quinta-feira, 6 de julho de 2023

08.06.23

É o tempo uma constante imutável há milhões de anos, não passa a correr como vulgarmente o dizemos. Nós é que inseridos numa sociedade criada pelo sistema que julgamos ser o melhor é que quase sem darmos pela existência do tempo corremos desenfreadamente a caminho do fim. Damos conta dessa correria quando chegamos à idade, somatório do tempo de vida, em que a nossa mente pensa e deseja mas o corpo ou já não responde ou se queixa de dores pela incapacidade de continuar a executar tais desejos processados pelos nossos neurónios, como anteriormente acontecia. Quando tal acontece, já entramos na terceira fase da vida, a velhice, onde alguns formatados arranjam palavras e conceitos como "idoso", ou "mais velho", para iludidos continuarem a iludirem-se alegremente.

Ser velho, ter alguma saúde que permita ter qualidade de vida proporcional ao tempo que se leva de vida é uma felicidade, não é nenhuma desgraça ou contrariedade, é o ciclo natural do tempo de vida que nem todos infelizmente conseguem alcançar.

Muitos dos nossos antepassados, pelo modo como viveram as dificuldades que o sistema então apresentava no seu e já no nosso ciclo de vida, puderam com todas as dificuldades ultrapassadas conhecer em vida netos e bisnetos.

Um dia a agulha da vida mudou, o sistema tremeu mas logo encontrou amigos para trazerem de novo o sistema aos seus carris não fosse o exemplo proliferar. De novo instalado, o sistema impôs a nova ordem democrática, com ajuda externa o modo de vida deu saltos, alguns deles descontínuos de qualidade duvidosa, numa ilusão frenética criando-se, implementando-se o conceito "qualidade de vida" ilusório e real ao mesmo tempo. A "central do sistema" investiu milhões e milhões de notas de valor fiduciário, na difusão e implementação da enganosa democrática "ditadura da felicidade" como o melhor caminho para se chegar a essa tal felicidade que inodora e insípida é desprovida de essência humanista. A vida é para ser vivida individualmente, os outros que façam o mesmo, é o conceito errado mas de tão difundido pelos servos do sistema a troco de notas com valor fiduciário se tornou global no dito ocidente civilizado por normas impostas pela "central" do pensamento único. A mesma "central" que faz gerar todos os males da sociedade atual, mas o importante mesmo é o indivíduo ser o centro de tudo, cada um que trate de si, os outros que façam o mesmo. Embalados, formatados, parametrizados pelo sistema num modelo que não respeita a Natureza, deram-nos mais anos de vida sem que muitos de nós possamos ter esperança com esse aumento de tempo de vida ver os vindouros bisnetos nascerem e crescerem uns anitos, como aconteceu com os nossos antepassados.

A educação ética e moral das crianças compete aos pais, à família, mas nas escolas da nova ordem democrática, abolido o livro único da ditadura, passaram as crianças a serem formatadas pelos novos métodos com vários livros na essência iguais, ditos de ensino criados e desenvolvidos pela "central" do sistema, para que o individualismo seja a matriz das suas vidas, não vá o diabo tecê-las.

Há quarenta e seis anos vivi um momento de felicidade que desconhecida até então. Na Maternidade Alfredo da Costa do SNS (que servos liberais ao serviço da "central" procuram destruir) nasceu-me nesse dia quarta-feira 8 de Junho (com a lua em quarto minguante) a primeira filha, tinha eu a bonita idade de 26 anos e a mãe um ano mais nova, 25 anos, os avós paternos 54 anos. Quando fiz os 46 anos, a minha filha já tinha 19 anos frequentando o ensino universitário. Hoje ela faz 46 anos mas o filho, meu neto, irá fazer 8 anos no próximo mês e eu já sou um velho rabugento, teimoso e tresmalhado embora por vezes bom rapaz com os meus 72 anos, sem esperança de poder ver um dia um ou uma vindoura bisneta, eu que só tenho saudade do inexistente futuro, estou perdendo a esperança até de poder ainda viver numa sociedade mais decente, mais transparente e humanista onde o coletivo volte a ser o motor da da vida e não está ilusória "ditadura da felicidade individualista" em que sonâmbulos se corre desenfreadamente para o fim. 

Um político manhoso disse um dia "É a vida! " Não, não é a vida, mas as mentiras que os políticos atuais produzem para que a vida não volte a descarrilar, como um dia encheu e uniu o país de alegria. Já Mia Couto no seu livro "Um Rio Chamado Tempo, Uma Casa Chamada Terra" escreveu na fala de um velho africano moçambicano que, "A política é a arte de mentir tão mal que só pode ser desmentida por outros políticos".

Todos os dias são dias, mas há dias que não morrem nem se esquecem porque vivem presentes nas nossas memórias vivas, 8 de Junho é um desses dias. Felizmente no saldo em movimento desta existência outros dias há que continuam presentes na memória viva, deste pai velho, rabugento, teimoso e tresmalhado embora por vezes ainda bom rapaz.

 

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