem que não sabe quem são uns famosos “Coldplay” que atuaram em Coimbra. Não sabe, nem teve curiosidade em ir ao Google ver quem são esses famosos. O seu mundo vai ficando dia a dia mais estreito, mais reduzido mas também mais transparente.

Hoje é terça feira e já conta os dias que tem, antes de ir embora para a cidade dormitório da cidade grande. Já hoje sente a tristeza de deixar o seu canto, o seu quintal com as suas coisas a precisarem de atenção de carinho, sim tudo na natureza precisa de atenção, de um pouco de carinho já que todas as plantas ou árvores gostam que falem com elas, que as tratem e as defendam das pragas que andam voando em busca de lhes fazerem mal.

O ano é de seca, pior que o ano anterior e tudo está mais adiantado do que seria normal. Hoje de manhã quando saiu para ir à padaria colheu uns mirtilos antes que a passarada os coma, depois viu uma framboesa comeu-a, pois nem uns nem outros tem químicos. Coisas que gosta e que só aqui pode vivenciar (outra palavra brasileira que gosta). Pela primeira vez utilizou a bicicleta para ir à padaria comprar pão para estes dias até sexta-feira, que nesse dia irá levar pão para ir comendo na cidade dormitório da cidade grande. A princípio teve receio porque quando foi à farmácia de bicicleta os joelhos queixaram-se de tal modo que estava a ver que teria que ir a pé com a bicicleta pela mão. Hoje não sentiu as dores daquele dia e assim depois a meio da manhã colocou a mochila e foi de bicicleta ao mini mercado comprar um chouriço para fazer a dobrada com feijão branco para o almoço; aproveitou e comprou os dois queijos de cabra curados que la estavam da Malpiqueijo, um para si e o outro para levar ao primo António Moreira, não resistiu e comprou um salpicão de uma empresa espanhola de Salamanca, os “embutidos” espanhóis são melhores que os nossos chouriços ou salpicões, já sua mãe lhe dizia isso.

Escreve passando a sua mão esquerda nas suas barbas brancas de solitárias enquanto os dedos da mão direita deslizam nas letras do teclado obedecendo ao que os seus neurónios vão processando em continuo, escreve ouvindo canções no youtube. Questiona-se para que escreve ele falando com quem não o ouve nem lhe irá responder, não lhe importa fá-lo e irá continuar até que um dia chegue a hora.

Gosta de ouvir a canção: - Yo te diré

Yo te diré

Por qué mi canción

Te llama sin cesar

Me falta tu risa,

me faltan tus besos

Me falta tu despertar.

Yo te diré

Por qué en mi canción

Se siente sin cesar

Mi sangre latiendo,

mi vida pidiendo

Que tú no te alejes más.

Cada vez que el viento pasa

se lleva una flor

Siento que nunca más volverás mi amor

Y no me abandones nunca al anochecer ,

que la Luna sale tarde

y me puedo perder.

Así sabrás por qué mi canción,

Te llama sin cesar

Me falta tu risa, me faltan tus besos

Me falta tu despertar.

E, com ela se deitou, para pela manhã se levantar cedo e em função do que se passar durante a noite com a chuva ou trovoada decidir que volta irá dar com a Sacha para que ela possa correr livre pois esta estadia está a chegar ao fim.